sábado, 20 de março de 2021

Pensamento do Dia

 


Presidente perverso recusa-se a ouvir o grito dos que sofrem

À falta melhor do que fazer, uma vez que o combate à pandemia da Covid-19 só lhe desperta os instintos mais primitivos, Jair Bolsonaro passou pelo vexame de ouvir um “para com isso” do ministro Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal.

No Rio, onde se encontrava, Fux soube que em Brasília, na sua pregação diária para devotos reunidos nos jardins do Palácio da Alvorada, Bolsonaro deu a entender que poderia decretar Estado de Sítio no país ou em algumas de suas regiões.

Estado de Sítio é coisa séria. Só pode ser decretado após consulta ao Conselho da República, ao Conselho de Defesa Nacional e mediante autorização do Congresso. O presidente do Supremo Tribunal Federal é um dos membros do Conselho da República.

Daí o interesse de Fux pelo assunto, o que o levou a telefonar de imediato para Bolsonaro. Segundo o artigo 137 da Constituição, o Estado de Sítio só se justifica em dois casos:

I – comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;

II – declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.

De fato, o Brasil pode estar caminhando na direção de um estado de comoção grave diante da recusa de Bolsonaro em combater o coronavírus, deixando que morram os que tiverem de morrer porque ele simplesmente não é coveiro. Mas ainda não chegou lá.


É possível que ao presidente da República interesse que chegue. Enquanto durar o Estado de Sítio, aumentam seus poderes e se enfraquecem os direitos individuais dos cidadãos. Ele poderá, por exemplo, suspender a liberdade de reunião e ir além.

O Estado poderá fazer busca e apreensão em domicílios sem prévia consulta à justiça, e intervir em empresas particulares requisitando os bens que lhe aprouver. A correspondência entre pessoas perde sua inviolabilidade. As prisões se tornam moeda corrente.

Funciona, digamos, como um ensaio de um Estado de exceção. Um presidente democrata faria tudo para evitá-lo. Para um presidente de extrema direita, pronto a celebrar mais um aniversário do golpe militar de 64, o Estado de Sítio é uma tentação irresistível.

A Fux, Bolsonaro negou que tenha falado em Estado de Sítio ou que cogite adotá-lo. Então por que o mal entendido? Porque ele disse, sem que ninguém lhe perguntasse, que “vai chegar o momento” em que o governo terá de tomar uma “ação dura”.

Afirmou que a miséria, a fome e a pobreza são “terreno fértil para ditadura” no País. E, provocou: “Será que o governo federal vai ter que tomar uma decisão antes que isso aconteça? Será que a população está preparada para uma ação dura no tocante a isso?”.

Ação dura para quê? Ele mesmo respondeu: “É para dar liberdade pro povo, é para dar o direito de o povo trabalhar. Não é ditadura não, uns hipócritas aí falando de ditadura o tempo todo, uns imbecis”. Ação dura contra medidas de isolamento social.

Bolsonaro bateu às portas do Supremo atrás da revogação de medidas de isolamento baixadas pelos governadores do Distrito Federal, Bahia e Rio Grande do Sul. Está cansado de saber que o Supremo se negará a revogá-las. Por que insiste mesmo assim?

Para reforçar seu discurso de que não age contra o vírus como gostaria por que a justiça o impede. Para jogar a população contra governadores e prefeitos apontados por ele como “projeto de pequenos ditadores”. Para tumultuar ainda mais a situação.

“Jamais adotaria o lockdown no Brasil. O meu Exército não vai para a rua cumprir decreto de governadores”, repetiu Bolsonaro. “Se o povo começar a sair [de casa], entrar na desobediência civil, não adianta pedir Exército. Nem por ordem do Papa, não vai”.

Com os 2.730 óbitos registrados nas últimas 24 horas, março de 2021 se tornou o mês mais mortal da pandemia, superando julho do ano passado. No momento, o governo dispõe de dois ministros da Saúde – um general e um médico. Significa não ter nenhum.

O general está à espera que lhe arranjem um novo cargo – de preferência com status de ministro para se resguardar de processos. O médico precisa de tempo para desvincular-se de suas atividades de empresário. Por ora, um não sai e o outro não entra.

O presidente perverso tem campo aberto para exercitar sua desumanidade e tocar horror.

Ge-no-ci-da!

Em meados do ano passado, o Brasil já ia pela casa dos 50 mil mortos pela pandemia. E o que fez o genocida? Incentivou seus cães ferozes a invadir hospitais. Na época, o cartunista Renato Aroeira traduziu numa charge a indignação de muitos brasileiros. No desenho, a cruz vermelha dos hospitais é convertida na suástica nazista pelo genocida. Uma imagem forte e poderosa. O Ministério da Justiça decidiu perseguir Aroeira, mas deu um tiro no pé. Em solidariedade, mais de 70 artistas republicaram a charge e amplificaram a crítica.


Movimento semelhante ocorreu nesta semana, quando o Brasil já está perto de alcançar cinco vezes mais mortes do que em junho. Cinco manifestantes foram presos em Brasília por expor um cartaz que reproduz o trabalho de Aroeira e acrescenta a palavra que está no centro do debate nacional: genocida. A mesma palavra motivou uma intimação policial ao youtuber Felipe Neto, que a usara para criticar o presidente"¦ genocida.

Rapidamente, uma frente de advogados criou a plataforma "Cala boca já morreu", que oferece defesa gratuita para quem for processado ou preso por críticas ao genocida. Felipe Neto não se deixou intimidar e revidou à altura no ecossistema que conhece como poucos e por meio do qual alcança milhões de pessoas. Ele postou o vídeo "Bolso família", programa de transferência de renda para uma única família, no caso, a do genocida.

Bem que a oposição poderia tomar aulas de comunicação com o youtuber. Graças ao seu alcance, o epíteto pegou e estará colado para sempre na testa de Bolsonaro: genocida! Seus atos estimulam a reprodução do vírus que está matando milhares. Por isso, Bolsonaro não é um assassino comum. É um genocida.

O país derrete no colapso hospitalar e sanitário. Todos os dias são de despedidas. Para não adoecer de Brasil, temos que expressar nossa indignação. Neste texto, usei 11 vezes o termo genocida. E peço que você repita comigo, escandindo as sílabas: GE-NO-CI-DA!

Pedido para matar

Esse documento (pedido protocolado por Jair Bolsonaro no STF para impedir o toque de recolher contra a epidemia) vai rodar o mundo e vai servir como prova definitiva de que as intenções da presidência não são voltadas ao bem maior da sociedade. E, quando um mandatário renuncia à sua obrigação máxima de proteger e salvar seus cidadãos, outros poderes da República têm de intervir. O presidente botou no papel o que o mundo inteiro já sabia: que ele quer fazer o oposto do necessário para evitar um genocídio no Brasil
Miguel Nicolelis

Brasil mergulhado na barbárie

O Brasil começa a ser um campo onde parece ter se instalado um regime bárbaro com atos de terrorismo perpetrados contra aqueles que defendem as medidas de lockdown contra a pandemia que ameaça afundar o país na maior crise de saúde de sua história. Dois atos de terror e violência levados a cabo nos últimos dias contra dois jornalistas por fanáticos de Jair Bolsonaro levantaram o alarme de que os seguidores do presidente, que os qualifica de “meu exército”, estão dispostos a incendiar o país para impedir as medidas restritivas exigidas pela ciência e pela medicina como única arma junto com a vacina para tentar deter o rastro de mortes cada dia maior que horroriza o país. Nesta quinta-feira, o presidente deu mais um incentivo a eles: em nova transmissão ao vivo, disse ter acionado o Supremo Tribunal Federal contra as medidas para conter a circulação.

O último ato de terror aconteceu na cidade de Olímpia, no interior de São Paulo, contra José Antonio Arantes, editor do jornal local que quase morreu junto com a mulher e a neta de sete anos enquanto dormiam. Atearam fogo na casa durante a madrugada e se não fossem os dois cachorros que os despertaram com o quarto já cheio de fumaça e fogo, toda a família teria morrido. “Mais quinze minutos e teríamos todos morrido sufocados pelo fogo”, disse o jornalista, que acrescentou: “Estou há 40 anos na profissão, comecei minha carreira já no final da ditadura. Não vou abrir mão de lutar pelo meu povo e contra qualquer tipo de terrorismo e pensamento político que visem tirar a liberdade e suprimir os direitos de minha população”.

Outro jornalista, do O Estado de Minas há 20 anos, foi agredido durante uma manifestação de bolsonaristas com pontapés e pancadas na cabeça dadas com um capacete de motociclista aos gritos de “Comunista! Não vamos deixar!”. O jornalista comentou: “A ferida está na alma. Saber que temos um líder no país que incentiva a violência”. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) escreveu que “o extremismo e a intolerância contra jornalistas atingem toda a sociedade”.

É sabido que os grandes incêndios que devastam florestas inteiras às vezes começam com uma ponta de cigarro acesa. O mesmo acontece na política. Muitas das grandes tragédias da humanidade às vezes começaram com um único tiro de pistola e acabaram manchando de sangue países inteiros.


O Brasil está numa situação grave e perigosa que, se não for contida a tempo, pode arrastar o país para as cenas dantescas vistas no final do Governo Trump. As instituições do Estado responsáveis pela defesa dos direitos sancionados na sociedade não podem fechar os olhos nem pensar que Bolsonaro ainda pode mudar, defender os valores da liberdade e acalmar suas hostes violentas. Em mais de dois anos de Governo já deu provas suficientes de que sua personalidade negacionista, destrutiva e violenta não vai mudar.

Como vários psiquiatras já indicaram, sua personalidade pertence a pessoas com traços de patologia impossíveis de curar. Em sua coluna de ontem no jornal Folha de S. Paulo, intitulada Jair Messias e o ‘pai dos psicopatas’, Guido Palomba cita o psiquiatra alemão Kurt Schneider, que em seu último livro tenta decifrar os transtornos de personalidade em tempos de tensão.

São disfunções de personalidade “com ausência de sentimento de piedade, compaixão e altruísmo; falta de valores éticos e morais e incapacidade de se sentirem culpados. São pessoas sem remorso e arrependimento”. São pessoas sem ressonância afetiva com a dor alheia. Por vaidade exagerada, sentem-se acima de tudo e de todos. São personagens agressivos, mal-educados e provocadores.

O psiquiatra alemão os compara aos oligofrênicos e os descreve como pessoas que, se voltam atrás, não é para reconhecer seus erros, mas por estratégia. “Rancorosos e vingativos reagem com virulência”, e conclui significativamente: “Ninguém os detêm, salvo uma reprimenda enérgica judicial ou legal”.

Seria possível dizer que, se o capitão responde a esse distúrbio psiquiátrico, é inútil continuar esperando dele alguma conversão milagrosa. Agora os responsáveis são os que têm o poder, com a lei nas mãos, de pôr fim a essa barbárie que oprime cada vez mais este país, ameaçando deixá-lo à própria sorte, deixando que a epidemia o devore com gente morrendo nos corredores dos hospitais à espera de uma UTI.

Deixar um país inteiro à deriva, não por falta de recursos, mas de liderança, é um crime que também recai sobre as autoridades incapazes de intervir.

Seria de se perguntar se os militares que hoje apoiam o presidente em seu Governo também vão fechar os olhos. Se vão preferir ficar também eles presos no Titanic ou se preferirão abandoná-lo antes que seja tarde demais. O Brasil não merece este massacre que produz morte e desolação sem esperança de salvação.

Sob o império da mentira

Faz tempo que nós, brasileiros, vimos sentindo nossa autoestima baixar cada vez mais. Não vendo muito de positivo a celebrar, ressaltamos nossos defeitos, que, de fato, não são poucos.

Mas, sinceramente, nunca me ocorreu que tantos de nós fôssemos imbecis, canalhas e irresponsáveis como essas multidões que estão antepondo todo tipo de obstáculos ao combate à pandemia. Pondo em risco não só a nossa vida, mas também a deles.

A pandemia já ceifou quase 300 mil vidas e uma parcela importante dessa perda se deve ao comportamento do insano que nos preside. Seu objetivo parece ser muito mais o de impedir a ascensão eleitoral do governador João Doria do que livrar o nosso país dos riscos trazidos pelo coronavírus. Sabotando o trabalho dos agentes de saúde, fomentando aglomerações, insuflando fanáticos que o apoiam, mentindo sem nenhum pudor (por exemplo, quando afirma que o Supremo Tribunal Federal o impede de agir), ele vem tornando nossa tragédia muito maior do que ela precisaria ser. Hoje somos uma “ameaça global” e uma vergonha para o mundo.

Era o caso de esperar mais de um capitão excluído das Forças Armadas por indisciplina para em seguida se tornar um lídimo representante do “baixo clero” na Câmara dos Deputados? Justiça feita, ele não é um caso isolado. O que hoje temos na cúpula dos três Poderes é provavelmente a pior composição da nossa História. No próprio Supremo, guardião da Constituição, alguns ministros parecem empenhados tão somente em combater o combate à corrupção.

O império da mentira parece não ter limites. Veja-se o caso de Lula. Minutos após ter suas condenações pelo triplex e pelo sítio em Atibaia invalidadas pelo ministro Fachin, fazendo pose de estadista ele proferiu uma mentira que o futuro certamente lembrará como um notável paradoxo. Afirmou ter sido “vítima da pior mentira jurídica de nossa história”. Proferiu, portanto, uma mentira que se autodesmente, como na história do cachorro correndo atrás de seu próprio rabo. Mesmo o período de um ano e meio em que esteve preso em Pinheirais é uma grande mentira, pois esteve confortavelmente instalado, com direito a televisão e a visitas de seus advogados e outras pessoas. Lula sabe muito bem que, no espaço de dois ou três meses, sob os governos militares, muita gente sofreu centenas de vezes mais do que ele.

Lembremos, contudo, que algumas das piores coisas que ouvimos ultimamente não são mentiras. Minutos após ser empossado como presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Arthur Lira (PP-Alagoas) manifestou sua intenção de restabelecer a coligação entre partidos nas eleições legislativas. Essa, sim, é de cabo de esquadra.

A revogação das coligações (efetivada na reforma de 2017) foi a única medida séria que logramos aprovar no terreno da reforma política em mais de 30 anos de tentativas. A referida modalidade de coligação era uma evidente fraude da vontade do eleitor e da consistência que temos o direito de esperar dos partidos políticos. Minigrupos que, isoladamente, não conseguiriam atingir o chamado quociente eleitoral, habilitando-se a participar da distribuição das cadeiras, aliavam-se – como se fossem um partido! – a fim de atingi-lo. Concretizado esse objetivo espúrio, separavam-se, juntavam-se a outros e faziam o que bem entendiam com a parcela da representação popular que supostamente teriam angariado.

A vedação das coligações foi aplicada na eleição municipal de 2020, com resultados por enquanto modestos, mas positivos.

A intenção externada pelo presidente da Câmara é um péssimo augúrio. Sugere que uma parte da classe política persiste na obtusidade que a caracteriza há várias legislaturas. Que não compreende que o Brasil precisa de uma reforma política séria e abrangente, sob pena de não lograr o impulso necessário para retomar o crescimento econômico e a busca do bem-estar. Nesse mister, não estamos lutando para evitar um retrocesso, estamos metidos até o pescoço num retrocesso gravíssimo, que implica nossa permanência num nível de pobreza avultante por toda uma geração. Tal reforma terá de ser feita, cedo ou tarde, e num contexto preocupante. Trata-se de uma reforma difícil, que por certo envolverá alterações constitucionais, portanto, um desafio de grande monta para a atual geração política, sabidamente mediana.

Trinta e cinco anos atrás, no Congresso Constituinte, qualquer cidadão informado não precisaria de mais que cinco minutos para apontar dez, quinze ou vinte líderes de expressão nacional. Falo da qualidade de tais líderes, não da ideologia de tal ou qual. De A a Z, dispúnhamos de figuras públicas habilitadas a representar a sociedade nos escalões mais altos. Lá estavam Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Mário Covas, Roberto Campos, Delfim Netto, Fernando Henrique Cardoso.

Hoje, se me permitem um breve resumo, temos um cenário extremamente preocupante para as próximas duas ou três décadas e uma classe política, ao que tudo indica, despreparada para enfrentar esse magno desafio.

A minha segunda dose

Eu devia estar contente. Ontem, gastei apenas 10 minutos para, sem fila, tomar minha segunda dose de CoronaVac. Por que não comemorar a entrada no pequeno grupo dos brasileiros que tiveram essa sorte?

Porque o que há em volta é de entristecer: a semana que passou constituiu-se na mais letal da pandemia, e o país foi considerado um risco para o mundo. Além da carência de leitos, remédios e insumos, agora faltam até covas e, sem necrotérios, os corpos estão sendo “enterrados” em contêineres.

São mais de 265 mil mortes em um ano causadas pela Covid-19, ou 1.582 em 24 horas; ou um óbito a cada 50 segundos, com curva ascendente. Em janeiro e fevereiro, as mortes pelo vírus subiram 71%.


O SUS tem mais de 80% dos leitos de UTI ocupados em pelo menos 17 capitais do país; e a Organização Mundial da Saúde adverte que o Brasil vive “uma tragédia” e não sabe como enfrentá-la. Para quatro ex-ministros da Saúde, falta liderança; para secretários estaduais, vivemos o “pior momento” da pandemia e, por isso, pedem toque de recolher das 20h às 6h.

O pior é que esses números já devem estar superados quando eu acabar de escrever este artigo. E eles escondem nomes, alguns de pessoas queridas, compondo um “memorial de despedidas”, segundo relatos obtidos por Janaína Figueiredo e Maiá Menezes. Às vezes são os derradeiros diálogos, como os do médico Ricardo Cruz com sua mulher:

— Piorei muito. O pulmão não responde. Prepare-se para o pior, ok?

E, já sem fôlego, deixou por escrito suas últimas recomendações.

Lendo, me lembrei de ter participado de alguns debates culturais que o doutor Ricardo promovia e animava nos hospitais onde clinicava. Foi impossível não chorar. E não me envergonho de confessar. Vergonha eu tenho de um presidente que debocha dos que choram seus mortos. Num vídeo que viralizou nas redes sociais, o romancista e jornalista português Miguel Sousa Tavares faz duras críticas a Bolsonaro.

Muito lido no Brasil, que conhece bem e onde admira personagens como Drummond, Kubitschek, Chico Buarque e Oscar Niemeyer, o autor do clássico “Equador” diz que “dói a alma” constatar que o Brasil esteja sendo governado por um “fantoche, alguém absolutamente ignorante e cruel não só do ponto de vista político, mas também humano”.

Miguel disse tudo isso e muito mais, antes de conhecer a última do presidente: o desprezo pelos que sofrem por suas perdas. Bolsonaro demonstrou mais uma vez que sua personalidade não é feita só de ignorância, mas também de má-fé e mau caráter.

Em meio a tanta omissão criminosa, não se pode esquecer e nunca é demais exaltar a voz da ciência — a “Moção médica em prol da vacina já”, em que 2.168 profissionais do Rio manifestaram-se preocupados com a condução da pandemia no estado e no país. Ao se referir ao número escandaloso de mortes, o texto ressalta: ISSO NÃO PODE CONTINUAR, assim mesmo, em caixa-alta, como se fosse um grito.

É possível que o leitor, como eu, já tenha recorrido a um desses importantes nomes num momento de dor ou aflição. Ler agora essa demonstração de coragem cívica de nossa classe médica é um conforto.