sexta-feira, 17 de março de 2017

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Deu a louca no mundo

Não sei se é por conta do aquecimento global. Talvez seja. Depois que eu li que não foi somente devido à chuva de cinzas expelidas pela lava do Vesúvio mas também por conta do calor brutal que se abateu sobre a bela cidade romana que os moradores de Pompeia morreram, passei a respeitar ainda mais a teoria dos danos que o aquecimento global traz ao nosso planeta.

Ao nosso planeta e às nossas mentes...

Ou não seria o aquecimento global que está mexendo com os corações e mentes dos habitantes da Terra?

Tem lógica o que a Turquia está tentando fazer com a Holanda? Ofender-se porque os holandeses não admitem que ministros turcos façam comícios nos Países Baixos? Eles que falem lá em suas cidades e que deixem os holandeses em paz.

E os americanos que resolveram arriscar na eleição de uma figura inacreditavelmente despreparada para comandar uma democracia? Um sujeito que acha que foi eleito o Luis XV dos EUA e que ainda não se deu conta que ele manda, mas nem tanto quanto pensava que poderia mandar?

Isso do lado de lá do Equador. Aqui em nossas plagas, o calor tem mexido com tanta coisa que nem sei por onde começar...

Escolho falar primeiro do depoimento-campanha do Lula na Justiça Federal de Brasília, anteontem. No qual ele se queixou amargamente do massacre que vem sofrendo. Sabe, Leitor, fiquei até com pena do coitado. É uma vida sofrida. Ganha tão pouco que se vale de doações de seus filhos para fechar o mês. Na verdade, ele nem sabe quanto ganha.

Passou os anos de governo sem ir a uma festa, um batizado, um jantar, um casamento, para que não o fotografassem e depois explorassem a fotografia.

Ele chega a agradecer ao juiz a oportunidade que tem de dizer tudo que tem entalado na garganta. Além de massacrado, pelo visto ele é silenciado. Ainda bem que terá muitos depoimentos pela frente. Vai poder dizer tudo que pensa...

Já a ex-presidente Dilma, em Genebra, na semana passada, fez a alegria dos suíços que estavam assistindo a um jornal na TV local. Como é extremamente arrogante e se acha a rainha da mandioca, resolveu falar em francês! Com certeza para la felicité de las personnes.

Será que era preciso agredir Voltaire para nos dizer que se las personnes recebessem oportunidades iguais o mundo melhoraria? E antes que eu me esqueça: por que ela não fala em português, sua língua natal? Não tem, em sua equipe, nenhum tradutor?

Mas nem tudo é ruim. Recebemos a Lista de Janot, claro, que mal comparando é o nosso Almanaque Gotha. Não me refiro ao Gotha original criado em 1763 que serve desde então como guia de referência da alta nobreza e das famílias reais europeias. Quero me referir ao Gota publicado em Londres desde 1998 e que “designa de uma forma mais simples e comum personalidades políticas, mediáticas ou culturais, conhecidas pela sua importância em termos da vida social ou de notoriedade (Wikipedia)”.

No nosso Gota, ou Lista de Janot, encontramos dois ex-presidentes da República, cinco governadores, vários ministros de Estado, não sei quantos senadores e deputados e outras altas personalidades da nossa vida política. Estarão listados por seu cargo e origem? Não, meu caro Leitor, mas sim pelo fio condutor que une o Brasil há muitos e muitos anos, a corrupção.

A criatividade dos brasileiros, no entanto, não sofre com o calor. Ao contrário, parece que o fogo alimenta as ideias de nossos políticos que antes dividiam o dinheiro que arrecadavam entre as empreiteiras em Caixas 1 e 2. Hoje, os Caixas andam dando filhotes: já há uns três ou quatro tipos...

Curioso, não é? A opinião pública aprova com entusiasmo a Lava-Jato e a corrupção aumenta? Não, não é isso. Como lembrou nosso blogueiro Ricardo Noblat, “o que aumentou, e muito, foi a ousadia de corruptos e corruptores, assim como o volume de dinheiro em circulação proveniente do superfaturamento do preço de obras públicas” (Blog do Noblat, 13/3/2017).

A tal ponto que um dos mais eminentes listados, Luiz Inácio Lula da Silva, já está em plena campanha para as eleições presidenciais de 2018!

Acredite se quiser, Leitor.

O ex-covarde

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Entro na redação e o Marcelo Soares de Moura me chama. Começa: - "Escuta aqui, Nélson. Explica esse mistério." Como havia um mistério, sentei-me. Ele começa: - "Você, que não escrevia sobre política, por que é que agora só escreve sobre política?" Puxo um cigarro, sem pressa de responder. Insiste: - "Nas suas peças não há uma palavra sobre política. Nos seus romances, nos seus contos, nas suas crônicas, não há uma palavra sobre política. E, de repente, você começa suas "confissões". É um violino de uma corda só. Seu assunto é só política. Explica: - Por quê?"

Antes de falar, procuro cinzeiro. Não tem. Marcelo foi apanhar um duas mesas adiante. Agradeço. Calco a brasa do cigarro no fundo do cinzeiro. Digo: - "É uma longa história." O interessante é que outro amigo, o Francisco Pedro do Couto, e um outro, Permínio Ásfora, me fizeram a mesma pergunta. E, agora, o Marcelo me fustigava: - "Por quê?" Quero saber: - "Você tem tempo ou está com pressa?" Fiz tanto suspense que a curiosidade do Marcelo já estava insuportável.

Começo assim a "longa história": - "Eu sou um ex-covarde." O Marcelo ouvia só e eu não parei mais de falar. Disse-lhe que, hoje, é muito difícil não ser canalha. Por toda a parte, só vemos pulhas. E nem se diga que são pobres seres anônimos, obscuros, perdidos na massa. Não. Reitores, professores, sociólogos, intelectuais de todos os tipos, jovens e velhos, mocinhas e senhoras. E também os jornais e as revistas, o rádio e a tv. Quase tudo e quase todos exalam abjeção.

Marcelo interrompe: - "Somos todos abjetos?" Acendo outro cigarro: - "Nem todos, claro." Expliquei-lhe o óbvio, isto é, que sempre há uma meia dúzia que se salve e só Deus sabe como. "Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo." E por que essa massa de pulhas invade a vida brasileira? Claro que não é de graça nem por acaso.

O que existe, por trás de tamanha degradação, é o medo. Por medo, os reitores, os professores, os intelectuais são montados, fisicamente montados, pelos jovens. Diria Marcelo que estou fazendo uma caricatura até grosseira. Nem tanto, nem tanto. Mas o medo começa nos lares, e dos lares passa para a igreja, e da igreja passa para as universidades, e destas para as redações, e daí para o romance, para o teatro, para o cinema. Fomos nós que fabricamos a "Razão da Idade". Somos autores da impostura e, por medo adquirido, aceitamos a impostura como a verdade total.

Sim, os pais têm medo dos filhos, os mestres dos alunos. o medo é tão criminoso que, outro dia, seis ou sete universitários curraram uma colega. A menina saiu de lá de maca, quase de rabecão. No hospital, sofreu um tratamento que foi quase outro estupro. Sobreviveu por milagre. E ninguém disse nada. Nem reitores, nem professores, nem jornalistas, nem sacerdotes, ninguém exalou um modestíssimo pio. Caiu sobre o jovem estupro todo o silêncio da nossa pusilanimidade.

Mas preciso pluralizar. Não há um medo só. São vários medos, alguns pueris, idiotas. O medo de ser reacionário ou de parecer reacionário. Por medo das esquerdas, grã-finas e milionários fazem poses socialistas. Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário. É o medo que faz o Dr. Alceu renegar os dois mil anos da Igreja e pôr nas nuvens a "Grande Revolução" russa. Cuba é uma Paquetá. Pois essa Paquetá dá ordens a milhares de jovens brasileiros. E, de repente, somos ocupados por vietcongs, cubanos, chineses. Ninguém acusa os jovens e ninguém os julga, por medo. Ninguém quer fazer a "Revolução Brasileira". Não se trata de Brasil. Numa das passeatas, propunha-se que se fizesse do Brasil o Vietnã. Por que não fazer do Brasil o próprio Brasil? Ah, o Brasil não é uma pátria, não é uma nação, não é um povo, mas uma paisagem. Há também os que o negam até como valor plástico.

Eu falava e o Marcelo não dizia nada. Súbito, ele interrompe: - "E você? Por que, de repente, você mergulhou na política?" Eu já fumara, nesse meio-tempo, quatro cigarros. Apanhei mais um: - "Eu fui, por muito tempo, um pusilânime como os reitores, os professores, os intelectuais, os grã-finos etc, etc. Na guerra, ouvi um comunista dizer, antes da invasão da Rússia: - "Hitler é muito mais revolucionário do que a Inglaterra." E eu, por covardia, não disse nada. Sempre achei que a história da "Grande Revolução", que o Dr. Alceu chama de "o maior acontecimento do século XX", sempre achei que essa história era um gigantesco mural de sangue e excremento. Em vida de Stalin, jamais ousei um suspiro contra ele. Por medo, aceitei o pacto germano-soviético. Eu sabia que a Rússia era a antipessoa, o anti-homem. Achava que o Capitalismo, com todos os seus crimes, ainda é melhor do que o Socialismo e sublinho: - do que a experiência concreta do Socialismo,

Tive medo, ou vários medos, e já não os tenho. Sofri muito na carne e na alma. Primeiro, foi em 1929, no dia seguinte ao Natal. Às duas horas da tarde, ou menos um pouco, vi meu irmão Roberto ser assassinado. Era um pintor de gênio, espécie de Rimbaud plástico, e de uma qualidade humana sem igual. Morreu errado ou, por outra, morreu porque era "filho de Mário Rodrigues". E, no velório, sempre que alguém vinha abraçar meu pai, meu pai soluçava: - "Essa bala era para mim." Um mês depois, meu pai morria de pura paixão. Mais alguns anos e meu irmão Joffre morre. Éramos unidos como dois gêmeos. Durante 15 dias, no Sanatório de Correias, ouvi a sua dispnéia. E minha irmã Dorinha. Sua agonia foi leve como a euforia de um anjo. E, depois, foi meu irmão Mário Filho. Eu dizia sempre: - "Ninguém no Brasil escreve como meu irmão Mário." Teve um enfarte fulminante. Bem sei que, hoje, o morto começa a ser esquecido no velório. Por desgraça minha, não sou assim. E, por fim, houve o desabamento de Laranjeiras. Morreu meu irmão Paulinho e, com ele, sua esposa Maria Natália, seus dois filhos, Ana Maria e Paulo Roberto, a sua sogra, D. Marina. Todos morreram, todos, até o último vestígio.

Falei do meu pai, dos meus irmãos e vou falar também de mim. Aos 51 anos, tive uma filhinha que, por vontade materna, chama-se Daniela. Nasceu linda. Dois meses depois, a avó teve uma intuição. Chamou o Dr. Sílvio Abreu Fialho. Este veio, fez todos os exames. Depois, desceu comigo. Conversamos na calçada do meu edifício. Ele foi muito delicado, teve muito tato. Mas disse tudo. Minha filha era cega.

Eis o que eu queria explicar a Marcelo: - depois de tudo que contei, o meu medo deixou de ter sentido. Posso subir numa mesa e anunciar de fronte alta: - "Sou um ex-covarde." É maravilhoso dizer tudo. Para mim, é de um ridículo abjeto ter medo das Esquerdas, ou do Poder Jovem, ou do Poder Velho ou de Mao Tsé-tung, ou de Guevara. Não trapaceio comigo, nem com os outros. Para ter coragem, precisei sofrer muito. Mas a tenho. E se há rapazes que, nas passeatas, carregam cartazes com a palavra "Muerte", já traindo a própria língua; e se outros seguem as instruções de Cuba; e se outros mais querem odiar, matar ou morrer em espanhol - posso chamá-los, sem nenhum medo, de "jovens canalhas".

Nélson Rodrigues

Imagem do Dia

Laos

Lula usa Temer como escada rumo ao pedestal

Lula poderia estar jogando conversa fora na câmara de descompressão de São Bernardo. Mas foi condenado pela Lava Jato à candidatura presidencial perpétua. Aprisionado por seus advogados no figurino de vítima, Lula se esforça para retornar ao pedestal de presidenciável antes do depoimento marcado por Sergio Moro para 3 de maio. Para acelerar a subida, Lula pisa em Michel Temer como se escalasse os degraus de uma escada.

Sob gritos de “olê, olê, olá, Lulaaaaa, Lulaaaaaa”, o morubixaba do PT discursou em ato contra a reforma da Previdência, na Avenida Paulista. A certa altura, declamou para o microfone a retórica de sempre: ''Está ficando cada vez mais claro que o golpe dado nesse país não foi apenas contra a Dilma, contra os partidos de esquerda.'' Hummmm… Tenta-se também ''acabar com as conquistas da classe trabalhadora ao longo de anos, com a reforma trabalhista e da Previdência.''


Longe de clarear, as palavras de Lula escurecem a realidade. Deve-se a Lula a chegada de Temer ao Planalto. Primeiro porque foi ele quem negociou a conversão de Temer em vice nas chapas de 2010 e 2014. Segundo porque também é de sua autoria a fábula da supergerente que produziu a ruína econômica que levou ao impeachment.

De resto, o que aniquilou “as conquistas da classe trabalhadora” foi a gestão empregocida de Dilma. Lula sabe que a legislação trabalhista precisa tomar uma lufada de ar. Também sabe que a Previdência irá à breca sem uma reforma. O amigo e ex-colaborador Henrique Meirelles já lhe explicou a situação das arcas previdenciárias. Não repete em público o que ouviu em privado porque a verdade não rende aplausos.

Assim, pisando em Michel Temer distraído, Lula retorna ao pedestal de candidato. Em maio, Sergio Moro interrogará uma pose, não um suspeito. Na sequência, condenará um projeto político, não um culpado dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Se a sentença for confirmada na segunda instância, como parece provável, descerá ao xilindró um mártir petista, não um presidiário.

Gente fora do mapa

Demonização


Os meios de comunicação falam de gente folgada, de viciados, de pessoas que têm muitos filhos, que compram televisores grandes…

Sempre encontram histórias para culpar os pobres ou os migrantes. É uma forma de demonizar a pobreza

Ken Loach

Não vá para a rua sem óculos

Dizem que março será o mês da volta das manifestações, do novo grito das ruas. Aparentemente, serão manifestações em defesa da Lava Jato. Essa é uma causa irretocável. Mas o sismógrafo da opinião pública brasileira – essa entidade exótica – parece registrar também uma tendência ao reaparecimento do “fora todo mundo”. É o famoso saco de gatos cívico, aquele “basta” genérico que o Brasil tanto ama. Nesse caso, por incrível que pareça, as ruas podem não fazer bem à Lava Jato.

Um instituto de pesquisa apurou que, para a maioria dos brasileiros, Eduardo Cunha é um vilão mais nocivo que José Dirceu. Cada vez mais se observa que as pesquisas de opinião ensejam desconfiança – infelizmente, e sem nenhuma teoria conspiratória. Há muitas formas de induzir o resultado – tipo de pergunta, momento da sondagem etc. – e vários institutos andaram levando surra da realidade por causa disso. É natural que Cunha seja mais citado que Dirceu, já que sua saga esteve em cartaz mais recentemente. A pesquisa sublinha a síndrome da memória curta – o que não deixa de ser um fato real.

Em outras palavras: pode não ser o mais honesto você pesquisar com um corintiano na saída do estádio, após uma derrota do Corinthians, o nível de satisfação dele com qualquer coisa no planeta Terra; mas também é verdade que boa parte das manifestações públicas brasileiras tem a profundidade de uma ressaca futebolística.


Os famosos protestos de junho de 2013 continuam sendo descritos por narradores diversos – o que não falta por aqui é narrador – como um divisor de águas na política nacional. É uma espécie de alquimia historiográfica. Basta dizer que aquele mar de gente nas ruas não fez cócegas nos principais responsáveis pela insatisfação geral.

A causa inicial contra o aumento das passagens de ônibus, que depois se ampliou com o slogan “Não é só por 20 centavos”, denotava a perda de poder aquisitivo e a deterioração das condições de vida em geral – primeiros sinais da recessão profunda que se instalou no país. Como se sabe hoje (e já era fácil enxergar na época), a derrocada econômica foi obra exclusiva da quadrilha que governava o Brasil – com direito à façanha de jogar a maior empresa nacional na lona. Você pode deixar o narrador sonhar que ali o PT começou a cair, mas você sabe que é mentira.

Dilma, Mercadante, Rossetto, Ananias e todo aquele estado-maior de picadeiro fizeram a festa: pronunciamentos, coletivas, anúncios de reforma política, promessas de plebiscito e doces reminiscências dos seus tempos de militância de rua, o que os igualava aos manifestantes de 2013. Os delinquentes federais saíram sem nenhum arranhão da Primavera Burra – e ainda contrataram para a campanha eleitoral do ano seguinte os bravos ativistas de mídia e de quebra-quebra que estavam nas ruas por um mundo melhor (para os seus cofrinhos particulares).

O problema deste março de 2017, com Cunha desbancando Dirceu entre os vilões da Lava Jato, é parte da multidão tirar do foco as obras completas do PT (já faz tanto tempo...) e partir para o “fora todo mundo” – inclusive quem está consertando (e bem, segundo todos os indicadores) o desastre.

Vamos ser didáticos: todos os pilantras do PMDB merecem cadeia, e a força-tarefa da Lava Jato jamais deu qualquer sinal de que pretenda aliviar os partidários do presidente, ou mesmo o próprio; mas o gigantesco esquema do petrolão, articulado ao mensalão, que sequestrou o coração do estado brasileiro e permitiu o maior assalto da República, não foi liderado e regido por nenhum desses coadjuvantes. A Lava Jato só terá sido bem-sucedida se condenar e prender a cúpula populista que virou dona do Brasil por 13 anos. Se a opinião pública aceitar qualquer coisa diferente disso, estará desautorizada a reclamar da corrupção.

Se as manifestações de março de 2017 partirem para o “fora todo mundo”, provavelmente vão se desmanchar na história como as de 2013. Se servirem para atrapalhar a equipe econômica de Temer, que é reconhecida tecnicamente no mundo todo e está arrumando a casa, o tiro sairá pela culatra. Os parasitas que estão de boca aberta para herdar, em 2018, a lenda coitada do PT saberão reabrir devidamente todas as boquinhas e bocarras que a Lava Jato conseguiu fechar.

'É nós' de novo

O PT voltou às ruas ontem contra as reformas da Previdência e trabalhista, em manifestações organizadas pelas centrais sindicais e outros movimentos sociais. O ponto alto foi a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palanque armado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Avenida Paulista, no centro de São Paulo, para onde confluíram professores em greve, bancários, metalúrgicos e integrantes do movimento dos sem-teto. No Rio de Janeiro, servidores públicos estaduais com salários em atraso e servidores federais encorparam os protestos na Avenida Presidente Vargas, próximo à Estação Central do Brasil.

As duas reformas estão sendo exploradas pela cúpula do PT como plataformas de lançamento da candidatura do ex-presidente da República às eleições de 2018, num momento em que a Operação Lava-Jato, com as delações premiadas da Odebrecht, jogam na vala comum do escândalo da Petrobras toda a elite política do país. O discurso de que todo mundo usava “caixa dois” ganha foro de verdade absoluta e Lula nada de braçada, fazendo-se de vítima. A impopularidade de Temer e a fraqueza do governo, com cinco ministros já identificados como arrolados nos pedidos de inquérito, fragilizam o Palácio do Planalto na opinião pública.

O principal artífice da reforma da Previdência é o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que voltou ao governo, apesar de enroladíssimo na Lava-Jato. Seu “estoicismo” ao reassumir o cargo como quem vai para o sacrifício (convalescia de uma cirurgia na próstata) pode estar sendo levado em alta conta no Palácio do Planalto, mas sinaliza para a opinião pública aquilo que é verbalizado pelos sindicalistas que organizam os protestos: os trabalhadores pagarão o pato pelos desmantelos dos políticos.

Sim, é verdade, Padilha conhece o caminho das pedras das votações no Congresso e pode ser que realmente consiga manter coesa a base do governo para aprovar as reformas; ao mesmo tempo, porém, é um alvo fixo para os adversários das mudanças no regime de Previdência e nas relações trabalhistas. O que terá mais peso nas votações do Congresso: as verbas e cargos federais ou protestos sindicais? Qualquer observador atento sabe que as reformas serão mitigadas de alguma forma pelo Congresso, que haverá negociação e mudanças no projeto original, para estabelecer o teto das aposentadorias e pensões, o tempo de contribuição e a idade mínima para aposentadorias do setor público e do setor privado.

Essa é a primeira fileira de árvores da floresta, que é um emaranhado mais complexo, com muita diversidade. Em primeiro lugar, a reforma da Previdência é uma necessidade. O sistema está à beira do colapso, como aconteceu no Rio de Janeiro, por causa das desonerações fiscais, da roubalheira, da má gestão, dos privilégios e, principalmente, por causa da mudança de perfil demográfico da população (o xis da questão). Sem desonerações, roubos e má gestão, ainda que se consiga receber o que os sonegadores devem, a Previdência não suportará uma situação na qual cresce o número de aposentados e pensionistas e diminui o número dos que contribuem. Ou seja, o sistema perdeu sustentabilidade.

Os mesmos sindicatos que fecharam os olhos para a roubalheira na Petrobras e nos fundos de pensão (Previ, Petros, Fundef, etc) lideram as mobilizações ao lado de sindicatos de professores e servidores públicos que obtiveram sucessivos aumentos reais de salários e ajudaram a quebrar as contas públicas em vários estados. Alguns representam pequeno número de servidores com grande poder de barganha, por ocuparem posições estratégicas na administração pública. Todos voltaram às ruas para impedir as reformas, graças à montanha de dinheiro que arrecadam com o imposto sindical.

Os trabalhadores do setor privado, porém, que são a esmagadora maioria, não aderiram ao movimento. Algumas categorias estão definhando. Vivem uma realidade completamente diferente. Haja vista os metalúrgicos do setor automotivo, cujas fábricas estão sendo completamente robotizadas. O desemprego afasta qualquer possibilidade de greve; o peão não tem a mamata de ficar dias e dias parado e receber os salários sem desconto. Vive no andar de baixo e não frequentam a casa grande.

Depois da narrativa do golpe, o PT quer consolidar o discurso da perda dos direitos sociais. É uma estratégia para não fazer autocrítica ao próprio fracasso. Um grande biombo para não reconhecer a forma como se beneficiou do status quo durante 12 anos. E não fazer autocrítica do seu próprio transformismo, ao se alinhar às forças que agora são hegemônicas no poder, nas eleições de 2010 e 2014. É uma estratégia inteligente, mas falsa. Porque aposta num projeto historicamente derrotado, cujo eixo — a antiglobalização e o nacional desenvolvimentismo —, ironicamente, coincide com a política esdrúxula do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e da direita xenófoba da Europa.

O grande problema do Brasil é chegar a 2018. É o que fazer depois, quando o país precisará encontrar o caminho de desenvolvimento sustentável e da renovação política. Os protestos de ontem reproduzem dogmas e palavras de ordem dos anos 1960. Ideias mortas há mais de 50 anos.

Paisagem brasileira

Mariana (MG)

'El Niño costeiro' pode indicar fenômeno em escala global

Desde o fim de janeiro, fortes chuvas já afetaram milhares de pessoas e causaram sérios danos em casas e estradas no Peru e no Equador. A área não assistia a um desastre de tamanha proporção desde 1998.

Em uma única região peruana, Piura, há aproximadamente 15 mil atingidos, que têm sofrido com rios transbordando e o colapso dos sistemas de canalização. As principais áreas afetadas estão no norte do país, Tumbes, Piura e Lambayeque, mas os efeitos também podem ser vistos em La Libertad, Cajamarca, Ica e na capital Lima.

Enquanto isso, as enchentes já provocaram a morte de 14 pessoas e danificaram milhares de casas na costa do Equador - principalmente nas províncias de Chimborazo, Guayas, Los Rios e Manabí.

Meteorologistas de todo o mundo observam a costa do Peru e do Equador
Essa situação se deve a um fenômeno que, por suas consequências, é parecido com o El Niño, mas que está localizado apenas ao longo das costas do Peru e Equador.

Por essa semelhança, cientistas peruanos o batizaram de "El Niño costeiro", e especialistas de todo o mundo observam o que ocorre ali. O motivo: trata-se de um sinal de que um El Niño de escala planetária pode estar se aproximando.
Aquecimento localizado

Durante o El Niño, a temperatura da água aumenta em toda a franja equatorial do oceano Pacífico até os Estados Unidos, e os efeitos são sentidos em todo o mundo: chuvas de monções fracas na Índia, invernos mais frios na Europa, tufões na Ásia e secas na Indonésia e na Austrália, entre outras calamidades.

Mas no "El Niño costeiro" o aquecimento ocorre apenas na zona costeira do Peru e Equador - as consequências, como chuvas torrenciais, se restringem apenas a esses territórios, explica o Comitê Multissetorial para o Estudo do Fenômeno do El Niño no Peru.

O fato de que a temperatura da água está aumentando sozinha na costa de ambos os países pode ser relacionado com correntes de vento que circulam nesta área.

No final de 2016, ventos do norte, provenientes da América Central, favoreceram o deslocamento de águas quentes para o sul. No caminho até a costa equatoriana e peruana, essa massa hídrica não encontrou nenhuma barreira, explica o meteorologista Nelson Quispe, diretor do departamento de previsão do Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru.

Os ventos costeiros que seguiam em direção oposta - do sul ao norte - ficaram enfraquecidos durante os primeiros dias de dezembro de 2016 e permitiram a entrada das águas quentes oriundas da América Central.

"Normalmente, o vento que vai do sul ao norte ajuda a levar a corrente marítima de Humboldt, que é fria. Mas como o vento enfraqueceu, a corrente também ficou mais leve", acrescenta Quispe.

O aquecimento atípico do mar na costa começou em meados de janeiro e já causou picos na temperatura da água de até 29ºC no Peru e de 28ºC no Equador.

"A temperatura normal no verão é 24ºC ou 25ºC. Agora, está quatro a cinco graus acima, e isso é que causa as chuvas (por forte evaporação da água)", explica Quispe.

Um requisito para que as autoridades peruanas confirmem a presença do "El Niño costeiro" é registrar essas mudanças por pelo menos três meses consecutivos.

Espera-se que as precipitações continuem neste mês e que diminuam apenas no final de abril, assinala Quispe.

Assim deveria ser...

Nascer devia ser por si mesmo um seguro de vida, um penhor de segurança, uma responsabilidade coletiva
Paulo Mendes Campos, "Negocios"
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Déficit da Previdência, uma balela que o govern pretende que o povo engula

Esta história de déficit da Previdência, que vem sendo contada desde os governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio “Lula” da Silva e Dilma Rousseff, é uma mentira grosseira e esconde interesses que visam prejudicar aqueles que pagaram suas contribuições ao INSS. Importantes cálculos foram feitos pelo cientista político Itamar Portiolli de Oliveira, são reais e facilmente constatados em uma planilha. Não são dados fictícios.

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Vamos aos cálculos, sem embromações, enrolações ou explicações dos técnicos de coisa alguma, que espalham mentiras e jogam areia nos olhos dos contribuintes. Veja se a Previdência é realmente deficitária:

Salário mensal… R$ 937,00
Contribuição INSS… R$ 176,00 (patronal e empregado)
Aposentadoria Integral em 35 anos = 420 meses
Pegando a contribuição mensal de R$ 176,00 e aplicando-se o rendimento da poupança de 0,68%, totaliza R$ 422.784,02

Considerando-se a expectativa de vida em 75 anos, e que em média o brasileiro se aposenta com 60 anos, somente receberá a aposentadoria por 15 anos, porém o montante acumulado é suficiente para pagar 40 anos e três meses de salário equivalente à contribuição ou seja, segundo o cálculo feito à base de R$ 880 mensais, sem contar rendimentos.

O trabalhador receberá de volta do governo R$ 158,4 mil no total, ou seja, 37,5% daquilo que lhe foi tomado pelo governo.

Engraçado que não vejo ninguém publicando esse tipo de pesquisa na imprensa. Resumindo:
Trabalhador PAGA R$ 422.784,02
Trabalhador RECEBE R$ 158.400,00

Que negócio, não?

Agora, aumentando para 49 anos, o trabalhador acumulará R$ 1,4 milhão e receberá um total bem menor, pois terá mais tempo de contribuição e menos tempo de gozo da aposentadoria

Waldir Pires, um político sério, que foi ministro, já alertava que a Previdência não era deficitária. O problema da Previdência é atuarial. Ela precisa de uma auditagem urgente em suas contas.

O resto é péssima gestão e roubalheira pura e simples. Vamos a luta! Não vamos deixar isso acontecer, vamos reclamar!

No vídeo, Lula defende a reforma da Previdência


Primeiro Lula tratou de certificar-se de que a plateia reunida nesta quarta-feira era amestrada. Só então se animou a afastar-se das catacumbas do Instituto Lula para berrar na Avenida Paulista o contrário do que disse no vídeo gravado em 2015. Há apenas dois anos, o mais vistoso réu da Lava Jato endossava argumentos evocados pelo presidente Michel Temer para justificar a reforma da Previdência. Confira o palavrório:

Como se vê, Lula sabe que a curva desenhada pelo crescimento da expectativa de vida tornou irremediavelmente grisalha a legislação previdenciária. “A gente morria com 60 anos de idade, com 50 anos de idade, agora a gente tá morrendo com 75″”, compara no vídeo. Ele também reconhece que a passagem do tempo exige correções modernizadores em praticamente todos os textos legais. “Você não pode ficar com a mesma lei que você tinha feito há 50 anos atrás”, diz o palanque ambulante. “É preciso que você avance”.



“Cê tem várias formas pra encarar a questão da Previdência”, concorda a ainda presidente Dilma Rousseff no vídeo gravado em janeiro de 2016. “Os países desenvolvidos, todos eles, buscaram aumentar a idade de acesso, a idade mínima para acessar a aposentadoria. Tem esse caminho”. Demitida do emprego que desonrou e despejada do Planalto antes que concluísse a missão de arrasar o Brasil, Dilma também mudou de rota ─ e declarou guerra à reforma proposta pelo governo Temer. Ela sempre faz o que Lula ordena.

Por que o pregador de missa negra mudou de ideia? Mentiu antes ou está mentindo agora? Qual é o Lula que vale? Nenhum dos dois vale nada. Simples assim. Qualquer versão do chefão é tão falsa quanto o narizinho arrebitado de Gleisi Hoffmann.

As duas listas

São duas listas famosas. A de Oskar Schindler – que salvou judeus, na Segunda Guerra, evitando que morressem nos campos de concentração. E a do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot – que terça-feira entregou, ao Supremo, relação dos nomes citados por 78 delatores da Odebrecht. Impossível resistir à tentação de comparar as duas.

• A Lista de Schindler é de 1944. A Lista de Janot é de 2017.

• A de Schindler tinha 13 páginas. A de Janot está em 10 caixas de papelão.

• A de Schindler tinha 1.200 nomes. A de Janot 294.

• Os judeus de Schindler estavam em suas fábricas das atuais Polônia e República Checa. Os nomes de Janot estão, quase todos, em Brasília.

• A de Schindler queria salvar vidas. A de Janot quer por ladrões na cadeia.

• Os judeus de Schindler iriam para os Campos de Concentração de Auschwitz-Birkenau, Belzec, Gross, Plaszow. Os nomes de Janot correm o risco de ir para prisões comuns de Curitiba e Brasilia.

• Schindler chamava seus judeus pelo nome. Enquanto aqueles da lista de Janot têm, quase todos, codinomes – como bandidos rasteiros de subúrbio, desses fichados todos os dias pela polícia.

• A lista de Schindler funcionou porque ele vivia corrompendo oficiais da Schutzstaffel (SS) e da Wehrmacht – Bankier, Göth, Höb. Já na de Janot, o nome disso era Caixa 2.

• Os salários dos judeus de Schindler lhe custavam pouco. Os subornados, na lista de Janot, cobravam os olhos da cara.

• Salvaram-se, na lista de Schindler, apenas judeus. Na de Janot, estão tentando se salvar tantos que são, ou que foram, deputados e senadores (muitos), ministros (5), ex-governadores (10), ex-presidentes (2), intermediários e grandes empresários (também muitos). Sem contar que, até fins de 2016, havia já 357 inquéritos autorizados, e 103 ações penais, contra políticos com mandato.

• Os nomes de Schindler sabiam que podiam morrer a qualquer momento. Os de Janot se consideram super-homens, acima do bem e do mal.

• Schindler e sua mulher, Emile Pelzl, em 1949 foram morar na Argentina. Alguém sabe onde vão se esconder os nomes de Janot, depois que deixarem as prisões?.

• Voltando à Alemanha, em 1963, Schindler foi a falência. Irão à falência algumas das empreiteiras nomeadas na lista de Janot?

• Schindler viveu seu fim de vida sustentado pelos Schindlerjuden (judeus de Schindler). Quem sustenta, hoje, alguns dos nomes da lista de Janot?. E quem vai sustenta-los?, depois.

• A lista de Schindler acabou indo, em 2009, para a Biblioteca Estatal de Nova Gales do Sul (Austrália). A de Janot fez viagem bem menor – da Procuradoria Geral da República até o Supremo. Menos de um quilômetro.

O poeta português Ary dos Santos começa poema (“O objeto”), dizendo: Há que dizer-se das coisas/ O somenos (de menor importância) que elas são/ Se for um copo é um copo/ Se for um cão é um cão. Nessa linha, há que dizer-se que os nomes da Lista de Schindler são pessoas que merecem, de todos nós, homenagem e respeito. Os da Lista de Janot, não.