segunda-feira, 29 de junho de 2015

Mandioca, Mulher Sapiens, Brahma, Caneco, Tulipa, Pixuleco e Cambalache


Manhã de domingo é coisa para ser aproveitada. É presente da vida. Dá a possibilidade de relaxar, ler jornais, ficar em dia, enfim. Sobretudo diante de uma (ou varias) xícara de café.

E é aproveitando este prazer que me encontrei em um café, lendo, após semana corrida, as notícias atrasadas da semana, admirando o verão canadense pela janela e ouvindo tango argentino pelo computador. Mistura talvez estranha, certamente improvável. Eu sei...


Enquanto o fone entrega a voz de Gardel a meus ouvidos, fico sabendo que a mandioca foi o assunto importante na semana na terrinha. Assisto, sem querer acreditar, vídeo presidencial homenageando o tubérculo, seguido de incrível digressão sobre a “Mulher Sapiens”. Felizmente, Gardel, sopra em meus ouvidos, explicação provável:


“(…) es un despliegue
de maldad insolente
ya no hay quien lo niegue.
Vivimos revolcaos en un merengue
y en un mismo lodo
todos manoseaos…”


Com a memoria inda severamente impactada pela mandioca presidencial, vem mais noticias da lama que parece assolar os pais. Falam de prisões, hipocrisia e cinismo. Mais, uma vez, Gardel parece ter compreendido:


“Hoy resulta que es lo mismo
ser derecho que traidor..!
Ignorante, sabio, chorro,
generoso o estafador!
Todo es igual! Nada es mejor!
Lo mismo un burro
que un gran profesor!
No hay aplazaos ni escalafon,
los inmorales nos han igualao.
Si uno vive en la impostura
y otro roba en su ambicion,
da lo mismo que sea cura,
colchonero, rey de bastos,
caradura o polizon…
Que falta de respeto,
que atropello a la razon!
Cualquiera es un señor!
Cualquiera es un ladron!”


E, com cenas de cinismo explicito, vem a demonstração de que a mau gosto e a falta de imaginação não poupam nem mesmo as paginas policiais. Falam de Brahma, Caneco, Tulipa e Pixulecos. Triste, mas nada que Gardel ja não tenha explicado:


El que no llora, no mama,
y el que no afana es un gil.
Dale nomas! Dale que va!
Que alla en el horno
nos vamo a encontrar!

E, diante de mandiocas, mulher sapiens, Caneco, Tulipa e Pixulecos, só resta torcer para que as a gente não termine como tango argentino e que, em algum momento, seja possível obter, ainda que com atraso, justiça. Se não, resta apenas aceitar o diagnostico e conselho de que tudo é Cambalache:

“No pienses mas,
sentate a un lao.
Que a nadie importa
si naciste honrao.
Que es lo mismo el que labura
noche y dia, como un buey
que el que vive de los otros,
que el que mata o el que cura
o esta fuera de la ley.”

O bom combate à corrupção


A corrupção, além de uma questão moral, é um risco inarredável do jogo político real. Para combatermos eficazmente esse mal, temos de criar estruturas institucionais mais simples e eficazes, quebrar monopólios de decisão, abrir atos secretos de poder, criar incentivos de delação e impor mecanismos céleres de punição exemplar. Em sistemas políticos modernos, a corrupção está instalada em organizações criminosas complexas – de concatenações públicas e privadas –, com hábil e silenciosa mobilidade nas margens da lei, ganhando escala em países institucionalmente fracos e anacrônicos.

Sem cortinas, a democracia de massas e o desenvolvimento econômico das nações multiplicaram a arrecadação fiscal, transformando os governos em oásis trilionários de recursos pecuniários. Ora, é muito dinheiro, pouca fiscalização e raro espírito público. Tal combinação é politicamente explosiva e moralmente desastrosa, ou seja, o risco da ilicitude é extremamente alto. Moral da história: o voto democrático pode eleger governos indecentes que, para escusos fins pessoais, acabam por subjugar a soberania popular a seus incontroláveis desideratos criminosos.

Com o foro da impunidade, os sistemas corruptos se estabilizam em uma situação de equilíbrio, beneficiando pontuais setores da elite política e econômica, prejudicando, assim, a concorrência do livre mercado e a paridade de armas na democracia. Para quebrar a inércia delitiva, faz-se imperativo um fato desencadeador que atinja o núcleo do esquema delitivo, capturando algumas cabeças da engrenagem corrupta. Trata-se da aplicação da estratégia do frying a few big fishes, na qual o enquadramento daqueles que se achavam acima da lei vem a criar um momento proativo de elevação institucional do país.


Nesse contexto, a Operação Lava Jato poderá ser um ponto de inflexão importante no bom combate à entranhada corrupção brasileira. Para tanto, é fundamental o engajamento da sociedade civil na luta por um país mais digno, justo e decente. Não basta apenas votar de dois em dois anos. É preciso ser, diariamente, um bom cidadão. E o bom cidadão é aquele que não cala diante do desmando estabelecido, que participa ativamente das discussões políticas e faz do virtuoso exemplo pessoal uma forma de multiplicação dos valores morais que devem presidir a vida em sociedade.

O atual momento do Brasil, embora frustrante ao cidadão de bem, é uma etapa obrigatória de nossa caminhada civilizatória. A democracia é um processo político que se aprimora na prática. Nem sempre é fácil. E é justamente por isso que a luta pela liberdade se revela recompensadora, pois é no esforço e na superação da dificuldade que o espírito humano encontra a paz do dever cumprido. A hora é de fé, trabalho e confiança no futuro. Afinal, quando o povo quer, a política acaba querendo.

Nau sem rumo: Dilma no volume morto

Real vira dragao inflacao metamorfose governo dilma

O processo histórico é caracterizado pela alternância de períodos de calmaria e turbulência. As crises são as parteiras da história. É quando a sociedade, a partir da experiência acumulada, pode enfrentar seus mitos, problemas, gargalos e desafios. A luta entre o velho e o novo é complexa. A crise pode ser enfrentada com ousadia e coragem ou com covardia e mediocridade. Decisões tomadas hoje podem viabilizar ou aniquilar o horizonte das novas gerações. O Brasil está em marcha lenta, gradual e segura para um futuro nada glorioso.

Vivemos a maior crise econômica pós-real. Investimentos públicos e privados em queda, consumo despencando, equilíbrio fiscal ameaçado, esgotamento do endividamento das famílias, comércio exterior afetado pelo fim do boom das commodities, recessão com crescimento negativo, inflação alta, setores como o energético e o petrolífero desorganizados pela intervenção equivocada do governo. E qual é a resposta do governo? Aumento de juros e impostos e cortes pouco criteriosos de gastos.

A calibragem da terapia é a chave do sucesso; pode matar o doente, já que toda medida tem sempre efeitos colaterais. O aumento de juros não só introduz incremento de despesa no financiamento da dívida pública, que anula boa parte do esforço de corte de gastos, como pode desvalorizar o dólar, desestimulando as exportações e agravar a queda da atividade econômica e da arrecadação tributária.

Para agravar o quadro, temos o maior escândalo da história brasileira contaminando nossa maior empresa estatal e levando de contrabando para o ralo outro forte setor da economia, o da construção pesada, essencial para o desenvolvimento da política de privatizações, concessões e parcerias com o setor privado.

Paralelo a isso, vivemos uma crise política. O governo Dilma perdeu o controle do Congresso, não tem maioria sólida para governar. O PMDB fez um realinhamento tático e patrocina um protagonismo inédito no Congresso. Assistimos a um bonapartismo sem rumo, uma nau perdida em meio à tempestade. Ninguém apoia Dilma. Nem a sociedade, como bem demonstrou a recente pesquisa Datafolha, em que 65% dos brasileiros rejeitam o governo, nem o PMDB com sua tática de morde e sopra, nem o próprio PT, acuado e esfacelado pela operação Lava Jato e pelo estelionato eleitoral cometido.

Dilma se tornou uma presidente ausente, sem liderança, sem apoio, sem condições de governar. E seu criador, o ex-presidente Lula, apimentou o quadro dizendo que ele e Dilma estavam no volume morto – último refúgio de soluções nas represas de água –, e o PT abaixo dele. E que o partido perdeu o sonho e a utopia e só pensa em cargos e eleições. Cinismo, hipocrisia ou um lapso de realismo?

Fato é que o governo Dilma precocemente acabou. A realidade exige uma mudança profunda. Lula, Dilma e o PT não são fonte de soluções. Alguma coisa terá que acontecer. Só o destino sabe quais serão os caminhos para a mudança necessária.

Lula se reúne com as bancadas do PT. Para quê? Para nada...

Lula fez muito mal a este país. Provocou um impressionante desencanto com a política, que no Brasil de hoje tornou-se apenas uma forma de enriquecimento rápido e ilícito

Enquanto a ainda presidente Dilma Rousseff circula no eixo Nova York-Washington, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de fazer duras críticas ao PT e ao governo Dilma, viaja hoje para Brasília, a pretexto de se reunir esta segunda-feira com as bancadas do PT no Senado e na Câmara.

Segundo a repórter Vera Rosa, do Estadão, Lula está preocupado com o que chama de “desarticulação” do PT e “paralisia” do governo diante da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Quer unificar o discurso e acertar o passo petista no Congresso. Não esconde, por exemplo, a contrariedade com os rumos da CPI da Petrobras, que convocou para depor o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.

Como todos sabem, querer não é poder. Lula está em franca decadência política, conseguiu se transformar num pastiche dele mesmo. De repente, começa a culpar o governo e partido por erros políticos que ele próprio cometeu. Dilma Rousseff jamais existiu politicamente. Foi ele quem inventou a candidatura dela, sem ouvir a opinião de ninguém, e foi ele quem saiu às ruas para elegê-la.


Lula morde Estrela PT e Sopra criticas partido

Lula é o criador de Dilma, do mensalão, do petrolão e de toda essa bagunça em que o país vive hoje, mas tenta se comportar como se não tivesse nada a ver com isso e a culpa toda fosse do governo atual, “que não dá notícias boas ao povo” e do partido, “que só pensa em se eleger e garantir os cargos”.

Lula fez muito mal a este país. Provocou um impressionante desencanto com a política, que no Brasil de hoje tornou-se apenas uma forma de enriquecimento rápido e ilícito. O fato é que Lula não engana mais quase ninguém, porque sua imagem se confunde com a imagem do governo e do partido. Depois de mais 12 anos de traição de seus compromissos políticos, seu repetitivo discurso mais parece um desgastado bordão de humorista ultrapassado.“Temos que definir se queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou se queremos salvar o nosso projeto”, afirmou Lula, segunda-feira passada, se dirigindo ao partido. Mas a tradução simultânea revela que na verdade ele estava se referindo à própria pele.

E o pior de tudo isso é que nos últimos 25 anos não surgiram grandes líderes políticos de expressão nacional. É essa falta de adversários que anima Lula, que ainda sonha (?!) que tem condições de voltar ao poder, em função da incompetência dos próprios adversários.

Bem, de qualquer forma, hoje vamos saber como anda o prestígio de Lula no próprio PT. Será que a reunião dele com as bancada vai ter quorum?

O homem do sobretudo azul

Aqui, ninguém se importa de deixar bens nos jardins das frentes das casas, que muitas vezes não têm nenhuma separação da calçada

Na semana passada a tarde, estava com meus pais e minha filha em casa quando um policial bateu na minha porta. Fiquei um pouco assustada ao reconhecer o uniforme azul marinho da polícia britânica, mas ele logo me disse que estava tudo bem, só queria fazer umas perguntas.

Explicou que duas casas para baixo um homem tinha tentado enfiar um estilete na fechadura, assustando os moradores. Nada tinha acontecido, mas ele estava checando com os vizinhos se alguém tinha visto algo.

Pegou meu nome, me aconselhou a não manter a bicicleta fora de casa e me pediu para ficar de olho. O suspeito, disse ele, era um homem alto, branco e de sobretudo azul.

Eu sei que é uma grande bobagem, mas me senti em um livro da Agatha Christie, um daqueles em que antes dos grandes Hercule Poirot ou Miss Marple entrarem em ação, policiais menos hábeis entrevistam sem sucesso possíveis testemunhas de um crime.

Fiquei impressionada também de pensar que aquela visita não tinha me assustado em nada, só tinha me divertido e me feito lembrar da minha escritora favorita de livros policiais.

Eu posso me arrepender no momento em que estiver sendo assassinada pelo homem alto de sobretudo azul, mas quem é do Brasil, principalmente de uma cidade como São Paulo, infelizmente não se impressiona com relatos como esses.


Não que aqui não haja crimes horrendos e policiais racistas e corruptos. Mas nós brasileiros estamos acostumados demais com a violência que nos rodeia, pelos noticiários de assaltos e assassinatos corriqueiros, a nos trancar em prédios com câmeras e grades, a fechar o vidro rapidamente quando o semáforo fica vermelho.

Aqui, ninguém se importa de deixar bens nos jardins das frentes das casas, que muitas vezes não têm nenhuma separação da calçada. Perto de casa, quando não chove, sempre vejo carrinhos de bebê, roupas e brinquedos, sem medo de furto por um passante. Quem faria isso?

No Brasil, até quem tem dinheiro e não precisa de um carrinho de bebê levaria um carrinho de bebê, simplesmente pelo fato de estar lá, dando sopa. É um problema social em primeiro lugar, mas também é cultural e atinge todas as classes. Quem viu primeiro leva, essa é a regra não escrita.

É por isso, como uma homenagem à em geral civilidade dos bairros de Londres, que a bicicleta continua lá fora.

A blindagem da caixa-preta do Carf

Se os recursos aceitos pelo conselho contra atuações milionárias ficar acima de 50%, de duas uma: a Receita está autuando de forma leviana ou o Carf virou um ralo

Há anos parlamentares e curiosos fazem perguntas banais ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Qual a percentagem de contribuintes que se livram de pagar impostos recorrendo a ele contra autuações da Receita Federal? Qual a percentagem de contribuintes que recorreram contra autuações superiores a R$ 1 milhão e foram atendidos?

Graças à Polícia Federal e ao Ministério Público já se sabe que há décadas funcionavam no Carf quadrilhas de conselheiros, auditores aposentados e escritórios de advocacia. A Operação Zelotes investiga a conduta de 21 conselheiros e a central de bocarras teve seu funcionamento suspenso.

A má notícia é que as perguntas banais nunca foram respondidas. A boa é que o presidente de Conselho, doutor Carlos Alberto Freitas Barreto, informou à Câmara dos Deputados que “em breve” poderá divulgá-las. Só não o faz logo porque surgiu um problema no serviço de armazenamento de dados do Serpro. Fica combinado assim, faltando definir o significado de “em breve”.

Apesar do silêncio, o Carf divulgou uma valiosa planilha. Ela mostra que entre 2004 a 2014 chegaram ao Conselho 77 mil pleitos. Em metade deles os contribuintes recorreram contra autuações com valores na faixa de R$ 10 mil a R$ 100 mil. Juntos deviam R$ 1,2 bilhão.

Outros 19 mil pleitos (24,6%) envolviam autuações superiores a R$ 1 milhão. Totalizavam cerca de R$ 515 bilhões. Para se ter ideia do tamanho desse ervanário, de janeiro a maio deste ano a Viúva arrecadou R$ 510 bilhões.

Recorrer ao Carf não é coisa para o andar de baixo. Mesmo empresas de porte médio pensam duas vezes antes de contratar advogados ou consultores especializados no assunto. Isso para não se falar nas contratações desvendadas pela Operação Zelotes.

Na série agora divulgada, em nenhum ano o valor total dos recursos dos contribuintes milionários ficou abaixo de R$ 10 bilhões. 2013 foi um ano gordo: R$ 129 bilhões.

“Em breve”, quando o Carf especificar os valores dos recursos atendidos, vai-se descobrir o tamanho e a qualidade de sua compreensão.

Se os recursos aceitos pelo conselho contra atuações milionárias ficar acima de 50%, de duas uma: a Receita está autuando de forma leviana ou o Carf virou um ralo. Por enquanto, o conselho está na posição de um hospital que não sabe informar as estatísticas de seu desempenho.

A Polícia Federal e o Ministério Público se meteram numa saia justa com o juiz Ricardo Soares Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília. O doutor negou todos os pedidos de prisão, suspendeu escutas telefônicas e não autorizou operações policiais. Acusam-no de cultivar um “crônico e grave quadro de ineficiência”.

Blindar o Carf pode parecer uma boa ideia. Afinal, em 2009 a empreiteira Camargo Corrêa blindou-se contra a Operação Castelo de Areia, e as empreiteiras assistiram a um verdadeiro milagre. Os recursos judiciais, ratificados pelo próprio Supremo Tribunal Federal, limparam os acusados e condenaram os investigadores. Passou o tempo e veio a Lava-Jato.

O Brasil no volume morto

Essa semana, que coincide com a estada da presidente Dilma Rousseff nos Estados Unidos, em visita ao presidente Barack Obama e, ainda, para aproveitar a viagem, buscando a aproximação com grandes investidores norte-americanos considerados como potenciais interessados em projetos de infraestrutura que o Brasil oferece e deles carece, as lideranças políticas brasileiras aqui ficaram, articulando nomes para a liderança do projeto 2018.

O PMDB, parceiro do PT nas quatro últimas eleições para a Presidência da República, já avisou que terá candidato próprio em 2018. Na construção desse projeto, seus comandantes estão dando acabamento à estrada que o levará para fora do governo. O PMDB tem a mais articulada organização como partido hoje no Brasil. Está presente em todo país e já leu todos os manuais de uso, ocupação e utilização do poder no Brasil. Tem doutorado no assunto, o de viver a serviço do poder.

Ele tem a prática, o modus-operandi, a geografia dos bons espaços, onde estão os cargos, os melhores orçamentos, a maior autonomia. Seus membros têm horror a questões como cultura, direitos humanos, ao papelório que não dá voto e nada rende. Claro que há exceções, mas essa é a nota tônica da imagem do partido. É o que o caracteriza e o destaca.

O atual estágio do PT, sem capacidade de reação para deixar o “volume morto” onde seus maiores nomes reconhecem que está, deixa claro o quadro de dificuldades que a agremiação e seus membros terão nas próximas disputas. Só um milagre seria capaz de fazer com que o PT conseguisse levar para as ruas uma motivação que melhorasse sua aceitação pelo eleitorado.

Como está hoje, assumir que pertence e acredita no PT anda perigoso. Por falta de transparência em suas ações administrativas, por inabilidade política, pelas dificuldades de ajustar-se com os demais partidos da base de sustentação da presidente Dilma, a maior parte delas construídas pela postura belicosa e rabugenta da própria presidente, o PT não conseguirá repetir o êxito alcançado nas últimas disputas.

Dos grandes e esperados, pelas atuais circunstâncias, para a disputa da Presidência da República, restou o PSDB. Ocupado em organizar-se internamente, em apaziguar as correntes que se dividem na preferência entre Minas e São Paulo para escolher de onde sairá o nome de ponta para encabeçar a chapa que levará o partido para a briga em 2018, o PSDB é um ator sem papel na peça da oposição. Não tem bandeiras, senão fazer oposição por ser oposição; não tem propostas que se traduzam em alternativas para salvar o Brasil do quadro de inércia e descrença, presente em todos os espaços da cena nacional.

Não tem projetos. Suas ações são expressas em factoides, e seu blá-blá-blá, a não ser que invente nomes e assuntos novos, hão de consolidar a descrença que já se sente configurar: a de que o partido é oposição como ressentimento pela perda das últimas eleições. E o Brasil segue parado, no volume morto, inerte, sem caminhos. Lamentavelmente, não se sente que das atuais correntes políticas nascerá um novo caminho.

História da decadência brasileira


Na sua obra "Espanha Invertebrada" escreveu José Ortega y Gasset: “A história de uma nação não é somente a do seu período formativo e ascendente, mas também a história de sua decadência”. Tudo indica que entramos na história de nossa decadência desde que o governo petista assumiu o cargo mais alto da República.

Lula da Silva reinou em seu primeiro mandato sobre as águas mansas do Plano Real, das políticas públicas do governo anterior. Viajou muito, tornou-se amigo dos piores ditadores mundiais, gozou como nenhum outro presidente das delícias do poder. Delícias, aliás, compartilhadas com os companheiros cortesãos.

No segundo mandato se iniciará a decadência, desenhando-se o que viria em termos econômicos enquanto escândalos de corrupção aumentavam de volume e velocidade. Entretanto, o endeusamento de Lula da Silva, o inocente que nada via, de nada sabia, se mantinha pela força de sua lábia e ele emplacou o “terceiro mandato” através da eleição de Dilma Rousseff.

Os quatro anos desta senhora podem ser descritos como descalabro total. Sob as ordens de Lula ela quebrou a Petrobras e outras estatais, destruiu a indústria, arrebentou o país como um todo. Mesmo assim, com pequena diferença sobre seu adversário Rousseff foi reeleita pregando que Aécio Neves seria o exterminador do futuro brasileiro.

Logo no início do segundo mandato de Rousseff emerge, porém, o inevitável resultado da incompetência governamental, dos truques contábeis, da distorção dos dados: aumento da inflação, do desemprego, da inadimplência, das contas públicas, dos juros, dos impostos. Situação que Joaquim Levy tenta consertar preparando a volta de Lula, mas jogando o peso dos erros do governo sobre as costas do povo. São tempos duríssimos que não acabarão tão cedo, em que pesem as otimistas e sempre erradas previsões dos economistas.

Mas não é apenas econômica a decadência em que o governo de Lula da Silva nos mergulhou. Houve perda de valores e uma crescente amoralidade.

Aqui darei apenas um exemplo dos muitos que poderiam ser apresentados nesse aspecto. Como atinge a formação de crianças desde a mais tenra idade considero criminosas as tentativas que vem sendo feitas pelo governo de se impor como manipulador educacional sexual. No momento ressurge a ideologia de gênero, elaborada através de documento que servirá para formulação de planos municipais, pelo Fórum Nacional de Educação. Nesta construção arbitrária não existe diferença entre menino ou menina, não são levados em conta dados biológicos e psicológicos da identidade humana. O ser humano é considerado como assexuado e deverá escolher se quer ser masculino ou feminino. Seria como revogar a lei da gravidade.

Em magistral artigo, Educação Sexual Compulsória, publicado no Estado de S. Paulo em 08/06/2015, analisa Carlos Alberto di Franco as distorções dessa, diria eu, deseducação:

1) “A confusão causada nas crianças no processo de formação de sua identidade, fazendo-a perder referências; 2) a sexualização precoce, na medida em que a ideologia de gênero promove a necessidade de uma diversidade de experiências sexuais para a formação do próprio gênero; 3) a abertura de um perigoso caminho para a legitimação da pedofilia, uma vez que a ‘orientação’ pedófila é considerada também um tipo de gênero; 4) a banalização da sexualidade humana, dando ensejo ao aumento da violência sexual, sobretudo contra mulheres e homossexuais; 5) a usurpação da autoridade dos pais em matéria de educação dos filhos, principalmente em temas de moral e sexualidade, já que todas as crianças serão submetidas à influência dessa ideologia, muitas vezes sem o conhecimento ou consentimento dos pais”.

Ao tratar desse grave tema que toda sociedade devia tomar conhecimento fatalmente serei tachada de conservadora, o mais novo xingamento utilizado pelo neoesquerda para desqualificar os que não rezam por sua cartilha. Quero lembrar que a tese conservadora, assim como a progressista evoluiu ao longo do tempo em seu significado, mas, em essência, o conservadorismo se refere à natureza humana não modificável pela ação prática, porquanto mergulha suas raízes em uma realidade sobre-humana, a vontade divina. Em outras palavras, somos dotados de uma consciência e sabemos distinguir o bem do mal, em que pesem as várias noções de moral de cada sociedade.
Ao mesmo tempo, o conservadorismo indica que o poder político confiado ao homem é intrinsecamente tirânico se não for controlado. Daí a constante preocupação dos conservadores com a existência de mecanismos de limitação do poder e, principalmente, pela supremacia da lei.

Nesse sentido assumo ser conservadora, sendo ao mesmo tempo uma entusiasta de todo progresso que traga benefícios à humanidade. Lamentável é a decadência em que os autodenominados progressistas da neoesquerda impingiram à nação brasileira.

Precisa ordenar respeito à lei?

Em uma cândida frase solta, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, fez um retrato acabado da sordidez que grassa no ambiente político brasileiro, em particular no PT.

Disse o ministro, conforme o relato desta Folha no domingo (28): "A presidente Dilma Rousseff desde o início orientou seu tesoureiro Edinho para que agisse estritamente dentro da lei".

Na minha santa ingenuidade, achava que agir dentro da lei deveria estar entranhado no DNA de qualquer agente público (privado também, é claro, mas aqui estamos tratando do público).

Não seria necessário que alguém orientasse alguém a agir dentro da lei. A menos, é lógico, que o "orientador" suspeitasse que o "orientado" pudesse sentir-se tentado a violar a lei em benefício, no caso, da campanha à reeleição de Dilma.

Ler a frase de Cardozo me trouxe à memória uma conversa com Sérgio Ramírez, notável escritor nicaraguense que foi vice-presidente de seu país, nos primórdios do sandinismo.

Foi durante o mensalão, e Ramírez estava perplexo de ver o envolvimento de um partido que lhe parecia prometedor (o PT, claro) em um escândalo daquelas proporções.

Por isso, comentou: "Se eu fosse candidato à Presidência, reuniria parentes e amigos e lhes diria que estava proibido fazer negócios com o Estado, inclusive negócios legais".

No Brasil, como de resto no mundo praticamente todo, fazer negócios ilegais com o Estado é uma prática tão disseminada que Dilma, segundo Cardozo, se viu obrigada a recomendar o respeito à lei a seu tesoureiro.

Só se pode pressupor que ela suspeitava que o ambiente político –em geral, não só no PT, é bom ressalvar– não é propício ao respeito à lei.

Tanto não é que o empresário Ricardo Pessoa, tido como chefe do "cartel de empreiteiras", explicou as doações a partidos políticos como uma forma de "abrir portas, ganhar influência e fazer a engrenagem andar", segundo o relato da Folha, sempre no domingo (28).

Em resumo, as doações eram o, digamos, azeite na engrenagem da concessão de obras públicas, algo de que se suspeita há milênios, no Brasil e no mundo, mas que só agora é confessado por um dos "azeitadores".

Fico até com vergonha de escrever que obras e serviços públicos deveriam ser concedidos como decorrência da qualificação dos responsáveis, não pelo "azeite", que é uma forma de corrupção, legal, é verdade, mas corrupção, de todo modo.

É ingênuo esperar tal comportamento de certos agentes públicos e privados, eu sei. Mas um país decente depende, é óbvio, da impessoalidade no trato dos negócios públicos.

Enquanto prevalecer a necessidade de mostrar uma mala de dinheiro às campanhas políticas, para "abrir portas", o Brasil será essa pústula exposta com tremenda claridade pela operação Lava Jato (ou por dezenas de outras, antes dela).

É pena, mas tenho certeza de que vou morrer antes de que ordens como a de Dilma a seu tesoureiro se tornem desnecessárias porque o estrito respeito à lei teria passado a fazer parte inseparável do DNA do mundo político.

Pé ante pé, orelha em pé, pontapé

Esses dias muitos de nós adoraríamos poder ir bem devagarzinho, pé ante pé, tentar escutar algumas conversas que estarão ocorrendo atrás das portas; dias com aprovação tão baixa e reprovação tão alta fazem burburinho, e a água começa a ferver na chaleira. Quem ouvir alguma coisa, souber algo primeiro, avisa o outro. Não podemos dar com os burros nágua, esse povo aí não vai querer sair com as mãos abanando

"Eles", o que engloba todos os "eles", para lá e para cá, direita e esquerda, centro, acima e abaixo, não vão ficar parados na beira do precipício esperando que uma avalanche chegue e os leve de mãos dadas para o juízo final - aliás, falar em juízo, juiz, ter juízo já os arrepia. Se havia um barco sendo construído, veja só o movimento intenso lá no convés. Tentam saber com quantos paus se faz uma canoa para se jogar ao mar. No mesmo barco? Que nada. Muito menos ficar de gaiato no navio, ouvindo cantos de sereia que, bem, encantadora não é. 


Será questão de sobrevivência, simples assim, e aí reside o bode. Enquanto os mosqueteiros gritam todos por um, um por todos, ouvimos aqui um Salve Geral, um salve-se quem puder, o último me diz como foi, homens ao mar. Teve uns safanões essa semana e a política brasileira deu uma deslocada, no ar, tempo e espaço - não há como negar que umas vigas perderam a sustentação.

Criador e criatura não se entendendo, o que era privado tornando-se público, quem se dizia valente atrás de outros que assumam sozinhos seus próprios guidões e direção perigosa. Não é pouco, aliado aos números e percentuais apresentados em gráficos inquietantemente claros quase furando o chão com suas setas apontando quedas.

Cadê a expressão popular? Tem barulho de panelas, de assobios, de gritos de protesto, de penas farfalhantes de aves de bico, de uivo de lobos que - e não é de agora - já estavam trocando de pelo, assim como as cascavéis que vêm insistentemente balançando o guizo. Os cordeiros andam acanhados e perplexos: podem ter sido descobertos pulando e povoando magistralmente o sonho de alguém, e neles, nos sonhos, estavam contando as cédulas que também receberam lá em histórias de outras eras.

A panela está de novo no fogo lento, de onde tinha sido tirada para esfriar um pouquinho. Mas agora fica claro que estavam mesmo só cozinhando o galo. O nosso.
"Eles" tirarão rápido seus cavalinhos da chuva, ouviremos o tropel. Rasgam seda, juram de pés juntos. Todos nós só nos entreolhamos, boquiabertos, atônitos. De onde menos se espera é de onde não vem nada mesmo.


Estamos num mato sem cachorro, nem amarrado com linguiça. Fundamental, antes de mais nada, será corrermos para achar e separar cuidadosamente os ingredientes que mais faltam no nosso ragu: gente com capacidade e equilíbrio. Vambora procurar mais rápido, identificar quem são. Rápido, antes que sejamos nós os procurados, em cartazes, novamente afixados nas ruas e praças.

Pode dar jogo: com algumas dezenas de líderes reais, natos, de bem, do bem, pessoas com propostas, sejam cientistas sociais, economistas, comunicadores, cidadãos de índole e leais. Precisaremos apostar em uma formação de equipe, em quem se sobressaia com algum potencial maior.


Os que andam por aí pondo a manguinha de fora estão mais por fora que umbigo de vedete.

Vamos precisar mandar muitos pregarem as bobagens que impunham em outra freguesia, mas com o absurdo momento de intolerância que passamos precisaremos pé ante pé também ouvir o que é que tanto se prega, o que essa freguesia guarda, que exércitos são esses que se formam alinhados por uma fé na mentira.

Tenho fé. Cruzo os dedos, faço figa. Não prosperarão.

Aprovação baixa, reprovação alta. Não vai mesmo dar para deixar passar de ano. Vamos ter de chamar o reforço. Ninguém quer mais essas anotações em vermelho no boletim.

Marli Gonçalves

Até quando vamos conviver com a roubalheira institucionalizada


Até quando este Governo abusará da paciência do povo brasileiro? Até onde pretende substituir, por meio de medidas provisórias, o papel do Poder Legislativo? Até que ponto contribuirá para a intranquilidade e insegurança que tomaram conta da Nação? Até quando pretende, por meio da inflação e do aumento do custo de vida, levar ao desespero a população que paga impostos absurdos, sem receber nada em troca?

É inaceitável permanecer nesta desordem que se alastrou pelos setores administrativo, econômico e financeiro de todo um país com enormes potencialidades e que está parado por conta de tanta corrupção.

Chega de subterfúgios. Chega de deslavadas mentiras criadas por um partido com o intuito de confundir os brasileiros e levar adiante seu plano de se perpetuar no Poder. Basta de casuísmos e demagogia barata, para que, realmente, se façam os ajustes econômicos necessários.

A maioria das medidas tomadas pelo Governo petista, são balelas, sem outro intuito a não ser enganar a boa-fé dos brasileiros, que, estão fartos de tanta ineficiência e roubalheira.

Não é aceitável que este caos provocado pela administração petista, que implantou a desordem generalizada, paralise toda a Nação.

Há intranquilidade nas cidades, com uma segurança pública ineficiente, e no o campo, com ações criminosas do MST, intranquilizando igualmente proprietários e camponeses.

A opinião pública repudia veementemente esta política de origem duvidosa contrária às instituições, cuja preservação cabe, por imperativo constitucional, ao próprio Governo.

A Nação anseia pelo respeito à Constituição. Precisamos de ajustes discutidos e votados, sem o toma-lá-dá-cá, pelo Congresso Nacional. Desejamos a preservação das conquistas democráticas. O povo quer eleições limpas e com apuração confiável.

Se a presidente Dilma Rousseff não pode cumprir o papel que lhe é destinado constitucionalmente, não lhe cabe outra saída senão entregar o Governo ao seu legítimo sucessor.

É consenso que a presidente termine o seu mandato como prevê a Constituição. Tudo isso é salutar para a Democracia. Mas, para isso, a presidente da República terá de desistir desta sua política nociva, que está prejudicando o Brasil e os brasileiros.

Os brasileiros não desejam golpes nem contragolpes. Querem preservar e cada vez mais aperfeiçoar o processo democrático, duramente construído, e manter a estabilidade econômica obtida pelo Plano Real, que está sendo jogada no lixo da História. Mas não admitem que seja o Poder Executivo, por interesses espúrios, quem promova o caos social e tente cercear a Imprensa e todos os meios da livre manifestação do pensamento, levando a Nação à ditadura de um partido, corroído pela corrupção.

Os Poderes Legislativo e Judiciário, as Forças Armadas, e todos os segmentos democráticos devem estar vigilantes para combater todos aqueles que pretendem ameaçar a Democracia.

O País já sofreu além dos limites com este desgoverno. Agora, chega de tanta podridão e de tanta mentira!