“Tenho tido pesadelos, senhor juiz; sonho que morri assassinado por mim mesmo, que estou preso com traficantes estupradores. Não mereço isso, eu, que sempre assumi minha condição de corrupto ativo e passivo. Por isso, hoje sou delator, senhor. Mas não sou apenas um delator de obviedades sabidas há séculos, tipo fulano levou tanto de grana, sicrano recebeu propina etc. Isso é café pequeno. Eu vi muita coisa com estes olhos que espiam pelas janelas da Papuda, esperando minha redução da pena. Eu faço uma delação profunda que desentranha dos suspeitos e acusados o que lhes vai na alma, nessa maratona de roubalheiras.
Digamos, até faço uma delação psicanalítica. Sou profissional e didático... Considero-me um técnico, um cientista da corrupção nacional...
Eu estou hoje, senhor juiz, feliz no lugar da verdade – tenho o prazer vingativo do dedo-duro. Para mim, que vivi mergulhado na mentira, falar a verdade até me inebria, me sossega.
Já levei muito dinheiro vivo para uns canalhas durante um jantar nordestino, dei-lhes a grana, entre moquecas e sarapatéis, que eles repartiram ali na cara, enquanto se refocilavam em chopes e gargalhadas, notas de dólares voltejando no ar, promessas de joias para as esposas fascinadas com os belos maços de grana, prostitutas à espreita nos bordéis próximos, ‘laranjas’ recebendo gorjetas magras, sorrindo com bocas desdentadas, notas frias preenchidas com avidez, em suma, um espetáculo sem ‘finesse’ que a mim escandaliza. Mas não sou um otário e me resguardei – gravei tudo no meu celular iPhone 6, à disposição de vossa meritíssima pessoa. Lá estão as bocas gotejantes de volúpia, os dedos vorazes, um espetáculo educativo sobre a alma nacional.
Também, senhor juiz, delatei aquele caolhinho da Petrobras que conseguiu amealhar R$ 97 milhões só de gorjeta, o que até me deixa um pouco deslumbrado, porque é um marco histórico na corrupção do planeta. Sem querer debochar de seu defeito, aqueles olhinhos piscavam, passando uma fragilidade quase proposital que esconde uma alma de desbravador, um ousado inventor de tretas e tramoias; dá até certa pena vê-lo magrinho esmagado por um tesouro perdido, enlouquecendo de arrependimento na celinha da polícia.
Delatei a vossa senhoria um ex-presidente da República que me tomou R$ 20 milhões, mesmo debaixo de opróbrio em que vive há 25 anos. Eu não aguentei e ousei lhe perguntar: ‘Por que você quer essa grana toda? Você já tem tanto...’ Ele não respondeu, óbvio, mas eu ouvi sua resposta muda: ‘não roubo mais por necessidade; é prazer mesmo. Estou muito bem de vida, tenho sete fazendas reais e sete imaginárias, mando em cidades do Nordeste, mas sou viciado na adrenalina que me arde no sangue na hora em que a mala de dólares voa em minha direção’.
Delatei o tesoureiro que me levou milhões em doações para o PT eleger o Lula e Dilma. Ele teve a cara dura ‘revolucionária’ de me exigir: ‘Precisamos de dinheiro para renovar nossa utopia, como disse nosso Lula! Agora, se você não soltar a grana logo, esquece o contrato para superfaturar a nova refinaria’. E riu debochado: ‘Afinal, o Petróleo é Nosso!’
Soltei o tutu, sim, senhor juiz, senão minha empresa quebrava... E valeu a pena, apesar de a Polícia Federal (PF) ter descoberto o superfaturamento 20 vezes maior do que aquela mixaria de US$ 1 milhão que doei para a ‘revolução socialista’... Perdoe-me por rir dessa piada vermelha...
Eu mesmo levei dinheiro vivo à sede do PT, eu, um homem refinado (creia-me, sr. juiz), tive de me submeter a senhas, senão não entrava. O porteiro perguntou a mim: ‘Tulipa’? E eu respondi: ‘Caneco’. Pode essa humilhação depois dos muitos milhões que entreguei àqueles moleques bolivarianos? E o ladrão receptor, um boçal com estrelinha no peito, ainda foi grosso: ‘Cadê o pixuleco?’
Delatei aquele ‘mão grande’ da Petrobras que investiu em arte, em quadros e esculturas contemporâneas para lavar dinheiro, mas suas obras de arte são medíocres. Esse burro poderia ao menos comprar coisas de valor, e não aquelas bobagens penduradas na parede – um Miró falso ao lado de um Romero Britto. Roube, mas com ‘finesse’.
Eu delato, senhor juiz, porque me tiram do sério suas negações diante do óbvio. Eles negam tudo, ninguém fez nada nunca, e Brasília vira um palco vazio sem atores. Isso desperta em mim os ‘impulsos mais primitivos’, como disse nosso pioneiro Roberto Jefferson... E nada chega ao Lula, esse, sim, o grande culpado desse filme de horror... Será que ele tem parte com o demônio para ficar tão blindado? Como disse um dos presos do petrolão: ‘Que país é este?’
Um país onde os presidentes do Congresso estão sendo investigados na Lava Jato? Aliás, eles nem ligam, sorriem, pois têm foro privilegiado no STF...
Por isso vos digo: tenho orgulho de mim, senhor. Minha delação é histórica. Eu topava uma propinazinha, tudo bem, mas isso, não. Eles estão desmanchando o país. Um dia serei louvado por isso.
Assim, senhor juiz, permita-me citar o padre Antônio Vieira: ‘Eles furtam em todos os tempos de verbo: furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse’.
Sem contar as carantonhas que nem precisam de acusações: Ricardo Pessôa (o paletó apertado em sua grande barriga), o Edison Lobão (fascina-me a vaidade desse feio), o sorriso tático do Marcelo Odebrecht, as caras ‘revolucinárias’ de Edinho Silva, Vaccari, aplaudidos de pé pelo ex-PT…Tudo está na cara…
Por isso, senhor juiz, acho que presto um serviço relevante ao país e lhe peço: não me ponha numa cela de 12 metros quadrados, varrendo o chão e limpando a privada.
Anseio, meritíssimo, pela doce tornozeleira eletrônica que me comunicará com os satélites no céu, o que me deixa emocionado, pela poesia que isso encerra: meus malfeitos no espaço sideral perto do Cruzeiro do Sul!”
Há 15 anos, quando desabrochava o século XXI, as expectativas positivas mundiais, decorrentes de fatos relevantes ocorridos a partir dos anos 90, simbolizados na queda do muro de Berlim, na Rio 92, e nas decisões da Reunião Mundial da Unesco - A Educação para o Século XXI, em 1998, levaram a comunidade internacional à busca por ações voltadas para o desenvolvimento sustentável e para eliminar as graves desigualdades regionais e sociais, responsáveis pelas incontáveis tragédias vividas pelos povos das nações mais pobres.
Em 2000, a Assembléia Geral da ONU fixou os “Objetivos do Milênio”, reconhecendo que o mundo já possuía, pelos conhecimentos adquiridos e pelo grau de avanço da tecnologia, os meios para construir soluções inovadoras, notadamente na educação, na saúde, na redução da mortalidade infantil, na erradicação da miséria e da fome e na garantia de uma sustentabilidade ambiental, fundamentada na ideia de construção de parcerias para o desenvolvimento.
A dimensão do esforço impôs um prazo de 15 anos para que as metas fossem atingidas.
Também em 2000, o "Marco de Ação de Dakar - Educação para Todos”, assinado por 164 paises sob a liderança da UNESCO, recomendou a ampliação dos cuidados na educação para a primeira infância, especialmente no caso das crianças em situação de maior carência, o atendimento as necessidades de aprendizado dos jovens e adultos por meio de acesso a programas apropriados de aprendizagem e de treinamento para a vida, a melhoria, até 2015, em 50% nos níveis de alfabetização de adultos, o acesso à educação básica para todos os adultos e a eliminação as disparidades de gênero na educação primária e secundária.
Em 2015, ano estabelecido para o cumprimento das metas, percebo que pouca coisa mudou e muitas pioraram bastante ao longo desses 15 anos.
A sensação de paz trazida no inicio dos anos 90, está sendo esmagada por uma “nova guerra mundial”, agora concentrada em algumas regiões do mundo, notadamente na África e no Oriente Médio, e pela disseminação do terrorismo, que trouxe elevadas doses de intranqüilidade.
As reuniões que resultaram do acordo de mudanças climáticas firmado durante a Rio 92 se eternizam, e já chegamos a de número 21, que ocorrerá em Paris, em dezembro, sem grandes mudanças.
Secas e inundações passaram a fazer parte do nosso quotidiano e sinalizam um futuro sombrio, sem soluções para o aquecimento global.
E quanto ao “Objetivos do Milênio” e ao “Marco de Ação de Dakar”?
As recentes declarações da Diretora Geral da UNESCO são muito preocupantes: mais de 65 milhões de crianças estão fora da escola, sendo 34 milhões nos países em guerra e nos campos de refugiados.
Na última semana, foi amplamente noticiado pela imprensa que nosso país não conseguiu cumprir 4 das 5 metas fixadas no programa nacional "Educação para Todos". Ainda temos 2,8 milhões de crianças e adolescentes fora da escola e apenas 54% dos jovens concluem o ensino médio na idade certa.
No contexto mundial, milhares de infelizes têm morrido no Mediterrâneo em busca de uma vida melhor. Somente neste ano foram quase 2 mil. É lamentável que se “morra em busca da vida”.
Vão longe os tempos de esperança, em que se acreditava ser possível construir um mundo melhor. As vezes parece que eles não voltam mais, se é que existiram. Entretanto, é preciso resistir, pois ninguém pode ficar para trás. Esta deve ser a luta de todos.
É fogo, Dilma não coopera consigo mesma nem com o Brasil. Incinerando-se na pira inextinguível da estupidez e surgindo ainda mais estúpida das cinzas, tal uma fênix troncha, Dilma contrasta com o manancial simbólico e imaginário do fogo na civilização, elemento determinante do uso e desenvolvimento da inteligência que, entre um universo coisas, possibilitou até o florescimento da linguagem e demais formas de expressão humana, como a arte e a capacidade de criar. Mas animada por anti-razão flamejante, tudo o que a presidente produz é essa fagulha breve que, lampejando como pensamento acidental, se extingue melancólica nas falas dela.
Talvez a primeira tocha tenha sido carregada há 500 mil anos por um Homo erectus – refreie-se o ânimo presidencial, pois, atenção, não se trata do homem erectus, possível habitante, como a mulher sapiens, do território mental em permanente apagão da pior presidente do país, qualquer país. Foi um alumbramento, um espanto, um frêmito, um transe quando aquele bicho que ainda comia cru e frio flagrou o raio certeiro atravessar uma árvore num encontro de calor e luz de que resultou um toco incendiado: a tocha com a qual ele entrou triunfante na caverna.
Finalmente, faria aquele churrasco na rocha para celebrar o fim das noites frias e da escuridão povoada por perigos indomáveis? Não ainda, seriam necessários mais quase 7 mil anos, já no neolítico, para o homem descobrir como gerar e manter o fogo. Até então, ele se virava com o que achava na natureza. Talvez por isso o apaixonante mito prometeico nos fale que o fogo roubado aos deuses para os homens tenha sido uma semente do tipo extinguível e mortal, diferente do perene que havia no Olimpo.
A cooperação de Prometeu com os homens lhe rendeu o castigo eterno que acabou terminando conforme Hesíodo relata na Teogonia, mas também o constituiu como o pai dos homens, o arquétipo que nos permitiu sair da confinação ao mundo natural, transformá-lo e criar o mundo cultural: escapamos da condição essencialmente instintiva para inaugurar a racionalidade, instaurando de modo instantâneo essas polaridades que nos dilaceram e a consciência a respeito delas (de si).
Criar é a liberdade possível. É apaixonante. O oposto de Dilma, a fênix aparvalhada que se tivesse descoberto o valor da cooperação, renunciaria ao cargo para o qual não possui autoridade moral, política ou técnica e cuja legitimidade atribuída pela eleição foi incinerada no estelionato eleitoral. Ou, ao menos, abriria mão de pronunciamentos que ardem queimando a inteligência, combustível que ainda não descobriu.
Como a mistura explosiva entre o público e o privado, entre o Estado brasileiro e as grandes construtoras, ergueu um monumento à violência, à beira do Xingu, na Amazônia
A marca da corrupção no Brasil atual, assim como da relação explosiva entre o Estado e as empreiteiras, tem como símbolo a Operação Lava Jato e a Petrobras, para onde todos os olhos estão voltados. Sem ignorar a enorme importância dessa investigação, há elementos para suspeitar que o símbolo das ligações perigosas entre o público e o privado pode estar também em outro lugar: na construção da polêmica hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, na Amazônia. É ela, um projeto acalentado ainda na ditadura, mas só executado na democracia, nos governos Lula-Dilma Rousseff, que une os fios desencapados da história recente do país, expõe a coleção de mazelas sociais do Brasil e nos obriga a compreender a corrupção também como um ato de extermínio. Belo Monte revela as vísceras de um modo de operação que se consolidou na ditadura, atravessou vários governos da democracia e permanece até hoje. A Amazônia, tanto como criadora de sentidos para o Brasil quanto como lugar concreto onde as disputas entre os vários atores se dá, não é a periferia do país, mas o centro. O que precisamos, talvez, seja deslocar o olhar para ajustar o foco.
Esse modo de operação, em que o público e o privado se misturam, é a chave para compreender o “Dossiê Belo Monte: Não há condições para a Licença de Operação”, documento publicado pelo Instituto Socioambiental no final de junho. Sabemos que o dinheiro que se esvai na corrupção no Brasil é também o dinheiro que falta para saneamento, educação e saúde, assim como para outros investimentos prioritários. Mas sempre fica um pouco abstrato. Em Belo Monte, é possível enxergar e quantificar o que a relação contaminada entre a concessionária Norte Energia e o governo federal já causou nos últimos anos, entre 2010 e 2015.
O anúncio recente de que o Tribunal de Contas da União (TCU) vai iniciar uma investigação sobre o uso de recursos públicos na construção da hidrelétrica de Belo Monte é uma boa notícia. Mas ainda é muito pouco e chega atrasada. A investigação do TCU atende a um pedido do Ministério Público Federal: as empreiteiras investigadas pela Lava Jato por desvios de recursos na Petrobras são as mesmas que constroem Belo Monte e, portanto, é importante investigar sua atuação juntou a outra estatal, a Eletrobras, esta do setor elétrico. Um dos delatores da Operação Lava Jato, Dalton Avancini, ex-presidente da construtora Camargo Corrêa, já afirmou, em um dos depoimentos, que a empreiteira se comprometeu a pagar ao PMDB uma propina de 20 milhões de reais para atuar na construção da usina.
O custo da hidrelétrica, segundo o TCU, é estimado hoje em 33 bilhões de reais. Na época do leilão estava orçado em 19 bilhões de reais, um aumento, portanto, mais do que considerável. A maior parte destes recursos vem do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Para evitar que se repita a gafe constrangedora de confundir o delator nos porões da ditadura com o da Operação Lava-Jato, bastaria mudar o nome da ação voluntária deste para uma nobre “colaboração premiada”. É simples assim.
Cacá Diegues
Seu artigo “Sobre Intolerâncias”, publicado na Folha, mostra como um Ministro da Fazenda mal preparado não consegue nem entender o mal que cometeu à sociedade. Quando lhe chamam de ladrão nos restaurantes, na frente de sua filha Marina Mantega, estes poucos corajosos nem sabem que a ladroagem foi de R$ 8.000.000.000.000,00. Nem você sabe disto.
Quando mostrei a Lula, na sua frente, a necessidade de resolver o déficit da previdência logo no início de governo, você interrompeu e arruinou a conversa dizendo que não havia sequer déficit da previdência. Santa ignorância, Prof. Guido Mantega.
Se você pelo menos tivesse estudado administração e contabilidade, saberia que o déficit era na época de R$ 260 bilhões por ano, financiado por uma dívida. Uma dívida para com as novas gerações, os R$ 260 bilhões que os jovens, incluindo a sua filha, estavam contribuindo.
Mas no seu despreparo, você achava que as despesas de R$ 260 bilhões estavam sendo “financiadas” por uma receita, uma receita previdenciária de R$ 260 bilhões, portanto déficit zero.
Santa ignorância, e você atrapalhou e destruiu minha tentativa de explicação ao Lula, naquela reunião com Antoninho Trevisan. Diante da nossa discussão ele decidiu mudar de assunto, dizendo: “Bom, vamos mudar de assunto, mas pelo que o Kanitz está afirmando, ainda bem que já sou aposentado, porque já garanti o meu”
Lula “garantiu o dele” às custas das receitas de sua própria filha, Marina Mantega , e você nem sabe disto.
Acontece que a nossa constituição federal é bem clara, Guido. “Art. 201. A previdência social será organizada observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.”
O dinheiro da Marina Mantega deveria ter sido depositado por você num Fundo Financeiro, e as aposentadorias determinadas por cálculos atuarias.
Nenhum Fundo foi criado por você, por Arminio Fraga, por Pedro Malan, e pior, você sumiu com a contribuição da sua Marina para imediatamente pagar a velha geração, imprevidente, sem nenhum equilíbrio atuarial.
Os jovens brasileiros são literalmente roubados por economistas como você, em vez dos jovens terem seu dinheiro rendendo juros por 30 anos, e podendo se aposentar com um salário digno.
Só na sua gestão como Ministro, sumiram R$ 3 trilhões, que você roubou da nova geração, mas só você sabe exatamente o valor. E isto é muito mais do que a corrupção da Petrobras, da qual você foi presidente do Conselho, cargo que você jamais deveria ter acumulado.
Você está fora de si quando diz que a população se tornou intolerante com você. O Brasil está tolerante demais com economistas despreparados, que não sabem o que é déficit atuarial, que não sabem o que é gestão financeira, que nunca leram o artigo 201 da nossa Constituição.
Você vai devolver este dinheiro? Sim ou não ?
Sua filha deveria ter sido a primeira a lhe alertar, como eu lhe alertei na frente do Lula. Em vez de me ajudar convencer o sapo barbudo, você atrapalhou e cortou a discussão dizendo que não havia déficit.
Se eu lhe encontrar num restaurante, eu vou acusá-lo de ter desviado R$ 3 trilhões de jovens como a Marina Mantega. E de ter desviado R$ 3 trilhões de recursos de investimentos de longo prazo, 30 anos em média.
E de ter assim elevado os juros a estes níveis estratosféricos. E de ter condenado 20 milhões de jovens a uma aposentadoria mínima, tudo pela sua incompetência contábil e financeira.
Espero que sua filha Marina Mantega seja a primeira a cuspir no seu prato.
Você tem sorte que o brasileiro é tolerante e ignorante demais em termos de Financas e Atuaria. Tenho certeza que o Joaquim Levy está desviando da mesma forma, e ele é economista de Chicago. Por isto você vai escapar.
Mas eu sei, e a Marina Mantega também.
As revelações dos processos do mensalão e, agora, do petrolão, trouxeram à luz a faceta do que sempre se fez no país. Controlar o Estado é controlar a riqueza e enriquecer. Quanto maior o Estado, mais essa realidade se impõe. Ter contatos com a cúpula governamental é a dupla garantia de que se terá o negócio (não existe edital sem dono!) e a margem necessária para ganhar dinheiro e remunerar os que viabilizaram o negócio. Poderosos grupos econômicos, como a Odebrecht, sempre usaram desse expediente nos mercados em que o governo controla ou regula ou faz concessão. Na raiz das grandes fortunas sempre se verá o conluio entre agentes políticos, burocratas e empresários.
A inovação do PT foi elevar os percentuais e transformar a corrupção, antes privativa dos maiorais, em livre acesso a todos os “companheiros” empossados em cargos. Implantou uma economia integralmente suportada pelos mecanismos mafiosos, a despeito e contra o mercado. O caso de Pasadena foi o mais emblemático de todos, pois ali provavelmente a taxa de corrupção deve tranquilamente ter ultrapassado 50% do valor do investimento. Bilhões de dólares foram roubados na cara dura.
A corrupção, todavia, não é privativa do PT, é inerente à alma humana. Sempre houve e sempre haverá corrupção, mas o que não é possível é que ela se transforme num fim em si mesma, como em Pasadena. A corrupção deve ser como uma humilde lombriga que não ameaça seu hospedeiro, não pode ser uma tênia solitária. A coisa fica disfuncional para o sistema produtivo, que começa a ficar anêmico e a perder a dinâmica. A crise atual é produto da exacerbação dessa “economia do crime” implantada pelo PT.
Nunca é demais repetir que os petistas se locupletaram pessoalmente, mas o objetivo estratégico deles sempre foi concluir a revolução socialista que está em curso, tendo, para isso, pago a “aliados” (políticos corruptos de outros partidos) fortunas extraídas de seus negócios escusos.
O fato da Justiça ter quebrado estruturalmente a máquina da corrupção levou a uma queda abruptas dos investimentos estatais, sempre casados com a promessa de pagar propinas. E também a uma quebra em cadeia de empresas comprometidas com o esquema mafioso. A “economia do crime” entrou em colapso e o Brasil ora vive a maior crise econômica dos últimos cinquenta anos, sem data para recuperação.
Tenho um conhecido cuja família está envolvida no processo do petrolão e eu só agora soube do fato, pelos jornais. Tivemos muitas discussões sobre o PT, eu sempre dizendo que o PT estava fazendo a corrupção e que o partido iria destruir o Brasil. Meu amigo ria, dizendo que eu me enganava, pois o PT, para ele, era capitalista. Ele entendia por capitalismo o mecanismo pelo qual o PT se locupletava mediante contratos públicos com empresas do mercado.
Isso não é capitalismo, nem mesmo mercantilismo, obviamente. É o processo revolucionário normal registrado pela história em toda parte, do qual o meu amigo nunca se deu conta. Sua família bancou de idiota útil, como aliás todos os que “contribuíram” (melhor dizendo, foram extorquidos) com a “despesa não contabilizada” do PT. A família do meu amigo se deu bem até que o juiz Sergio Moro decretasse a ordem de prisão. A casa caiu. É claro que não discuto mais assunto desse tipo com ele, até porque se isolou, mas tenho que dizer que eu sempre estive certo, tanto sobre a corrupção instrumental quanto sobre a revolução levada avante pelo PT.
Gente como Marcelo Odebrecht e Ricardo Pessoa foram os idiotas úteis da história, assim como Marcos Valério e sua gangue, a banqueira já prisioneira e toda gente que financiou alegremente os revolucionários do PT. Revolucionário não faz voto de pobreza, essa gente confundiu a ganância dos revolucionários com ser capitalista. Que bobagem! Custou caro, tanto no plano judicial como no plano econômico. E pela destruição das famílias dos envolvidos, como a do Marcos Valério. Muitos desapareceram do mercado e outros encolherão ao ponto da irrelevância econômica. Castigo merecido. A fora as penas de prisão, que serão cumpridas.
O ciclo do PT chegou ao fim e ficará por herança a gravíssima crise econômica, sem solução a vista. Enquanto a presidente Dilma Rousseff ficar no cargo haverá descenso inevitável na economia. Sua extrema impopularidade impede qualquer ação de salvação.
Quem viver verá.
O rápido empobrecimento dessa nova classe média ainda emergente torna-se uma ameaçadora realidade. A deterioração econômica fustiga, de um lado, pela re-aceleração inflacionária e, de outro, pelo agravamento da recessão. Os trabalhadores acabam encurralados pela inflação, pelo desemprego e pela desaceleração nos empréstimos que embalavam seus sonhos de consumo e de aquisição da casa própria.
A economia cobra com juros suas duras lições. As transferências de renda e o endividamento acelerado não conseguem sustentar a ampliação contínua do consumo de baixa renda. A prosperidade dos trabalhadores depende do aumento de sua produtividade, o que exige permanente acumulação de capital e incessantes investimentos em educação.
A crise política agrava a crise econômica e por ela é realimentada. Com instituições democráticas ainda em aperfeiçoamento, dependemos do excepcional desempenho de uns poucos indivíduos. São notáveis os exemplos de Joaquim Barbosa e Sergio Moro no Poder Judiciário.
“Os grandes eventos da História são determinados por muitos fatores, mas o mais importante é sempre a qualidade das lideranças. Afortunadamente para a América, a geração de políticos que emergiram para liderar as colônias rumo à independência foi um dos mais formidáveis grupos de homens da História: sensíveis, mentes abertas, corajosos, bem educados, talentosos, maduros e dotados de visão de longo prazo”, celebrava o historiador inglês Paul Johnson, em “Uma história do povo americano” (1997). Nem foi preciso mencionar a precondição da honestidade ao referir-se a Washington, Franklin, Jefferson, Hamilton, Madison e Adams.
No Brasil, o irresistível apelo da solidariedade arrastou-nos compreensivelmente a uma hegemonia política social-democrata. Mas o resultado de suas enormes limitações cognitivas e de sua obsoleta plataforma foi o aprisionamento do país nesta armadilha de baixo crescimento, inflação persistente e uma desconcertante degeneração da política numa teia de corrupção resultante do excesso de gastos públicos.
Não falo das necessárias transferências de renda aos pobres, mas sim dos gastos e impostos disfuncionais e abusivos que transformaram o país no paraíso de corruptos e rentistas e no inferno de empresários e trabalhadores.Paulo Guedes