sexta-feira, 12 de agosto de 2016


No bom caminho

É imprescindível que a batalha contra a corrupção seja implacável e dê frutos, porque nada desmoraliza mais uma sociedade do que comprovar que o poder serve sobretudo para que os governantes e seus cúmplices enriqueçam, violentando a lei. Isso, e a falta de segurança nas ruas, principalmente nos bairros mais desfavorecidos, é o grande lastro que freia e ameaça o desenvolvimento, tanto no Peru como no restante da América Latina. 
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(...) é preciso esperar que o Brasil, onde a revolta popular contra a corrupção cancerosa que afligia o Estado abalou quase todas as suas instituições até os alicerces, saia desta catarse institucional purificado e com uma classe política menos putrefata
Mario Vargas Llosa

A tropa de choque de Dilma

Poucos fatos representarão tão significativamente os episódios deste ano no julgamento do impeachment quanto a sofreguidão com que sua tropa de choque tratava de ganhar tempo. Como se o tempo fosse dinheiro. Era um apetite insaciável, que se empanturrava de cada segundo para somar meses, fechar o ano. Tempo, tempo, tempo! Uma voragem. Ele foi caçado assim, como grande tesouro, porque, paradoxalmente, viam-no como se fosse tudo, ainda que a nada mais servisse. A melhor expressão do que descrevo era proporcionada pelo senador Lindbergh Farias, qual menino birrento, quase choroso, gritando ao microfone, sem parar: "Eu quero o meu tempo! Eu quero o meu tempo! Eu quero o meu tempo!". Por vezes tive certeza de que um chicabom amainaria aquele surto. O pacientíssimo senador Raimundo Lira entregaria o picolé ao garoto e o afagaria dizendo: "Pronto, pronto, passou...". Importa menos, no caso, o direito de peticionar o tempo regimental e mais a conduta própria de quem atravessou a infância e a adolescência longe dos limites adequados ao convívio social. Ele não estava só nisso. A tropa de choque que defendia a presidente Dilma na Câmara e no Senado aprendeu a fazer política nos baixios onde a mistificação se exibe como sabedoria, e a mentira, cobrando reverências que a verdade dispensa, é repetida de modo incessante porque não há verdade alguma a ser dita sem imensa desdita.


Foram meses disso! Agora, por fim, prenunciam-se os últimos atos de um processo tão volteado e circunvagado no andar quanto retilíneo no objetivo. Tão demorado quanto urgente. Foram meses durante os quais o bem nacional foi desprezado pela defesa de um governo insanável e pela atuação de um grupo político que deixou o constrangimento nos jatinhos das empreiteiras e nas lavanderias do dinheiro mal havido. O povo, o povo simples e humilde, vítima preferencial do desemprego, da inflação e da recessão que o governo petista semeou, plantou e colheu, foi o grande esquecido nas longas e procrastinatórias sessões que a tropa de choque petista transformou em trincheiras contra o Brasil.

Por mais que os próprios senadores favoráveis ao impeachment esqueçam de mencionar, ele nasceu, cresceu e se tornou inevitável na voz das ruas. Por isso, a tropa de choque petista no Senado conseguiu a proeza de falar durante meses a fio sem jamais referir o povo, mencionar a nação ou dirigir uma palavra aos desempregados, às empresas cujas portas se fecharam, aos desatendidos do SUS, às vítimas da violência, nem aos saqueados pela organização criminosa que governou o país.

O Brasil que produz, que quer trabalhar e empreender, que deseja estudar, tem pressa. O cotidiano impõe urgências às famílias! Mas que se danem os brasileiros! A estes jamais foi sensível a arrogante tropa de choque do governo Dilma. Falando por seus representantes no Senado, a Orcrim furtou-nos, segundo a segundo, meses a fio, um tempo tão essencial à nação quanto inútil para quem dele se apropriava. Quando nada mais havia a arrebatar, saquearam-nos um precioso tempo.

Percival Puggina

Imagem do Dia

~~Into the wildy dream ~ forest river, Zurich, Switzerland by Osvaldo Mirante~~:
 Hitachi Seaside Park (Japão)

Quem quer ser prefeito?

Quem achou que tendo se portado, desde os primórdios, como um correligionário exemplar e assim trabalhou, trabalhou, ate que olhos nus por todos os logradouros e arrabaldes o vissem induvidosamente como o consenso e se apesar disso, não conta mais com a simpatia do dono do partido, então desça para Vereador, pensando agora em infernizar a campanha de quem lhe tomou o lugar na chapa, ou então procure entender melhor que o jogo da politica, e não é de hoje, isso vem piorando desde a redemocratização, se joga sem regras preexistentes sob o casuísmo sem logica nas leis e, acima de tudo, conforme o humor e as conveniências, que não são poucas, dos donos dos partidos.

A cada dia há menos espaço para as pessoas serias.

Dá pena ver jovens empanturrados de álcool, ou se asfixiando com maconha, compondo gangues no serviço da provocação e da intimidação aos que, nas reuniões partidárias, ousam cobrar dos seus chefões algo como, por exemplo, democracia interna. Não precisa. Tudo transcorre, muitas vezes nem transcorre, conforme a vontade dos donos dos partidos e os livros de atas já chegam com as atas prontas e mais algum espaço para a conveniência que rolar. Não há mais aquele cidadão que em respeitoso silencio a tudo assistia e na ultima linha da página da ata apunha a sua assinatura como Observador da Justiça Eleitoral. A Constituinte acabou com isso. Os partidos deixaram de ser pessoa jurídica de direito publico para ser pessoa jurídica de direito privado. Pequenas empresas, muitas até familiares, para grandes negócios.


Mas imaginando que além do consenso conseguistes também sobrepairar sobre as mazelas todas, inclusive vencendo a tua solidão porque conseguindo por outras razões, e elas podem ser tantas, atrair outros donos de partidos sem nomes consensuais para o desfile das mesmas variedades, o que levou o chefão da tua legenda a ter que te engolir por inteiro (remember to Zagalo), agora admitindo que as urnas terão o teu nome, numero e retrato como alternativa, vai logo te preparando para o ritual da campanha.

Falando apenas a verdade, dizendo tudo o que pensas, sem travos nas palavras, de forma cordial, mas direta, recusando ajudas que depois, mesmo que não sejas eleito, resultarão em uma conta - corrente infinda. Sempre há um agiota na praça querendo apostar num possível vencedor. O ganho maior será dele? A perda maior será do candidato? O prejuízo maior será da população. Esses financiadores, em caso de eleição, só querem as Secretarias da Saúde e a da Educação, exatamente as que recebem o dinheiro garantido repassado mensalmente por vinculação constitucional.

Sendo tu a pessoa capacitada, honesta e mui querida conforme o olhar geral, decerto que terás dificuldades para te assumires na personagem do candidato convencional. A certa altura, na metade do tempo de campanha, tu serás assaltado toda noite por preocupações espraiadas sobre teu sono levadas por um espirito chamado espirito público a te lembrar de valores como decência, ética, honestidade, trabalho, humildade, clemencia, tolerância, justiça paz.

Só de pensares que na hipótese de seres eleito, terás à porta da tua casa em todas as horas cobranças por dividas das quais não tinhas a mínima noção porque decorrentes dessa desorganização da nossa sociedade, felizmente, ainda democrática, apesar dos extremistas da direita e os da esquerda, e ainda apesar dessa ficção chamada Federação e desse Estado brasileiro quase em frangalhos a depender de corajosas e profundas reformas institucionais perderás o sono diante da certeza de que assumirás para um mandato de absoluta contenção de despesas, com pagamentos de juros e tal. Não poderás nomear nenhum funcionário. Nem mesmo por concurso. O clientelismo politico te odiará. Quem ficar sem o seu mensalinho quererá te cassar.

A dívida de todos os Municípios só com o Tesouro e bancos públicos é de 50 bilhões. A dívida dos Estados e Municípios com a União é de mais de 500 bilhões. Enfim, a dívida pública cresce em media 2 bilhões de reais por dia. O que fazer? Tomar mais empréstimos? Aumentar impostos e taxas municipais? Never.

Edson Vidigal

Bem-vindo de volta

Em breve, teremos nova versão do Currículo Nacional Único — atualmente em construção. Quase com certeza, pouco depois leremos nas mídias várias matérias — parte das quais comemorando “a novidade que já devia ter acontecido”. O que muitos não sabem é que, até em torno dos anos 1970, o Brasil tinha currículo único.

Quando comecei a lecionar, meus colegas e eu recebíamos do MEC o que chamávamos de lençol, um livreto que, aberto, se desdobrava em folhas enormes (daí o apelido), que traziam, disciplina por disciplina, série por série, os conteúdos que deviam ser desenvolvidos em todo o país.

Num dado momento, porém, as teorias pedagógicas começaram a preconizar a ideia de que cada município devia definir, por si, o que ensinar para que, assim, se respeitassem regionalidades. Hoje, volta-se a defender a necessidade de um mínimo comum.

Fico aliviada com o retorno dessa base unificada, que, a meu ver, jamais se deveria ter abandonado. A primeira versão apresentada pelo MEC necessitava de tantos reparos — verdadeira reconstrução — que a próxima talvez careça de outra mais.

Causa perplexidade, porém, verificar que o abandono do currículo único — sob a alegação de atender a singularidades regionais —, na prática significou deixar de ensinar capítulos importantes de História, Geografia, Matemática — de tudo! A que regionalidade, afinal, se atende, ao suprimir o Holocausto da Segunda Guerra? Que característica se respeita quando não se ensina a interpretar gráficos?

A pretexto de respeitar especificidades, deixou-se de dar formação cultural, leitura compreensiva e cálculos aos brasileirinhos. Hoje, 57% dos alunos de 8 anos não superam os dois primeiros níveis de leitura. E Matemática também faz corar: apenas 58% alcançaram os dois níveis iniciais!

Dá para compreender que o novo documento seja esperado com ansiedade.... Importa frisar, porém, que colocar no currículo único a responsabilidade de, a partir de sua implantação, superarmos os parcos resultados é vã quimera. Há outras providências que precisam ser tomadas.

A qualificação docente e a superação da insustentável situação da indisciplina, que consome professores e os adoece, são duas delas. É preciso dizer, por outro lado, que “modismos na educação” não acometem só o Brasil. A Austrália também demorou a perceber a necessidade de se voltar ao currículo único, mas o fez em 2012.

Agora, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) determina que o currículo tenha base nacional comum e parte diversificada, coadunando as duas necessidades. O que o currículo único faz é definir os saberes e competências mínimos que todos devem ter adquirido ao final da Educa- ção Básica — porque fazem diferença na vida, no exercício da cidadania e na promoção da igualdade social.

E mais: garantem que um aluno transferido do Acre para o Rio possa ter assegurada a continuidade dos estudos. É bem-vindo, pois, o currículo único de novo; mas há que haver continuidade nas decisões, para que não tenhamos que partir do zero a cada novo ministro. Educação deve ser um projeto do Brasil — e, assim, suplantar modismos e gestões.

Tania Zagury

Nada mudaria no país, se a Madame voltasse ao poder

Além de haver permitido a corrupção à sombra de seu governo, Dilma Rousseff ofereceu uma das piores performances administrativas de todos os tempos, levando a economia ao fundo do poço e a política à estratosfera. Por isso, merece a condição de ré, prestes a ser cassada.

No reverso da medalha, porém, não cometeu crime de responsabilidade, que justificaria sua degola.

São duas situações conflitantes e inconciliáveis. Partidários de uma e de outra tem razão. Madame merece ser afastada por incompetência, mas foi eleita pela maioria da população, ainda que tenha perdido o apoio do eleitorado.

Tudo indica que no fim do mês perderá definitivamente o mandato, mas a decisão de Câmara e Senado fundamentam-se na razão de seu péssimo governo e da necessidade de o caos ser evitado?


Aqui a equação enrola. Apesar de sobejas evidências de que se permanecesse até 2018 no poder o país iria à bancarrota, os motivos de sua defenestração parecem outros. Desde a investidura do Lula, 13 anos atrás, adotou-se um novo plano de voo para o Brasil. Em vez da anterior concepção neoliberal de governo, onde as elites mantinham e ampliavam seus privilégios, impondo esse modelo às massas, chegou à presidência da República um candidato tido como partidário de mudanças estruturais nos planos social e econômico. Se preferiu ater-se ao assistencialismo, perdendo a oportunidade de promover reformas de base, é outra história.

Era o que a maioria da população queria, mas o Lula preferiu acomodar-se às linhas principais do figurino da prevalência do capital sobre o trabalho, que o eleitorado havia rejeitado. É verdade que realizou pequena parte das promessas reformistas da sua campanha, promovendo a inclusão social de camadas menos favorecidas e ampliando a participação das massas. A sucessora, escolhida por falta de opção, prometeu realizar o muito que faltava, mas quebrou a cara. Fracassou até onde o Lula havia tido sucesso.

Foi quando as elites aproveitaram a oportunidade de revogar os avanços mesmo medíocres da transformação social para retomar o modelo de sua dominação absoluta. Sentiram a fragilidade de Dilma e o malogro de sua política econômica, que ajudaram a tornar pior.

O resultado aí está: o impeachment e a entrada de Michel Temer, defensor do retorno aos tempos do predomínio total das elites. É o que começamos a viver com a redução de direitos sociais, as reformas previdenciária e trabalhista, a contenção salarial, o aumento de impostos e demais mandamentos do catecismo neoliberal.

De nada adiantaria a permanência de Dilma no governo, se fosse para evitar o retrocesso.

O clima bate à porta, já é hora de mudar

Na mesma semana em que o mundo se reunia no Rio de Janeiro, na Olimpíada 2016, registrava-se (cdn.com.br) o Dia da Sobrecarga da Terra (8/8), quando se calculou que em pouco mais de sete meses deste ano esgotamos os recursos naturais suficientes para atender às necessidades de consumo de todo o mundo em 12 meses. E, mais complicado, evidenciou-se que a cada ano esse esgotamento se dá mais cedo (em 2015 foi no dia 13 de agosto). Feito pela Global Footprint Network, com dados da ONU, da Organização Mundial do Comércio e dos países, o cálculo avalia a “pegada ambiental global” e diz que precisaríamos de 1,6 planeta Terra para suprir o consumo de hoje no planeta e atender ao crescimento da população, confrontados com a capacidade da natureza de prover recursos e reciclar organicamente os resíduos.

Desde 2000 a sobrecarga de recursos usados dobrou. Mas foi possível também ver que isso já vinha desde 1970 – começou a ocorrer no dia 23 de dezembro e a cada ano era mais cedo, com poucas exceções. Para reverter o processo será preciso reduzir as emissões de carbono em 30% sobre os níveis atuais, conforme estabelecido na Conferência do Clima da ONU. Além de baixar o consumo, será indispensável reduzir o desperdício de energia elétrica, de carne e os transportes movidos a combustíveis fósseis, entre outros itens.

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Evgeny Kazantsev
Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (geodireito.com, 31/7) aponta a “exploração predatória” da Terra, a retirada triplicada da biomassa nas últimas quatro décadas, a extração de minerais, o uso de combustíveis fósseis como algumas das causas mais graves desse problema. Um brasileiro, em média, consome recursos 1,8 vezes mais do que o planeta pode oferecer; um norte-americano, 4,8 vezes mais; um australiano, 5,4 vezes.

Tratar de temas como esses costuma levar muitas pessoas a chamar de “profetas do apocalipse” ou coisas assim cientistas que fazem advertências. Mas não há como fugir. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU), por exemplo, adverte (2/8 ) que mudanças climáticas já ameaçam a segurança alimentar na América Latina e no Caribe. Estudo da Cepal afirma que o setor agrícola é a atividade mais afetada pelas mudanças, pois responde por 5% do produto bruto e 23% das exportações regionais, ao mesmo tempo que emprega 16% da população ocupada. O Noroeste brasileiro será uma das regiões mais afetadas.

Como avançar, nesse cenário, com a erradicação da fome, que exigirá maior produção de alimentos? E sabendo que as mudanças climáticas aumentarão tanto a seca como o volume de chuvas? Como enfrentar esse quadro se o último balanço (SBPC na ECO 21, maio de 2016) adverte que as emissões brasileiras de dióxido de carbono aumentaram de 2,1 bilhões de toneladas anuais (2005) para 2,73 bilhões de toneladas, embora o compromisso nacional seja de reduzi-las em 37% até 2025 e até 43% em 2030, sobre os números de 2005?

Será necessário um conjunto de soluções. O Jornal Dia de Campo (5/7), por exemplo, assegura que o plantio direto na agricultura “mitiga a emissão de gases do efeito estufa”, conforme estudo da Embrapa Cerrados desde 2001, divulgado pela Nature/Scientific Reports. Os estoques de carbono no solo nesse sistema de plantio podem equiparar-se no longo prazo aos valores originários em solos do Cerrado nativo. Além disso, o acúmulo de carbono promove aumento da qualidade do solo dos pontos de vista químico, físico e biológico. A acumulação de carbono no solo entre 11 e 14 anos variou entre 1,48 e 1,61 megagramas por hectare/ano. Essa é uma tarefa que precisa ser considerada prioritária pelos governos em toda parte no País.

Outro estudo, divulgado por Rita Silva (avivcomunicacao, 26/7), lembra que estão entre as maiores ameaças ao clima planetário os “gases que usamos para nos refrescar”, conhecidos como hidrofluorcarbonetos, ou HFCs, “mais poderosos para o aquecimento da Terra que o dióxido de carbono”. Um desses gases, o HFC-134a, permanece 13,4 anos na atmosfera e leva a um aquecimento 1.300 vezes maior que o do dióxido de carbono ao longo de cem anos. Esses gases estão em aparelhos de ar-condicionado, geladeiras e aerossóis. No ritmo atual, em 2015 os HFCs poderão contribuir com até 10% das emissões globais dos gases do efeito estufa. Desde 1990, o uso deles aumentou 258%.

A esperança é que em reunião a ser realizada em Ruanda, em outubro, se chegue a acordo entre os países para reduzir o uso dos HFCs e o aquecimento global em O,5% até o final do século. Até já existem alternativas para esses gases, como o propano, que pode ser usado em pequenos aparelhos de ar-condicionado. Quase cem países em desenvolvimento querem sustar o nível de crescimento dos HFCs em 2021. O custo total para eliminá-los estaria entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões em três décadas – ou 8 a 10 centavos de dólar por tonelada de dióxido de carbono equivalente.

O Centro de Estudos em Sustentabilidade, da Fundação Getúlio Vargas, está divulgando nestes dias os inventários de emissão de gases do efeito estufa no Brasil em 2015, por 136 organizações membros – um “primeiro passo para a transição para a economia de baixo carbono, fruto do Acordo de Paris”.

A urgência de mudanças nessa área é exemplificada por Ana Lúcia Azevedo (9/4) com a Chapada Diamantina, “conhecida como a Caixa d’Água da Bahia” (80% dos rios do Estado nascem ali e fornecem água inclusive para 60% dos habitantes de Salvador). Mas a água escasseia por lá, “à medida que se concretizam previsões sobre o impacto das mudanças climáticas na região”. Ou em várias partes da Amazônia.

São alguns dos casos mais em evidência na área do clima no País, que estão acontecendo em todas as regiões. Cuidemo-nos para evitar quadros piores. Informações e advertências não faltam.

O torneio que ninguém quer jogar no campo que ninguém queria


Campo, construído em área ambiental, será usado para quem puder pagar R$ 500 por uma volta nos 18 buracos
Com desistências em massa das principais estrelas e sob a sombra de polêmicas ambientais e de especulação imobiliária, começam nesta quinta-feira (11/08) as disputas de golfe – esporte que voltou ao programa olímpico depois de 112 anos. Depois de anos de lobby da federação internacional da categoria (IGF) e atletas, o golfe volta aos Jogos Olímpicos com a imagem arranhada e sob risco de voltar rapidamente a ser um esporte não olímpico.

Os quatro líderes do ranking mundial – Jason Day (Austrália), Dustin Johnson (EUA), Jordan Spieth (EUA) e Rory McIlroy (Irlanda do Norte) – não foram ao Rio de Janeiro. Eles justificaram a abstenção do maior evento esportivo do mundo com os perigos atrelados ao vírus zika.

A doença também foi a alegação dada pelo irlandês Shane Lowry e pelo japonês Hideki Matsuyama – também grandes nomes do PGA Tour (principal circuito do golfe profissional). Por outro lado, embora o vírus seja mais perigoso às mulheres, apenas a sul-africana Lee-Anne Pace desistiu dos Jogos. A nata do golfe feminino, incluindo Lydia Ko (Nova Zelândia) e Lexi Thompson (EUA), confirmou presença.

Mas críticos suspeitam que as razões pelas desistências sejam outras: no mesmo período dos Jogos Olímpicos serão disputados três torneios no PGA Tour com altas premiações e pontos para o FedExCup – lucrativo playoff no final da temporada no qual competem os melhores golfistas do mundo. Os Jogos Olímpicos não distribuem dinheiro nem pontos, apenas medalhas.

"Eu vejo isso [o vírus zika] como uma desculpa conveniente para alguns", disse o alemão Martin Kaymer. "Estamos extremamente mimados em nosso esporte. Muito difícil compreender alguém que não queira participar do evento mais antigo do mundo esportivo."

O desinteresse com os Jogos Olímpicos entre muitos golfistas é claro. Enquanto o sul-africano Louis Oosthuizen preferiu ficar com a família, o australiano Adam Scott justificou sua ausência afirmando que há torneios mais importantes na temporada. "As Olimpíadas são algo que jamais aspirei participar e acho que nunca o farei", disse, ainda em 2015. "Tudo gira em torno dos quatro majors, e acho que é assim que as coisas devem ficar no golfe."

Os majors – The Masters, US Open, The Open e PGA Championship – são os quatro principais torneios do ano, comparáveis ao grand slam no tênis. Dos quatro vencedores de 2016, apenas dois estão no Rio de Janeiro: o inglês Danny Willett (The Masters) e o sueco Henrik Stenson (The Open).

"Não há dúvidas que as desistências arranharam a imagem do golfe e nós temos que aceitar isso", disse o presidente da IGF, Peter Dawson. "Espero que, quando chegar Tóquio 2020, os melhores golfistas apoiem o golfe olímpico. É a melhor oportunidade de crescimento da modalidade, e não vejo uma maneira melhor para os jogadores darem algo pelo jogo do que apoiar o golfe olímpico."

O golfe iniciou em 2008 seu processo de candidatura para voltar ao programa olímpico. Entre os principais apoiadores estavam as estrelas Tiger Woods, Phil Mickelson, Annika Sörenstam e o irlandês Padraig Harrington. "Acho que logo o torneio olímpico será o evento mais importante no golfe e acredito que não levará muito tempo", apostava Harrington, que está no Rio de Janeiro.

Mas quanto tempo? Quando o tênis foi readmitido, em 1988, apenas três tenistas do Top 10 participaram dos Jogos de Seul. Em 2012, em Londres, um lesionado Rafael Nadal foi a única ausência. Porém, há quem acredite que este tempo não será dado ao golfe. "Se estou preocupado? Estou muito. Se eu estivesse no comando do COI, obviamente daria uma segunda olhada [sobre a inclusão no programa olímpico]", disse o golfista escocês Colin Montgomerie.

E o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, está a par da polêmica. "É óbvio que isso [as desistências] não ajuda na atratividade da competição de golfe", disse. O COI decidirá quais esportes estarão no programa de 2020 em meados de 2017.

Depois deste longo hiato de 112, os Jogos de 2016 podem vir a ser os únicos com golfe. Mas não sem antes ter a sua polêmica também no Rio de Janeiro. A escolha do local e o modelo de financiamento do campo olímpico renderam muitas críticas. Os 18 buracos foram construídos numa área de proteção ambiental que separa o Atlântico da lagoa de Marapendi – 58,5 mil m² do parque natural foram utilizados para a construção do campo de 970 mil m².

Houve protestos de ambientalistas e dos movimentos "Golfe para quem?" e "Ocupa golfe". Mas um laudo feito por um perito que analisou o caso para a Justiça garante que a área usada para o campo de golfe estava degradada, era usada para extração de areia, além de depósito de peças pré-moldadas de concreto, e que a vegetação nativa não foi alterada.

A Prefeitura do Rio afirmou que a construção do campo de golfe representa o maior programa de recuperação de vegetação de restinga do Brasil – cerca de 625 mil mudas de vegetação nativa de restinga foram plantadas no local. Além disso, a descaracterização do ambiente natural ocorreu uma extensa área antrópica, ou seja, sem vegetação.

A revista americana Golf Digest, mais importante publicação de golfe do mundo, conferiu ao campo olímpico o prêmio Green Star Award 2016, concedido a campos que se destacam na proteção ao meio ambiente. É a primeira vez que o prêmio anual é concedido a um

Outra polêmica ligada ao campo é o fato de o empreendimento feito na Barra ser privado. Os 60 milhões de reais dos custos da obra foram quitados pela construtora Fiori. Em troca de fazer o campo e as instalações necessárias para jogadores, público e imprensa, a Fiori recebeu uma readequação do potencial do terreno vizinho, onde será construído um condomínio de luxo com prédios mais altos do que o normalmente permitido.

Pelo projeto anterior, poderia haver 96 torres de seis andares; agora, pode ter 22 prédios de 22 andares. Alguns estão em construção. Os exclusivos apartamentos já estão à venda: os preços variam entre 4 e 12 milhões de reais. Um lucro maior do que o valor gasto com a construção do campo de golfe. Também por isso, a Prefeitura do Rio está sendo investigada por improbidade administrativa pelo Ministério Público.

Segundo os movimentos ambientalistas, há perdas volumosas aos cofres públicos – entre elas perdão de dívidas de IPTU, estimado em 100 milhões, além de isenções fiscais por 20 anos, estimados em outros 100 milhões, sem mencionar o valor do terreno, estipulado em 300 milhões. De acordo com o "Golfe para quem?", a Prefeitura do Rio gerou uma receita de mais de 1 bilhão para a Fiori.
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