domingo, 18 de outubro de 2015

Carta aberta

Desculpe se em vez de uma carta pessoal escrevo-lhe na página de um jornal, tornando público o que tenho a lhe dizer. A razão disso é que o assunto que pretendo abordar nada tem de íntimo. Pelo contrário, diz respeito a todos nós. Trata-se de sua posição em face de tudo o que está acontecendo neste nosso país governado, há quase treze anos, pelo seu partido, o PT.

Entendo que você, a certa altura da vida, tenha acreditado que Lula era um verdadeiro líder operário e que, como tal, conduziria os trabalhadores e o povo pobre na luta pela transformação da sociedade brasileira, a fim de torná-la menos injusta.

Era natural que fizesse essa opção, uma vez que lutar contra a desigualdade sempre fez parte de seus princípios. E muita gente boa, antes de você, também pusera sua esperança neste novo partido que nascia para mudar o Brasil. Alguns dos mais notáveis intelectuais brasileiros fizeram a mesma escolha que você.

É verdade também que, com o passar dos anos, essa convicção se desfez: Lula não era o que eles pensavam que fosse, e o seu partido não se manteve fiel ao que prometera. Mas você, não, você continua confiando em Lula e votando em todos aqueles que Lula indica, ainda que não os conheça ou, o que é pior, mesmo sabendo que não são nenhuma flor que se cheire.

Sei que há petistas mais cegos que você, como aqueles que foram às ruas para tentar impedir a privatização da Telefônica, alegando que se tratava de uma traição ao povo brasileiro. Lembra-se? Pois bem, a privatização foi feita e, graças a ela, o faxineiro aqui do prédio tem telefone celular. Mas, quando alguém fala disso, você muda de assunto.

Sei muito bem que política é coisa complicada. A pessoa defende determinada posição do seu partido, discute com os amigos, briga e, depois, aconteça o que acontecer, não dá o braço a torcer.

E, às vezes, chega ao ponto de defender atitudes indefensáveis, mas que, por terem sido tomadas por Lula, você se sente na obrigação de justificar. Por exemplo, quando Lula abraçou Paulo Maluf, quando se aliou ao bispo Edir Macedo, fazendo do bispo Crivela ministro do seu governo e quando viaja à custas da Odebrecht.

Não sei o que você diz a si mesmo quando, à noite, deita a cabeça no travesseiro. Como justificar o mensalão? Você poderia acreditar que Delúbio, tesoureiro do PT, tenha armado toda aquela patranha, sem nada dizer ao Lula, durante os churrascos que preparava para ele, todo domingo, na Granja do Torto. Tinha de acreditar, pois, do contrário, teria de admitir que Lula foi o verdadeiro mentor do mensalão.

Custa crer como você consegue dormir em meio a tanta mentira. E pior é agora, no chamado petrolão, que é o mensalão multiplicado por dez, já que, enquanto naquele a falcatrua era de algumas dezenas de milhões de reais, neste chega a bilhões. E, mesmo assim, consegue dormir? Não é para sacanear, mas você ainda repete aquele lema em que o PT dizia ser "o partido que não rouba nem deixa roubar"?

Quero crer que, pelo menos nisso, você se manca, porque as delações premiadas deixaram claro que ele não apenas deixa, como rouba também.

E a Dilma, que Lula tirou do bolso do colete e fez presidente da República, sem que antes tivesse sido sequer vereadora? Não chego a considerá-la paspalhona, como a chamou Delfim Neto, embora, com sua arrogância, tenha arrastado o país à bancarrota em que se encontra agora. Essa situação crítica a obrigou a adotar um programa econômico que sempre rejeitou e combateu.

Mas, ainda assim, tem o desplante de dizer que esta crise é apenas uma transição para a segunda etapa de seu plano de governo. Noutras palavras: a primeira etapa foi para levar o país à bancarrota e a segunda, agora, é para tentar salvá-lo. Ou seja, estava tudo planejado!

Não me diga que acredita nisso, camarada.

A sem-vergonhice sentou praça


O panorama de ampla, geral e irrestrita sem-vergonhice escancarado pela divulgação diária de novas e escandalosas roubalheiras, conchavos e chicanas coloca o País diante do risco da banalização de uma rotina que pode acabar transformando em conformismo a indignação que hoje assalta a consciência cívica nacional. Afinal, se todo mundo é ladrão, se é impossível associar política a princípios morais, se a regra é o salve-se quem puder, dane-se o resto, que eu vou cuidar da minha própria vida. Foi algo assim – no caso, o processo de conversão ao “pragmatismo” – que abriu a Lula e a seu PT o caminho de acesso ao poder e à insensibilidade moral.

Passou a valer o debochado aforismo: “Instaure-se a moralidade, ou nos locupletemos todos”, sendo apenas para constar a primeira alternativa do brocardo. É a lógica dos safados, a desculpa dos picaretas, o refúgio da bandidagem engravatada. É a motivação oculta dos idealistas de fôlego curto que acabaram descobrindo que é muito mais fácil e proveitoso desfrutar do poder do que usá-lo para promover o bem geral.

Só que Lula e sua tigrada não consideraram que no clube do “locupletemo-nos todos” teriam de dividir espaço com gente de larga experiência na matéria, velhos e astutos coronéis e capas pretas da política. E, quando os petistas tentaram transformar esses “aliados” em meros coadjuvantes na cena política, deu-se o desastre: surgiu um Eduardo Cunha para mostrar que Lula, Dilma & Cia. eram pouco mais que aprendizes afoitos e desastrados em matéria de malandragem, dissimulação e falta de escrúpulos.

Misturada a sem-vergonhice com a incompetência, o País mergulhou na atual crise, cuja marca mais perniciosa tem sido a falta de esperança numa solução de curto ou de médio prazo.

Os brasileiros não podem, no entanto, simplesmente dar as costas àquilo que repudiam e renunciar ao direito de lutar pela construção de seu próprio destino. O primeiro passo é identificar com clareza as figuras que, por nefastas, merecem ser punidas com a expulsão da vida política. É uma punição para a qual a democracia oferece a todos uma arma poderosa: o voto.

É mais do que óbvio que, depois de 12 anos no governo, a irresponsabilidade do populismo lulopetista é a principal culpada pelas agruras que maltratam hoje os brasileiros, de modo especial os mais pobres, em nome dos quais o PT reclamou o poder. E quem personifica, desde sempre, a imagem do PT? Não é, certamente, a presidente Dilma Rousseff, que já está com prazo de validade vencido. O PT é Lula. E a grandeza de Lula se mede por um de seus últimos atos na Presidência da República.

Em dezembro de 2010, Lula ordenou a seu chanceler, Celso Amorim, que ignorasse o regulamento do Itamaraty e contemplasse com passaportes diplomáticos os petizes Da Silva, que estavam, já então, destinados a iniciar prósperas carreiras como empresários. Que mal há nisso? O mal, na questão dos passaportes, é que está errado, não pode, a lei não permite, nem mesmo um presidente que deixa o cargo desfrutando de altíssima popularidade está acima da lei. Em resumo, é imoral.

Exatamente porque não hesitou em beneficiar a filharada com favores indignos, Lula demonstrou que não teria dúvidas em fazer o mesmo em outras circunstâncias, digamos, menos triviais. O noticiário recente exibe o elenco de possibilidades que se abriram à sortuda prole.

Tudo passa, para recorrer ainda à sabedoria popular de que Lula se vangloria de ser guardião. Dilma, por exemplo, passará. Mas Lula acha que ficará – e mexe os pauzinhos para chegar a 2018 como o salvador da pátria, a mesma que ajudou a enfiar neste buraco fundo em que estamos.

Mais cedo ou mais tarde, Lula terá de se haver ou com a ação conjugada da PF com o MPF ou com as urnas. Da condenação destas últimas só escapará se os brasileiros perderem a fé em que podem ser sujeitos e não meros objetos da História.

A verdadeira herança maldita

 O julgamento, pelo STF, do “mensalão” e agora as surpreendentes e cotidianas revelações da Operação Lava Jato põem na pauta brasileira a magnitude da transgressiva relação entre o dinheiro e o poder e seu impacto na vida do nosso país.

Todos os indícios apontam para a existência de uma convergência sistêmica entre ilícitos que transitam pelo enriquecimento pessoal, pelo fraudulento desvio de recursos públicos para projetos de manutenção e aquisição de poder de partidos e personalidades políticas e por uma espúria coabitação entre empresas e o poder público. Esta faz da propina e dos “arranjos” um ingrediente relevante tanto na seleção de que grupos empresariais se vão incumbir de grandes projetos no País, e também no exterior, quanto no tamanho do sobrepreço cobrado na execução de importantes obras.


Salta aos olhos que tudo isso fere frontalmente as normas e os princípios do artigo 37 da Constituição, que regem a administração pública e assentam os padrões de conduta que tutelam o interesse público. Destaco: o da impessoalidade, que estipula que todos devem ser tratados sem distinções, e não com favorecimentos e compadrios, em obediência ao princípio da igualdade; o da eficiência, que exige da administração pública fazer o melhor sem desvios e sobrepreços, com recursos públicos escassos, no atendimento do interesse coletivo; e o da moralidade. Este aponta para o fato de que o Direito como a disciplina da convivência humana sempre tem como piso um mínimo ético. O princípio da moralidade é a cobertura axiológica da boa-fé e da confiança que deve cercar, na relação governantes-governados, a aquisição e o exercício do poder.

Faço essas observações para apontar que o alcance do que está na ordem do dia vai além do que está tipificado como sérios ilícitos na legislação penal. Impacta o sistema político como um todo por obra do efeito deletério da corrupção.

A palavra corrupção vem do latim, do verbo corrumpere. O significado originário do termo é estragar, decompor. Na filosofia aristotélica, é uma das espécies de movimento que levam à destruição da substância. Políbio, tratando dos modos como os regimes políticos mudam e, por isso, alteram a sua substância por obra do movimento da corrupção, recorre a uma metáfora esclarecedora. Indica que a corrupção nos regimes políticos exerce papel semelhante ao da ferrugem em relação ao ferro ou dos cupins na madeira: é um agente de decomposição da substância das instituições públicas.

Valendo-se da “lição dos clássicos”, Michelangelo Bovero em seu Contra o Governo dos Piores, ao pensar problemas da política contemporânea, aponta os riscos do movimento da corrupção. Um dos mais significativos é o de favorecer umakakistocracia, literalmente o governo dos piores, que abre espaço tanto para a demagogia do pão e circo quanto para a plutocracia, na qual prevalece a influência do dinheiro na gestão governamental.

Estas rápidas remissões à teoria política têm como objetivo realçar que um dos efeitos da corrupção que transcende o penal é o de trazer a corrupção do espírito público, como aponta Raymond Aron em seu Democracia e Totalitarismo.

A corrupção do espírito público mina a confiança das pessoas nas instituições democráticas, que nelas não vislumbram uma postura efetivamente voltada para o interesse comum.

Como diz Bobbio em artigo de 1993, recolhido no seu livro Verso la Seconda Repubblica, redigido numa época da política italiana que tem semelhanças com a nossa atualidade: “A democracia requer confiança. A confiança recíproca entre os cidadãos e a confiança dos cidadãos nas instituições. A confiança, por sua vez, requer a transparência que exige que tudo o que diz respeito aos cidadãos se faça à luz do sol”. Daí a importância do princípio da publicidade, que também integra o artigo 37 da Constituição.

A revelação da magnitude da corrupção solapa a necessária confiança recíproca exigida pela democracia. É um cupim que está decompondo as aspirações republicanas consagradas na Constituição de 1988, pois a res publica – o bem comum – está sendo confundida e não diferenciada, como na formulação de Cícero, do bem privado (res privata), do bem doméstico (res domestica) e do bem familiar (res famialiaris).

Realço o que isso significa nos dias de hoje porque o declínio de políticas ideológicas e a complexidade dos assuntos que são da responsabilidade de um governo fazem da credibilidade um elemento fundamental da governança. A corrupção é um redutor da confiança na classe política e nos partidos, que tem, assim, consequências para o bom funcionamento do sistema político, pois cupiniza o seu capital simbólico.

Uma medida da dimensão política da corrupção é a dada por todas aquelas ações ou omissões dos detentores do poder político que violam normas jurídicas gerais para perseguir interesses e vantagens particulares. Lembro, neste contexto, que uma das virtudes do Estado Democrático de Direito é o respeito às leis e, muito especialmente, à Constituição; e uma dimensão da falta de espírito público, instigada pela corrupção, é a complacência com o afrouxamento da sua força obrigatória.

Machado de Assis observa: “Corrupção escondida vale tanto como a pública; a diferença é que não fede”. A Operação Lava Jato, em linha com o princípio da publicidade, está pondo diariamente à luz do dia o quanto “fedem” as modalidades de corrupção que estavam escondidas no âmbito do criptogoverno e do subgoverno do Brasil. Está, assim, indicando a existência, esta, sim, de uma verdadeira herança maldita.

A superação desta herança maldita, que resulta do exercício do poder pelo PT, exigirá a descupinização do sistema político para recuperar a confiança e restaurar a credibilidade necessária para abrir horizontes para o País.

Tamanho não é documento


O apego ao privilégio não é proporcional ao tamanho dele e nem ao estrago que provoca à sua volta. Por menor que seja a migalha distribuída e por mais claro que esteja que é o custo da infinita multiplicação dessas ninharias que mantém uma sociedade inteira, especialmente os “beneficiários” delas, nas vizinhanças da miséria, a História mostra que as pessoas têm preferido perder a vida a abrir mão do que quer que seja que alguém lhes outorgue “o direito” de ter sem fazer força.

Tem custado tanto sangue tirar luizes de dentro de palácios cobertos de ouro quanto extinguir o 14º ou 15º salário de fome de quem não tenha feito por merecer nem os 13 do comum dos mortais.

É nessa lei da natureza que se agarra o câncer do populismo
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Governo bate recorde de arrecadação

Ao contrário do que alardeia a presidente Dilma, o total das receitas realizadas pelo governo federal este ano já supera o recorde histórico de R$ 2,2 trilhões, estabelecido em 2014. O valor equivale a tudo que o governo Dilma conseguiu embolsar desde janeiro com impostos, taxas, ações na justiça, multas etc e é ainda mais expressivo por ser 50% maior que os R$ 1,4 trilhão arrecadados em 2010, último ano de Lula.
Se mantiver o ritmo, e o mandato, até o final do ano, o governo Dilma vai chegar a R$ 2,8 trilhões embolsados do contribuinte.

O Ministério da Fazenda, com a Receita Federal, continua sendo o que mais contribui para encher o cofre do governo: R$ 1,8 trilhão este ano

Os imorais

Moral. Prática em desuso na política, a palavra reinou no discurso da presidente Dilma Rousseff durante o 12º Congresso da CUT, que recebeu também o ex Lula e toda a sua beligerância contra quem não reza por sua cartilha. Pelo histórico de ambos e as demonstrações feitas a rodo na semana passada, nem um nem outro conhece o significado do verbete.

Dilma apontou o dedo para a oposição vociferando contra “moralistas sem moral”. Sem gaguejar – o que é raro em suas falas –, garantiu que nunca fez “da atividade política e da vida pública meios para obter vantagem pessoal de qualquer tipo”.

É mais uma adepta do conceito torto de moral difundido por Lula e o PT.


No código moral do petismo, tudo valia – mentir, barganhar, vender a alma e até roubar -, desde que em nome do projeto do partido, o único capaz de salvar os pobres e desassistidos das garras dos liberais, dos ricos. Hoje, essa é premissa superada. Vale tudo e muito mais.

A desfaçatez e a roubalheira graçam em todos os cantos. Cobram-se comissões e desvia-se dinheiro público para encher os bolsos. Engorda-se a conta bancária interna e externa de gente do PT e de aliados para continuar no poder, segurar cargos e privilégios e tentar blindar companheiros metidos em sucessivos escândalos. Lula, seus filhos e até uma nora são alguns dos protagonistas.

É fato que, diferentemente do que ocorre com gente até do primeiro escalão petista, não paira sobre Dilma a suspeita de que ela tenha surrupiado um único tostão. Mas o seu comportamento, o que fez e faz, tudo está longe da dignidade reclamada por ela, anos-luz de distância da moralidade.

No código que tomou de empréstimo do seu patrono, ela não considera imoral mentir deslavadamente para aniquilar adversários, como fez com Marina Silva. Nem ludibriar o eleitor vendendo o país cor-de-rosa e prometendo o impossível, como o trem-bala, a construção de seis mil creches ou 800 aeroportos regionais.

Não é imoral nem aética a barganha sórdida urdida em parceria com Lula para frear seu impedimento, entregando ministérios a quem não tem qualquer competência para conduzi-los; permutando fartos nacos do Estado pela garantia de seu mandato. Reveste-se de moral o ato de voltar atrás no compromisso de acabar com três mil cargos comissionados, agora necessários para que os aliados votem pela permanência da presidente rejeitada por mais 70% do país.

É também moralmente defensável negociar e proteger o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), enrolado até o último fio do cabelo em milhões inexplicáveis e não declarados. Nesse caso, diga-se, boa parte da oposição comete imoralidade idêntica.

Não há qualquer indício de que Dilma tenha desviado recursos para a sua conta. Mas é difícil crer em sua inocência. Ainda que como cúmplice, estava lá com poder de mando, como ministra das Minas e Energia e presidente do Conselho, quando se institucionalizou a bilionária ladroagem na Petrobras.

Era a candidata à reeleição quando mentiu sabendo que mentia. Foi desonesta, imoral.

Moral é um conjunto de princípios e virtudes que norteiam o comportamento. Não é blablablá para agradar plateias. Moral não inclui bravatas nem tergiversação. Muito menos permite leituras singulares como o petismo adora fazer e Dilma repete.

Moral da história: serão os brasileiros com moral que pagarão a conta dos sem-moral. Daqueles que se acham acima de qualquer moral, que protegem e compram imorais. 

Lula: abutre ou chacal

A pergunta que se faz é a seguinte: para onde vai a dinheirama que o Partido dos Trabalhadores acumula desde que teve livre acesso aos cofres públicos do País, em 2003? Melhor: onde se esconde a colossal fortuna que a legenda mais rica do planeta sacou do Erário, nos sucessivos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff?


Melhor ainda: que misteriosos caminhos percorrem as incalculáveis contribuições que mais de 100 mil militantes (aparelhados em “cargos de confiança” e nas boquinhas da máquina do Estado) enfiam mensalmente no saco sem fundo deste partido comunista que institucionalizou entre nós a “ética de resultados”? E mais: para onde vai o repasse milionário das cotas do Fundo Partidário dispensado pela nação perplexa ao partido da estrela vermelha?

Em geral, diante das escandalosas evasões de recursos públicos tragados pelas correntezas do mensalão e do petrolão, transbordantes de maracutaias e pixulecos, a cúpula do PT costuma responder, em estribilho monótono, que “todas as doações recebidas foram consideradas legais e as contas de campanhas do partido aprovadas pela Justiça Eleitoral”. E fim de papo.

No entanto, legal ou ilegal, ante as denúncias diárias dos delatores da operação Lava-jato, a resposta da cúpula petista se desmancha no ar e a pergunta, renitente, persiste: para onde vai a espantosa soma de recursos sacada dos cofres da nação pelos comunistas do PT? Seria apenas para o enriquecimento pessoal da cúpula partidária? Só para manter a hegemonia do poder ao preço da compra de votos dos políticos da base aliada? Ou tão somente gastas nas prodigiosas campanhas eleitorais administradas pelo PT?.

Todas essas respostas são mais do que comprováveis, mas acrescento uma outra quanto ao destino dos fabulosos recursos sugados dos cofres da Viúva pelo partido da estrela vermelha. Antes de evidenciá-la, abro aqui um necessário parêntese.

(É o seguinte: a práxis política do PT segue ao pé da letra as lições professadas pelo bolchevique Vladimir Lênin, o guru do socialismo soviético, e ainda mentor do famigerado Terror Vermelho, responsável direto, entre 1919/21. pelo massacre de 24 milhões de russos indefesos. Já nas suas Obras Completas, Lênin, para fincar os pilares de sua doutrina criminosa, ensina a cada página como o militante da causa deve matar, roubar, mentir e espoliar os bens da população, burguesa ou não. E olha que suas obras completas somam 250 volumes!

No capítulo da gestão financeira, Lênin sustenta, com ênfase revolucionária, que é dever do Politburo (comitê central do PC) “expropriar” o dinheiro público para aliciar futuros aliados políticos, devendo, para tal fim, meter a mão nas sólidas reservas de ouro do Banco de Moscou. Outra orientação dada por ele ao Comitê Central reporta-se a sigilosa remessa de proventos para a expansão, no exterior, do movimento comunista internacional.


Aliás, com esse objetivo, o “pragmático” Lênin, após saquear meio bilhão de rublos-ouro pertencente à família imperial, ordenou que a escória vermelha fuzilasse, na calada da noite, os dezessete membros do clã Romanov. Não foi por outra razão, de resto, que o historiador russo Dmitri Volkogonov, ao tecer considerações sobre o caráter predador do guru ideológico do PT, indaga na sua biografia sobre o chefão russo: “Lênin, afinal, era abutre ou chacal?”)

Quanto à resposta sobre a fortuna do PT, sou dos que admitem que boa parte da dinheirama que abastece os cofres petistas deve servir para financiar no exterior a ação subversiva do Foro de São Paulo, entidade instituída pela dupla Fidel-Lula, em 1990, em São Paulo, com o objetivo de “criar na América Latina o espaço (comunista) perdido no Leste Europeu”, depois da queda do Muro de Berlim.

Alguma dúvida, é só olhar o seu mapa manchado de vermelho. De fato, sem o dinheiro petista dificilmente países como Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador, Uruguai, Nicarágua, etc., poderiam expandir o comunismo leninista na América Latina, um projeto subversivo bilionário, que mobiliza hoje mais de 200 mil ativistas. Como se sabe, essa gente se reúne de dois em dois anos em assembleias regionais, propondo “avanços programáticos” e tomando deliberações para recriar e sustentar no subcontinente “o que foi perdido no Leste Europeu”. É muita grana!

Para manter o Foro atuante, o socialista Lula tem feito do Brasil gato e sapato. Não tanto quanto Lênin, ainda. Todavia, como Lênin também.

Mensageiros de más notícias

Um Rei mandava cortar a cabeça dos mensageiros que lhe davam más notícias. Desta forma, um processo de seleção se estabeleceu: os inábeis foram sendo progressivamente eliminados, até que restou apenas um mensageiro no país. Tratava-se, como é fácil de imaginar, de um homem que dominava espantosamente bem a arte de dar más notícias. Seu filho morreu – dizia a uma mãe, e a mulher punha-se a entoar cânticos de júbilo: Aleluia, Senhor! Sua casa incendiou, – dizia a um viúvo, que prorrompia em aplausos frenéticos. Ao Rei, o mensageiro anunciou sucessivas derrotas militares, epidemias de peste, catástrofes naturais, destruição de colheitas, miséria e fome; surpreso consigo mesmo, o Rei ouvia sorrindo tais novas. Tão satisfeito ficou com o mensageiro, que o nomeou seu porta-voz oficial. Nesta importante posição, o mensageiro não tardou a granjear a simpatia e o afeto do público. Paralelamente, crescia o ódio contra o monarca; uma rebelião popular acabou por destituí-lo, e o antigo mensageiro foi coroado Rei. A primeira coisa que fez, ao assumir o governo, foi mandar executar todos os candidatos a mensageiro. A começar por aqueles que dominavam a arte de dar más notícias.
Moacyr Scliar

O feiticeiro de plantão

Lula (Foto: Arquivo Google)
Luiz Inácio Lula da Silva é um “feiticeiro” de plantão. O epíteto se deve à capacidade que ele tem de produzir e vender “feitiço” às massas. Mas não são poucos os que questionam: “ele não tem mais esse poder de vender gato por lebre; os escândalos que sujam a imagem do PT quebram sua força, esvaziando o estoque de carisma com que engabela as massas”. Verdade? Analisemos. O ex-partido da moral e dos bons costumes – o Partido dos Trabalhadores – é o mais identificado com a lama que escorre dos porões da política. A sigla perdeu a aura que possuía por ocasião de sua criação. Nem por isso se pode menosprezar o papel de Lula, jogando-o no baú de quinquilharias. O palanqueiro, com seu timbre rouco de voz, continua a disparar tiros a torto e a direito, principalmente em direção às elites, à imprensa e a oposicionistas que querem destronar sua pupila, a mandatária que teve 54 milhões de votos.

O ex-presidente volta à linha de frente no esforço de resgatar a imagem positiva de Dilma. Vê que têm sido inócuos os esforços de A, B e C, integrantes do exército ministerial, ou D, E e F, guerreiros do PT e de outros partidos da base, para reconstruir a identidade de uma governante que, no início do primeiro mandato, exibia como trunfo os atributos de excelência técnica, eficiente gestora e um perfil de alto nível. Os tempos mudaram. Hoje, Dilma enrola-se nos farrapos de uma administração que parece sem rumo. E sem recursos. Envolvê-la em tecido limpo passa a ser tarefa primordial para Lula. E o que aparentemente ele decidiu fazer? A saída das feras acuadas: atacar, furar o cerco imposto por inimigos. Luiz Inácio volta ao palanque com a visível intenção de construir um abrigo de cor vermelha. E não teme confessar: pedaladas fiscais foram feitas para pagar o Bolsa Família. Fica implícita a estratégia: puxar as massas para o lado de Dilma, comover a galera das margens. Só o conforto do povão poderia tirar Dilma do inferno.

Ao fazer a ligação entre Dilma, o bolso e a barriga das margens carentes, Luiz Inácio deverá se valer do batido refrão: “nós contra eles”, as elites endinheiradas e poderosas. Terá condição de se transformar novamente em paladino da causa social? Ganhará de novo os louros de Pai da Pátria, Salvador dos Carentes e Oprimidos? Dilma entra na onda e segue a cartilha. Nunca antes neste país, ressaltou em peroração no Concacut, um governo como o de Lula e o dela fez tanto para combater a corrupção. (Do outro lado do palanque, espraia-se a lama do maior escândalo de corrupção da história política, que deixou vazar pelo propinoduto cerca de R$ 20 bilhões). “Atacar para não morrer”. Sob esse lema, a presidente Dilma denuncia a trama arquitetada pelos inimigos da Pátria, um golpe para apeá-la do poder. É o que ouviremos nos próximos tempos.

Não será fácil sair-se bem sob essa engenharia vocabular. Como é sabido, a presidente é o alvo de um intenso tiroteio social, não apenas midiático (como dizem Lula e outros petistas), bastando ver os míseros 8% da aprovação popular que detém. O discurso de defesa será confrontado com a realidade. A política, como exercício de sedução, será testada. Para cooptar as massas, os atores políticos, principalmente os carismáticos, costumam vestir o manto dos heróis. Lula, por exemplo. O que procura oferecer? Esperança. Ora, mas a esperança que ele vendeu no passado foi consumida pela dura realidade desses tempos de economia em recessão. Falta grana no bolso para encher a geladeira, pagar o carro, as prestações do fogão novo. O instinto de sobrevivência e o instinto nutritivo, da lição de Pavlov, estão ameaçados. Lula, mesmo querendo parecer um “deus de plantão”, poderá cair das nuvens. Subterfúgios, adjetivos, acusações fortes e promessas de um mundo melhor já não terão o efeito que causavam há 10, 15 anos.

É possível que ainda vejamos pessoas de boa vontade, carentes e dóceis, cheias de ternura e afeto, trabalhadoras, aplaudindo o paladino do “nunca na história desse país”. Afinal, o apelo de quem saiu das margens para o topo da pirâmide será sempre ouvido por uns e outros. A mistificação faz parte do jogo político. Não sem razão, Saint-Just, um dos jacobinos da Revolução Francesa, expressando sua desilusão com a política, dizia: “todas as artes produziram maravilhas, exceto a arte da política que só tem produzido monstros”. Exageros à parte, urge reconhecer a existência de quadros decentes. O fato é que há políticos conhecidos pela capacidade de se esconder sob as lágrimas do crocodilo, esse animal que chora para atrair a presa e devorá-la.

E mais: Lula deverá manter a estridência do discurso. E haja repetição. A linguagem da política ensina que a mentira repetida seguidas vezes tem o dom de fazer com que os ouvintes a tomem como verdadeira. E o próprio orador, de tanto mentir para os outros, passa, ele próprio, a acreditar no que diz. Esse mecanismo foi utilizado por Hitler e estudado por muitos cientistas. A cartilha do engodo abrigará orientações como esta: tergiversar; contar os fatos pela metade; omitir situações; acrescentar dados; ridicularizar adversários para encobrir sua montanha de defeitos; buscar de todas as formas abrir espaços de simpatia social, e até transformar o errado na coisa certa.

Fingimento, despistamento, simulação, dissimulação – eis os substantivos do discurso político nos próximos meses. A esperteza, o vale-tudo, a dramatização, os recursos artificiais, a hipocrisia e a insinceridade compõem a base da cultura política na sociedade pós-industrial. No Brasil, essa moldura é ainda mais tosca em decorrência das mazelas que solapam nossa democracia.

Afinal, Lula terá sucesso? Nem ele mesmo acredita. Seu feitiço deverá atrair grupos pequenos, profissionais de mobilizações vestidos de vermelho. Mais provável é que a armadilha do discurso demagógico não entre na cachola cada vez mais apurada dos brasileiros. Incluindo as margens.

Os cinco titãs do Supremo

“Eu tenho cinco ministros do Supremo”

Esse foi o recado que, segundo a revista Veja, o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, teria recebido de Dilma pela voz do governador peemedebista do Rio de Janeiro. Em seguida, segundo a mesma fonte, foi a vez de Jaques Wagner ecoar o mesmo recado. Quem mandou o segundo recado por intermédio do baiano Wagner foi Lula. A lembrança que explode na memória é a de que, quando o STF livrou os mensaleiros do crime que os teria mantido atrás das grades por muito mais tempo – formação de quadrilha -, os 6 votos que viraram o jogo para o PT vieram de 7 ministros indicados pelo partido após o estouro do Mensalão. Eram 7 e teriam virado em 5?
Corta a cena para o Ministro Marco Aurélio Mello. O ministro do STF defendeu um formato “não traumático” para o país superar a crise. O ideal para o Ministro seria a “renúncia coletiva” de Dilma, do vice Temer e de Eduardo Cunha. Marco Aurélio sugere que pessoas sem a menor noção republicana pensem republicanamente, que criminosos pensem como juristas e que um representante do PMDB atue com altivez e honra. Ele, contudo, não delira sozinho e tampouco idealiza sem que muitos suspirem com ele na ânsia por tais milagres. Quer que os problemas do país sejam resolvidos como que por encanto, mas não cogita conclamar seus pares para que façam sua parte, para que façam a tão desejada diferença.

Depois dos 5 magníficos que são de propriedade de alguém (segundo o que foi noticiado) até o agradável e perspicaz Marco Aurélio perdeu a fé nos poderes de sua corte, pois não são 11, mas 6 os que, a princípio, seriam independentes, profissionais, decentes. Dos 11 Ministros da Suprema Corte brasileira, quase a metade estaria a serviço de alguém que não a Constituição Federal. Não sei se é verdade, mas até pode ser, pois não li nenhuma manifestação de repúdio à notícia por parte do STF, não li desmentido por parte das instituições envolvidas e não tomei conhecimento de nenhuma reação forte ao que foi noticiado e que é gravíssimo.
Entretanto, ao contrário do que o cenário sugere, há um bom caminho a seguir. Há uma resposta a ser dada e, por que não, pelo próprio Ministro Marco Aurélio. Se Dilma, Temer e Cunha não renunciam, depois da menção dos “5 Supremos a soldo”, Marco Aurélio poderia comandar um processo de renúncia coletiva de todos os ministros do STF. Já que 5 já foram colocados sob titânica suspeição e já que o trio do Planalto e do Congresso se fez de morto para ganhar sapato novo, os Ministros do Supremo – todos – deveriam renunciar a seus cargos, imediata e irrevogavelmente.
Afinal, se Dilma, Temer e Cunha não tem dignidade suficiente e optarão pelo desfecho mais dramático possível, nada como a renúncia de 11 ministros do STF. O ideal seria que apenas os 5 de Dilma e de Lula pedissem para sair, mas eles são iguais a Dilma, Lula, Temer e Cunha. A única diferença entre os 5 de Dilma no STF e os inquilinos do Palácio do Planalto e da Câmara é a cor das poltronas das casas, pois as do STF são marrons, da cor do nariz dos 5 “magistrados”.
Ficamos assim: Dilma e Lula têm 5 no STF, Marco Aurélio quer a renúncia como solução menos traumática e eu quero que todos se abracem e tomem vergonha na cara. Renunciem todos. Já. Renunciem Dilma e Temer, renuncie Lula e Cunha. Renuncie Marco Aurélio e, por via das dúvidas, todos os outros 10 Ministros do STF.
Uma coisa apenas é garantida: Não tem como o país piorar com a saída deles.
Glauco Fonseca

O veneno que corrói o Brasil

A concessão do Nobel de Economia a Angus Deaton deveria servir de alerta para o rumo que o Brasil está seguindo.

Refiro-me especificamente a uma frase sua em entrevista no dia do anúncio do prêmio: crescimento mais lento "envenena tudo", disse.

Vale para o mundo todo, vale mais ainda para o Brasil neste 2015: envenenou tanto a política que pôs em risco o emprego da presidente Dilma Rousseff.

Angus Deaton acha particularmente incendiária a combinação crescimento mais lento/aumento da desigualdade.

Nesse capítulo, o Brasil é um caso especial: dificilmente pode haver aumento da desigualdade porque ela já bateu no teto – e não é de hoje.


É verdade que alguns acadêmicos e alguns lulistas hidrófobos tentaram defender a tese de que a desigualdade diminuiu nos anos Lula. Falso.

O que pode ter diminuído –e ainda faltam estudos realmente conclusivos– é a desigualdade entre salários. Mas não diminuiu e pode até ter aumentado a desigualdade entre rendimento do capital e do trabalho, conforme atestaram pesquisadores do Ipea.

Por sua vez, Dyelle Menezes, no site Contas Abertas, fez a seguinte comparação: apenas neste ano, R$ 277,3 bilhões estão autorizados no Orçamento para "juros e encargos da dívida".

Já o montante destinado ao Bolsa Família nos últimos 15 anos foi inferior a esse gasto com juros (somou R$ 221,7 bilhões).

Quer dizer o seguinte: os portadores de títulos do governo, uns poucos milhões, recebem EM UM ANO mais do que ganham EM 15 ANOS 42 milhões de pessoas, a clientela do Bolsa Família, os pobres entre os pobres.

Preciso desenhar que está havendo transferência de renda dos pobres para os ricos?

O prêmio a Deaton inclui um segundo recado sobre a atualidade brasileira: em entrevista a "El País", o agora Nobel disse que "os programas de austeridade que muitos países padecem nos farão infelizes, talvez durante muitos anos".

Completou: "Essas políticas reduzem receita, recortam benefícios e destroem empregos".

Antes de prosseguir, uma observação: a culpa do baixo crescimento brasileiro não é da austeridade defendida pelo ministro Joaquim Levy, pela simples e boa razão que ela nem estava em vigor no ano passado, quando o crescimento já era esquelético, nem está em pleno funcionamento agora, quando se projeta uma baita recessão.

Feita a ressalva indispensável, vale o fato de que políticas como as que Dilma está tentando implementar "reduzem receita, recortam benefícios e destroem empregos".

Se, em um futuro que não está no horizonte, a austeridade gerará o saneamento das contas públicas e, graças a este, levará ao paraíso, é outra história, que o Nobel de Economia não compra.

Não compra porque a maioria de seus colegas erra ao tratar o com­por­ta­men­to do con­su­mi­dor "­mé­dio" como re­pre­sen­ta­ti­vo da va­rie­dade de com­por­ta­men­tos in­di­vi­dua­is.

Não é assim, demonstrou Deaton, em parte do estudo que lhe valeu o Prêmio Nobel.

É o mesmo que dizer que previsões em economia são precárias, posto que dependem de zilhões de comportamentos individuais.