sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Brasil, país do passado

Daqui a algumas décadas, quando os livros (com muito texto, de preferência) tiverem a missão de discorrer sobre os anos Bolsonaro e os prejuízos por eles causados à imagem do Brasil no exterior, poucas cenas vão resumir tanto o período quanto a da quarta-feira 8, quando Bolsonaro ligou a câmera, postou-se de costas para ela e se deixou filmar para seus milhões de seguidores nas redes sociais. Em silêncio, assistiu por 8 minutos e 50 segundos ao pronunciamento de Donald Trump sobre os ataques do Irã, na véspera, a bases americanas no Iraque. Nada simbolizou mais até agora a vassalagem brasileira em relação aos Estados Unidos, uma postura que tem chocado gerações de diplomatas, de diferentes matizes ideológicos, não só por ir contra tudo que pregam as diretrizes da diplomacia mundial, mas também por trazer dividendos que o país conseguiria da mesma maneira. A mansidão para o lado de Trump seria só mais um traço da caricatura de um homem que se regozija de falar grosso para baixo e fino para o alto, se não viesse acompanhada por decisões e episódios que têm manchado uma reputação conquistada pelo Brasil — de alegria, esperança e boas perspectivas para o futuro —, fosse quem fosse o ocupante do terceiro andar do Planalto.

O currículo de contribuições para que o país do futuro passasse a ser visto como um palco do retrocesso é longo: a leniência diante do aumento das queimadas na Amazônia, a verborragia contra os direitos humanos de qualquer humano que não o apoie, a ideologização das relações bilaterais com países historicamente amigos, como a Argentina e a França, a mudança de posições antigas do Brasil de respeito à identidade de gênero, a ameaça de mudar a embaixada de Israel, gerando uma crise com países árabes, a obsessão olavista de que o Brasil esteve à beira de um regime comunista, a crise com o Irã por apoiar o assassinato americano ao general Qassem Soleimani. Tudo isso, ora gerando irritação, ora só deboches, não passa despercebido de quem observa o país.


Em outubro, o britânico Financial Times, principal jornal de economia do mundo, lido pelos grandes investidores internacionais, afirmou em uma reportagem que o vídeo gravado de madrugada pelo presidente, diretamente do Qatar, após o depoimento do porteiro do Vivendas da Barra ser noticiado pela TV Globo, “levanta questões sobre o estado mental de Bolsonaro”. “O Brasil tem se esforçado para aprovar a agenda de reformas, mas as frequentes explosões de Bolsonaro — que lhe deram o apelido de Trump Tropical — estão afastando apoios necessários para aprová-las”, afirmava o texto. O jornalão, de linha editorial conservadora, não está sozinho.

A coluna teve acesso a dezenas de telegramas diplomáticos enviados por postos na Europa ao longo de 2019, em que são feitas para Brasília análises do que está sendo publicado na mídia estrangeira sobre o Brasil. A deterioração da imagem nacional no exterior ganhou velocidade depois da crise na Amazônia. Um dos despachos, por exemplo, enviado da embaixada de Berlim, aponta um balanço trágico na imprensa alemã sobre o país.

Essa proporção seguiu, com algumas variações, ao longo do segundo semestre. No exterior, os avanços da política econômica são apagados por todo o resto, e nem o que sempre fez o Brasil brilhar tem surtido efeito. Em outubro, quando Sebastião Salgado recebeu o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão, o prestígio do fotógrafo gerou algumas notícias positivas. Mas, dias depois, a bonança se mostrou passageira quando Salgado disparou críticas contra Bolsonaro. “Criticou que o presidente Jair Bolsonaro se referisse ao potencial econômico da Amazônia supostamente sem respeito pelas terras indígenas e sugeriu que os europeus estipulassem condições para a instituição do Acordo Mercosul-UE”, escreveu um diplomata lotado em Berlim.

A chegada de Ernesto Araújo ao comando do Itamaraty fez com que alguns dos mais experientes da carreira se afastassem ou fossem afastados de funções estratégicas. Os três ex-chanceleres brasileiros ainda no Itamaraty estão totalmente alijados. Antonio Patriota é o titular no Qatar. Luiz Alberto Figueiredo é o embaixador em Doha. O tratamento mais controverso tem sido dispensado a Mauro Vieira, que foi ministro no governo Dilma Rousseff e embaixador nos Estados Unidos, na Argentina e na ONU, assumirá nos próximos dias a inexpressiva embaixada de Zagreb, na Croácia. No Itamaraty, o comportamento de Araújo com Vieira tem sido considerado uma demonstração de ingratidão. Foi Vieira quem levou o atual chanceler para, em 2010, ser seu número dois em Washington, o maior posto da carreira de Araújo até ser alçado a número um do Itamaraty, menos pelo currículo e mais por seus predicados olavistas. O atual ministro também foi subchefe de gabinete de Mauro Vieira, quando foi ministro de Dilma.

Essa geração tem assistido ao desmonte de pilares que sempre distinguiram o Brasil, desde o Barão do Rio Branco, a exemplo do princípio de não intervenção em outras nações. Está na Constituição — Artigo 4º — que o Brasil “rege-se em suas relações internacionais” pela “não intervenção” na política interna de outros países. Não que se espere de Bolsonaro que ele conheça a Constituição — o jurista Conrado Hübner Mendes já conta pelo menos 17 episódios em que, em sua visão, Bolsonaro já cometeu crimes de responsabilidade (atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal). O comportamento do presidente nas relações internacionais pode configurar mais um. Bolsonaro vai contra a Constituição e assume sem constrangimento posições sobre política interna de outros países, a exemplo do que fez na eleição argentina, defendendo o voto em Mauricio Macri, e não em Alberto Fernández, ou ainda sobre a eleição americana deste ano, quando já afirmou até haver apoio divino a Trump. “Trump vai ser reeleito, alguém tem dúvida disso? Vai ser reeleito. Está o país indo muito bem, muito bem. Desemprego lá embaixo, a economia bombando, (ele) exercendo seu poder de persuasão no mundo todo, graças a Deus tem os Estados Unidos, que está fazendo tudo isso. Deus está no controle”, afirmou Bolsonaro, para quem talvez Deus e Trump sejam um só corpo.

Ernesto Araújo não está nem aí para os danos à imagem brasileira. A exemplo da Secretaria de Comunicação do Planalto, que até cancelou o contrato de clipping internacional, que era responsável por coletar e analisar tudo que sai sobre o Brasil na imprensa estrangeira, o Itamaraty também não tem nenhuma estratégia para conter o pessimismo que se tem hoje com o país. Esse papel, atualmente, tem cabido exclusivamente a Tereza Cristina. A ministra da Agricultura embarca neste mês para a Semana Verde, na Alemanha, com o objetivo de tentar mostrar que a sustentabilidade é de interesse do agronegócio. Ricardo Salles, a quem caberia o papel de defender o meio ambiente, não é ouvido. Na cúpula do Ministério da Agricultura, sabe-se que, hoje, ou ela faz isso, ou ninguém de peso no governo defenderá lá fora que, além de ser tech e pop, o Agro não mata a floresta.

“Bolsonaro tem de pensar no Brasil, nos interesses do Brasil, e não na visão pessoal dele sobre os fatos. Pouco importa se o presidente pensa A ou B, o importante são os interesses nacionais. E esses estão sendo sacrificados pela postura do presidente. Cada vez menos o Brasil é ouvido”, lamentou um ex-chanceler que deixou recentemente o posto. Ele está preocupado com os próximos anos: “Tudo isso foi no primeiro ano. E ainda faltam três. Não consigo imaginar quantos prejuízos mais teremos até 2022”.

É intolerável ouvir palavras de um nazista na boca do governo brasileiro

Há ações que não podemos aceitar. Há fronteiras que não podem ser transpostas. O secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, evocou a maior barbárie do século 20. O nazismo ficou marcado na historia da civilização mundial como aquilo que não se deve aceitar. Em vídeo, Alvim cita quase textualmente um discurso do ministro da Propaganda de Adolf Hitler.

Em 48 anos de jornalismo, nunca pensei que tivesse que comentar sobre Joseph Goebbels. Havia a certeza na minha geração, nascida na década seguinte à 2º Guerra Mundial, que o pesadelo nazista estivesse superado. Uma arma poderosa no controle da nação alemã foi justamente a propaganda de Goebbels, que levou o povo àquele momento absolutamente triste da História. O que houve ali é analisado com frequência para ser repudiado.

É inaceitável ouvir as palavras de um monstro como Goebbels na boca de uma autoridade brasileira.


Várias palavras se repetem em ordem diferente, mas no mesmo sentido. O que disse Goebbels: “a arte alemã da próxima década será heroica”. O que disse Alvim: “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional”. Goebbels: “será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismos.” Agora, Alvim: “será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa.” Esses são alguns exemplos. Há outros. Goebbels: “será nacional com grande pathos e igualmente imperativa e vinculante ou não será nada.” Alvim: “posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada.”

A postura, a música ao fundo e o discurso do execrável ministro nazista. Alvim subiu na hierarquia bolsonarista atacando a inatacável Fernanda Montenegro. Atacou um símbolo. Faz parte da estratégia. Fernanda dedicou uma vida à cultura.

O governo coleciona erros e grosserias. Bolsonaro foi responsável por mais da metade dos ataques a jornalistas em 2019, por exemplo. Na transmissão de ontem pela internet, o presidente falou em revisar livros didáticos. Todo o autoritarismo usa a ideia de reescrever livros históricos.

A intenção é rever as críticas à ditadura. Bate num pilar desse momento da História que começa após a ditadura. A democracia foi um pacto nacional, não se pode reescrever o que foi a ditadura. Aquele período tem que ser entendido como foi: um momento infeliz da nossa História. Ulysses Guimarães disse em discurso que “conhecemos o caminho maldito”. Elogiar e repetir a ditadura é isso, um caminho maldito.

Outro elemento do nazismo é a xenofobia. A jornalista Thais Oyama fez um livro sobre 2019 e foi atacada pelo presidente. Bolsonaro se referiu a ela como “essa japonesa” que “não sei o que está fazendo aqui”. O Brasil tem orgulho de contar com os descendentes de japoneses. O presidente Bolsonaro é descendente de italianos e todos o consideramos brasileiro. Somos todos assim. Temos raízes nos povos de vários países do mundo. Não se pode ter xenofobia.

Alvim usou no seu discurso, o presidente e outras autoridades também. Deus não é propriedade de um grupo político, pátria tampouco e família todos têm. Não é exclusividade de um grupo político. Eles têm manipulado usando Deus, pátria e família. Isso sempre foi feito, inclusive pelo nazismo. Não se cita um nazista.

Aloprar ou recrudescer

Há semanas, agoniado com as investigações do Ministério Público do Rio sobre a “rachadinha” no gabinete de seu filho Flávio quando deputado estadual, Jair Bolsonaro ejaculou: “Se não tiver a cabeça no lugar, eu alopro!”. Aloprar significa ficar inquieto, agitado —aloprado. E Bolsonaro tem razão para aloprar —talvez já esteja sentindo a Justiça perigosamente perto das trampolinagens da família. Mas vamos ser justos. Num governo estrelado por tantos analfabetos, inclusive ele, surpreende vê-lo resgatar um verbo tão exótico e pouco usado.


O general João Batista Figueiredo, último presidente da ditadura, também apelou certa vez para um verbo incomum. Reagindo às tremendas pressões sobre ele, vindas tanto dos civis quanto da linha-dura militar, Figueiredo explodiu: “Olha que eu recrudesço!”. O país parou, expectante. Parecia uma ameaça —mas de quê, como e contra quem? No Pasquim, Jaguar botou seus dois calunguinhas para discutir. Um deles pergunta: “O que é ‘recrudesço’?”. E o outro: “Não sei. Mas tem cru no meio”.

Jânio Quadros passou à história por ter justificado sua renúncia à Presidência da República com o imortal “Fi-lo porque qui-lo”. Depois tentou emendar, dizendo que o certo era “Fi-lo porque o quis”, mas isso não alterou seu gambito politicamente suicida.

Michel Temer, por sua vez, deixou saudades por seu domínio da mesóclise: “Se perceber algo errado na condução de meu governo”, ele disse, “consertá-lo-ei”. E fê-lo bem ao dizê-lo —mas, se a Justiça continuar procurando algo errado em seu governo, encontrá-lo-á.

E Dilma Rousseff, que levou o pensamento lógico a níveis patafísicos, usava os verbos como ninguém, como nesta passagem que ainda intriga os filólogos: “Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar ou perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”.

Só resta ao povo aloprar ou recrudescer.

Pensamento do Dia


Discurso de Roberto Alvim, que ecoa o nazismo, precisa ser debatido com urgência

No seu delirante discurso de ontem sobre o que considera o "renascimento da arte" no Brasil, o secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim, não se limita a plagiar espantosamente Joseph Goebbels, o gênio do mal da propaganda hitlerista. Além do trecho que começou a viralizar na madrugada de hoje (lado a lado com palavras do ideólogo alemão), Alvim, num tom triunfalista medonho, traz à tona vários outros elementos que, há 90 anos, constituíram, no que toca à cultura, o nascimento do fascismo europeu e de sua forma germânica, o nazismo.

A ideia, ventilada por ele, de que o povo precisa ser salvo de uma "cultura doente" (primeiro sintoma, ele diz, de uma doença social) ecoa claramente a noção nazista da "arte degenerada", a ser expurgada. Parecido com o afã purificador que, em Berlim, incluiu até uma exposição de pinturas de grandes mestres modernos destinada a fomentar, no grande público, o horror a tudo que respirasse liberdade, crítica, transgressão, pluralidade.

A noção dos "mitos fundantes" nacionais, mencionados por Alvim (como se não tivessem sido jamais visitados por nossas artes, no país de Oswald, de Mário e da Tropicália), em muito lembra os ideais evocados pelo Führer, de uma Alemanha calcada em raízes pátrias profundas, carreadas por uma linhagem que remontaria à Antiguidade Clássica.



Na versão brasileira, contudo, Alvim acrescenta ingredientes do teofascismo, tendência política emergente tanto no fundamentalismo islâmico quanto na onda neopentecostal. Ele o faz ao vincular seu projeto de "arte da nova década" não só à família, mas à fé cristã da imensa maioria do povo brasileiro: Alvim crê numa pretensa revolução dos já proverbiais homens de bem contra o mal, esse alvo móvel representado por tudo o que foge à bitola equestre dos luminares das trevas que conduzem o Brasil à Nova Idade Média.

Um escritor, nas redes, ao referir-se ao secretário, comenta que a cultura brasileira jamais será a preconizada por "este palhaço". O problema é que a ascensão dos fascismos é sempre precedida pela impressão de que se trata de um bando de pândegos. É justamente dessa incredulidade que o monstro se vale para fixar suas garras na jugular do cidadão incauto.

Por isso o discurso de Alvim, que em outra conjuntura mereceria o lixo dos fundos da História, é uma peça que deve ser ouvida, transcrita e estudada, como sintoma de um evento maior que precisa ser debatido com urgência e intensidade proporcional à agressão que representa. Toda atenção é pouca.

Creiam: no fundo musical do discurso não são as Bachianas Brasileiras, mas a abertura de Lohengrin, ópera de Richard Wagner.

Um novo 'deus'

É uma cultura muito estranha, que acredita na transcendência tecnológica. Sua fé no humanismo individualista é absoluta. A revolução digital deu as costas ao mundo vivente, criando a alternativa do mundo virtual que é a Rede. Nossos celulares regem nossas vidas 
Richard Powers, Prêmio Pulitzer

O pobre espera a sua vez no governo Bolsonaro

O governo Bolsonaro se preocupa com os mais pobres? Tem políticas públicas para diminuir a miséria? Pensa em medidas para reduzir a desigualdade social?

Passado um ano de gestão, a única certeza é que, até agora, o Palácio do Planalto não contou o que quer e pretende fazer. O combate à pobreza é uma incógnita na Esplanada.

O presidente Jair Bolsonaro gastou, nos seus primeiros 12 meses, tempo com bobagens ideológicas nas redes sociais e vocabulário para atacar adversários e jornalistas.

A economia, de fato, deu passos (ainda que curtos) de retomada. No entanto, pouco se sabe qual a estratégia para aqueles que mais precisam de dinheiro e comida na mesa.

Bolsonaro não quer vincular seu governo de direita aos programas sociais da era petista, de esquerda, mas ele não apresenta alternativas. Como mostrou a Folha recentemente, os projetos estão empacados.

Contribuem para essa explícita falta de rumo as divergências entre as alas política e econômica do governo.

O Bolsa Família, principal bandeira social dos períodos de Lula e Dilma, é o maior exemplo. O programa de renda atinge sobretudo Norte e Nordeste, regiões em que Bolsonaro não esbanja popularidade.

O Planalto teve que se virar nos 30 para pagar a 13ª parcela prometida em campanha eleitoral. Tirou recursos das aposentadorias e pensões para tapar o buraco e evitar que as pessoas mais necessitadas ficassem sem o dinheiro no fim do ano.

Ao mesmo tempo, tenta arrancar do papel o que diz ser a reformulação do Bolsa Família. E aí surge outro problema. Uma ideia seria focar em aumento para os brasileiros em situação de extrema pobreza, que representam dois terços dos 13 milhões de famílias que hoje são atendidas.

Apoiado pelo núcleo político, o novo programa pode custar mais R$ 16 bilhões aos cofres públicos. A equipe econômica, sob a batuta do ministro Paulo Guedes, resiste ao plano.

Não está claro quando (e se) o governo vai anunciar as mudanças. E o pobre continua esperando a sua vez.

O silêncio que nos cura

Neurocientistas, estudiosos dos mecanismos cerebrais, estão descobrindo a dimensão terapêutica do silêncio. Dizem que, em contraposição ao ruído, o silêncio está se revelando um antídoto fundamental de prevenção, por exemplo, em distúrbios mentais como a depressão ou na doença de Alzheimer. E no bem-estar geral do organismo, a começar com um sono melhor e mais profundo.

E esses mesmos especialistas na dinâmica do cérebro e da memória alertam, por sua vez, para a falta de espaços de silêncio em nossa civilização do ruído, à qual se acrescentou o estrondo das redes sociais. O silêncio hoje se esconde, envergonhado, nos nichos dos que estão descobrindo suas vantagens para o corpo e para a alma.

Se a busca do silêncio foi um dia objetivo dos mosteiros, onde, aliás, os monges que tinham escolhido o silêncio viviam até 20 anos mais do que as pessoas comuns, hoje começa a ser uma busca das pessoas mais aprisionadas pelo ruído físico ou mental.


Se um dia o silêncio foi um luxo de poetas e místicos, hoje sua prática está se disseminando e é recomendada pelos médicos, na forma de meditação, exercícios de ioga ou fuga do barulho das grandes cidades para buscar, na nostalgia da cidadezinha perdida da infância, o silêncio da natureza.

E as crianças descobrem nesses oásis de paz, cada vez mais escassos, o silêncio do balido das ovelhas, o canto solene do galo ou o zumbido das abelhas criando mel, como algo inusitado para eles. Esses silêncios da natureza costumam ser uma descoberta agradável para os pequenos, filhos do ruído dos motores da cidade.

Existem os silêncios da leitura e o barulho da ignorância. Grita-se para ocultar as razões que nos faltam. O silêncio é indecifrável, mas impõe respeito. Em toda a literatura o silêncio é tratado com distinção. O místico espanhol Juan de la Cruz fala da "música calada e a solidão sonora". Hoje até a música se tornou ruído e solidão infunde medo.

Precisamos descobrir o silêncio das plantas à medida que crescem. Fazem isso em um silêncio cósmico. Brotam, crescem e se revelam sempre em silêncio. Conseguir escutar a voz de uma flor que vai abrindo suas pétalas à luz é esforço em vão. Florescem em silêncio absoluto. Goethe, o grande poeta e cientista alemão, admirava, em êxtase, no peitoril de sua janela, “o lento despertar da vida em silêncio”.

O místico islâmico sufista Rumi escreveu que o silêncio é "a linguagem do divino". E no livro de Jó se lê: "Guarda silêncio e te ensinarei a sabedoria". O silêncio é o coração do fogo de onde nascem as palavras mais prenhes de vida. O ruído é uma sacola de nozes vazias.

As palavras, algo que os poetas conhecem muito bem, são engendradas mais em silêncio que no barulho. Ainda escrito no ruído de nossa civilização, o silêncio precede a poesia e a fecunda. Algo como o silêncio imperceptível das mãos do torneiro moldando a lama para transformá-la em uma bela escultura.

Muitos dos males da mente são causados ​​por excesso de ruído. Há barulhos que descompõem a mente e a arrastam para a depressão, e silêncios que nos recompõem e nos harmonizam. As inimizades são ruído. Os abraços são silêncio.

O silêncio é o poema escrito na tela do infinito. A amizade e o perdão são um silêncio sonoro. O ódio é o ruído da larva que cresce dentro de nós.

Há ruídos que são silêncios profundos, como o do vento batendo no rosto em meio às dunas do deserto, ou o das pedras arrastadas pela água limpa de um arroio da montanha. Ele é criado no silêncio da vida que germina e destruído no estrondo das guerras.

O ruído nos leva a esquecer quem somos, e o silêncio nos revela. Tentamos mudar o mundo com ruídos e convulsões, mas só o salvaremos com a silenciosa entrega à vida.

Para concluir este artigo fui buscar um poema clássico sobre o silêncio. Escolhi um da coleção do grande escritor e poeta uruguaio Mario Benedetti. São apenas quatro versos e resumem a infinita literatura sobre o silêncio e suas belezas. Intitulado O Silêncio, sem adjetivos. Escreve Benedetti:

"Que esplêndida lagoa é o silêncio
Ali na margem um sino espera
Mas ninguém ousa afundar o remo
No espelho das águas quietas" (em tradução livre)

O silêncio está sempre grávido de palavras sem pronunciar. Aqui, neste sucinto poema, Benedetti propõe a bela metáfora dos sinos e do remo do barco que não se atrevem a interromper o silêncio sagrado do lago.

Felizes silêncios criativos de paz e diálogo para meus leitores neste 2020, que já começou a correr ruidoso com o temor da explosão de novos conflitos mundiais. Se Moisés foi capaz um dia de parar o sol, como conta a lenda bíblica, que nós sejamos capazes também de deter as mãos suicidas daqueles que ainda continuam amando mais o estrondo da guerra do que o silêncio da paz.

Bolsonaro sonha com volta da mordaça à imprensa

Não é só a lembrança do DOI-Codi que faz Jair Bolsonaro sentir saudades da ditadura. O presidente sonha com a volta do tempo em que o governo podia amordaçar a imprensa. Na impossibilidade de mandar censores às redações, ele ataca jornalistas que, por dever de ofício, são obrigados a ouvir suas grosserias diárias.

Ontem o capitão esbravejou em três turnos. De manhã, na porta do Alvorada, mandou uma repórter “calar a boca”. À tarde, no Planalto, afirmou aos gritos que os jornalistas não têm “vergonha na cara”. À noite, no Facebook, disse que a imprensa “estraga o país”.

A razão da ira foi a notícia de que o chefe da Secretaria de Comunicação mantém negócios com empresas que recebem verbas do governo. Fábio Wajngarten se formou em direito, mas incorreu num caso clássico de conflito de interesses. Ele aprova repasses de dinheiro público para emissoras que contratam sua firma particular.

A notícia não saiu nos blogs bolsonaristas. Foi revelada pela “Folha de S.Paulo”, que o presidente já chamou de “panfleto ordinário” e usina de “fake news”.

De acordo com levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, Bolsonaro atacou a imprensa 121 vezes no primeiro ano de governo. Isso equivale, em média, a uma afronta a cada três dias.

Além de ofender jornalistas, ele usa o cargo para tentar sufocar empresas de comunicação que o criticam. Em agosto, editou uma medida provisória com o objetivo declarado de reduzir receitas do “Valor Econômico”. Em novembro, excluiu a “Folha” de uma licitação.

Na semana passada, o presidente disse que os jornalistas são uma “espécie em extinção”. Todo político autoritário deseja viver num mundo chapa-branca, sem perguntas incômodas e sem manchetes críticas ao poder. Na democracia, este sonho é irrealizável.

***

O secretário da Cultura, Roberto Alvim, disse ontem que pretende usar dinheiro público para financiar filmes históricos de viés conservador. “Estamos tentando criar um cinema sadio, ligado aos nossos valores”, afirmou. Falta achar a Leni Riefenstahl da “nova era”.

Brasil milico


No país da pós-verdade

Historiadores relatam que, em busca das riquezas fabulosas do Eldorado, conquistadores europeus interrogavam insistentemente os nativos, até que recebessem — ou julgassem receber — a resposta que desejavam. Pero Vaz de Caminha escreve em sua famosa carta que, convidados a subir a bordo de uma caravela, alguns nativos examinaram atentamente um par de objetos e, em seguida, voltaram seu olhar para a terra. Os navegantes portugueses concluíram daí que eles estavam propondo trocar aqueles objetos por ouro e outras riquezas — interpretação que, evidentemente, mais se devia ao desejo que à realidade. “Isso tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos”, escreve Caminha.

Talvez tenhamos herdado do colonizador português nossa vocação para acreditar naquilo que queremos, mais do que naquilo que enxergamos. Não surpreende, portanto, que o recente fenômeno da pós-verdade tenha encontrado no Brasil terreno mais do que fértil: a pós-verdade conferiu, por assim dizer, legitimidade intelectual à persistente atitude do brasileiro de ignorar fatos e números que contrariem suas convicções. Sempre aplicamos à realidade o filtro do nosso desejo: se a realidade não corresponde ao que quero, pior para a realidade.


Outro traço distintivo do caráter nacional no século 21 é a obstinada recusa em reconhecer um erro. Parece que Mark Twain estava pensando nos brasileiros do futuro quando afirmou que é mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que elas foram enganadas. Assim somos: preferimos nos agarrar a um engano até o túmulo a admitir que fomos feitos de bobos. Por fim, um terceiro traço que nos caracteriza, complementar aos outros dois, é a tendência a confundir fatos e opiniões, vontades e direitos, o que geralmente conduz à vitimização: quando desejos se transformam em direitos, se eu não tenho algo que quero será sempre por culpa do outro, não por incompetência minha.

Somados, esses três traços impedem qualquer conciliação entre os campos em disputa na sociedade fraturada em que vivemos hoje. Como esses campos parecem viver em realidades incompatíveis, sem qualquer interseção que permita um esboço de consenso, é inútil apelar à razão. No país das verdades alternativas, cada um escolhe a narrativa que mais lhe apetece, sem qualquer cerimônia. Todos têm razão e ninguém admite ser contrariado.

Como chegamos a esse ponto? Educação. Antigamente se aprendia desde criança que a gente não pode ter tudo que quer. Mesmo aqueles que não aprendiam isso em casa acabavam entendendo, porque a vida ensinava, e a realidade se impunha. A vida ensinava também que as pessoas são diferentes, têm graus variáveis de beleza e inteligência, talentos, aptidões e características individuais, mas isso não era motivo para inveja nem ressentimento. A beleza alheia não ofendia, a inteligência alheia não oprimia, os talentos alheios eram objeto de admiração, não de ódio — porque se aprendia também que o esforço, o sacrifício e a perseverança podiam levar qualquer pessoa à realização e à felicidade.

Hoje não é mais assim: em vez de entender que não podem ter tudo que querem, gerações de brasileiros estão sendo levadas a acreditar que a todo desejo equivale um direito — e nenhum dever. Uma pessoa desprovida de beleza tem o direito de ser top model; uma pessoa desprovida de inteligência ou disposição para estudar tem o direito de tirar nota 10 nas provas; uma pessoa desprovida de dinheiro tem o direito de ter um iPhone 11; uma pessoa que nasceu homem tem o direito de participar nas equipes femininas em competições esportivas — tudo “por assim o desejarmos”, como escreveu Caminha. É difícil acreditar que isso possa dar certo: pode existir pós-verdade, mas ainda não inventaram a pós-realidade. Indiferente ao que desejamos e ao sentido que damos às coisas, a realidade sempre se impõe, nem sempre de forma agradável.
Luciano Trigo

Em nome da corrupção

O primeiro movimento é simples: trata-se de aprovar no Congresso legislação que determine a prisão após sentença em segunda instância. O objetivo é claro: trata-se de responder à decisão do STF que, por 6 votos a 5, determinou que o condenado só pode ser preso após julgados todos os recursos, em todas as instâncias. Na teoria, seria a prisão em quarta instância.

Os garantistas, dizendo-se defensores do sagrado direito humano de defesa, dizem que a norma civilizada determina que ninguém pode ser preso antes do julgamento do último recurso. Se isso for verdade, eis aqui uma relação de países bárbaros: Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França, França e Espanha. Lá, condenados vão em cana em primeira instância.

Na verdade, tirante o democrático e civilizado Brasil, os demais países da ONU também caem na barbárie, pois adotam a regra de prisão em primeira ou segunda instância, como tem observado com notável clareza, e insistência, o jurista e escritor José Paulo Cavalcanti Filho.


Ficamos assim, portanto: só o Brasil das quatro instâncias respeita o direito universal de defesa. Na prática, porém, é um tanto diferente: criminosos ricos, de colarinho branco ou bem colocados nas instituições, capazes de contratar advogados habilidosos o suficiente para manipular a infinidade de recursos e recursos de recursos dos processos brasileiros, além de contar com, digamos, a simpatia de muitos juízes, nunca vão em cana. Os outros, ora, quem se importa?

Mas o pessoal que pretende melar o combate à corrupção quer mais. Saíram recentemente com duas espertezas – quer dizer, espertezas, não, pois o sujeito pode ser esperto para o bem. No caso, são duas safadezas.

A primeira foi a introdução do juiz das garantias. Há uma interessante discussão jurídica sobre o sistema, cujo objetivo seria dar mais segurança ao julgamento. Resumindo: o juiz das garantias prepara o processo – determina busca e apreensão, manda produzir as provas, etc.. Estando tudo pronto, o processo passa para o juiz de instrução e julgamento.

Parece bom, mas não para o Brasil do momento. Nem a intenção foi aperfeiçoar o sistema: foi simplesmente criar uma quinta instância, como notaram Cavalcanti Filho e Modesto Carvalhosa.

Basta que o juiz de julgamento peça novas provas e novas medidas cautelares. Quer dizer, a primeira instância se transformará em duas e, lógico, vai demorar ainda mais.

Além disso, como foi uma sacada de última hora, não ficou nada claro como o sistema seria introduzido e para quais instâncias valeria. Tanto foi assim que o presidente do STF, Dias Toffolli, que havia apoiado a medida , adiou sua aplicação por seis meses. Estava na cara que não havia a menor condição da entrada em vigor em 23 de janeiro próximo. O objetivo só podia ser um: criar confusão, paralisar os processos logo na dupla primeira instância.

Moro havia pedido o veto a esse dispositivo. O presidente Bolsonaro não vetou. O processo de Flavio Bolsonaro está na primeira instância. Bom, ficou para daqui a seis meses, mas o caso continua aí,

A segunda safadeza foi descrita na coluna de Merval Pereira na edição de ontem. Resumindo: com o fim do foro privilegiado, todos os processos envolvendo deputados e senadores vão para a primeira instância. Mas os parlamentares estão articulando uma ressalva para determinar que o juiz de primeira instância não poderá decretar medidas cautelares contra deputados e senadores. Não poderão, por exemplo, determinar quebras de sigilo ou prisão preventiva. Direto ao ponto, não se poderá produzir provas.

Agora, acrescente aí o juiz das garantias. Se este não poderá determinar as medidas cautelares, como o juiz de julgamento julgará? Absolvição certa – e aí já vai bem para as instâncias infinitas.

Tudo considerado: o combate à corrupção será mantido se o Congresso aprovar a prisão em segunda instância e derrubar todo o resto, juiz de garantias e a garantia extra a deputados e senadores.

Bolsonaro e a arte de ignorar denúncias de corrupção contra seu governo

Jair Bolsonaro inaugura no Planalto a arte de ignorar solenemente investigações ou denúncias de má conduta contra seus assessores. Pouco importa o que a imprensa, tida como inimiga de antemão, publica ou mesmo o que as autoridades apontam. Não era assim nas gestões anteriores, quando havia diferentes graus de constrangimento, pressão da base, preocupação “com a opinião pública”. Sob Bolsonaro, que fez campanha tendo como bandeiras a ética e o combate à corrupção, só perde a função quem não tiver mais a confiança do presidente ou a de seus três filhos que estão na política. Essa é a única regra que vale, como mostram a saída de Gustavo Bebbianno e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz (sem falar do descarte de Joice Hasselmann da liderança do Governo na Câmara).

É seguindo a toada que Bolsonaro decidiu manter na ativa, ao menos por ora, mais um de seus assessores contra quem pesa dúvidas: o secretário de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten. Nesta semana, o jornal Folha de S. Paulo revelou que a empresa da qual Wajngarten detém 95% das ações, a FW Comunicação, recebe dinheiro de pelo menos duas emissoras de TV (Record e Band) e de três agências de publicidade contratadas pela Secretaria de Comunicação, por ministérios e por estatais federais. Cabe à Secom distribuir a verba de propaganda da Presidências e criar as normas para as contas dos demais órgãos da União. Além disso, o secretário nomeou como seu número dois na secretaria o irmão do profissional que o substituiu na administração da FW assim que assumiu o cargo público.


Em sua defesa, Wajngarten diz que não há conflito de interesses porque os contratos eram anteriores ao cargo que ocupa. O secretário recorreu à fórmula tão usada por seu chefe Bolsonaro: quando emparedado, atacar a imprensa e tentar desacreditá-la. Nesta semana, o presidente mandou até uma repórter calar a boca, numa escalada de virulência sem precedentes. Um levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) mostra que 2019 registrou 208 ataques a veículos de comunicação, sendo que 58% deles, ou 121, foram feitos pelo presidente. Em 114 dessas ocasiões Bolsonaro tentou desacreditar o trabalho dos jornais e dos jornalistas.

Um dos motivos da desenvoltura é o que discurso contra a imprensa reverbera entre seus apoiadores, uma base longe de ser a maioria, mas bastante inflamada, constantemente estimulada e coesa. Uma amostra são os que aplaudem qualquer grosseria que sai da boca presidencial na frente do Palácio da Alvorada quase diariamente.

No plano político, também há explicações para esse novo modus operandi. Antes, na hora de compor seu gabinete, qualquer ocupante da cadeira presidencial levava em conta a coalizão que lhe dava suporte. Se um ministro de um partido X ou Y era investigado ou denunciado por determinado delito, começava seu processo de fritura e algum tempo depois, ele caía. Agora, numa gestão sem base congressual, sem partidos políticos para agradar, o presidente se vê livre para fazer o que bem entender com quem lhe serve. Ainda que para isso se baseie em teorias conspiratórias e ignore fatos claros, documentados.

Antes de Fábio Wajngarten, o presidente já havia garantido no ministério Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), denunciado pelo Ministério Público por um esquema de candidaturas laranjas do PSL em Minas Gerais. Há um reconhecimento quanto à lealdade de Marcelo. Quando foi esfaqueado, em Juiz de Fora, o ministro estava ao seu lado e ajudou a socorrê-lo.

O caso de Sergio Moro (Justiça), cuja atuação na Lava Jato foi questionada após vazamentos publicados pelo site The Intercept mostrarem uma incomum proximidade com procuradores, é diferente. O presidente o manteve por perto porque sabe que boa parte do apoio que possui depende do ex-juiz, um dos políticos mais populares do país atualmente. Mais do que isso, Moro é um dos ativos que Bolsonaro ainda tem para se apresentar como um paladino anticorrupção —um equilíbrio que só durará, claro, enquanto o ex-juiz estiver disposto a dar demonstrações públicas de lealdade quase cega.

Wajngarten parece possuir essas credenciais. Apoiador da campanha presidencial em 2018, o secretário chegou ao cargo sustentado pelo vereador Carlos Bolsonaro, que queria destituir da função Floriano Amorim, um antigo assessor de seu irmão, o deputado Eduardo Bolsonaro. Carlos é o ideólogo do presidente nas redes sociais e sempre teve influência sobre o pai. Nos últimos meses, contudo, Wajngarten perdeu apoio de Carlos porque se aproximou do advogado Frederick Wassef, defensor do senador Flávio Bolsonaro no caso das “rachadinhas” na Assembleia do Rio de Janeiro. Carlos e Flávio não se dão bem. Consecutivamente, o secretário se aproximou de Flávio e ouviu as seguintes palavras do presidente: “O que eu vi até agora, está tudo legal com o Fábio. Vai continuar. É um excelente profissional. Se fosse um porcaria igual alguns que tem por aí, ninguém estaria criticando ele”. No bolsonarismo pode se considerar quase uma comenda.