segunda-feira, 2 de maio de 2022
Macabra humanidade
Sofro e choro pensando no pensamento da população ucraniana, em particular os mais fracos, os idosos e as crianças, diante da terrível notícia de crianças expulsas e deportadas, enquanto assistimos a uma regressão macabra da humanidadePapa Francisco
O pântano da política
Na contemporaneidade, transformou-se em profissão. Que propicia aos seus participantes fatiar o bolo e comê-lo quando tiver vontade. Virou uma escada para muitos subirem na vida.
A política deixou de ser um sistema que desenvolve a capacidade de responder aspirações, transformar expectativas em programas, coordenar comportamentos coletivos e recrutar para a vida pública quem deseja cumprir uma missão social.
No Brasil, infelizmente, o ideal político é uma quimera, mesmo que esteja na boca de participantes, principalmente em anos eleitorais como o que vivemos: “vamos melhorar as condições dos trabalhadores, facilitar o acesso ao crédito, qualificar a educação, equipar hospitais, dar segurança ao povo”.
Em suma, a política se tornou um dos maiores e melhores negócios da Federação. O empreendimento é a conquista de um mandato, seja como vereador, deputado estadual, deputado federal, senador, governador ou presidente da República.
Querem o exemplo mais recente do desmoronamento dos pilares do nosso edifício democrático? O perdão concedido pelo presidente a um deputado, amigo e parceiro, condenado pela Justiça e, pasmem, a escolha desse parlamentar para integrar comissões na Câmara, entre as quais, a mais importante, a CCJ, Comissão de Constituição e Justiça. Significa escolher alguém que afronta Justiça para decidir sobre leis, ou seja, sobre justiça. O cúmulo da distorção.
O negócio da política mexe com cerca de 150 milhões de consumidores, que formam o contingente eleitoral. Para chegar até eles, um candidato gasta, em média, R$ 7 reais por eleitor, quantia que pode ser cinco a seis vezes maior, se o candidato for agraciado com recursos do polpudo orçamento partidário para a gastança eleitoral. Ou se for rico. A maioria gastará bem mais que a soma dos salários em quatro anos de mandato. A questão é: se a campanha política no Brasil é tão dispendiosa e se os candidatos gastam acima do que ganham, por que se empenham tanto em assumir a espinhosa e sacrificada missão de servir ao povo?
É arriscado inferir sobre as ações e os comportamentos do nosso corpo político, sob o reconhecimento de que parcela do Congresso tem atuado de maneira nobre na defesa de seus representados. Mas sofre críticas por conta da corrupção cometida por alguns.
Outro sistema que erode os cofres públicos é a indústria do superfaturamento. As obras públicas, nas três malhas da administração (federal, estadual e municipal), geralmente são feitas com um “plus”, um dinheiro a mais. Registra-se, até, a figura de um ex-governador de um Estado do Sudeste, que era conhecido pela alcunha de “quinzão”. Parcelas dos recursos se somam às verbas da indústria do achaque e vão para os cofres das campanhas, formando o círculo vicioso responsável pelo lamaçal. Os desvios só acontecem porque nos postos chaves estão pessoas de confiança dos políticos. Resposta da charada. A malha de dirigentes abre espaços, possibilitando contratos, facilitando negócios, costurando o tapete financeiro que cobre a sala de estar da administração. O PIB informal da política é algo escandaloso, chegando a superar a imaginação de alquimistas financeiros sofisticados.
Esse é um tapete difícil de ser lavado. Contém milhões de ácaros que se alimentam das camadas de pele do corpo político. Ninguém vê, mas todos sabem que eles estão lá. Na velha cama, suja e embolorada, dormem perfis identificados com a manutenção do status quo. O ciclo é fechado: a sujeira alimenta os ácaros – agentes e intermediários – e estes suprem sua matriz alimentícia – os patrocinadores – perpetuando e multiplicando formas de corrupção.
Não é qualquer detergente que pode limpar os porões da política.
A política deixou de ser um sistema que desenvolve a capacidade de responder aspirações, transformar expectativas em programas, coordenar comportamentos coletivos e recrutar para a vida pública quem deseja cumprir uma missão social.
No Brasil, infelizmente, o ideal político é uma quimera, mesmo que esteja na boca de participantes, principalmente em anos eleitorais como o que vivemos: “vamos melhorar as condições dos trabalhadores, facilitar o acesso ao crédito, qualificar a educação, equipar hospitais, dar segurança ao povo”.
Em suma, a política se tornou um dos maiores e melhores negócios da Federação. O empreendimento é a conquista de um mandato, seja como vereador, deputado estadual, deputado federal, senador, governador ou presidente da República.
Um dos produtos é a intermediação, o caminho que usa a burocracia pública e os mandatários para políticos obterem recursos, benefícios e vantagens. Estamos no fundo do poço, ou, para usar a terminologia lembrada por Hélio Schwartsman, em seu artiguete de quarta, 27, na FSP, estamos vivendo um jogo pesado, “constitutional hardball – jogo pesado constitucional”, na expressão de Mark Tushnet, de Harvard. Uso uma metáfora: vemos a derrubada do Muro Constitucional.
Querem o exemplo mais recente do desmoronamento dos pilares do nosso edifício democrático? O perdão concedido pelo presidente a um deputado, amigo e parceiro, condenado pela Justiça e, pasmem, a escolha desse parlamentar para integrar comissões na Câmara, entre as quais, a mais importante, a CCJ, Comissão de Constituição e Justiça. Significa escolher alguém que afronta Justiça para decidir sobre leis, ou seja, sobre justiça. O cúmulo da distorção.
O negócio da política mexe com cerca de 150 milhões de consumidores, que formam o contingente eleitoral. Para chegar até eles, um candidato gasta, em média, R$ 7 reais por eleitor, quantia que pode ser cinco a seis vezes maior, se o candidato for agraciado com recursos do polpudo orçamento partidário para a gastança eleitoral. Ou se for rico. A maioria gastará bem mais que a soma dos salários em quatro anos de mandato. A questão é: se a campanha política no Brasil é tão dispendiosa e se os candidatos gastam acima do que ganham, por que se empenham tanto em assumir a espinhosa e sacrificada missão de servir ao povo?
É arriscado inferir sobre as ações e os comportamentos do nosso corpo político, sob o reconhecimento de que parcela do Congresso tem atuado de maneira nobre na defesa de seus representados. Mas sofre críticas por conta da corrupção cometida por alguns.
Outro sistema que erode os cofres públicos é a indústria do superfaturamento. As obras públicas, nas três malhas da administração (federal, estadual e municipal), geralmente são feitas com um “plus”, um dinheiro a mais. Registra-se, até, a figura de um ex-governador de um Estado do Sudeste, que era conhecido pela alcunha de “quinzão”. Parcelas dos recursos se somam às verbas da indústria do achaque e vão para os cofres das campanhas, formando o círculo vicioso responsável pelo lamaçal. Os desvios só acontecem porque nos postos chaves estão pessoas de confiança dos políticos. Resposta da charada. A malha de dirigentes abre espaços, possibilitando contratos, facilitando negócios, costurando o tapete financeiro que cobre a sala de estar da administração. O PIB informal da política é algo escandaloso, chegando a superar a imaginação de alquimistas financeiros sofisticados.
Esse é um tapete difícil de ser lavado. Contém milhões de ácaros que se alimentam das camadas de pele do corpo político. Ninguém vê, mas todos sabem que eles estão lá. Na velha cama, suja e embolorada, dormem perfis identificados com a manutenção do status quo. O ciclo é fechado: a sujeira alimenta os ácaros – agentes e intermediários – e estes suprem sua matriz alimentícia – os patrocinadores – perpetuando e multiplicando formas de corrupção.
Não é qualquer detergente que pode limpar os porões da política.
Da Internacional ao 1º de Maio, os sinais estão trocados
Quando o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi fundado, em 25 de março de 1922, Astrojildo Pereira e seus oito companheiros de origem anarquista não sabiam cantar A Internacional, como registrou em seu poema Ferreira Gullar. Desde então, apenas os mais empedernidos comunistas sabem a letra do hino composto em 18 de junho de 1888 por Pierre Degeyter — um operário anarquista de origem belga, residente na cidade francesa de Lille —, com base no poema do também anarquista Eugéne Pottier, operário francês membro da Comuna de Paris.
O hino se tornou conhecido na França e se espalhou pela Europa após o congresso do Partido Operário Francês, em 1896. A ideia original de Pottier era fazer uma paródia da Marselhesa, o hino da Revolução Francesa, mas Degeyter deu-lhe vida própria. C’est la lutte finale./Groupons-nous et demain/L’Internationale/Sera le genre humain, o refrão original, na tradução portuguesa ficou assim: “Bem unidos façamos, / Nesta luta final, / Uma terra sem amos /A Internacional”.
A versão em russo serviu como hino da antiga União Soviética de 1917 a 1941, quando foi criado o hino soviético por Stalin, mas A Internacional continuou sendo o hino da maioria dos partidos comunistas. Entretanto, alguns partidos socialistas e social-democratas também haviam adotado o hino, antes do racha da II Internacional, por ocasião da Primeira Guerra Mundial. Hoje, são raros os que o mantêm.
Não se sabe de quem foi a ideia, mas em todos os congressos recentes do PSB — que ganhou musculatura após a entrada de Miguel Arraes, então governador de Pernambuco, em 1990 —, A Internacional é executada com pompa e circunstância. Quase ninguém sabe cantar o hino. No último congresso, não foi diferente, mas o contexto era inadequado, porque as estrelas da abertura do evento, na quinta-feira passada, eram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Geraldo Alckmin. O constrangimento de ambos era visível, sobretudo do segundo, que trocou o PSDB pelo PSB. Alguns, como Carlos Siqueira, presidente do PSB, cantaram o refrão com o punho direito erguido, quando a tradição é usar o punho esquerdo.
O estrago que A Internacional está fazendo nas redes sociais às imagens de Lula e Alckmin ainda não foi aferido, mas o meme faz a festa de ativistas bolsonaristas, com ajuda de robôs, é claro. Nada mais simbólico para corroborar a falsa tese de que Lula e Alckmin são comunistas enrustidos. A grande massa de eleitores não sabe nem do ocorrido, mas a extrema-direita tem o discurso na ponta da língua, ou do dedo, pois estamos falando de redes sociais. O PSB deu farta munição para Lula e Alckmin serem atacados pelos adversários, o que de resto já vinha acontecendo, em razão da aliança com o PT. Fatos como esse, numa campanha eleitoral radicalizada, alimentam a narrativa do bem contra o mal e da liberdade contra o comunismo, adotada pelo presidente Bolsonaro.
E o 1º de Maio? Não é comemorado apenas no Brasil. As manifestações ocorrem nas Américas, na Europa Ocidental, na Rússia, na Índia, na China e em muitos países da África. A data foi escolhida em homenagem aos trabalhadores dos Estados Unidos. Num sábado, 1º de maio de 1886, cerca de 300 mil manifestantes foram às ruas em Nova York, Chicago, Detroit e Milwaukee, entre outras cidades, para pedir a redução da carga horária máxima de trabalho para oito horas por dia. Àquela época, se trabalhava até 16 horas, seis dias na semana.
Em Chicago, os protestos duraram vários dias e foram muito reprimidos, o que resultou na morte de quatro trabalhadores e sete policiais, além de 130 pessoas feridas, em 4 de maio. Dos 2.500 manifestantes, 100 foram presos, sendo oito condenados à morte. Dois tiveram a pena convertida em prisão perpétua, um apareceu morto na cela e os sindicalistas Adolph Fischer, George Engel, Albert Parsons e August Spies foram enforcados. Em 1893, o governador John Altgeld concedeu perdão aos sobreviventes.
As manifestações convocadas por Bolsonaro, portanto, não têm nada a ver com o 1º de Maio, data em que as centrais sindicais fazem grandes festas e manifestações nas principais cidades do país. São contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e têm jeito de provocação golpista. Mais um sinal trocado na política brasileira.
O hino se tornou conhecido na França e se espalhou pela Europa após o congresso do Partido Operário Francês, em 1896. A ideia original de Pottier era fazer uma paródia da Marselhesa, o hino da Revolução Francesa, mas Degeyter deu-lhe vida própria. C’est la lutte finale./Groupons-nous et demain/L’Internationale/Sera le genre humain, o refrão original, na tradução portuguesa ficou assim: “Bem unidos façamos, / Nesta luta final, / Uma terra sem amos /A Internacional”.
A versão em russo serviu como hino da antiga União Soviética de 1917 a 1941, quando foi criado o hino soviético por Stalin, mas A Internacional continuou sendo o hino da maioria dos partidos comunistas. Entretanto, alguns partidos socialistas e social-democratas também haviam adotado o hino, antes do racha da II Internacional, por ocasião da Primeira Guerra Mundial. Hoje, são raros os que o mantêm.
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) não tem absolutamente nada a ver com essa história. A legenda foi refundada em 2 de julho de 1985, por Antônio Houaiss (presidente), Marcelo Cerqueira, Roberto Amaral, Evandro Lins e Silva, Jamil Haddad, Joel Silveira, Rubem Braga e Evaristo de Moraes Filho, à frente de um grupo de estudantes e intelectuais. Reivindicaram o legado da antiga Esquerda Democrática, que deu origem ao antigo PSB, em 1947, sob liderança de João Mangabeira, Hermes Lima, Antônio Cândido, Bruno de Mendonça Lima, Paulo Emílio Sales Gomes e José da Costa Pimenta.
Não se sabe de quem foi a ideia, mas em todos os congressos recentes do PSB — que ganhou musculatura após a entrada de Miguel Arraes, então governador de Pernambuco, em 1990 —, A Internacional é executada com pompa e circunstância. Quase ninguém sabe cantar o hino. No último congresso, não foi diferente, mas o contexto era inadequado, porque as estrelas da abertura do evento, na quinta-feira passada, eram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Geraldo Alckmin. O constrangimento de ambos era visível, sobretudo do segundo, que trocou o PSDB pelo PSB. Alguns, como Carlos Siqueira, presidente do PSB, cantaram o refrão com o punho direito erguido, quando a tradição é usar o punho esquerdo.
O estrago que A Internacional está fazendo nas redes sociais às imagens de Lula e Alckmin ainda não foi aferido, mas o meme faz a festa de ativistas bolsonaristas, com ajuda de robôs, é claro. Nada mais simbólico para corroborar a falsa tese de que Lula e Alckmin são comunistas enrustidos. A grande massa de eleitores não sabe nem do ocorrido, mas a extrema-direita tem o discurso na ponta da língua, ou do dedo, pois estamos falando de redes sociais. O PSB deu farta munição para Lula e Alckmin serem atacados pelos adversários, o que de resto já vinha acontecendo, em razão da aliança com o PT. Fatos como esse, numa campanha eleitoral radicalizada, alimentam a narrativa do bem contra o mal e da liberdade contra o comunismo, adotada pelo presidente Bolsonaro.
E o 1º de Maio? Não é comemorado apenas no Brasil. As manifestações ocorrem nas Américas, na Europa Ocidental, na Rússia, na Índia, na China e em muitos países da África. A data foi escolhida em homenagem aos trabalhadores dos Estados Unidos. Num sábado, 1º de maio de 1886, cerca de 300 mil manifestantes foram às ruas em Nova York, Chicago, Detroit e Milwaukee, entre outras cidades, para pedir a redução da carga horária máxima de trabalho para oito horas por dia. Àquela época, se trabalhava até 16 horas, seis dias na semana.
Em Chicago, os protestos duraram vários dias e foram muito reprimidos, o que resultou na morte de quatro trabalhadores e sete policiais, além de 130 pessoas feridas, em 4 de maio. Dos 2.500 manifestantes, 100 foram presos, sendo oito condenados à morte. Dois tiveram a pena convertida em prisão perpétua, um apareceu morto na cela e os sindicalistas Adolph Fischer, George Engel, Albert Parsons e August Spies foram enforcados. Em 1893, o governador John Altgeld concedeu perdão aos sobreviventes.
As manifestações convocadas por Bolsonaro, portanto, não têm nada a ver com o 1º de Maio, data em que as centrais sindicais fazem grandes festas e manifestações nas principais cidades do país. São contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e têm jeito de provocação golpista. Mais um sinal trocado na política brasileira.
Putin cometeu um erro de cálculo grave na Ucrânia
O presidente russo, Vladimir Putin, está ficando sem tempo. Será que ele conseguirá declarar algum tipo de vitória até 9 de maio, data que marca a vitória da Rússia sobre os nazistas em 1945? Afinal, os ucranianos resistem ferozmente à agressão de Moscou, defendendo suas casas e famílias.
A Rússia, por outro lado, não está demonstrando tal determinação. O mundo tem visto repetidamente que as forças russas estão sofrendo com moral baixo e que seus soldados – alguns com apenas 18 ou 19 anos – não querem lutar nesta guerra.
Eles não estão encontrando um regime fascista na Ucrânia ou uma minoria de língua russa esperando para ser libertada. Os russos estão sendo recebidos com feroz resistência, não com flores. Na verdade, os ucranianos desfrutam de maior liberdade em casa do que os russos comuns em seu país, onde reina o medo, onde os meios de comunicação mentem e onde as autoridades reprimem todo tipo de dissidência.
O exército da Rússia falhou com Putin. Seus propagandistas precisarão sonhar algum tipo de conquista vitoriosa a tempo do desfile de 9 de maio, e então disseminar essa mentira na televisão controlada pelo Estado. Isso, infelizmente, não é novidade na Rússia. Afinal, é o país de Grigory Potemkin.
A cada dia de guerra, mais sombria é a situação do território e maior é o número de soldados mortos. Ao mesmo tempo, restaurantes, cafés e bares de Moscou estão cheios de clientes bebendo vodca e dançando. A vida continua.
E aí está de novo: a esquizofrenia coletiva que é padrão para o "homo sovieticus". Ele vive e sobrevive de mentiras, com medo do serviço secreto, com vergonha de sua própria covardia.
Muitos russos continuam a desviar os olhos hoje, tentando suprimir qualquer conhecimento de crimes cometidos em seu nome. Um dia, quando o massacre de irmãos e irmãs ucranianos não puder mais ser negado, eles alegarão que não sabiam, que não eram responsáveis, e tentarão se safar de tudo, assim como fizeram após o colapso da União Soviética em 1991.
Putin deve isolar ainda mais seu país e escalar o conflito, para sua própria sobrevivência política. Quão grande deve ser seu desespero, se ele agora recorre a ameaças de usar armas nucleares? As armas convencionais aparentemente não produziram os resultados esperados.
As ações dele também estão levando o Ocidente à independência das importações de energia russa em poucos meses, algo que nunca teria ocorrido de outra forma.
A conduta de Putin convenceu a maioria dos alemães – um povo que geralmente prefere a harmonia – a aprovar uma postura dura contra o agressor. Eles estão dispostos a fazer sacrifícios para garantir que a Ucrânia mantenha a vantagem. Parlamentares alemães relutantes em enviar armas pesadas à Ucrânia estão sob pressão. Esquerdistas do Partido Social-Democrata (PSD) e do Partido Verde deram o aval de bilhões de euros em gastos com defesa para fortalecer as próprias forças armadas alemãs.
Em poucos meses, a geralmente sonolenta Alemanha mudou de uma maneira que não ocorria há décadas. Está explorando seus talentos tradicionais: proeza organizacional, diligência e disposição para fazer sacrifícios. Outros países europeus reagiram de forma semelhante. A Finlândia e a Suécia estão considerando ingressar na Otan. E o Japão pacifista decidiu aumentar suas capacidades de defesa à luz da agressão russa. Tudo isso graças a Putin.
Ele revigorou a Otan, a qual alguns membros haviam dito sofrer de "morte cerebral". Os Estados Unidos prometeram mais de 30 bilhões de dólares para ajudar a Ucrânia a se defender. A União Europeia segue o exemplo. Graças a Putin, os livros de encomendas dos fabricantes de armas estão tão cheios quanto durante a Guerra Fria.
Ninguém está falando em uma vitória rápida contra a Rússia – pelo contrário. A Otan espera que esse confronto se arraste por muitos anos. Não se deve permitir nunca que Moscou seja tão forte novamente, capaz de travar guerra contra outras nações.
A Rússia deve ser obrigada a pagar pela reconstrução ucraniana no pós-guerra, deve ser obrigada a retirar as suas tropas da Geórgia e da Moldávia e a deixar Belarus. Durante a década de 1980, o Ocidente economicamente superior usou a corrida armamentista para levar a Rússia à falência. A história está se repetindo. Contudo, a Rússia de hoje é mais fraca do que era a União Soviética. E o Ocidente está maior, mais unido e mais poderoso do que nunca.
Como se chegou a isso? Ninguém na Rússia se atreve a contradizer Putin. Até o ditador soviético Stalin era mais esperto. O Politburo o temia, mas alguns de seus membros o avisavam quando ele estava errado.
Stalin era mais pé no chão do que Putin, preferindo dormir em uma simples cama de campo. Putin, por outro lado, desfruta de uma vida luxuosa em palácios e superiates. Stalin foi cuidadoso, enquanto Putin é um jogador. Ele não entende o mundo moderno. Dizem que ele não usa internet sozinho, nem sabe enviar e-mails.
A conduta dele mais se assemelha à do czar russo Ivan 4º, também conhecido como Ivan, o Terrível, durante a Guerra da Livônia no século 16. A Rússia perdeu essa guerra, lutando contra várias potências menores, e descendeu para o que viria a ser conhecido como o politicamente tumultuado "Smutnoye Vremya", ou Tempo de Dificuldades.
Então quanto tempo durará a guerra da Rússia na Ucrânia? Enquanto os ucranianos estiverem dispostos a defender sua pátria. E quanto ao apoio do Ocidente a Kiev, está apenas começando.
A Rússia, por outro lado, não está demonstrando tal determinação. O mundo tem visto repetidamente que as forças russas estão sofrendo com moral baixo e que seus soldados – alguns com apenas 18 ou 19 anos – não querem lutar nesta guerra.
Eles não estão encontrando um regime fascista na Ucrânia ou uma minoria de língua russa esperando para ser libertada. Os russos estão sendo recebidos com feroz resistência, não com flores. Na verdade, os ucranianos desfrutam de maior liberdade em casa do que os russos comuns em seu país, onde reina o medo, onde os meios de comunicação mentem e onde as autoridades reprimem todo tipo de dissidência.
O exército da Rússia falhou com Putin. Seus propagandistas precisarão sonhar algum tipo de conquista vitoriosa a tempo do desfile de 9 de maio, e então disseminar essa mentira na televisão controlada pelo Estado. Isso, infelizmente, não é novidade na Rússia. Afinal, é o país de Grigory Potemkin.
A cada dia de guerra, mais sombria é a situação do território e maior é o número de soldados mortos. Ao mesmo tempo, restaurantes, cafés e bares de Moscou estão cheios de clientes bebendo vodca e dançando. A vida continua.
E aí está de novo: a esquizofrenia coletiva que é padrão para o "homo sovieticus". Ele vive e sobrevive de mentiras, com medo do serviço secreto, com vergonha de sua própria covardia.
Muitos russos continuam a desviar os olhos hoje, tentando suprimir qualquer conhecimento de crimes cometidos em seu nome. Um dia, quando o massacre de irmãos e irmãs ucranianos não puder mais ser negado, eles alegarão que não sabiam, que não eram responsáveis, e tentarão se safar de tudo, assim como fizeram após o colapso da União Soviética em 1991.
Putin deve isolar ainda mais seu país e escalar o conflito, para sua própria sobrevivência política. Quão grande deve ser seu desespero, se ele agora recorre a ameaças de usar armas nucleares? As armas convencionais aparentemente não produziram os resultados esperados.
As ações dele também estão levando o Ocidente à independência das importações de energia russa em poucos meses, algo que nunca teria ocorrido de outra forma.
A conduta de Putin convenceu a maioria dos alemães – um povo que geralmente prefere a harmonia – a aprovar uma postura dura contra o agressor. Eles estão dispostos a fazer sacrifícios para garantir que a Ucrânia mantenha a vantagem. Parlamentares alemães relutantes em enviar armas pesadas à Ucrânia estão sob pressão. Esquerdistas do Partido Social-Democrata (PSD) e do Partido Verde deram o aval de bilhões de euros em gastos com defesa para fortalecer as próprias forças armadas alemãs.
Em poucos meses, a geralmente sonolenta Alemanha mudou de uma maneira que não ocorria há décadas. Está explorando seus talentos tradicionais: proeza organizacional, diligência e disposição para fazer sacrifícios. Outros países europeus reagiram de forma semelhante. A Finlândia e a Suécia estão considerando ingressar na Otan. E o Japão pacifista decidiu aumentar suas capacidades de defesa à luz da agressão russa. Tudo isso graças a Putin.
Ele revigorou a Otan, a qual alguns membros haviam dito sofrer de "morte cerebral". Os Estados Unidos prometeram mais de 30 bilhões de dólares para ajudar a Ucrânia a se defender. A União Europeia segue o exemplo. Graças a Putin, os livros de encomendas dos fabricantes de armas estão tão cheios quanto durante a Guerra Fria.
Ninguém está falando em uma vitória rápida contra a Rússia – pelo contrário. A Otan espera que esse confronto se arraste por muitos anos. Não se deve permitir nunca que Moscou seja tão forte novamente, capaz de travar guerra contra outras nações.
A Rússia deve ser obrigada a pagar pela reconstrução ucraniana no pós-guerra, deve ser obrigada a retirar as suas tropas da Geórgia e da Moldávia e a deixar Belarus. Durante a década de 1980, o Ocidente economicamente superior usou a corrida armamentista para levar a Rússia à falência. A história está se repetindo. Contudo, a Rússia de hoje é mais fraca do que era a União Soviética. E o Ocidente está maior, mais unido e mais poderoso do que nunca.
Como se chegou a isso? Ninguém na Rússia se atreve a contradizer Putin. Até o ditador soviético Stalin era mais esperto. O Politburo o temia, mas alguns de seus membros o avisavam quando ele estava errado.
Stalin era mais pé no chão do que Putin, preferindo dormir em uma simples cama de campo. Putin, por outro lado, desfruta de uma vida luxuosa em palácios e superiates. Stalin foi cuidadoso, enquanto Putin é um jogador. Ele não entende o mundo moderno. Dizem que ele não usa internet sozinho, nem sabe enviar e-mails.
A conduta dele mais se assemelha à do czar russo Ivan 4º, também conhecido como Ivan, o Terrível, durante a Guerra da Livônia no século 16. A Rússia perdeu essa guerra, lutando contra várias potências menores, e descendeu para o que viria a ser conhecido como o politicamente tumultuado "Smutnoye Vremya", ou Tempo de Dificuldades.
Então quanto tempo durará a guerra da Rússia na Ucrânia? Enquanto os ucranianos estiverem dispostos a defender sua pátria. E quanto ao apoio do Ocidente a Kiev, está apenas começando.
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