Depois de tanto tempo, de tanta repetição, é perfeitamente compreensível que estejamos cansados. Que nossos ouvidos já estejam calejados. Que os olhos já se acostumaram. Que tenhamos aceitado destino aparentemente inevitável da agonia sem fim.
O distinto público não consegue mais apontar a diferença entre os membros da cleptocracia que assola a sociedade, o governo, as instituições. Parece tudo igual. E talvez seja mesmo.
Optamos pela mediocridade. Ninguém mais acredita dá para consertar. Agora ou no futuro previsível. Preferimos a estabilidade reservada aqueles que não sonham. Se despiorar, tudo bem. Não sonhamos. Não desejamos muito. Acreditamos em nada.
E quando assistimos o previsível e esperado colapso da pinguela, ficamos atônitos. Sem razão. Surpresa, seria que uma pinguela fosse conexão satisfatória entre o presente e um futuro mais digno.
Esquecemos nada. Aprendemos nada. E de alguma maneira esperamos que as coisas melhores pelas mãos dos mesmos líderes que comandaram o ataque aos cofres, a dignidade de todos e a cidadania. Lembramos de tudo claramente. E aprendemos nada.
Memoria não nos falta. Vergonha, por outro lado, está em falta. E desaparecendo rapidamente.
Elton Simões