quarta-feira, 20 de março de 2019
Bolsonaro com Trump: só faltou pedir autógrafo
Jair Bolsonaro realizou um sonho. O presidente não disfarçou a emoção ao despontar ao lado de Donald Trump nos jardins da Casa Branca. Parecia um garoto diante de um ídolo do futebol. Só faltou pedir autógrafo.
É normal que líderes de nações amigas troquem gentilezas em público. Bolsonaro foi muito além do protocolo. Disse que sua admiração pelos EUA aumentou depois da eleição de Trump. Imitou chavões do anfitrião, que costuma acusar os críticos de difundir “fake news”. Depois afirmou que acredita “piamente” na reeleição do republicano.
“Obrigado. Eu concordo!”, gracejou Trump. A declaração pode causar problemas ao Brasil se o Partido Democrata voltar ao poder em 2020.
Na véspera, Bolsonaro escolheu a Fox News para uma entrevista exclusiva. Apesar da proximidade com o governo local, a emissora não poupou o convidado. “Nunca ninguém emulou tanto o presidente Trump como o presidente do Brasil”, resumiu. O brasileiro foi apresentado como um político de “extrema direita”, que manteria “intensas relações familiares com policiais corruptos e gangues paramilitares”.
Para afagar o aliado, Bolsonaro elogiou a ideia de erguer um muro na fonteira com o México. Depois afirmou que “a grande maioria” dos imigrantes “não tem boas intenções nem quer fazer bem ao povo americano”. Ontem ele tentou corrigir a frase, que ofendeu milhares de brasileiros. “Peço desculpas aí”, disse.
O presidente voltou a apequenar o Itamaraty na visita. Ele levou o filho Eduardo para a conversa com Trump no Salão Oval, enquanto o ministro Ernesto Araújo ficou do lado de fora. A escolha reforçou a ideia de que o Brasil tem um chanceler decorativo. Quem manda na diplomacia é o Zero Três.
No front comercial, Bolsonaro trocou vantagens concretas por promessas que podem ou não se realizar. Ele abriu mão de benefícios na OMC, retirou os impostos da importação de trigo americano e liberou o lançamento de foguetes na Base de Alcântara. “Economizaremos muito dinheiro”, festejou Trump, enquanto o brasileiro sorria a seu lado.
É normal que líderes de nações amigas troquem gentilezas em público. Bolsonaro foi muito além do protocolo. Disse que sua admiração pelos EUA aumentou depois da eleição de Trump. Imitou chavões do anfitrião, que costuma acusar os críticos de difundir “fake news”. Depois afirmou que acredita “piamente” na reeleição do republicano.
“Obrigado. Eu concordo!”, gracejou Trump. A declaração pode causar problemas ao Brasil se o Partido Democrata voltar ao poder em 2020.
Na véspera, Bolsonaro escolheu a Fox News para uma entrevista exclusiva. Apesar da proximidade com o governo local, a emissora não poupou o convidado. “Nunca ninguém emulou tanto o presidente Trump como o presidente do Brasil”, resumiu. O brasileiro foi apresentado como um político de “extrema direita”, que manteria “intensas relações familiares com policiais corruptos e gangues paramilitares”.
Para afagar o aliado, Bolsonaro elogiou a ideia de erguer um muro na fonteira com o México. Depois afirmou que “a grande maioria” dos imigrantes “não tem boas intenções nem quer fazer bem ao povo americano”. Ontem ele tentou corrigir a frase, que ofendeu milhares de brasileiros. “Peço desculpas aí”, disse.
O presidente voltou a apequenar o Itamaraty na visita. Ele levou o filho Eduardo para a conversa com Trump no Salão Oval, enquanto o ministro Ernesto Araújo ficou do lado de fora. A escolha reforçou a ideia de que o Brasil tem um chanceler decorativo. Quem manda na diplomacia é o Zero Três.
No front comercial, Bolsonaro trocou vantagens concretas por promessas que podem ou não se realizar. Ele abriu mão de benefícios na OMC, retirou os impostos da importação de trigo americano e liberou o lançamento de foguetes na Base de Alcântara. “Economizaremos muito dinheiro”, festejou Trump, enquanto o brasileiro sorria a seu lado.
Quem muito alardeia, algo esconde
O inimigo é a mente gramofone, concordemos ou não com o disco que esta sendo tocado no momentoGeorge Orwell, "Como morrem os pobres"
Pobres pagam mais pela água do que ricos
De acordo com o documento, estudos internacionais mostram bons retornos sociais e econômicos de investimentos em serviços de água, saneamento e higiene.
O relatório alerta que um futuro de crescente escassez é previsível, o que trará efeitos negativos para a economia global. Até o ano 2050, 45% do Produto Interno Bruto (PIB) global e 40% da produção mundial de grãos serão ameaçados por danos ambientais e falta de recursos hídricos.
O uso de água tem aumentado cerca de 1% ao ano em todo o mundo. A taxa deve se manter estável até 2050, quando a demanda representará um acréscimo de entre 20% e 30% em comparação aos níveis atuais, puxada pelos setores industrial e doméstico. Hoje mais da metade da população mundial não tem acesso a água limpa e saneamento.
Na América Latina e Caribe, afirma o relatório, milhões ainda vivem sem fonte adequada de água potável, enquanto um número ainda maior não dispõe de saneamento. Esses grupos estão concentrados nos cinturões de pobreza das periferias de muitas cidades.
Segundo a Unesco, em muitos países da região, a descentralização deixou o setor de abastecimento e saneamento fragmentado, "composto por inúmeros prestadores de serviço, sem reais possibilidades de alcançar economias de escala ou viabilidade econômica" e sob a responsabilidade de municípios sem recursos e incentivos necessários para abordar a complexidade do problema de forma efetiva.
Mesmo na Europa e nos Estados Unidos, 57 milhões de pessoas não têm encanamento em casa e 36 milhões não têm saneamento básico, afirmou a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, na apresentação do estudo. Entre outros, comunidades do Canadá e da Índia têm desvantagens severas, já que 40% delas possuem apenas água potável de qualidade baixa, o que acarreta consequências para a saúde.
Além disso, mais de 2 bilhões de pessoas vivem em países com "alto estresse hídrico" – onde mais de um quarto da água disponível é consumida. Estudos recentes apontam que mais de 50 países são afetados por estresse hídrico e que em alguns deles cerca de 70% dos recursos já estão sendo usados.
Assim, grandes reservas são consumidas e a disponibilidade de água chega ao limite. Mais de 20 países são afetados, incluindo Egito e Paquistão.
Um fardo maior para os pobres
O título do relatório da Unesco se refere a um aspecto chave do levantamento: a desigualdade do acesso. Pessoas que são pobres ou sofrem discriminação social têm maior probabilidade de ter acesso limitado a água e saneamento adequados, observou o relatório.
Como exemplo de grupos desfavorecidos e que experimentam desigualdades "na garantia de seus direitos humanos a água potável e saneamento seguro", o documento cita pessoas que sofrem discriminação por causa do sexo, idade, etnia, religião, além de minorias de outra natureza, como indígenas, migrantes e refugiados. No entanto, a pobreza é o fator de destaque.
Segundo o editor-chefe do relatório, Rick Connor, casas urbanas ricas com água encanada tendem a pagar muito menos por litro de água, enquanto pessoas pobres que moram em favelas muitas vezes precisam comprar água de caminhões, quiosques e outros fornecedores, gastando cerca de 10 a 20 vezes mais.
"A percepção errada é que eles não têm água porque não podem pagar por ela — e isso está completamente errado", disse Connor à Fundação Thomson Reuters.
Quase metade da população que consome água potável de fontes desprotegidas no mundo vive na África Subsaariana, onde apenas 24% dos habitantes têm acesso a água potável segura.
Diante dos resultados do relatório, Ulla Burchardt, do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) e membro da comissão alemã na Unesco, afirmou que a Alemanha pode fazer mais.
Embora o país esteja no caminho certo no âmbito da garantia dos direitos à água, "somos parcialmente responsáveis pelos grandes problemas em outras regiões do mundo, como a importação de algodão ou de carne bovina, cuja produção pode demandar uso intensivo de água", declarou Burchardt.
"A garantia de acesso à água e ao saneamento são direitos humanos", disse ela. "Mas bilhões de pessoas não têm esses diretos concretizados", completou.
Deutsche Welle
Os canhoto e o plausível
O fato concreto é que me entendo como canhoto. Usar a mão e o pé esquerdos é imanente ao meu ser porque não me foi ensinado. Pelo contrário, o que tentaram fazer comigo foi corrigir-me, tratando meu canhotismo como um defeito. “Robertinho é canhoto...”, diziam resignados e para espanto meu os pais, avós e tios. Meus irmãos e amigos — porém, submetidos às mesmas opressões daquilo que chamamos de “processo de socialização” ou de “civilização”, que nos mandava calar a boca e a descobrir que “criança não tem vontade” — achavam bacana os meus surpreendentes chutes de esquerda.
Na escola primária, fui assediado por colegas por ser um eterno novato chamado de “mata!” ou “da mata...” e por meus professores por escrever com a minha mão certa que, aprendi, era errada. Um dia, levei uma reguada na mão esquerda. Um acontecimento que o velho em mim enxerga como importante mas pequeno, diante das outras pauladas que ganhei na vida depois de “grande”.
Os eventos chocantes ocorridos numa escola — lugar destinado ao compreender, explicar, valorizar e afirmar a transmissão de ideais ou valores entre gerações, nisso que chamamos de “educação” — nos põem diante do absurdo. Eles nos confrontam com uma plena ausência de plausibilidade moral. Pois quando a agressividade e a violência assassina dos tiros substituem a paciência e a sabedoria das palavras, rompem-se as rotinas. O súbito sumiço do regular nos leva a uma busca desesperada de rumo dentro de nós mesmos.
Em outra parte do mundo, entretanto, num país que no nosso modo reacionário de pensar seria, por definição, melhor e “muito mais civilizado do que o Brasil”, ocorre algo do mesmo teor em mesquitas. Em templos islâmicos que, tal como na escola e na universidade, se busca minorar o sofrimento e se salientam a esperança e a fé num mundo melhor.
Esses rompimentos violentos de rotinas — fundados na ignorância, crueldade, radicalismo, negação absoluta da realidade, má-fé e agressão em todos lugares mas, acima de tudo, nos países permanentemente tidos como modelares e “civilizados” — deveriam nos levar a duvidar, ou ao menos questionar, se realmente existe alguma comunidade imune aos dilemas humanos; se alguma religião, regime econômico ou político resolveu de modo cabal os problemas decorrentes dos valores, hábitos e rotinas instituídos, os quais reprimem e entram em conflito entre si.
Tudo indica que não há neste mundo humano, reiteradamente programado e reprogramado, nenhuma receita infalível de felicidade e plenitude além e aquém das que continuamos a seguir tenaz e honestamente. Em nome de Deus, ou debaixo da nobre crença de compreender, rejeitar, aceitar, corrigir e ter o equilíbrio e a coragem para começar de novo...
Se não conseguimos entender um canhoto, como engavetar nas nossas mentes duas guerras mundiais, Hiroshima, Nagasaki, inúmeros conflitos locais e uma permanente “guerra fria”?
Estimado leitor, pare para pensar o seguinte: essas imensas irracionalidades geopolíticas que levaram à morte planejada e legitimada de milhões de vidas transformam em brincadeira de criança o que, transtornados, assistimos com horror em Suzano e na Nova Zelândia.
Não é fácil descobrir como o incrível progresso da tecnologia digital pode, ironicamente, transformar-se num filme de terror. Isso para não pensarmos no aquecimento global, cujos efeitos mostram com uma clareza alarmante como amor e morte estão profundamente relacionados.
A mim me surpreendem as afirmações de que a violência não faz parte da tradição brasileira quando sabemos que o Brasil nasceu e cresceu debaixo da escravidão negra combinada com aristocracia branca. E sem até hoje dar valor à vida intelectual e aos locais onde tal empresa se realiza: as escolas, os museus e as universidades onde as gerações se encontrem para o confronto e para uma indispensável interdependência, esse conceito básico do processo de humanização.
Neste sentido, a ausência de motivos claros para a bestial agressividade ocorrida em Suzano e outros lugares nos obriga a saber mais sobre nos mesmos.
O mal-estar da civilização invocado por Freud em 1930 chega sem aviso prévio. Como uma bofetada ou uma irônica traição. Resta-nos afirmar que o entendimento deve preceder o julgamento e que a compreensão deve ter e ser a prioridade.
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