quinta-feira, 19 de maio de 2022
Jair Berlusconi estrebucha
“Deve fazer uma provocação por dia, tanto melhor se inconcebível e inaceitável. Isto lhe permite ocupar as primeiras páginas e as notícias de abertura da mídia e ser sempre o centro das atenções. Em segundo lugar, a provocação deve ser tal que a oposição seja obrigada a aceitá-la e a reagir com energia. Conseguir produzir todos os dias uma reação indignada das oposições permite se mostrar ao próprio eleitorado como vítima de uma perseguição”.
Ao fim de uma semana em que o presidente Jair Bolsonaro disse que as eleições podem ser “conturbadas”, chamou de “psicopatas” e “imbecis” quem classifica as manifestações em sua defesa de atos antidemocráticos, desafiou quem um dia se arvore a prendê-lo, conclamou o “povo bem armado, que jamais será escravizado” e, por fim, entrou com ação no Supremo contra um de seus ministros por “abuso de autoridade”, a descrição acima parece lhe cair como uma luva.
Data, porém, de quase 20 anos atrás, quando Umberto Eco pôs-se a descrever o modo Silvio Berlusconi de governar. Bem antes de Donald Trump, foi o ex-primeiro-ministro italiano quem antecipou o que viria a ser bolsonarismo no poder. O artigo, escrito em 2003, foi editado em livro que, no Brasil, teve publicação póstuma (“A passo de caranguejo”, Record, 2022).
O bisavô do presidente é de Anguillara, a 256 quilômetros da Milão de Berlusconi. Quando o ex-primeiro ministro estreou na política, a Itália emergia da operação “Mãos Limpas”, inspiradora da “Lava-Jato”, parteira de Bolsonaro. Filho da classe média alta italiana, Berlusconi valeu-se de fortuna, construída com um império de comunicação, para fazer política com o discurso de que não roubaria porque já era rico. Bolsonaro sempre foi político mas chegou à Presidência com o discurso de que não roubaria porque com ele também ascenderiam as Forças Armadas.
A tutela militar logo se esvaiu e Bolsonaro, sem ser dono de um império midiático, valeu-se das redes sociais, incipientes na era Berlusconi, como arma de seu poder. Não só ele, como também seus adeptos, vide Daniel Silveira. Olha só o que Umberto Eco diz sobre eles: “Para criar provocações em cadeia, não é só você que deve falar, mas é preciso deixar o caminho livre para os mais desvairados entre seus colaboradores”.
Bolsonaro hipnotiza a audiência com vaivéns em torno de temas como o da Petrobras, no seu terceiro presidente, todos ameaçados pela mudança na política de preços da empresa, nunca concretizada. Eco também já previra: “A técnica consiste em lançar a provocação, desmenti-la no dia seguinte (“vocês me entenderam mal”) e lançar imediatamente uma outra, de modo que para esta se dirijam as atenções tanto da nova reação da oposição como do renovado interesse da opinião pública”.
Se Emmanuel Macron valeu-se de seu embate com Bolsonaro, personagem proscrito da opinião pública internacional, isso tampouco foi uma novidade. Eco lembra que tanto Jacques Chirac quando Leonel Jospin, ex-presidentes franceses contemporâneos de Berlusconi, se valeram da oposição ao seu modo de governar para ganhar votos: “Prestem atenção, sou uma pessoa de bem, não vou fazer no meu país o que Berlusconi está fazendo na Itália”.
Sobra até uma carícia na auto-estima tupiniquim. Umberto Eco não podia prever, em 2003, que um Bolsonaro se abateria sobre a nação brasileira. Mas, ao comentar as acusações que se faziam contra Berlusconi, acaba por acalmar o complexo de vira-latas de quem se vê como o único povo incapaz de distinguir o conflito de interesse da proteção do presidente aos filhos: “Dá vontade de rir, portanto, quando teimam em sensibilizá-lo falando do conflito de interesses. A resposta que se ouve por aí é que não importa a ninguém que Berlusconi cuide dos próprios interesses se ele prometer que defenderá os interesses deles”.
No berço do primeiro experimento republicano da história, Berlusconi vivia às turras com o judiciário e acabou sonegado por sonegação. Eco, porém, era cético sobre os limites desta estratégia de denunciar o golpismo constitucional. A Itália é aqui: “A esses leitores não vale dizer que Berlusconi modificaria a Constituição, primeiro porque eles nunca a leram (...) Se um artigo da Constituição for depois modificado, para eles é irrelevante”.
O que resta à oposição além dos mais de 140 pedidos de impeachment que fazem a fortuna de Arthur Lira? A reação é necessária senão o mandatário vai tentar elevar a escala das provocações para testar os limites. Pelo menos é o que diz Eco: “Se a opinião pública não reagiu com suficiente energia, isto significa que até mesmo o mais ultrajante dos caminhos poderia ser, com a devida calma, percorrido. Este é o motivo pelo qual a oposição é obrigada a reagir, ainda que saiba que se trata de pura e simples provocação, porque, caso se calasse, abriria o caminho para outras alternativas”.
Se ficar calado é ruim, denunciar a escalada de desvarios tampouco é suficiente. Eco, que cresceu sob o fascismo, rejeitava a designação para Berlusconi ("as redações dos jornais estão abertas"). O que deveria vir depois que o candidato que lidera prometeu "jogar o fascismo no esgoto da história?"
"Suas próprias provocações”, escreveu Eco. A lua-de-mel de Lula e Janja? Eco tem outras ideias: “A capacidade de conceber planos de governo, sobre problemas aos quais a opinião pública é sensível, e de lançar ideias sobre futuras disposições do país, de tal maneira que obrigue a mídia a dar ao menos o mesmo espaço que dá para as provocações de Berlusconi”.
O escritor pregava a união da oposição. Tinha poucas esperanças sobre isso mesmo sem ter conhecido o PSDB. Insistia, porém, que a oposição fizesse a opinião pública perceber um outro modo de governar, nem que, para isso, fosse preciso usar as mesmas armas de Bolsonaro, quer dizer, de Berlusconi. A cobertura do casamento nas redes sociais lulistas foi por aí, mas Eco resolveu contrariar: “Se você diz às pessoas que o governo errou ao fazer isso ou aquilo, elas podem não saber se você tem ou não razão. Se, no entanto, você disser às pessoas que gostaria de fazer isto ou aquilo, a ideia poderia atingir a imaginação e o interesse de muitos, suscitando a pergunta sobre por que a maioria não o faz”.
Corria o segundo de quatro mandatos de Berlusconi quando Eco escreveu. A longevidade de seu poder, que somou nove anos, sugere que os italianos ignoraram os alertas do escritor, morto em 2016. Aos 85 anos, Berlusconi passou, o presidente estrebucha e o noivo aposta no "amor" petista contra o “ódio” bolsonarista. A ver quem faz eco.
Ao fim de uma semana em que o presidente Jair Bolsonaro disse que as eleições podem ser “conturbadas”, chamou de “psicopatas” e “imbecis” quem classifica as manifestações em sua defesa de atos antidemocráticos, desafiou quem um dia se arvore a prendê-lo, conclamou o “povo bem armado, que jamais será escravizado” e, por fim, entrou com ação no Supremo contra um de seus ministros por “abuso de autoridade”, a descrição acima parece lhe cair como uma luva.
Data, porém, de quase 20 anos atrás, quando Umberto Eco pôs-se a descrever o modo Silvio Berlusconi de governar. Bem antes de Donald Trump, foi o ex-primeiro-ministro italiano quem antecipou o que viria a ser bolsonarismo no poder. O artigo, escrito em 2003, foi editado em livro que, no Brasil, teve publicação póstuma (“A passo de caranguejo”, Record, 2022).
O bisavô do presidente é de Anguillara, a 256 quilômetros da Milão de Berlusconi. Quando o ex-primeiro ministro estreou na política, a Itália emergia da operação “Mãos Limpas”, inspiradora da “Lava-Jato”, parteira de Bolsonaro. Filho da classe média alta italiana, Berlusconi valeu-se de fortuna, construída com um império de comunicação, para fazer política com o discurso de que não roubaria porque já era rico. Bolsonaro sempre foi político mas chegou à Presidência com o discurso de que não roubaria porque com ele também ascenderiam as Forças Armadas.
A tutela militar logo se esvaiu e Bolsonaro, sem ser dono de um império midiático, valeu-se das redes sociais, incipientes na era Berlusconi, como arma de seu poder. Não só ele, como também seus adeptos, vide Daniel Silveira. Olha só o que Umberto Eco diz sobre eles: “Para criar provocações em cadeia, não é só você que deve falar, mas é preciso deixar o caminho livre para os mais desvairados entre seus colaboradores”.
Bolsonaro hipnotiza a audiência com vaivéns em torno de temas como o da Petrobras, no seu terceiro presidente, todos ameaçados pela mudança na política de preços da empresa, nunca concretizada. Eco também já previra: “A técnica consiste em lançar a provocação, desmenti-la no dia seguinte (“vocês me entenderam mal”) e lançar imediatamente uma outra, de modo que para esta se dirijam as atenções tanto da nova reação da oposição como do renovado interesse da opinião pública”.
Se Emmanuel Macron valeu-se de seu embate com Bolsonaro, personagem proscrito da opinião pública internacional, isso tampouco foi uma novidade. Eco lembra que tanto Jacques Chirac quando Leonel Jospin, ex-presidentes franceses contemporâneos de Berlusconi, se valeram da oposição ao seu modo de governar para ganhar votos: “Prestem atenção, sou uma pessoa de bem, não vou fazer no meu país o que Berlusconi está fazendo na Itália”.
Sobra até uma carícia na auto-estima tupiniquim. Umberto Eco não podia prever, em 2003, que um Bolsonaro se abateria sobre a nação brasileira. Mas, ao comentar as acusações que se faziam contra Berlusconi, acaba por acalmar o complexo de vira-latas de quem se vê como o único povo incapaz de distinguir o conflito de interesse da proteção do presidente aos filhos: “Dá vontade de rir, portanto, quando teimam em sensibilizá-lo falando do conflito de interesses. A resposta que se ouve por aí é que não importa a ninguém que Berlusconi cuide dos próprios interesses se ele prometer que defenderá os interesses deles”.
No berço do primeiro experimento republicano da história, Berlusconi vivia às turras com o judiciário e acabou sonegado por sonegação. Eco, porém, era cético sobre os limites desta estratégia de denunciar o golpismo constitucional. A Itália é aqui: “A esses leitores não vale dizer que Berlusconi modificaria a Constituição, primeiro porque eles nunca a leram (...) Se um artigo da Constituição for depois modificado, para eles é irrelevante”.
O que resta à oposição além dos mais de 140 pedidos de impeachment que fazem a fortuna de Arthur Lira? A reação é necessária senão o mandatário vai tentar elevar a escala das provocações para testar os limites. Pelo menos é o que diz Eco: “Se a opinião pública não reagiu com suficiente energia, isto significa que até mesmo o mais ultrajante dos caminhos poderia ser, com a devida calma, percorrido. Este é o motivo pelo qual a oposição é obrigada a reagir, ainda que saiba que se trata de pura e simples provocação, porque, caso se calasse, abriria o caminho para outras alternativas”.
Se ficar calado é ruim, denunciar a escalada de desvarios tampouco é suficiente. Eco, que cresceu sob o fascismo, rejeitava a designação para Berlusconi ("as redações dos jornais estão abertas"). O que deveria vir depois que o candidato que lidera prometeu "jogar o fascismo no esgoto da história?"
"Suas próprias provocações”, escreveu Eco. A lua-de-mel de Lula e Janja? Eco tem outras ideias: “A capacidade de conceber planos de governo, sobre problemas aos quais a opinião pública é sensível, e de lançar ideias sobre futuras disposições do país, de tal maneira que obrigue a mídia a dar ao menos o mesmo espaço que dá para as provocações de Berlusconi”.
O escritor pregava a união da oposição. Tinha poucas esperanças sobre isso mesmo sem ter conhecido o PSDB. Insistia, porém, que a oposição fizesse a opinião pública perceber um outro modo de governar, nem que, para isso, fosse preciso usar as mesmas armas de Bolsonaro, quer dizer, de Berlusconi. A cobertura do casamento nas redes sociais lulistas foi por aí, mas Eco resolveu contrariar: “Se você diz às pessoas que o governo errou ao fazer isso ou aquilo, elas podem não saber se você tem ou não razão. Se, no entanto, você disser às pessoas que gostaria de fazer isto ou aquilo, a ideia poderia atingir a imaginação e o interesse de muitos, suscitando a pergunta sobre por que a maioria não o faz”.
Corria o segundo de quatro mandatos de Berlusconi quando Eco escreveu. A longevidade de seu poder, que somou nove anos, sugere que os italianos ignoraram os alertas do escritor, morto em 2016. Aos 85 anos, Berlusconi passou, o presidente estrebucha e o noivo aposta no "amor" petista contra o “ódio” bolsonarista. A ver quem faz eco.
País despreparado
O problema não é a tomada de três pinos.
É o deprimente da república
ter um pino a menos na cabeça.
Influencer é alguém com a capacidade
de influir em pessoas com tendência para
serem influenciadas por qualquer um.
Comprei um livro sobre déjà vu.
Ao começar a ler, me deu a sensação
de já ter outro exemplar em casa.
As moscas a gente suporta.
Mas, e essas manchetes
em torno do café da manhã?
Quem se arma até os dentes
tem muito mais chances
de morrer desdentado.
Não se faça de vítima.
Você nem imagina quanta gente
foi vitimada hoje.
Pode ser que o berço
seja esplêndido,
mas o país tá
cada vez mais insone.
Quando o Brasil melhorar,
vai ser um problemaço:
nós não estamos
preparados pra isso.
José Guaraci Fraga
Imbecilidade presidencial
As plataformas e a internet deram voz aos imbecis. Hoje qualquer um se diz especialistaAlexandre de Moraes, ministro do STF
Bolsonaro Cacareco 2.0 fica mais ridículo a cada dia que passa
O segundo turno já começou, Bolsonaro está perdendo e tem medo de ser preso se não se reeleger. É por isso que escalou sua pregação em favor de um golpe militar e fechou-se em copas.
Irrita-se com os que ainda ousam dizer-lhe que não é por aí que ficará no poder. Só ficará se recuperar parte dos eleitores que votaram nele em 2018 e que dizem que não votarão agora.
Ciro Nogueira (PP-AL) assumiu a Casa Civil como “o amortecedor de tensões” entre os Poderes da República. Na prática, desistiu do papel. Bolsonaro quer elevar as tensões, não amortecê-las.
Para isso, está disposto a fazer qualquer coisa. Com a notícia-crime que deu entrada no Supremo Tribunal Federal contra o ministro Alexandre de Moraes, quis transformar juiz em réu.
No país da jabuticaba como coisa nossa, ele pensou que isso seria possível. Apelou para a sorte: quem sabe a relatoria da notícia-crime não cairia no colo de um dos dois ministros que nomeou?
Deu ruim. Por manhas do sistema de sorteio do Supremo, coube ao ministro Dias Toffoli a relatoria do caso. Logo Toffoli, que abriu contra Bolsonaro um dos quatro processos que ele responde ali.
A notícia-crime foi uma das ações mais estúpidas a dar entrada no Supremo. Um estagiário a desprezaria de pronto. Mas assim como não entende de economia, Bolsonaro não entende de lei.
Na verdade, não entende de nada. Diga-se a seu favor que ele só pretendia causar barulho e ganhar tempo para que seus devotos fanáticos elegessem Moraes como alvo nas redes sociais.
O Supremo não lhe deu o tempo desejado. Resta-lhe, portanto, desafiar o ridículo e denunciar Moraes em cortes internacionais. Promete fazê-lo. Vai virar motivo de piada mundo afora.
Não fosse o apoio de militares que não se acanham em desfilar pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com velhos e fumacentos tanques de guerra, Bolsonaro não passaria de piada.
Uma piada sem graça que a maioria dos eleitores brasileiros em triste hora decidiu alçar à Presidência da República, parte deles com o propósito de evitar a volta do PT ao poder. Um cacareco.
Nas eleições de 1959, um festejado rinoceronte fêmea do Zoológico de São Paulo, chamado Cacareco, recebeu mais de 100 mil votos para vereador. O partido mais votado não chegou a 95 mil votos.
À época, a eleição era realizada com cédulas de papel. Cacareco morreu em 1962. Seus restos mortais repousam no Museu de Anatomia Veterinária da Universidade de São Paulo.
Cacareco 2.0 não terá seus restos preservados em museus, mas deveria, como lembrança do que foi um dia o pior presidente da história do Brasil.
Irrita-se com os que ainda ousam dizer-lhe que não é por aí que ficará no poder. Só ficará se recuperar parte dos eleitores que votaram nele em 2018 e que dizem que não votarão agora.
Ciro Nogueira (PP-AL) assumiu a Casa Civil como “o amortecedor de tensões” entre os Poderes da República. Na prática, desistiu do papel. Bolsonaro quer elevar as tensões, não amortecê-las.
Para isso, está disposto a fazer qualquer coisa. Com a notícia-crime que deu entrada no Supremo Tribunal Federal contra o ministro Alexandre de Moraes, quis transformar juiz em réu.
No país da jabuticaba como coisa nossa, ele pensou que isso seria possível. Apelou para a sorte: quem sabe a relatoria da notícia-crime não cairia no colo de um dos dois ministros que nomeou?
Deu ruim. Por manhas do sistema de sorteio do Supremo, coube ao ministro Dias Toffoli a relatoria do caso. Logo Toffoli, que abriu contra Bolsonaro um dos quatro processos que ele responde ali.
A notícia-crime foi uma das ações mais estúpidas a dar entrada no Supremo. Um estagiário a desprezaria de pronto. Mas assim como não entende de economia, Bolsonaro não entende de lei.
Na verdade, não entende de nada. Diga-se a seu favor que ele só pretendia causar barulho e ganhar tempo para que seus devotos fanáticos elegessem Moraes como alvo nas redes sociais.
O Supremo não lhe deu o tempo desejado. Resta-lhe, portanto, desafiar o ridículo e denunciar Moraes em cortes internacionais. Promete fazê-lo. Vai virar motivo de piada mundo afora.
Não fosse o apoio de militares que não se acanham em desfilar pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com velhos e fumacentos tanques de guerra, Bolsonaro não passaria de piada.
Uma piada sem graça que a maioria dos eleitores brasileiros em triste hora decidiu alçar à Presidência da República, parte deles com o propósito de evitar a volta do PT ao poder. Um cacareco.
Nas eleições de 1959, um festejado rinoceronte fêmea do Zoológico de São Paulo, chamado Cacareco, recebeu mais de 100 mil votos para vereador. O partido mais votado não chegou a 95 mil votos.
À época, a eleição era realizada com cédulas de papel. Cacareco morreu em 1962. Seus restos mortais repousam no Museu de Anatomia Veterinária da Universidade de São Paulo.
Cacareco 2.0 não terá seus restos preservados em museus, mas deveria, como lembrança do que foi um dia o pior presidente da história do Brasil.
Lembrai-vos de 1964! Não custa nada
O título da coluna é um trocadilho com o título do livro de Ferdinando Carvalho sobre a atuação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), publicado pela Biblioteca do Exército, em 1981. Antes, o general havia escrito duas obras sobre o mesmo tema, porém ficcionais: Os Sete Matizes do Rosa e Os Sete Matizes do Vermelho, ambos em 1977.
Àquela altura, a luta armada contra o regime militar havia sido dizimada, com seus lideres mortos, presos ou no exílio. O PCB estava quase completamente desbaratado e os remanescentes de seu Comitê Central, entre os quais Luiz Carlos Prestes e Giocondo Dias, viviam no exílio. Embora defendesse a via eleitoral como forma de luta principal pela redemocratização, um terço dos seus dirigentes fora assassinado e apenas meia dúzia permanecera no país, na mais profunda clandestinidade.
Entretanto, o que estava em curso era a abertura política, alargada e acelerada pelas sucessivas derrotas eleitorais do regime, cujo projeto de institucionalização como “democracia relativa” já havia fracassado. Batido nas eleições de 1974 e 1978, seria derrotado novamente em 1982, depois da anistia política que trouxera de volta os exilados e às ruas os prisioneiros políticos.
O general João Batista Figueiredo, cada vez mais enfraquecido na Presidência, era desafiado pelos porões do regime, em atentados terroristas cujo desfecho foi a bomba do Riocentro, que explodiu no colo de um sargento e feriu um capitão do Exército ao seu lado. O artefato seria detonado no local onde se realizava um grande show artístico comemorativo do 1º de Maio, com milhares de estudantes e sindicalistas.
Ferdinando de Carvalho fez a cabeça de muitos militares hoje reformados e alguns jovens cadetes e oficiais que voltariam ao poder com a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) — entre eles o ex-ajudante de ordens do general Silvio Frota, o hoje general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência.
A matéria prima dos livros é o Inquérito Policial Militar (IPM) nº 7.098 (1964-1966), responsável por apurar as atividades do PCB no território nacional, que coordenou. Muito do que os militares e a direita ideológica brasileira, hoje, falam sobre a esquerda no Brasil são uma reprodução de suas teses, lançadas no começo dos anos 1980 como uma tentativa desesperada de impedir a redemocratização do país.
Domingo, recebi uma ligação do ex-deputado Marcelo Cerqueira, um dos líderes da campanha pela anistia, preocupado com a conjuntura política: “Estou me sentindo em 1963”. Diretor da UNE à época, Marcelo viveu intensamente o processo político que antecedeu o golpe militar de 1964. Emoldurada pela guerra fria, a vitória de João Goulart no plebiscito para restabelecer o presidencialismo derivou para a radicalização, cujo desfecho foi a destituição do presidente da República.
O comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, no qual Jango anunciou a decretação das reformas de base — que o Congresso havia rejeitado —, serviu apenas para acirrar ainda mais a crise, que desaguaria na sua destituição, em 31 de março daquele ano, com três navios da Marinha norte-americana ao largo do Espírito Santo, prontos para intervir.
Marcelo e o então presidente da UNE, José Serra, hoje senador do PSDB por São Paulo, estavam entre aqueles que tentaram jogar água fria na fogueira, como San Thiago Dantas. Os líderes estudantis chegaram a procurar o marechal Castelo Branco, que até então dizia defender a legalidade, nos esforços de apaziguamento. Mas a rota de colisão entre os militares e Jango já era irreversível. E a maioria da opinião pública acreditava que o país caminhava para o comunismo, o que não era verdade.
O problema era outro. O principal líder do PTB, o partido de Jango, o ex-governador gaúcho e deputado federal Leonel Brizola, queria ser candidato a presidente nas eleições convocadas para 1965, mas era inelegível por ser cunhado do presidente da República. Os candidatos favoritos eram o ex-presidente Juscelino Kubitschek (PSD) e o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda (UDN). JK era o candidato da conciliação, Lacerda o do confronto.
O líder comunista Luiz Carlos Prestes articulava a reeleição de Jango, em aliança com o PTB, o que provocou a ruptura da aliança com o PSD, que levara Juscelino ao poder em 1955.
Jango era um estancieiro gaúcho, de viés populista, formado no trabalhismo de Alberto Pasqualini e San Thiago Dantas. Não tinha nada de comunista. Se decidisse apoiar JK, mantendo a aliança de 1955, muito provavelmente não teria ocorrido o golpe militar. Considerado imbatível, Juscelino era visto como um retrocesso pela esquerda, o que foi um grave equívoco. O retrocesso era o golpe militar.
Com sinal trocado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas para a Presidência, também é visto como um retrocesso por amplos setores da sociedade. Bolsonaro tenta se aproveitar da situação para se manter no poder, mesmo que perca a reeleição, com uma narrativa que nos remete ao ambiente pré-golpe militar de 1964, na percepção daqueles que viveram aqueles momentos. Entretanto, os tempos são outros.
Àquela altura, a luta armada contra o regime militar havia sido dizimada, com seus lideres mortos, presos ou no exílio. O PCB estava quase completamente desbaratado e os remanescentes de seu Comitê Central, entre os quais Luiz Carlos Prestes e Giocondo Dias, viviam no exílio. Embora defendesse a via eleitoral como forma de luta principal pela redemocratização, um terço dos seus dirigentes fora assassinado e apenas meia dúzia permanecera no país, na mais profunda clandestinidade.
Entretanto, o que estava em curso era a abertura política, alargada e acelerada pelas sucessivas derrotas eleitorais do regime, cujo projeto de institucionalização como “democracia relativa” já havia fracassado. Batido nas eleições de 1974 e 1978, seria derrotado novamente em 1982, depois da anistia política que trouxera de volta os exilados e às ruas os prisioneiros políticos.
O general João Batista Figueiredo, cada vez mais enfraquecido na Presidência, era desafiado pelos porões do regime, em atentados terroristas cujo desfecho foi a bomba do Riocentro, que explodiu no colo de um sargento e feriu um capitão do Exército ao seu lado. O artefato seria detonado no local onde se realizava um grande show artístico comemorativo do 1º de Maio, com milhares de estudantes e sindicalistas.
Ferdinando de Carvalho fez a cabeça de muitos militares hoje reformados e alguns jovens cadetes e oficiais que voltariam ao poder com a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) — entre eles o ex-ajudante de ordens do general Silvio Frota, o hoje general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência.
A matéria prima dos livros é o Inquérito Policial Militar (IPM) nº 7.098 (1964-1966), responsável por apurar as atividades do PCB no território nacional, que coordenou. Muito do que os militares e a direita ideológica brasileira, hoje, falam sobre a esquerda no Brasil são uma reprodução de suas teses, lançadas no começo dos anos 1980 como uma tentativa desesperada de impedir a redemocratização do país.
Domingo, recebi uma ligação do ex-deputado Marcelo Cerqueira, um dos líderes da campanha pela anistia, preocupado com a conjuntura política: “Estou me sentindo em 1963”. Diretor da UNE à época, Marcelo viveu intensamente o processo político que antecedeu o golpe militar de 1964. Emoldurada pela guerra fria, a vitória de João Goulart no plebiscito para restabelecer o presidencialismo derivou para a radicalização, cujo desfecho foi a destituição do presidente da República.
O comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, no qual Jango anunciou a decretação das reformas de base — que o Congresso havia rejeitado —, serviu apenas para acirrar ainda mais a crise, que desaguaria na sua destituição, em 31 de março daquele ano, com três navios da Marinha norte-americana ao largo do Espírito Santo, prontos para intervir.
Marcelo e o então presidente da UNE, José Serra, hoje senador do PSDB por São Paulo, estavam entre aqueles que tentaram jogar água fria na fogueira, como San Thiago Dantas. Os líderes estudantis chegaram a procurar o marechal Castelo Branco, que até então dizia defender a legalidade, nos esforços de apaziguamento. Mas a rota de colisão entre os militares e Jango já era irreversível. E a maioria da opinião pública acreditava que o país caminhava para o comunismo, o que não era verdade.
O problema era outro. O principal líder do PTB, o partido de Jango, o ex-governador gaúcho e deputado federal Leonel Brizola, queria ser candidato a presidente nas eleições convocadas para 1965, mas era inelegível por ser cunhado do presidente da República. Os candidatos favoritos eram o ex-presidente Juscelino Kubitschek (PSD) e o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda (UDN). JK era o candidato da conciliação, Lacerda o do confronto.
O líder comunista Luiz Carlos Prestes articulava a reeleição de Jango, em aliança com o PTB, o que provocou a ruptura da aliança com o PSD, que levara Juscelino ao poder em 1955.
Jango era um estancieiro gaúcho, de viés populista, formado no trabalhismo de Alberto Pasqualini e San Thiago Dantas. Não tinha nada de comunista. Se decidisse apoiar JK, mantendo a aliança de 1955, muito provavelmente não teria ocorrido o golpe militar. Considerado imbatível, Juscelino era visto como um retrocesso pela esquerda, o que foi um grave equívoco. O retrocesso era o golpe militar.
Com sinal trocado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas para a Presidência, também é visto como um retrocesso por amplos setores da sociedade. Bolsonaro tenta se aproveitar da situação para se manter no poder, mesmo que perca a reeleição, com uma narrativa que nos remete ao ambiente pré-golpe militar de 1964, na percepção daqueles que viveram aqueles momentos. Entretanto, os tempos são outros.
Brasil acima de presidiários
Os problemas do Brasil são muito mais sobre as regras do governo. Conheci quase todos os presidentes brasileiros e acredito que vocês precisam de um jeito de ter um presidente e instituições experientes para evitar que mais presidentes acabem presosEric Schmidt, ex-CEO do Google
Comida é insuficiente para 24% dos brasileiros
Uma pesquisa do Instituto Datafolha realizada na semana passada aponta que quase um em cada quatro brasileiros não teve o suficiente para comer nos últimos meses. Para 24% da população, a quantidade de comida disponível em casa para alimentar a família foi inferior à que seria necessária.
Dos entrevistados, 63% apontaram que a alimentação foi suficiente, e 13% declararam que a quantidade de comida ficou acima do necessário.
O Instituto Datafolha ouviu 2.556 pessoas em 181 municípios brasileiros entre a terça (22/03) e a quarta-feira (23/03), em levantamento que tem margem de erro de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
A chamada insegurança alimentar é mais evidente entre os mais pobres, ou seja, para quem tem até dois salários mínimos (R$ 2.424) de renda familiar mensal. Desses, 35% responderam que a quantia de comida é insuficiente.
No entanto, dos entrevistados com renda mensal de dois a cinco salários mínimos (R$ 6.060), 13% também disseram que faltou comida, a mesma constatação para 6% dos que recebem entre cinco e dez salários mínimos (R$ 12.120).
Entre as regiões, o Nordeste é a que mais sofre com a insegurança alimentar: 32% das famílias. A região é seguida por Sudeste, Centro-Oeste e Norte, que empatam com 23%, e pelo Sul, com 18%.
A crise econômica, a inflação, o desemprego e a pandemia podem ser considerados fatores que aumentaram ainda mais a insegurança alimentar no Brasil. Em 2020, por exemplo, um levantamento feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apontou que a pandemia de coronavírus aumentou o problema da fome no país.
Em 2018, dois anos antes do início da situação pandêmica, assim conceituada em março de 2020, a pesquisa da Rede Penssan indicou que 37% dos domicílios brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar. Esse número subiu para 55% ao fim do primeiro ano da crise sanitária.
Entre os que perderam o emprego durante a pandemia, o número de quem considera a comida na mesa insuficiente chega a 38%. Os desocupados – que não estão em busca de trabalho – somam 28%. Entre os trabalhadores autônomos são 26%, e os assalariados sem registro formal, 20%.
Junto com a pandemia, o desemprego e a estagnação econômica, a inflação piorou ainda mais a situação de muitas famílias nos últimos meses.
Em números oficiais, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) concluiu que a inflação encerrou 2021 com uma variação acumulada de 10,06% em 12 meses no Brasil, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 11 de janeiro último.
O ano passado registrou, portanto, a maior inflação desde 2015, quando o índice fechou o ano a 10,67%, bem acima dos 4,52% que haviam sido registrados em 2020.
Dos entrevistados, 63% apontaram que a alimentação foi suficiente, e 13% declararam que a quantidade de comida ficou acima do necessário.
O Instituto Datafolha ouviu 2.556 pessoas em 181 municípios brasileiros entre a terça (22/03) e a quarta-feira (23/03), em levantamento que tem margem de erro de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
A chamada insegurança alimentar é mais evidente entre os mais pobres, ou seja, para quem tem até dois salários mínimos (R$ 2.424) de renda familiar mensal. Desses, 35% responderam que a quantia de comida é insuficiente.
No entanto, dos entrevistados com renda mensal de dois a cinco salários mínimos (R$ 6.060), 13% também disseram que faltou comida, a mesma constatação para 6% dos que recebem entre cinco e dez salários mínimos (R$ 12.120).
Entre as regiões, o Nordeste é a que mais sofre com a insegurança alimentar: 32% das famílias. A região é seguida por Sudeste, Centro-Oeste e Norte, que empatam com 23%, e pelo Sul, com 18%.
A crise econômica, a inflação, o desemprego e a pandemia podem ser considerados fatores que aumentaram ainda mais a insegurança alimentar no Brasil. Em 2020, por exemplo, um levantamento feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apontou que a pandemia de coronavírus aumentou o problema da fome no país.
Em 2018, dois anos antes do início da situação pandêmica, assim conceituada em março de 2020, a pesquisa da Rede Penssan indicou que 37% dos domicílios brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar. Esse número subiu para 55% ao fim do primeiro ano da crise sanitária.
Entre os que perderam o emprego durante a pandemia, o número de quem considera a comida na mesa insuficiente chega a 38%. Os desocupados – que não estão em busca de trabalho – somam 28%. Entre os trabalhadores autônomos são 26%, e os assalariados sem registro formal, 20%.
Junto com a pandemia, o desemprego e a estagnação econômica, a inflação piorou ainda mais a situação de muitas famílias nos últimos meses.
Em números oficiais, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) concluiu que a inflação encerrou 2021 com uma variação acumulada de 10,06% em 12 meses no Brasil, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 11 de janeiro último.
O ano passado registrou, portanto, a maior inflação desde 2015, quando o índice fechou o ano a 10,67%, bem acima dos 4,52% que haviam sido registrados em 2020.
Tanques e urnas não se misturam
Democracia é “um regime no qual o eleito governa, e o perdedor vai para casa”, de acordo com a definição de Adam Przeworski no livro “Crises da democracia”. Mas, para tal assertiva ser válida, é necessário que os competidores aceitem a legitimidade dos procedimentos. Não parece ser o caso das eleições de 2022. Reportagens recentes mostraram que as Forças Armadas enviaram cerca de 80 questionamentos a respeito do funcionamento das urnas eletrônicas e do sistema de contagem de votos.
A participação das Forças Armadas no processo eleitoral é necessária e salutar em termos de logística. São elas que transportam as urnas aos lugares mais remotos do Brasil profundo. Mas elas não fazem parte do sistema de accountability, uma vez que suas atribuições estão expressamente definidas no texto constitucional. A atração das Forças Armadas para o exercício de um papel que não é de sua natureza é fruto do saudosismo de Bolsonaro em relação a uma época em que urnas e tanques se misturavam.
Bolsonaro é um exemplo claro de crimes de responsabilidade que passaram impunes diante de um Congresso “complacente” e um Supremo Tribunal Federal (STF) “contido”. O peso da função representativa do primeiro não resistiu às benesses da caneta, enquanto o segundo optou por não “usurpar” a competência de outro Poder. Por força dessas circunstâncias, Bolsonaro, que violou a Lei de Segurança Nacional quando participou de atos que pediram o fechamento do STF e do Poder Legislativo, não apenas se manteve no poder, como participará de um pleito que ele mesmo questiona. Bolsonaro certamente foi beneficiado pelas incertezas de dois vetores: em seu lugar seria empossado um general, e quem poderia ocupar as ruas em caso de impeachment.
Numa democracia sadia, tanques e urnas não se misturam. Quando isso acontece, bom sinal não é. Além do mais, soa com muita estranheza cogitar uma apuração “paralela” controlada pelas Forças Armadas, pois até aqui não se sabe se existe um acordo preventivo entre o STF e elas para reduzir a margem para questionamento em caso de derrota de Bolsonaro ou se, de fato, os arroubos do presidente contaminaram a caserna.
O que temos de concreto no momento é que será uma eleição atípica no conjunto de pleitos presidenciais realizados de 1989 para cá, não só pelo grau de beligerância do atual mandatário, mas também pela zona cinzenta que cobre o papel das fardas.
Já foi dito no passado, pelo Doutor Ulysses, que “baioneta não é voto, e cachorro não é urna”. É incrível que isso precise ser lembrado.
O que temos de concreto no momento é que será uma eleição atípica no conjunto de pleitos presidenciais realizados de 1989 para cá, não só pelo grau de beligerância do atual mandatário, mas também pela zona cinzenta que cobre o papel das fardas.
Já foi dito no passado, pelo Doutor Ulysses, que “baioneta não é voto, e cachorro não é urna”. É incrível que isso precise ser lembrado.
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