Em 48 anos de jornalismo, nunca pensei que tivesse que comentar sobre Joseph Goebbels. Havia a certeza na minha geração, nascida na década seguinte à 2º Guerra Mundial, que o pesadelo nazista estivesse superado. Uma arma poderosa no controle da nação alemã foi justamente a propaganda de Goebbels, que levou o povo àquele momento absolutamente triste da História. O que houve ali é analisado com frequência para ser repudiado.
É inaceitável ouvir as palavras de um monstro como Goebbels na boca de uma autoridade brasileira.
Várias palavras se repetem em ordem diferente, mas no mesmo sentido. O que disse Goebbels: “a arte alemã da próxima década será heroica”. O que disse Alvim: “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional”. Goebbels: “será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismos.” Agora, Alvim: “será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa.” Esses são alguns exemplos. Há outros. Goebbels: “será nacional com grande pathos e igualmente imperativa e vinculante ou não será nada.” Alvim: “posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada.”
A postura, a música ao fundo e o discurso do execrável ministro nazista. Alvim subiu na hierarquia bolsonarista atacando a inatacável Fernanda Montenegro. Atacou um símbolo. Faz parte da estratégia. Fernanda dedicou uma vida à cultura.
A postura, a música ao fundo e o discurso do execrável ministro nazista. Alvim subiu na hierarquia bolsonarista atacando a inatacável Fernanda Montenegro. Atacou um símbolo. Faz parte da estratégia. Fernanda dedicou uma vida à cultura.
O governo coleciona erros e grosserias. Bolsonaro foi responsável por mais da metade dos ataques a jornalistas em 2019, por exemplo. Na transmissão de ontem pela internet, o presidente falou em revisar livros didáticos. Todo o autoritarismo usa a ideia de reescrever livros históricos.
A intenção é rever as críticas à ditadura. Bate num pilar desse momento da História que começa após a ditadura. A democracia foi um pacto nacional, não se pode reescrever o que foi a ditadura. Aquele período tem que ser entendido como foi: um momento infeliz da nossa História. Ulysses Guimarães disse em discurso que “conhecemos o caminho maldito”. Elogiar e repetir a ditadura é isso, um caminho maldito.
Outro elemento do nazismo é a xenofobia. A jornalista Thais Oyama fez um livro sobre 2019 e foi atacada pelo presidente. Bolsonaro se referiu a ela como “essa japonesa” que “não sei o que está fazendo aqui”. O Brasil tem orgulho de contar com os descendentes de japoneses. O presidente Bolsonaro é descendente de italianos e todos o consideramos brasileiro. Somos todos assim. Temos raízes nos povos de vários países do mundo. Não se pode ter xenofobia.
Alvim usou no seu discurso, o presidente e outras autoridades também. Deus não é propriedade de um grupo político, pátria tampouco e família todos têm. Não é exclusividade de um grupo político. Eles têm manipulado usando Deus, pátria e família. Isso sempre foi feito, inclusive pelo nazismo. Não se cita um nazista.
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