sábado, 27 de julho de 2024
Anatomia da vertigem política
Em 1835, Alexis de Tocqueville, um aristocrata e grande escritor francês, teve uma ideia deveras inovadora. Tornou-se, como direi, o primeiro cientista político moderno, observando de perto os fatos que o intrigavam, colhendo informações e fazendo entrevistas, com o objetivo de responder a uma indagação que até hoje nos atormenta. Queria entender por que o sistema político dos Estados Unidos evoluía firmemente no sentido de uma democracia pacífica, progressista e competitiva, enquanto na Europa, excetuada a Inglaterra, nem os países mais importantes pareciam capazes de se livrar de suas tradições dinásticas e autoritárias. Mesmo sua França natal, que fez a maior revolução dos tempos modernos, quase sucumbiu a um regime de terror, o que só não aconteceu graças à ação militar de Napoleão Bonaparte, que preservou muitos ganhos do processo revolucionário, mas implantou um sistema de governo que só após a 2.ª Guerra Mundial se firmou como uma democracia de alto desempenho.
A chave da interpretação proposta por Tocqueville no clássico A Democracia na América foi o que ele denominou “arte da associação”. Não custa acrescentar que Tocqueville lá esteve durante o período conhecido como “democracia jacksoniana”, assim designada pelo importante impulso democratizante que lhe deu o presidente Andrew Jackson, eleito em 1828. A arte de confiar nos outros e com eles colaborar já começara a se delinear havia mais de um século, quando as 13 colônias, que ainda eram propriedade da Inglaterra, mostravam-se ciosas de sua autonomia e insistiam em organizar como lhes aprouvesse os negócios que somente a elas diziam respeito.
Ora, se a “arte da associação” foi um fator tão importante, vem-me à mente uma ideia que o leitor talvez considere estapafúrdia: a importância da neve. Numa região ou país cujo inverno se caracteriza por nevascas terríveis, vizinhos que ontem se detestavam, na manhã de amanhã, estarão se ajudando mutuamente na remoção daquele enorme entulho que logo se transformará em gelo, pois do contrário não conseguirão tirar da garagem o carro (ou seu equivalente naqueles tempos distantes). No fundo da alma, poderão detestar o quanto quiserem, mas a neve era um fato que os obrigava a “dar um tempo”. Algo semelhante se passou no Brasil semanas atrás, por ocasião da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. De repente começamos a ver pela televisão comoventes cenas de cooperação, fato que nós, brasileiros, nunca tínhamos visto.
Contudo, o paralelo com os Estados Unidos precisa ser tomado com cautela. Não é que desconheçamos por completo a arte da associação. O problema são os usos que dela fazemos. O que nos reúne é muito mais o desejo de tomar uma cerveja e comentar os resultados do futebol. Mais que isso: às vezes grupos se organizam, arrendam quatro ou cinco ônibus e lá vão, batucando e cantarolando, assistir a um jogo noutro Estado, ou para assistir ao Rock in Rio. Ou seja, nossos episódios associativos carecem totalmente de referências à vida pública, ou àquilo que Aristóteles denominou bem comum. Xingar os Três Poderes sediados em Brasília todos nós adoramos, mas falta-nos paciência para calcular na ponta do lápis quanto pagamos em impostos, quanto falta para a arrecadação empatar com a despesa, ou quanto e como o governo gasta em educação, saúde e saneamento.
Fato é que, embora não tenhamos neve e enchentes devastadoras sejam raras, a comparação com a América do Norte requer cautela centenas de vezes maior. Muitos tormentos provêm da natureza, mas os piores são provavelmente os que nós mesmos engendramos, mercê de nosso desleixo, de nossa preguiça e de nossa estupidez. Como todos se lembram, Jano, o deus romano do tempo, dos primórdios e das transições, tinha duas faces, o que lhe permitia enxergar o passado e o futuro ao mesmo tempo. O olhar retrospectivo indicavalhe a prudência, ou seja, o que fizemos de certo ou errado, e o que precisamos fazer melhor da próxima vez. Aqui já temos matéria para nos associarmos assiduamente. O olhar prospectivo dava-lhe coragem e determinação, mas alertava-o contra as pedras que encontraria pelo caminho, alertando-lhe para a necessidade do tirocínio, da coragem e da determinação.
Ora, se a “arte da associação” foi um fator tão importante, vem-me à mente uma ideia que o leitor talvez considere estapafúrdia: a importância da neve. Numa região ou país cujo inverno se caracteriza por nevascas terríveis, vizinhos que ontem se detestavam, na manhã de amanhã, estarão se ajudando mutuamente na remoção daquele enorme entulho que logo se transformará em gelo, pois do contrário não conseguirão tirar da garagem o carro (ou seu equivalente naqueles tempos distantes). No fundo da alma, poderão detestar o quanto quiserem, mas a neve era um fato que os obrigava a “dar um tempo”. Algo semelhante se passou no Brasil semanas atrás, por ocasião da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. De repente começamos a ver pela televisão comoventes cenas de cooperação, fato que nós, brasileiros, nunca tínhamos visto.
Contudo, o paralelo com os Estados Unidos precisa ser tomado com cautela. Não é que desconheçamos por completo a arte da associação. O problema são os usos que dela fazemos. O que nos reúne é muito mais o desejo de tomar uma cerveja e comentar os resultados do futebol. Mais que isso: às vezes grupos se organizam, arrendam quatro ou cinco ônibus e lá vão, batucando e cantarolando, assistir a um jogo noutro Estado, ou para assistir ao Rock in Rio. Ou seja, nossos episódios associativos carecem totalmente de referências à vida pública, ou àquilo que Aristóteles denominou bem comum. Xingar os Três Poderes sediados em Brasília todos nós adoramos, mas falta-nos paciência para calcular na ponta do lápis quanto pagamos em impostos, quanto falta para a arrecadação empatar com a despesa, ou quanto e como o governo gasta em educação, saúde e saneamento.
Fato é que, embora não tenhamos neve e enchentes devastadoras sejam raras, a comparação com a América do Norte requer cautela centenas de vezes maior. Muitos tormentos provêm da natureza, mas os piores são provavelmente os que nós mesmos engendramos, mercê de nosso desleixo, de nossa preguiça e de nossa estupidez. Como todos se lembram, Jano, o deus romano do tempo, dos primórdios e das transições, tinha duas faces, o que lhe permitia enxergar o passado e o futuro ao mesmo tempo. O olhar retrospectivo indicavalhe a prudência, ou seja, o que fizemos de certo ou errado, e o que precisamos fazer melhor da próxima vez. Aqui já temos matéria para nos associarmos assiduamente. O olhar prospectivo dava-lhe coragem e determinação, mas alertava-o contra as pedras que encontraria pelo caminho, alertando-lhe para a necessidade do tirocínio, da coragem e da determinação.
No Brasil, só os muito obtusos ignoram que uma séria crise provavelmente nos atingirá dentro de duas ou três décadas, graças à chamada “armadilha do baixo crescimento”. Com a classe política e os partidos políticos que hoje possuímos, e a possível reeleição de Lula da Silva, é fácil inferir que tal crise poderá ser pior que o necessário. Somos, como é sabido, abundantes em tudo, inclusive em arrogância. A perspectiva acima alinhada significa que insistiremos na pretensão econômica que nós acompanhamos desde a Revolução de 1930: a de querer crescer somente com recursos públicos e com uma economia fechada, abominando o mercado e nos lixando para a indispensável criação de um ambiente sadio para os negócios.
Conciliações no STF fragilizam luta por justiça climática
A Justiça Federal do Amazonas proferiu na última semana duas importantes decisões no contexto de emergência climática em que estamos vivendo. Na primeira delas, um fazendeiro foi condenado pela derrubada ilegal e queima de mais de 5.600 hectares de floresta amazônica.
No segundo caso, a Justiça Federal suspendeu liminarmente a licença prévia concedida durante o governo Jair Bolsonaro (PL) para asfaltamento da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, por não ter levado em consideração dados técnicos sobre o impacto ambiental da obra sobre um território amazônico da dimensão do estado de São Paulo.
Nesse quadro de litígio climático, também deve se destacar decisão do Tribunal de Justiça de Rondônia, que suspendeu a extinção de 11 Unidades de Conservação, autorizada pela Assembleia Legislativa daquele estado, sob pressão dos latifundiários.
De acordo com o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aquecimento de 1,1°C, induzido por atividades humanas, vem desencadeando transformações dramáticas no clima de todo o planeta. No último domingo, 21 de julho, o planeta viveu o dia mais quente registrado na história, conforme dados do observatório climático europeu Copernicus.
Fenômenos climáticos extremos, como as inundações no Rio Grande do Sul, que deixou centenas de milhares de pessoas desabrigadas, têm se tornado cada vez mais recorrentes, com forte impacto sobre a população, especialmente sobre aquelas que vivem em áreas mais vulneráveis e dispõem de menos recursos para se adaptar aos efeitos do aquecimento global.
Nesse sentido, não estamos vivendo mais um período de mudança, transição ou risco climático, mas de emergência climática. Isso impõe uma profunda mudança de comportamento, tanto do poder público quanto do setor privado, se quisermos evitar ou mitigar mais e maiores desastres.
A responsabilidade pela geração de gases de efeito estufa, que promovem o aquecimento global, recai predominantemente sobre os países do Hemisfério Norte e sobre a China, que empregaram e ainda empregam intensamente combustíveis fósseis na base de seu processo produtivo.
A parte que cabe ao Brasil no agravamento da emergência climática está associada ao desmatamento. A derrubada da floresta não apenas suprime a vegetação que remove carbono da atmosfera, como também promove a emissão bruta de gás carbônico decorrente das queimadas. O desmatamento altera ainda o regime de chuvas e a umidade do ar, com forte impacto sobre a agricultura e a vida nos grandes centros urbanos.
Daí a importância das referidas decisões judiciais, neste momento. Além de punir aqueles que ilegalmente derrubam as florestas, dissuadindo o comportamento predatório, também visam barrar iniciativas públicas que flexibilizam a legislação ambiental, legalizam atividades de desflorestamento ou retiram a proteção de áreas ambientais ou terras indígenas, que constituem os principais mecanismos de preservação das florestas no Brasil.
Na contramão desse movimento por justiça climática, temos testemunhado preocupantes iniciativas no âmbito do STF, ao promover processos de conciliação de conflitos fundiários envolvendo terras indígenas.
Essas iniciativas apontam para o risco de flexibilização de "direitos originários", "inalienáveis", "indisponíveis" e "imprescritíveis" dos povos indígenas sobre suas terras (artigo 231 CF), o que é constitucionalmente inaceitável; estão sendo usadas como pretexto para novas invasões de terras indígenas; e, por fim, ampliam as ameaças ao nosso patrimônio ambiental. Daí porque, em tempos de emergência climática, essas conciliações deveriam ser suspensas.
No segundo caso, a Justiça Federal suspendeu liminarmente a licença prévia concedida durante o governo Jair Bolsonaro (PL) para asfaltamento da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, por não ter levado em consideração dados técnicos sobre o impacto ambiental da obra sobre um território amazônico da dimensão do estado de São Paulo.
Nesse quadro de litígio climático, também deve se destacar decisão do Tribunal de Justiça de Rondônia, que suspendeu a extinção de 11 Unidades de Conservação, autorizada pela Assembleia Legislativa daquele estado, sob pressão dos latifundiários.
De acordo com o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aquecimento de 1,1°C, induzido por atividades humanas, vem desencadeando transformações dramáticas no clima de todo o planeta. No último domingo, 21 de julho, o planeta viveu o dia mais quente registrado na história, conforme dados do observatório climático europeu Copernicus.
Fenômenos climáticos extremos, como as inundações no Rio Grande do Sul, que deixou centenas de milhares de pessoas desabrigadas, têm se tornado cada vez mais recorrentes, com forte impacto sobre a população, especialmente sobre aquelas que vivem em áreas mais vulneráveis e dispõem de menos recursos para se adaptar aos efeitos do aquecimento global.
Nesse sentido, não estamos vivendo mais um período de mudança, transição ou risco climático, mas de emergência climática. Isso impõe uma profunda mudança de comportamento, tanto do poder público quanto do setor privado, se quisermos evitar ou mitigar mais e maiores desastres.
A responsabilidade pela geração de gases de efeito estufa, que promovem o aquecimento global, recai predominantemente sobre os países do Hemisfério Norte e sobre a China, que empregaram e ainda empregam intensamente combustíveis fósseis na base de seu processo produtivo.
A parte que cabe ao Brasil no agravamento da emergência climática está associada ao desmatamento. A derrubada da floresta não apenas suprime a vegetação que remove carbono da atmosfera, como também promove a emissão bruta de gás carbônico decorrente das queimadas. O desmatamento altera ainda o regime de chuvas e a umidade do ar, com forte impacto sobre a agricultura e a vida nos grandes centros urbanos.
Daí a importância das referidas decisões judiciais, neste momento. Além de punir aqueles que ilegalmente derrubam as florestas, dissuadindo o comportamento predatório, também visam barrar iniciativas públicas que flexibilizam a legislação ambiental, legalizam atividades de desflorestamento ou retiram a proteção de áreas ambientais ou terras indígenas, que constituem os principais mecanismos de preservação das florestas no Brasil.
Na contramão desse movimento por justiça climática, temos testemunhado preocupantes iniciativas no âmbito do STF, ao promover processos de conciliação de conflitos fundiários envolvendo terras indígenas.
Essas iniciativas apontam para o risco de flexibilização de "direitos originários", "inalienáveis", "indisponíveis" e "imprescritíveis" dos povos indígenas sobre suas terras (artigo 231 CF), o que é constitucionalmente inaceitável; estão sendo usadas como pretexto para novas invasões de terras indígenas; e, por fim, ampliam as ameaças ao nosso patrimônio ambiental. Daí porque, em tempos de emergência climática, essas conciliações deveriam ser suspensas.
'Uma morte lenta': a vida de Gaza vivem ao lado de lixo podre e roedores
Asmahan al-Masri e 15 parentes vivem em um acampamento em Khan Younis, a poucos metros de pilhas de lixo
Do outro lado da Faixa de Gaza, em uma paisagem recentemente transformada pela guerra, montanhas de lixo fedorento representam sérios perigos à saúde e ao meio ambiente.
“Nunca vivemos perto de lixo antes”, diz Asmahan al-Masri, uma mulher deslocada, originalmente de Beit Hanoun, no norte, cuja casa agora é um terreno baldio em Khan Younis.
“Eu choro como qualquer outra avó choraria por seus netos estarem doentes e com sarna. Isso é como uma morte lenta. Não há dignidade.”
Em oito meses, estima-se que mais de 330.400 toneladas de resíduos sólidos tenham se acumulado no território palestino, de acordo com a ONU e agências humanitárias que trabalham com saneamento.
Dezesseis membros da família Masri compartilham uma tenda em um acampamento perto da Universidade de al-Aqsa com nuvens de moscas e, às vezes, cobras. Cães vadios podem vagar ameaçadoramente por perto. Todos os moradores reclamam do fedor constante.
“O cheiro é muito perturbador. Eu mantenho a porta da minha barraca aberta para poder respirar um pouco de ar, mas não há ar”, diz Asmahan. “Só o cheiro de lixo.”
O desespero em Gaza está a forçar muitos, como Mohamed, a procurar algo para comer, usar ou vender.
Algumas das mais de um milhão de pessoas que fugiram recentemente da ofensiva militar de Israel na cidade de Rafah, no sul do país, foram forçadas a viver em áreas abertas que já haviam sido transformadas em depósitos temporários de lixo.
“Procuramos em todos os lugares por um lugar adequado, mas somos 18 pessoas com nossos filhos e netos, e não conseguimos encontrar outro lugar onde pudéssemos ficar juntos”, diz Ali Nasser, que recentemente se mudou de sua casa em Rafah para o acampamento da Universidade de Al-Aqsa.
“A viagem até aqui nos custou mais de 1.000 shekels (US$ 268; £ 212) e agora nossas finanças estão destruídas. Não temos empregos, nem renda, e então somos forçados a viver nessa situação terrível. Sofremos de vômitos, diarreia e coceira constante na pele.”
"Não há ar", diz Asmahan, "apenas o cheiro do lixo"
Antes da guerra, anos de bloqueio imposto por Israel e Egito a Gaza, que era governada pelo Hamas, colocaram uma pressão severa em serviços básicos, como o descarte de resíduos.
As rígidas restrições sobre o que poderia entrar no território, segundo Israel, por motivos de segurança, significavam que não havia caminhões de lixo suficientes, faltava equipamento para separar e reciclar o lixo doméstico e para descartá-lo corretamente.
Desde os ataques mortais liderados pelo Hamas em 7 de outubro, o exército israelense bloqueou o acesso à área da fronteira, que é onde os dois principais aterros sanitários de Gaza estão localizados. Um em Juhr al-Dik atendia anteriormente o norte, e outro, em al-Fukhari, atendia as áreas central e sul.
“Estamos vendo uma crise de gestão de resíduos em Gaza, que piorou muito nos últimos meses”, diz Sam Rose, diretor de planejamento da agência da ONU para refugiados palestinos, a Unrwa.
Os moradores de Gaza enfrentam o risco de doenças devido à acumulação de águas residuais perto de abrigos improvisados
Imagens de mídia social compiladas pela BBC Verify mostram que lixões temporários cresceram conforme as pessoas fugiam em ondas para diferentes cidades. A BBC Verify autenticou esses locais na Cidade de Gaza, Khan Younis e Rafah de fevereiro a junho deste ano.
Uma análise de satélite feita pela BBC Verify já havia esclarecido outro aspecto dos problemas de saneamento, mostrando que metade dos locais de tratamento de água e esgoto de Gaza foram danificados ou destruídos desde que Israel iniciou sua ação militar contra o Hamas.
“Você vê enormes poças de lodo cinza-marrom ao redor das quais as pessoas estão vivendo porque não têm escolha, e você vê grandes pilhas de lixo. Ou isso é deixado do lado de fora das casas das pessoas ou, em alguns lugares, as pessoas foram forçadas a se mudar para perto dos aterros temporários que foram instalados”, diz o Sr. Rose.
“As pessoas estão literalmente vivendo no meio do lixo.”
O deslocamento em massa de pessoas sobrecarregou as autoridades locais, muitas vezes lidando com instalações danificadas por causa do bombardeio israelense em andamento. Elas reclamam da falta de pessoal, equipamento e caminhões de lixo, bem como de combustível para operá-los.
No município de Khan Younis, um funcionário, Omar Matar, lamenta as condições terríveis enfrentadas por aqueles que agora vivem perto da Universidade de al-Aqsa.
“Esses despejos aleatórios não atendem aos padrões de saúde e ambientais. Eles não impedem a propagação de odores, insetos e roedores”, ele diz.
“Eles foram criados anteriormente como uma medida de emergência por causa do fechamento do aterro sanitário de Sofa [em al-Fukhari], até que uma solução seja encontrada com instituições internacionais para transportar os resíduos para lá”, explica.
Um porta-voz do órgão militar israelense, Cogat, me disse que estava analisando diversas soluções diferentes para o problema do lixo em Gaza.
O campus da universidade de al-Aqsa, em Gaza, foi transformado em um aterro sanitário temporário em Khan Younis
O Programa de Desenvolvimento da ONU diz que recentemente esteve envolvido na coleta de 47.000 toneladas de lixo do centro e sul de Gaza e que distribuiu 80.000 litros de combustível para o esforço de limpeza. Mas muito mais precisa ser feito.
Agora que as temperaturas do verão estão subindo, há novos alertas de agências de ajuda humanitária sobre os riscos à saúde representados por tanto lixo.
No entanto, o desespero leva muitos moradores de Gaza a correr riscos extras: procurar algo para comer, usar ou vender.
“Nós nos acostumamos com o cheiro. Todos os dias viemos aqui juntos para procurar caixas de papelão e outras coisas que podemos queimar para fazer fogueiras”, diz Mohammed, um dos garotos de um grupo que vasculha um depósito de lixo perto de Deir al-Balah, pois ele está cheio de resíduos de embalagens de ajuda e esforços rudimentares para limpar locais atingidos por ataques aéreos israelenses.
Mazad Abu Mila, um homem deslocado de Beit Lahia, diz que está procurando sucata que possa usar para construir uma fornalha.
“Deixamos todo o nosso dinheiro para trás, nossas lojas, nossos carros, nosso gado, nossas casas. Tudo foi deixado. Esta é a coisa mais perigosa para a nossa saúde. Eu nunca teria ido a um depósito de lixo antes, mas agora, todo mundo está vindo para cá.”
Do outro lado da Faixa de Gaza, em uma paisagem recentemente transformada pela guerra, montanhas de lixo fedorento representam sérios perigos à saúde e ao meio ambiente.
“Nunca vivemos perto de lixo antes”, diz Asmahan al-Masri, uma mulher deslocada, originalmente de Beit Hanoun, no norte, cuja casa agora é um terreno baldio em Khan Younis.
“Eu choro como qualquer outra avó choraria por seus netos estarem doentes e com sarna. Isso é como uma morte lenta. Não há dignidade.”
Em oito meses, estima-se que mais de 330.400 toneladas de resíduos sólidos tenham se acumulado no território palestino, de acordo com a ONU e agências humanitárias que trabalham com saneamento.
Dezesseis membros da família Masri compartilham uma tenda em um acampamento perto da Universidade de al-Aqsa com nuvens de moscas e, às vezes, cobras. Cães vadios podem vagar ameaçadoramente por perto. Todos os moradores reclamam do fedor constante.
“O cheiro é muito perturbador. Eu mantenho a porta da minha barraca aberta para poder respirar um pouco de ar, mas não há ar”, diz Asmahan. “Só o cheiro de lixo.”
O desespero em Gaza está a forçar muitos, como Mohamed, a procurar algo para comer, usar ou vender.
Algumas das mais de um milhão de pessoas que fugiram recentemente da ofensiva militar de Israel na cidade de Rafah, no sul do país, foram forçadas a viver em áreas abertas que já haviam sido transformadas em depósitos temporários de lixo.
“Procuramos em todos os lugares por um lugar adequado, mas somos 18 pessoas com nossos filhos e netos, e não conseguimos encontrar outro lugar onde pudéssemos ficar juntos”, diz Ali Nasser, que recentemente se mudou de sua casa em Rafah para o acampamento da Universidade de Al-Aqsa.
“A viagem até aqui nos custou mais de 1.000 shekels (US$ 268; £ 212) e agora nossas finanças estão destruídas. Não temos empregos, nem renda, e então somos forçados a viver nessa situação terrível. Sofremos de vômitos, diarreia e coceira constante na pele.”
"Não há ar", diz Asmahan, "apenas o cheiro do lixo"
Antes da guerra, anos de bloqueio imposto por Israel e Egito a Gaza, que era governada pelo Hamas, colocaram uma pressão severa em serviços básicos, como o descarte de resíduos.
As rígidas restrições sobre o que poderia entrar no território, segundo Israel, por motivos de segurança, significavam que não havia caminhões de lixo suficientes, faltava equipamento para separar e reciclar o lixo doméstico e para descartá-lo corretamente.
Desde os ataques mortais liderados pelo Hamas em 7 de outubro, o exército israelense bloqueou o acesso à área da fronteira, que é onde os dois principais aterros sanitários de Gaza estão localizados. Um em Juhr al-Dik atendia anteriormente o norte, e outro, em al-Fukhari, atendia as áreas central e sul.
“Estamos vendo uma crise de gestão de resíduos em Gaza, que piorou muito nos últimos meses”, diz Sam Rose, diretor de planejamento da agência da ONU para refugiados palestinos, a Unrwa.
Os moradores de Gaza enfrentam o risco de doenças devido à acumulação de águas residuais perto de abrigos improvisados
Imagens de mídia social compiladas pela BBC Verify mostram que lixões temporários cresceram conforme as pessoas fugiam em ondas para diferentes cidades. A BBC Verify autenticou esses locais na Cidade de Gaza, Khan Younis e Rafah de fevereiro a junho deste ano.
Uma análise de satélite feita pela BBC Verify já havia esclarecido outro aspecto dos problemas de saneamento, mostrando que metade dos locais de tratamento de água e esgoto de Gaza foram danificados ou destruídos desde que Israel iniciou sua ação militar contra o Hamas.
“Você vê enormes poças de lodo cinza-marrom ao redor das quais as pessoas estão vivendo porque não têm escolha, e você vê grandes pilhas de lixo. Ou isso é deixado do lado de fora das casas das pessoas ou, em alguns lugares, as pessoas foram forçadas a se mudar para perto dos aterros temporários que foram instalados”, diz o Sr. Rose.
“As pessoas estão literalmente vivendo no meio do lixo.”
O deslocamento em massa de pessoas sobrecarregou as autoridades locais, muitas vezes lidando com instalações danificadas por causa do bombardeio israelense em andamento. Elas reclamam da falta de pessoal, equipamento e caminhões de lixo, bem como de combustível para operá-los.
No município de Khan Younis, um funcionário, Omar Matar, lamenta as condições terríveis enfrentadas por aqueles que agora vivem perto da Universidade de al-Aqsa.
“Esses despejos aleatórios não atendem aos padrões de saúde e ambientais. Eles não impedem a propagação de odores, insetos e roedores”, ele diz.
“Eles foram criados anteriormente como uma medida de emergência por causa do fechamento do aterro sanitário de Sofa [em al-Fukhari], até que uma solução seja encontrada com instituições internacionais para transportar os resíduos para lá”, explica.
Um porta-voz do órgão militar israelense, Cogat, me disse que estava analisando diversas soluções diferentes para o problema do lixo em Gaza.
O campus da universidade de al-Aqsa, em Gaza, foi transformado em um aterro sanitário temporário em Khan Younis
O Programa de Desenvolvimento da ONU diz que recentemente esteve envolvido na coleta de 47.000 toneladas de lixo do centro e sul de Gaza e que distribuiu 80.000 litros de combustível para o esforço de limpeza. Mas muito mais precisa ser feito.
Agora que as temperaturas do verão estão subindo, há novos alertas de agências de ajuda humanitária sobre os riscos à saúde representados por tanto lixo.
No entanto, o desespero leva muitos moradores de Gaza a correr riscos extras: procurar algo para comer, usar ou vender.
“Nós nos acostumamos com o cheiro. Todos os dias viemos aqui juntos para procurar caixas de papelão e outras coisas que podemos queimar para fazer fogueiras”, diz Mohammed, um dos garotos de um grupo que vasculha um depósito de lixo perto de Deir al-Balah, pois ele está cheio de resíduos de embalagens de ajuda e esforços rudimentares para limpar locais atingidos por ataques aéreos israelenses.
Mazad Abu Mila, um homem deslocado de Beit Lahia, diz que está procurando sucata que possa usar para construir uma fornalha.
“Deixamos todo o nosso dinheiro para trás, nossas lojas, nossos carros, nosso gado, nossas casas. Tudo foi deixado. Esta é a coisa mais perigosa para a nossa saúde. Eu nunca teria ido a um depósito de lixo antes, mas agora, todo mundo está vindo para cá.”
Fugir a fingir
Fugir é cada vez mais difícil mas é cada vez mais necessário.
É bom fingir que se está a fugir, que não se pode ficar em casa nem ir a lugares previsíveis, onde se pode ser apanhado.
Ir ao cinema é sempre uma fuga. É pena não haver escuridão total. Mas há horários em que se consegue estar sozinho a ver um filme.
Há lugares perto de onde vivemos - ou, melhor ainda, longe - aonde nunca fomos. É bom ser-se turista numa terra que ninguém visita.
É bom saber que ninguém nos pode localizar. Localizar está para a liberdade como conservar para as sardinhas.
Os fugitivos são, por definição - e não só nos filmes de Nicholas Ray - felizes. Fugir é bom. As responsabilidades, de que toda a gente está sempre a falar, são más para nós. Nem sequer são boas para os outros.
Fugir sem ter razão para fugir é um acto libertador de cobardia criativa. O medo é, tal como a preguiça e todas as espécies (sem distinção) de egoísmo, uma manifestação da mais elevada inteligência.
"Fica-te", dizem os escravos que absorveram os interesses dos esclavagistas. "Deixa-te ficar; contenta-te com o que tens; enfrenta aquilo que tens para enfrentar", aconselham os carrascos já derrotados da liberdade.
Os escravos verdadeiros fugiam mesmo quando corriam o risco de morrer. Que se há-de dizer dos escravos figurativos de hoje em dia que, quando fogem, só correm o risco de viver?
Desliguem-se os telemóveis. Mudem-se as coordenadas. Confundam-se as tentativas de contacto. Fugir é cada vez mais difícil mas é cada vez mais necessário.
Fujamos já!
Miguel Esteves Cardoso
É bom fingir que se está a fugir, que não se pode ficar em casa nem ir a lugares previsíveis, onde se pode ser apanhado.
Ir ao cinema é sempre uma fuga. É pena não haver escuridão total. Mas há horários em que se consegue estar sozinho a ver um filme.
Há lugares perto de onde vivemos - ou, melhor ainda, longe - aonde nunca fomos. É bom ser-se turista numa terra que ninguém visita.
É bom saber que ninguém nos pode localizar. Localizar está para a liberdade como conservar para as sardinhas.
Os fugitivos são, por definição - e não só nos filmes de Nicholas Ray - felizes. Fugir é bom. As responsabilidades, de que toda a gente está sempre a falar, são más para nós. Nem sequer são boas para os outros.
Fugir sem ter razão para fugir é um acto libertador de cobardia criativa. O medo é, tal como a preguiça e todas as espécies (sem distinção) de egoísmo, uma manifestação da mais elevada inteligência.
"Fica-te", dizem os escravos que absorveram os interesses dos esclavagistas. "Deixa-te ficar; contenta-te com o que tens; enfrenta aquilo que tens para enfrentar", aconselham os carrascos já derrotados da liberdade.
Os escravos verdadeiros fugiam mesmo quando corriam o risco de morrer. Que se há-de dizer dos escravos figurativos de hoje em dia que, quando fogem, só correm o risco de viver?
Desliguem-se os telemóveis. Mudem-se as coordenadas. Confundam-se as tentativas de contacto. Fugir é cada vez mais difícil mas é cada vez mais necessário.
Fujamos já!
Miguel Esteves Cardoso
Deus e o diabo na terra do Estado laico
Deus pode até estar em todos os lugares, mas em nenhum é tão onipresente como na política.
Bolsonaro O tinha como cabo eleitoral, encabeçando uma versão revista e recauchutada da Santíssima Trindade: “Deus, pátria e família” — sendo a pátria a crucificada, e a família seu próprio clã. Ainda que o Brasil estivesse acima de tudo, Deus estava acima de todos. Tão acima que, apesar de onisciente, não perceberia as rachadinhas, o comportamento criminoso durante a pandemia, a devastação ambiental, a venda das joias, a incitação ao golpe e uma penca de outros pecados passíveis de penitência bem maior que dois pais-nossos e quatro ave-marias.
Como quem acende uma vela para si mesmo e outra para o diabo, Deus não tem preconceito ideológico nem desampara quem o procure. Lula garante que sua volta ao poder foi coisa d’Ele — cometendo a heresia do machismo linguístico ao chama-lO de “o homem lá de cima” (linguagem neutra, só no discurso escrito, né?).
— Vocês votarem em mim foi ato de fé, de coragem, que um milagre estava para acontecer nesse país — declarou, com um olho na Bíblia e outro na urna. — Deus não é mentira; é a verdade, e não pode usar em vão como eles usam todo santo dia — completou, usando o nome em vão, como faz todo santo dia.
Políticos sabem que, numa democracia, só o voto salva — e o caminho mais curto para a salvação passa pela oferenda, pelo dízimo, pelo confessionário. Há mais ateus num avião em queda livre que em campanha eleitoral. Que o digam Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.
Sarney (rico governador do estado mais pobre do país, chefe de um governo pródigo em nepotismo e corrupção) proibiu a exibição de “Je vous salue, Marie” (de Jean-Luc Godard) “para assegurar o direito de respeito à fé da maioria da população brasileira” — e mandou que Deus fosse louvado em todas as cédulas (uma excrescência que corre o risco de jamais ser revogada).
Ter cidadania brasileira não impede que Deus preste serviços fora daqui. Sua mão teria ajudado Maradona a fazer um gol decisivo nas quartas de final contra a Inglaterra, na Copa de 1986. E, segundo Donald Trump, foi Ele quem “evitou que o impensável acontecesse“ no atentado de 13/7. A mão divina não deve ser mais a mesma, porque a bala ainda pegou de raspão.
Nas hostes infernais da oposição ao Todo-Poderoso, os tinhosos, cabruncos e capirotos ganharam a companhia de duas novas entidades malignas: fascistas e comunistas.
— Temos um mal pela frente, um capeta que quer implantar o comunismo no nosso Brasil — vociferou um.
— Com Boulos eleito, poderemos dizer que nunca mais os fascistas vão governar essa cidade e esse país — ululou o outro.
Além dos políticos, há mais uma categoria que tem certeza da inexistência de Deus. São os charlatães, que exploram a boa-fé alheia com “milagres” encenados para arrancar o dízimo — ou, como João de Deus, obter favores sexuais. Eles não se arriscariam a arder no mármore do inferno por toda a eternidade, pagando pelos pecados da ganância, da soberba, da fraude, da luxúria se temessem a hora da verdade no Dia do Juízo.
Se Deus é um delírio, como O definiu Richard Dawkins, o Brasil ainda deve demorar um pouco para sair do surto. Quem melhor escreveu a respeito foi o compositor Chico César:
— Essa gente é o diabo e faz da vida de Deus um inferno.
Não só da d’Ele. Da nossa também.
Bolsonaro O tinha como cabo eleitoral, encabeçando uma versão revista e recauchutada da Santíssima Trindade: “Deus, pátria e família” — sendo a pátria a crucificada, e a família seu próprio clã. Ainda que o Brasil estivesse acima de tudo, Deus estava acima de todos. Tão acima que, apesar de onisciente, não perceberia as rachadinhas, o comportamento criminoso durante a pandemia, a devastação ambiental, a venda das joias, a incitação ao golpe e uma penca de outros pecados passíveis de penitência bem maior que dois pais-nossos e quatro ave-marias.
Como quem acende uma vela para si mesmo e outra para o diabo, Deus não tem preconceito ideológico nem desampara quem o procure. Lula garante que sua volta ao poder foi coisa d’Ele — cometendo a heresia do machismo linguístico ao chama-lO de “o homem lá de cima” (linguagem neutra, só no discurso escrito, né?).
— Vocês votarem em mim foi ato de fé, de coragem, que um milagre estava para acontecer nesse país — declarou, com um olho na Bíblia e outro na urna. — Deus não é mentira; é a verdade, e não pode usar em vão como eles usam todo santo dia — completou, usando o nome em vão, como faz todo santo dia.
Políticos sabem que, numa democracia, só o voto salva — e o caminho mais curto para a salvação passa pela oferenda, pelo dízimo, pelo confessionário. Há mais ateus num avião em queda livre que em campanha eleitoral. Que o digam Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.
Sarney (rico governador do estado mais pobre do país, chefe de um governo pródigo em nepotismo e corrupção) proibiu a exibição de “Je vous salue, Marie” (de Jean-Luc Godard) “para assegurar o direito de respeito à fé da maioria da população brasileira” — e mandou que Deus fosse louvado em todas as cédulas (uma excrescência que corre o risco de jamais ser revogada).
Ter cidadania brasileira não impede que Deus preste serviços fora daqui. Sua mão teria ajudado Maradona a fazer um gol decisivo nas quartas de final contra a Inglaterra, na Copa de 1986. E, segundo Donald Trump, foi Ele quem “evitou que o impensável acontecesse“ no atentado de 13/7. A mão divina não deve ser mais a mesma, porque a bala ainda pegou de raspão.
Nas hostes infernais da oposição ao Todo-Poderoso, os tinhosos, cabruncos e capirotos ganharam a companhia de duas novas entidades malignas: fascistas e comunistas.
— Temos um mal pela frente, um capeta que quer implantar o comunismo no nosso Brasil — vociferou um.
— Com Boulos eleito, poderemos dizer que nunca mais os fascistas vão governar essa cidade e esse país — ululou o outro.
Além dos políticos, há mais uma categoria que tem certeza da inexistência de Deus. São os charlatães, que exploram a boa-fé alheia com “milagres” encenados para arrancar o dízimo — ou, como João de Deus, obter favores sexuais. Eles não se arriscariam a arder no mármore do inferno por toda a eternidade, pagando pelos pecados da ganância, da soberba, da fraude, da luxúria se temessem a hora da verdade no Dia do Juízo.
Se Deus é um delírio, como O definiu Richard Dawkins, o Brasil ainda deve demorar um pouco para sair do surto. Quem melhor escreveu a respeito foi o compositor Chico César:
— Essa gente é o diabo e faz da vida de Deus um inferno.
Não só da d’Ele. Da nossa também.
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