quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

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Os caminhos do Brasil

Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.
Esse papo vem do meu pensamento
Sem querer envolver outra pessoa
Falo assim deste jeito e numa boa,
Escrevendo aqui o meu lamento,
Construir uma família é um tormento
A canção não se tem pra quem mostrar
No amigo não se pode confiar
Eu só vejo vaidade e preconceito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

Nossos rios estão todos poluídos
Nossa mata tá sendo derrubada
Guris assaltando a mão armada
O saber bem longe dos oprimidos
Os homens cada vez mais desunidos
O futuro demorando a chegar
Assim é difícil ate sonhar
Nunca mais ouvi falar em respeito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

As noticias nos deixam descontentes
Confusas com assuntos arrumados
Ate os escritores renomados
São a todos os fatos indiferentes
Tão de férias descansando e ausentes
Omissos e sem nada a declarar
Quando é que iremos despertar
E exigir o que nos é de direito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

O progresso aqui é só pretexto
Cresce mesmo é a ponta da miséria
Esta é a afirmação mais séria
Que trago neste meu martelo texto
Afirmando, confirmando no contexto
Já saí por aí a pesquisar
Com tristeza e revolta constatar,
Para aqui apontar este conceito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

Na política é só corrupção
O modelo econômico indecente
A impunidade está presente
Muita hipocrisia e ambição
O descaso com a população
Tá na hora do povo acordar
Botar fogo para a chapa esquentar
E da vida tirar melhor proveito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

E assim, sempre pela contra mão.
A família tem a bolsa como esmola
Juventude aí cheirando cola
A maior desgraça da Nação
Sem saber o que é educação,
A TV ajudando alienar
Algum dia esse bicho vai pegar
A causa passará a ser efeito,
Com o Brasil caminhando desse jeito
Não se sabe onde ele vai chegar.

Vivendo sob a morte

Somos todos irmãos, não porque dividamos o mesmo teto e a mesma mesa: dividimos a mesma espada sobre nossa cabeça
Ferreira Gullar

Por que o centro não existe

Esse nada do bolsonarismo x lulismo em que andamos vagando é o resultado da vitória da censura. A razão de ser do bolsonarismo é o lulismo e a razão de ser do lulismo é o bolsonarismo. Um existe como a negação do outro e os dois se equivalem e se anulam.

O diabo é que o centro não existe porque não sabe o que querer. Os social-democratas, portadores da síndrome do “renegado Kautsky”, nunca se livraram do “pecado original” que lhes permitiria existir por si mesmos. São a eterna sombra da esquerda antidemocrática dona do corpo que a produzia e que agora está morta. E os liberais made in Brazil simplesmente não têm no mapa a vasta planície que existe entre os dois abismos que assombram seus sonhos, o da presente iniquidade institucionalizada e o da anomia em que temem que o país caia se sair disso para o que lhes parece território incerto e não sabido. Faltam escola e jornalismo que dê a conhecer a ambos a hiper-mapeada solides e a lógica prosaica da alternativa democrática real em funcionamento no mundo que funciona.


O Brasil das vilas perdidas do sertão que, no seu isolamento, tiveram de se auto-organizar para prover todas as suas necessidades praticou por 300 anos a “democracia dos analfabetos” elegendo com pacífica e ininterrupta regularidade as lideranças da sua organização para a sobrevivência. Mas foi subitamente arrancado dessa sua “americanidade”. Tiradentes foi o último impulso de descolamento das velhas doenças europeias emitido por esse nosso DNA histórica e geopoliticamente democrático antes delas passarem a nos ser instiladas de dentro a partir de um Rio de Janeiro que purga até hoje o trauma do estupro em plena adolescência por uma monarquia decadente e corrupta no momento mesmo em que a democracia ensaiava os primeiros passos da sua terceira caminhada pelo planeta. Desde então temos sido cirurgicamente excluídos da trajetória dela…

O governo bipartido entre os Bolsonaro e o time de Paulo Guedes e cia. corporifica essa dualidade. Ele é o filho tecnocrático importado, mas órfão do pai político e ideológico que o fez nascer nas democracias que fixaram a inviolabilidade da pessoa como o ponto de partida e de chegada de todas as ações do Estado e a hegemonia da iniciativa individual sobre a pesporrência de uma “nobreza” corrupta na busca da felicidade geral da nação. Falta a humildade para importar o pai da experiência humana para a experiência brasileira, como têm feito os asiáticos e o resto do mundo que vai pra frente.

A ciência moderna só pôde estabelecer-se a partir do momento em que o dogma imposto pelo terror da “ira divina” passou a ser “protestado”. Mas onde a Contra-Reforma, armada da Inquisição, fincou pé os “terraplanistas” da política seguem com sua furiosa campanha contra as vacinas institucionais que ha mais de 200 anos fazem despencar a incidência de miséria onde quer que sejam aplicadas.

O Brasil é refém de um “Sistema” fechado em si mesmo, ancorado num passado que está morto e hermeticamente blindado contra qualquer eflúvio de renovação. E o monopólio da oferta de candidaturas ao eleitorado atribuído aos partidos políticos, recém debatido no STF, é a peça fundamental dessa blindagem. Nada na nossa ordem partidária e eleitoral tem o propósito de reproduzir fielmente o país real no país oficial, o pressuposto básico da constituição de uma democracia representativa. O único objetivo do “Sistema” é auto reproduzir-se e prevenir a ferro e fogo qualquer hipótese de surgimento de concorrentes. 

Que os seus sumos sacerdotes fulminem qualquer dissidência no altar do STF com a invocação da letra da sua própria lei e os seus inquisidores eletrônicos corram o reino prometendo o fogo do inferno a quem ousar desafia-la não põe nada de novo sob o sol. Toda igreja, da primeira à última, acenou com o seu céu para impor o seu inferno. Mas quando ouço a afirmação de que candidaturas avulsas seriam “obras individuais” que “atentam contra a democracia representativa e o estado democrático de direito” tento convencer-me de que se trata apenas de um equívoco acaciano e não consigo.

Tais candidaturas seriam atentatórias ao estado de direito se, como os nossos partidos, fossem sustentadas pelo Estado à revelia do que pensam delas os eleitores. Posta num contexto histórico então essa condenação emparelha, em matéria de anacronismo e falta de pertinência, com a afirmação em pleno 3º Milênio de que a Terra é plana e o resto do Universo é que gira em torno dela. Afinal a própria Constituição de 88 confessa seu dolo “ao exigir filiação partidária e fazer depender o exercício do direito de se candidatar de uma aceitação prévia de seus pares” e não da aceitação prévia dos eleitores, como acontece em todas as democracias sem aspas que não apenas aceitam e incentivam candidaturas avulsas independentes como também, para prevenir a apropriação indébita da vontade do povo da qual todo poder emana, impõem aos partidos regras internas permeáveis de apresentação de candidaturas a serem decididas em eleições prévias diretas.

A cura do Brasil, assim como historicamente se deu com outras democracias que se curaram antes da nossa, passa necessariamente pela instituição de eleições distritais puras, as únicas a proverem uma identificação a prova de falsificações entre representantes e representados, pela aceitação de toda e qualquer candidatura que o povo chancelar, pela despartidarização completa das eleições municipais, tanto porque não faz sentido misturar ideologia com a gestão técnica da infraestrutura das cidades quanto para encurtar o espaço dos proprietários de partidos políticos, pela imposição de primárias diretas das eleições estaduais para cima e, finalmente, pela instituição dos direitos de recall, referendo e iniciativa legislativa para os eleitores manterem seus representantes sob rédea.

Isto porque – é claro como o sol! – democracia existe quando é o povo quem manda. Na outra ponta estão as Venezuelas e as Cubas da vida. E no meio, isto é, no nada, boia o Brasil junto com outros náufragos.

Brutos

Nos dicionários, bruto é definido como tosco, grosseiro, mal feito. Quando relativo às pessoas, tem como sinônimos: bronco, boçal, ignorante, inculto, obtuso, primitivo, provinciano, xucro, desaforado, deseducado, estúpido, grosseiro, grosso, indelicado, petulante, insultuoso, disparatado, rude e desagradável.

Brutos praticam brutalidades.

Conhece alguém no modelo? Qualquer semelhança, não será mera coincidência. Temos um governo bruto, composto de brutos. Estamos entre muitos brutos, assistindo ou sofrendo brutalidades.



Os estudiosos das pesquisas acreditam que os brutos – aí cabendo todos os sinônimos da palavra – são 11% da população adulta e eleitora. É a turma neonazi do bandido bom é bandido morto, com mira certeira “na cabecinha”, incluindo seus vizinhos de moradia. Particularmente se esses forem pobres e/ou negros, também mulheres, LGBT+, índios, imigrantes e curtidores do funk, que são tão perigosos como os demos comunistas.

Essa facção vai aos 30%, quando somados os que até têm certas restrições às brutalidades, mas acham toleráveis se forem (exclusivamente) dirigidas aos diferentes: todos os que rezam em outros catecismos nos usos, costumes e comportamentos que não aprovam.

A conta passa dos 40% quando acrescida dos que defendem o vale tudo contra o PT e simpatizantes. Grupo distinto, onde cabem uns magistrados e afins, alguns ricos, novos ricos e os que sonham com a riqueza fácil, além dos que professam fé cega no nacionalismo e/ou no neoliberalismo. Turma que pode cair para um lado ou outro.

Gente pra caramba numa população de 210 milhões de habitantes e mais de 147 milhões de eleitores.

Mas, na suposição das pesquisas, tirados os todos já citados, ainda sobram mais de 50% de almas vivas e votantes. Comunidade majoritária, composta em parte pelos que não estão nem aí para o que está acontecendo, desde que não lhes alcance; outros que se aquietam por medo e desesperança; os que se escondem na alegação que odeiam política; os perplexos, que trocam "entre si e pelas redes sociais ou bares da vida" sentimentos de repulsa pela rudeza vigente; a oposição partidária e, em número menor, os atuantes das causas ambientais, humanistas e apartidárias – ai louvando artistas e intelectuais, que, como sempre, dão cara à tapa pelos todos que se omitem.

A conta soma cem, mas não fecha direção. Enquanto rola o tempo, brutalidade e brutos atuam com apetite voraz, as mídias tratam o anormal com normalidade, a Justiça faz-se mais cega na omissão, e vamos destruindo o sentido de humanidade e civilidade rearrumadas em 30 anos de democracia.
Há esperança. “Mas não vem dos governos, vem das pessoas”. Quem ensina é a "pirralha" Greta Thumberg, que empresta a força de seus 16 anos para (tentar) salvar o planeta e combater barbáries.

Feliz Natal, pessoas.

Tânia Fusco