domingo, 3 de junho de 2018
Coisa de doido!
Somos, também, grandes importadores de chocolate da Alemanha. Tenho, igualmente, dificuldades de entender um quadro desses, na medida em que naquele país, até onde sei, não existe uma única plantação de cacau!
Nós importamos, ainda, robustas quantidades de café da Suíça. Uma vez mais, acho complicado entender o que se passa, pois, segundo apurei, eles não tem sequer um cafezal em todo o país.
Descobri, não faz muito tempo, que o Brasil, desde 1996, não produz trilhos de trem – importa-os, por exemplo, da França e da China. Devo ser mesmo uma pessoa de mente muito primária, pois não consigo entender como um país de dimensões continentais praticamente não tem ferrovias, e bem assim por qual motivo um dos maiores produtores de minério de ferro do planeta importa trilhos!
Nosso país tem andado a importar energia elétrica da Argentina e do Uruguai. Pessoa de peco bestunto que sou, ainda não alcancei os motivos que levaram aquele Brasil que criticava Itaipu como “obra faraônica” a este estado de penúria energética.
Tomei conhecimento, há algum tempo, que importamos um terço do pescado que consumimos. Devo ser mesmo uma pessoa de mente muito tosca, pois sequer imagino as razões que levam um país que conta com 8.500 km de litoral, além de ter o maior rio do planeta em volume de água, a importar tanto peixe!
Temos importado, quem diria, o bom e velho feijão! Ouvi falar que ele viria da Argentina, do Paraguai, da Bolívia, e talvez até do México e da China. É algo complexo demais para minha parca inteligência entender por quais razões importamos tanto feijão na terra em que, conforme Pero Vaz de Caminha, “em se plantando tudo dá”.
Eu teria muito mais a escrever, mas vejo-me forçado a encerrar agora este texto. Acabaram de me informar que um rabo está abanando um cachorro ali na rua, e tenho que ir lá ver isso!
No país do provisório
A empresa, que vinha se recuperando, despenca no mercado. E continua refém de pressões políticas de toda ordem. Não agradava à população, por óbvio, a política de reajustes quase diários dos combustíveis, sobretudo levando-se em conta que os salários há muito não têm reajustes. Também não agradava aos políticos.
Os motivos, evidentemente, não são os mesmos. As estatais são defendidas com ardor pelos políticos, sobretudo à esquerda, pelo manejo fisiológico que propiciam. A Petrobrás, que, com as gestões Lula-Dilma, chegara ao limite de sua capacidade de amamentar corruptos, estava num raro momento de gestão técnica. Acabou.
A greve dos caminhoneiros, que dela perderam o controle faz dias, está sob nova administração – política e radical: de um lado a esquerda, que quer melar as eleições por não ter candidato competitivo; de outro, a direita, que quer intervenção militar, por não confiar nas urnas eletrônicas e na Justiça eleitoral.
Ambas querem a cabeça do presidente da República. E talvez a queiram por não possuir uma. A saída do presidente, hipótese que não se descarta (aliás, nada se descarta, neste momento), gera, a quatro meses das eleições, mais males que os que evita.
Entre outros, torna as eleições uma incógnita.
Não por acaso, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado acaba de aprovar projeto que regulamenta a eleição indireta para presidente e vice-presidente da República, em caso de vacância de ambos os cargos nos dois últimos anos do mandato presidencial.
O projeto é do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que o apresentou em 2015, antes do impeachment e já o prevendo. Caiado queria, com a saída de Dilma, a antecipação das eleições de 2018. Talvez, se acolhida, sua proposta tivesse estancado a crise.
Agora, soa extemporânea. Será de valia para crises futuras, que nisso o país não falha. Se não houver recurso para análise em plenário, o projeto segue para a Câmara dos Deputados.
Pelo projeto, na hipótese de vacância, os partidos poderão apresentar candidato, que não precisam ser membros do Parlamento. Por hipótese, se Temer, renunciasse neste fim de semana, seu sucessor indireto governaria por cerca de cinco meses, descontado o período de lançamento da candidatura e do rito eleitoral.
De quebra, interferiria na campanha eleitoral ou mesmo poderia servir de pretexto para questioná-la. Um furdunço.
O Brasil, mais que nunca, confirma sua tradição de país do provisório e da interinidade.
Ruy Fabiano
O Ano da Crisálida
E, de repente, as pessoas estavam andando pela cidade. Picos no transporte público. Bicicletas compartilhadas sendo intensamente utilizadas. Poluição caindo. Cidades lentas.
Se não soubéssemos dos problemas em hospitais, nos bancos de sangue e na interrupção de aulas em escolas, seria um espetáculo poético da abstinência da sociedade brasileira dos combustíveis fósseis.
A última semana foi só mais uma fase do longo Ano da Crisálida, o ano de 2013.
Desde as jornadas de junho de 2013, estamos experimentando a tensão da tentativa da metamorfose da sociedade dentro da imobilidade do casulo rígido, agora enrugado e podre, das formas tradicionais do Estado brasileiro. Naquela ocasião, as mesmas ruas vazias de carros foram ocupadas pela população em gritos ideologicamente esquizofrênicos de anseio por mais eficiência para serviços públicos, mas também por melhores práticas democráticas. Os preceitos de que gestão era escopo da direita e de que participação política era da esquerda se misturaram num amorfismo, cujas palavras de ordem balbuciadas como grunhidos de bebê eram ouvidas por universidades ou empresas pelas frequências sonoras que lhes apeteciam. E a classe politica ensurdeceu.
Veio depois disso: Lava-Jato; acidente ambiental em Mariana; meia tonelada de cocaína num helicóptero; eleições após campanhas milionárias; prefeitos medíocres nas principais capitais; explosão de violência no país inteiro, mesmo após longo período de inclusão social; insolvência dos estados da federação; insurreição parlamentar; impeachment; R$ 51 milhões num apartamento em Salvador; empresários, marqueteiros e tornozeleiras; intervenção federal na segurança no Rio de Janeiro; pico de audiência em sessão coruja na TV do Judiciário; prisão de um ex-presidente da República por corrupção; colapso de prédio ocupado por movimentos de luta por moradia em São Paulo e, finalmente, aparentemente, a greve dos caminhoneiros. E, mais uma vez, esquerda e direita escutam e enxergam o que lhes convêm.
Este ano, que já dura cinco, é a conclusão dolorosa de um modelo insustentável de organização do país dedicado integralmente e fervorosamente a um nacional-desenvolvimentismo alimentado pela dialética da Guerra Fria, assustado à noite por bichos-papões da América imperialista ou da Cuba revolucionária, esperando Dom Sebastião, ou como intelectual liberal ou como líder popular. Todos esses monumentos colapsam agora sobre nossas cabeças.
As eleições de outubro serão a chance de romper o casulo feito de pedaços duros de políticos mortos, que insistem em nos assombrar, mas a verdadeira metamorfose implicará em conseguirmos prestar atenção à falência da industrialização e do consumo de petróleo como desenvolvimento da sociedade brasileira, e situar esse modelo na condição de passado ainda presente, e começar de fato a considerar novos arranjos urbanos, tecnológicos, culturais e sociais, buscando trazer ao presente o que já sabemos que nem é tão futuro assim, como a energia solar e eólica, por exemplo
Uma oportunidade de ampliar conhecimento e contato com esses novos signos será a Velo-City 2018, uma conferência internacional dedicada à mobilidade sustentável e à qualidade de vida nas cidades, que ocorre no Rio a partir do próximo dia 12, no Pier Mauá. Especialistas do mundo inteiro virão à cidade participar deste congresso organizado em temas como “Aprenda a viver”, “Felicidade e Qualidade de Vida”, “Integrar a Vida e o Transporte”, “Economia Viva” e “Acesso à Vida”, como conceitos decisivos para boas sociedades urbanas.
Políticos, empresários, economistas e acadêmicos brasileiros ainda consideram estes temas como frívolos diante de um mundo com tantas injustiças e preferem uma vez mais as armas ideológicas. Contudo, não encontraremos novas respostas fazendo as mesmas perguntas.
A restauração do país passa mais por priorizarmos a sustentabilidade das pequenas decisões e dos pequenos gestos, pela humanidade da gestão e pela eficácia no combate às desigualdades, do que pelos gritos de torcida. Teremos mais chances de sucesso com soluções que caminham e evoluem, como bicicletas e transporte público, e novas tecnologias energéticas, do que com os modos antigos do motor, da gasolina, de pneus, de asfalto e da velocidade. Ruas calmas e serenas são mais próximas de um futuro melhor do que a fúria de um século que já passou e que não consegue mais conter a transformação do Brasil..
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