A ideia, ventilada por ele, de que o povo precisa ser salvo de uma "cultura doente" (primeiro sintoma, ele diz, de uma doença social) ecoa claramente a noção nazista da "arte degenerada", a ser expurgada. Parecido com o afã purificador que, em Berlim, incluiu até uma exposição de pinturas de grandes mestres modernos destinada a fomentar, no grande público, o horror a tudo que respirasse liberdade, crítica, transgressão, pluralidade.
A noção dos "mitos fundantes" nacionais, mencionados por Alvim (como se não tivessem sido jamais visitados por nossas artes, no país de Oswald, de Mário e da Tropicália), em muito lembra os ideais evocados pelo Führer, de uma Alemanha calcada em raízes pátrias profundas, carreadas por uma linhagem que remontaria à Antiguidade Clássica.
Na versão brasileira, contudo, Alvim acrescenta ingredientes do teofascismo, tendência política emergente tanto no fundamentalismo islâmico quanto na onda neopentecostal. Ele o faz ao vincular seu projeto de "arte da nova década" não só à família, mas à fé cristã da imensa maioria do povo brasileiro: Alvim crê numa pretensa revolução dos já proverbiais homens de bem contra o mal, esse alvo móvel representado por tudo o que foge à bitola equestre dos luminares das trevas que conduzem o Brasil à Nova Idade Média.
Um escritor, nas redes, ao referir-se ao secretário, comenta que a cultura brasileira jamais será a preconizada por "este palhaço". O problema é que a ascensão dos fascismos é sempre precedida pela impressão de que se trata de um bando de pândegos. É justamente dessa incredulidade que o monstro se vale para fixar suas garras na jugular do cidadão incauto.
Um escritor, nas redes, ao referir-se ao secretário, comenta que a cultura brasileira jamais será a preconizada por "este palhaço". O problema é que a ascensão dos fascismos é sempre precedida pela impressão de que se trata de um bando de pândegos. É justamente dessa incredulidade que o monstro se vale para fixar suas garras na jugular do cidadão incauto.
Por isso o discurso de Alvim, que em outra conjuntura mereceria o lixo dos fundos da História, é uma peça que deve ser ouvida, transcrita e estudada, como sintoma de um evento maior que precisa ser debatido com urgência e intensidade proporcional à agressão que representa. Toda atenção é pouca.
Creiam: no fundo musical do discurso não são as Bachianas Brasileiras, mas a abertura de Lohengrin, ópera de Richard Wagner.
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