sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Ala militar precisa conter Paulo Guedes antes que ele venda o Brasil por 30 dinheiros

Os militares que assessoram o presidente Jair Bolsonaro precisam fazer com que ele entenda que de nada adianta a independência político-territorial do país, enquanto não existir independência econômica. Na verdade, o maior risco que o Brasil corre na gestão atual é justamente perder a independência econômica, caso a equipe conduzida pelo ministro Paulo Guedes não venha a ser contida pelo chefe do governo.

Não é possível permitir que Paulo Guedes continue a desfrutar de autonomia completa, porque ele confessadamente não atua tendo por base os interesses nacionais. Agora mesmo, em Davos, o czar da economia defendeu a abertura das concorrências do governo à participação das empresas internacionais que nem estejam operando no país.


A tese que Guedes adota na filial Brazil desmoraliza completamente as práticas adotadas pela matriz USA. Basta lembrar que, para sair da Grande Depressão, em 1933 o governo Herbert Hoover aprovou no Parlamento o “Buy American Act”, uma legislação altamente protecionista, que o governo Ronald Reagan aperfeiçoou em 1983, ao estabelecer preferência ao uso de materiais produzidos no país em quaisquer aquisições para o setor de transporte de massa, financiadas pelo menos em parte por fundos federais.

Aqui no Brasil, Guedes quer fazer o contrário e desprestigiar o produto Made in Brazil. Nessa iniciativa nada patriótica, ele conta com apoio irrestrito da quase totalidade de sua equipe, especialmente do economista Roberto Castello Branco, que preside a Petrobras e diz que todos os ativos dele são privatizáves.

Doutor pela Universidade de Chicago, amigo pessoal e ex-sócio de Paulo Guedes, de quem desfruta total intimidade, no ano passado Castello deu declarações estarrecedoras a Bruno Rosa e Ramona Ordoñez, de O Globo. Revelou seu “sonho” de pôr fim a todas as empresas estatais e defendeu até a extinção do BNDES aqui na filial Brazil, esquecido de que a matriz USA não revela a menor intenção de vender suas estatais. Aliás, Inglaterra, Suécia, Japão, Coreia do Sul e muitas outras nações também não pretendem fazê-lo.

Não cabe ao presidente da Petrobras fixar a política estratégica do Ministério de Minas e Energia nem dar declarações a respeito. A fixação dessas diretrizes é atribuição direta da Presidência da República e está acima da competência do próprio ministro – no caso, o almirante Bento Albuquerque, que tem se mantido discreto.

Roberto Castello Branco, no entanto, se comporta de modo inoportuno, inconveniente e impróprio. Seria uma espécie de porta-voz informal do presidente Bolsonaro? Estaria falando em nome do ministro Guedes? Ou trata-se mesmo de um caso de internação?

Além disso, é muito estranho que ele venha a defender a extinção do BNDES, um banco de fomento criado por Getúlio Vargas em 1952 e que se mostrou importantíssimo na industrialização do país. Era o maior banco de desenvolvimento do mundo, até ser superado por sua versão chinesa, o CDB (Banco de Desenvolvimento da China), criado em 1994 à imagem e semelhança do BNDES, depois que um grupo de economistas chineses visitou o Brasil.

Paulo Guedes fala mal dos banqueiros, mas não é para valer. Na semana passada, até disse que a alternativa à sua política econômica será “o Brasil continuar dominado por seis bancos e seis empreiteiras”. Na prática, está em pleno desenvolvimento sua armação para beneficiar os banqueiros (via reforma da Previdência e extinção do BNDES), e tudo é feito às claras, sem subterfúgios.

Se os militares não percebem essas verdades, então sigam em frente, privatizem a Previdência, vendam todas as estatais, especialmente a Petrobras, que está no quarto lugar no ranking da produtividade do setor, e acabem logo com o BNDES, entreguem o país a Guedes e seus áulicos, mas nada mudará, a dívida pública continuará crescendo e o país desmoronando. Podem apostar.

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