— O índio mudou, tá evol... Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós. Então, vamos fazer com que o índio se integre à sociedade e seja realmente dono da sua terra indígena, isso é o que a gente quer aqui — disse o presidente, na transmissão ao vivo pela Internet.
O Brasil cometeu muitos erros com os povos originais e tem uma conta histórica negativa. Na redemocratização, o debate com indigenistas foi mostrando que o melhor caminho era respeitar a maneira como cada tribo quer viver, sem forçar contatos com os povos.
O indigenismo atual surgiu após a ditadura. O período militar cometeu diversos crimes contra os indígenas. Tentou transformá-los em soldados e integrá-los nas cidades. Muitos morreram ou ficaram sem suas raízes culturais. Eles se perderam das mais variadas formas. Essa história terminou em tragédias.
A Constituição estabeleceu vários poderes para a população indígena. Mas eles não são donos da terra, que é da União. Esse foi o começo do acerto do Brasil com suas populações originais.
O presidente não entende a importância dessa política. Os indígenas cumprem o papel de proteger o meio ambiente, é como se eles prestassem esse serviço ao restante da nação. É possível ver isso, por exemplo, no interior do Maranhão. A mata original foi derrubada. Quando aparece uma floresta, é porque chegamos a um território indígena de recente contato. É a experiência é de ter entrado em um paraíso.
Isso precisa ser entendido. Bolsonaro tem a mesma visão dos governos militares, o que provocou muita morte nos anos 1970. Sempre que o presidente fala do tema é para defender a mineração no território dos índios, se reúne com garimpeiros. A Funai é enfraquecida a cada dia, as coordenadorias regionais são transferidas com frequência. O presidente anterior da Fundação saiu alertando para o desmonte da Funai.
É grave o que está acontecendo. Além do preconceito, a frase revela os erros da política indigenista, que pode nos fazer inúmeros prejuízos em todas as áreas. O mais importante é defender as populações indígenas e entender o processo que levou a uma política mais eficiente e civilizada na relação com povos indígenas que, sim, são seres humanos desde o início, obviamente.