segunda-feira, 19 de junho de 2017

Memória e vergonha

Já lá se vai meio ano. 6 meses a se somarem aos últimos 4 jogados fora. Padecemos da maldição de Sísifo. Continuamos condenados a reviver a mesma história, as vezes com personagens novos, sem, entretanto, nada completar, nada conseguir, nada mudar.

Depois de tanto tempo, de tanta repetição, é perfeitamente compreensível que estejamos cansados. Que nossos ouvidos já estejam calejados. Que os olhos já se acostumaram. Que tenhamos aceitado destino aparentemente inevitável da agonia sem fim.

O distinto público não consegue mais apontar a diferença entre os membros da cleptocracia que assola a sociedade, o governo, as instituições. Parece tudo igual. E talvez seja mesmo.

Optamos pela mediocridade. Ninguém mais acredita dá para consertar. Agora ou no futuro previsível. Preferimos a estabilidade reservada aqueles que não sonham. Se despiorar, tudo bem. Não sonhamos. Não desejamos muito. Acreditamos em nada.


Os sonhos morreram sem foguete, reparo ou bilhete, luar ou violão. Apenas morreram. O sofrimento ficou sem sentido. Não mais construímos pontes. Acreditamos ser trabalhoso e inútil. Preferimos pinguelas, mesmo que claramente podres. Precariedade faz tempo não ser motivo de incomodo.

E quando assistimos o previsível e esperado colapso da pinguela, ficamos atônitos. Sem razão. Surpresa, seria que uma pinguela fosse conexão satisfatória entre o presente e um futuro mais digno.

Esquecemos nada. Aprendemos nada. E de alguma maneira esperamos que as coisas melhores pelas mãos dos mesmos líderes que comandaram o ataque aos cofres, a dignidade de todos e a cidadania. Lembramos de tudo claramente. E aprendemos nada.

Memoria não nos falta. Vergonha, por outro lado, está em falta. E desaparecendo rapidamente.

Elton Simões

Hora de desligar aparelhos

No terceiro ano da Lava-Jato, um assessor do presidente é filmado correndo com uma mala preta. No interior da mala, R$ 500 mil de uma pizzaria. Antigamente, tudo acabava em pizza. Aqui começou numa pizzaria chamada Camelo. Depois da delação da JBS, Temer entrou em guerra com a Lava-Jato. Os métodos são os mesmos, politizar a denúncia, investir contra juízes e investigadores. Os detalhes da denúncia da JBS são conhecidos, foram repetidos ad nauseum na televisão. A iniciativa de Temer ao partir para o confronto marca mais um capítulo de uma resistência histórica à Lava-Jato.

Nas gravações divulgadas, Lula foi o primeiro a articular uma reação, criticando os procuradores, confrontando Sérgio Moro, politizando ao máximo a luta ao que chama de República de Curitiba. Lula tentou articular uma reação. Ele percebeu que todo o sistema politico partidário poderia ruir. Não conseguiu avançar. Havia a possibilidade do impeachment, e o tema da luta contra a Lava-Jato caiu para segundo plano.
                                  

Num outro compartimento, as gravações de Sérgio Machado mostram a cúpula do PMDB tramando para deter as investigações. Nas intervenções de Romero Jucá fica claro que a expectativa era deter a sangria. Mas ao mesmo tempo era preciso derrubar o PT. Possivelmente, julgavam-se mais capazes, uma vez no poder, de realizar o sonho de preservação do sistema.

As intervenções de Aécio Neves, presidente do PSDB, são mais ambíguas. Aécio não assumia publicamente que era contra a Lava-Jato. No entanto, articulava leis para neutralizá-la, seja pela anistia ao caixa dois ou pela Lei de Abuso de Autoridade. No terceiro ano da Lava-Jato, Aécio é gravado tratando de dinheiro com Joesley Batista, um empresário, por boas razões, investigado em várias frentes.

A resistência do velho sistema foi se esfacelando até encontrar, agora em Temer, o último general, com uma tropa de veteranos da batalha de Eduardo Cunha, como o deputado José Carlos Marin. É um presidente impopular que se escora apenas na cativante palavra estabilidade. A mesma que Gilmar Mendes utiliza ao absolver a chapa Dilma-Temer diante de provas que o relator Herman Benjamin classificou de oceânicas.

Que diabo de estabilidade é essa? O Tribunal Superior Eleitoral, num espetáculo caro aos cofres públicos, perdeu toda a credibilidade. Mas mesmo ali, julgando um fato passado, a Lava-Jato estava em jogo. Não só porque desprezaram provas da Odebrecht.

O ministro Napoleão Nunes mostrou-se um bravo soldado do sistema em agonia. Referindo-se aos seus delatores, falou na ira do profeta passando a mão pelo pescoço, como se fosse decapitá-los. Num mesmo espetáculo, soterram provas contundentes, e um deles se comporta, simbolicamente, como se fosse um terrorista do Estado Islâmico.

Nada mais instável do que abalar a confiança na Justiça. As reformas necessárias, os 14 milhões de desempregados são uma realidade inescapável. Mas a estabilidade que o núcleo do governo está buscando é uma proteção contra a Lava-Jato. Oito ministros são investigados. O chamado núcleo duro, Moreira Franco e Padilha se agarram ao foro privilegiado.

Olhando o futuro próximo, não é a estabilidade que vejo, e sim turbulência. Um presidente desmoralizado pelos fatos policiais vai buscar todas as maneiras de se agarrar ao poder. Quando tiver de hesitar entre a estabilidade fiscal e a do seu cargo, certamente lançará mão de pacotes de bondades.

Mesmo um presidente indireto teria de seguir a sina de Lula, Renan, Jucá, Aécio e do próprio Temer. Uma das condições para que o Congresso escolha alguém é a promessa de proteção contra a Lava-Jato. Tarefa inglória. Todos falharam até agora. Por que um presidente nascido de uma escolha indireta teria êxito?

O seu trabalho seria desenvolvido num período eleitoral. A experiência mostra que nesses períodos a sociedade tem um peso maior sobre as decisões do Congresso.

Isso completa a visão de que não há estabilidade à vista, mas uma rota de turbulência. A escolha portanto é voar para frente ou para trás. Desligar ou não os aparelhos do velho e agonizante sistema politico partidário, ancorado na corrupção.

A ausência das manifestações de rua não significa que a sociedade perdeu o interesse. Pelo contrário, o impacto de espetáculos como o do TSE tem um longo alcance. É muito provável que, num momento em que achar necessário, vá comparecer com a célebre voz da rua. Se tudo o que aconteceu passar em branco, corremos o risco de nos transformar numa nação de zumbis. Com a exceção de praxe: os índios isolados da Amazônia.

Fernando Gabeira

Gente fora do mapa

Salt worker - Nha Trang, Vietnam
Nha Trang,

Briga de Temer e Joesley não pode ser apartada

O presidente da República e o dono da JBS decidiram trocar insultos na frente das crianças. Joesley Batista disse que Temer é “o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”. Em resposta, Temer declarou que Joesley é “o bandido notório de maior sucesso na história brasileira.” Atônita, a platéia observa o espetáculo em silêncio. Não convém discutir com peritos no assunto, pois ambos podem ter razão.

Muita gente está preocupada em Brasília com os desdobramentos políticos do arranca-rabo. A turma do deixa-disso ameaça entrar em cena. A interrupção da desavença é o pior que poderia acontecer. A multidão vaiaria. E talvez gritasse, em uníssono: “Tem que manter isso, viu?”

Arranca-rabo nascido de um encontro fraternal do “chefe da quadrilha” com o “bandido notório” no escurindo do Palácio do Jaburu é um tipo de briga que pede para não ser apartada. Há um enorme interesse dos brasileiros pela continuidade do rififi. Estão todos ávidos para saber até onde os contendores permitirão que o melado escorra.

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O espetáculo ficaria muito melhor se Lula e Aécio Neves —que Joesley acusa, respectivamente, de ter “institucionalizado a corrupção” e de ser “tão corrupto quanto os outros”— entrassem na confusão com a mesma disposição de cuspir fogo exibida por Temer.

As crianças na faixa etária de 5 a 90 anos ficariam esacandalizadas. Mas uma briga generalizada talvez ajudasse a esclarecer esse estranho período da história brasileira em que um governo em decomposição do PT foi substituído por uma administração podre do PMDB e a alternativa a ambos, representada pelo PSDB, não consegue demonstrar a diferença entre tucanos e protozoários.

Recolham os cacos

Estamos vivendo um daqueles momentos da história de uma sociedade em que o futuro se impõe sobre o presente e o passado e que algo novo terá que ser construído pelo esforço de todos.
 
A operação Lava-Jato já destruiu, com o que foi revelado até agora, as bases de um sistema político iniciado com a redemocratização e que certamente não existirá mais

Nunca tantos emprenharam pelos ouvidos

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A fofoca tem três lados bonitos: a pessoa não fala de si mesma, por modéstia; está preocupada com a vida da outra, por altruísmo; e só fala pelas costas, pois seria uma indelicadeza dizer o que diz, que às vezes é muito rude, na frente daqueles a quem critica. Prefere, então, falar pelas costas.

Fofocas, celeumas e polêmicas são inerentes à vida democrática. Proibi-las, além de tarefa inócua, seria uma insensatez. Mas é preciso tomar cuidado e proteger-se das devastações que podem causar.

Polêmica tem origem no Grego pólemos, guerra. Foi palavra que migrou do campo de batalha para os parlamentos.

Igualmente do Grego veio celeuma, de kéleuma, o canto cadenciado do chefe dos remadores com o fim de fazer com que todos unificassem o movimento dos remos para o navio avançar.

Já fofoca, de origem controversa, deriva do Quimbundo fuka, remexer, repetindo-se a primeira sílaba alterada de “fu” para “fo”, com provável influência do Banto, e equivale ao Inglês gossip, mexerico.

Só que gossip é de origem religiosa, pois teria o significado de God-sib, a Deus confiado, expressão nascida ao redor de pias batismais, em cerimônias de casamento, em funerais etc., locais propícios a fofocas, como se sabe.

Já o Francês foutriquet, de foutre, do Latim clássico futuere pelo Latim vulgar futere, deu futriqueiro no Português, mas o étimo é o verbo que se tornou o conhecido palavrão para designar o ato sexual, mudado para o eufemismo “fazer amor.”

No canto XII da Odisseia, obra construída oralmente e que foi fixada na escrita por volta do século VIII a.C., Homero conta-nos que para evitar o naufrágio do navio, quando navegava nas proximidades da ilha de Capri, Ulisses tomou duas providências: tapar os ouvidos dos marinheiros com cera e amarrar-se ao mastro da embarcação.

O comandante sabia que o canto das sereias poderia levar o barco de encontro aos rochedos e matar a todos. Ou ainda que, carentes da presença feminina, tanto tempo já no mar sem suas amadas, os marinheiros confundiriam o sibilar dos ventos costeiros com murmúrios amorosos femininos e se lançariam ao mar à procura daqueles sons, morrendo do mesmo modo.

Nós vivemos o reinado das sereias, de seus cantos e de seus feitiços.. Elas são belas, conquanto tenham rabo de peixe, mas fazem um serviço trágico: enfeitiçam aqueles que as ouvem, levando-os à tragédia.

Nunca o barco chamado Brasil precisou tanto de um Ulisses no comando. Pois nunca houve tantos emprenhando o povo pelos ouvidos, uma expressão nascida na Idade Média, quando um arcebispo de Constantinopla, chamado Proclus, fez um sermão em que defendia que Nossa Senhora tinha sido emprenhada pelos ouvidos, ao receber do anjo Gabriel a notícia de que estava grávida do Altíssimo.

Devido a esta crença, imagens cristãs de Nossa Senhora representam a mãe Deus com o ouvido em forma de útero, em cujo interior cresce um bebê.

Em Brasília, cresce um estranho bebê: o país estava melhorando seus índices econômicos quando, de repente, dia sim, dia também, uma fofoca varre todo o território nacional dando conta de que nada vai dar certo.

É um fenômeno muito estranho!

Imagem do Dia

Capela do Senhor da Pedra, em Vila Nova de Gaia (Portugal) 

Aulas em meio à guerra no Rio: 'Ele se jogou sobre as crianças para protegê-las'

De sua carteira, Renan, de 13 anos, não consegue enumerar mais de três países sem travar – “Brasil, humm... Argentina, México, ah...” –, mas diz de cabeça nove tipos de armas: “Snipe, AK-47, 7.65, AR-15, Bazuca, calibre .50, calibre 12, Glock, giratória...”. Na classe ao lado, Guilherme, de 14 anos, também é capaz de imitar o som dos tiros: a rajada espaçada do AK-47, o eco seco da pistola e o estrondo de um lança-granadas. “É o que escutamos todos os dias”, justificam. Os dois, garotos negros e pobres, são alunos de uma escola municipal do Rio de Janeiro encravada em um complexo de favelas dividido por um rio fétido, uma linha de trem e a guerra entre três facções de traficantes, a apenas 36 quilômetros do Cristo Redentor.

Dezenas de milhares de crianças no Rio estudam em colégios de áreas de conflito, dominadas pelos traficantes e submetidas às frequentes incursões da polícia. São bairros em guerra. Os tiroteios são quase diários, mortos, balas perdidas e os garotos crescem aprendendo protocolos para sobreviver em casa, mas também nas aulas. A crise econômica pela qual atravessa o Rio aumentou todos os índices de violência, a polícia sofre com falta de recursos e o tráfico de drogas intensificou suas atividades criminosas e suas disputas: a escola já não é um lugar seguro. Nos primeiros 82 dias letivos de 2017, só houve sete dias de paz em que nenhum dos mais de 1.500 colégios municipais precisou fechar suas portas, foram quase 120.000 crianças sem aulas, segundo a secretaria municipal de Educação.

Quando o fogo cruzado surpreende as crianças na sala de aula os professores já sabem o que fazer. Todos correm aos corredores e deitam no chão esperando o silêncio voltar. Foi o que aconteceu em 31 de março na escola de Renan e Guilherme quando a polícia entrou na rua do colégio em pleno horário escolar. Dois traficantes foram atingidos e depois executados diante do muro da escola e Maria Eduarda, de 13 anos, que estava na aula de educação física no pátio, não teve tempo de se esconder. Vários tiros de fuzil a atingiram enquanto bebia água e pelo menos um deles saiu da arma de um policial. O muro do colégio, com mais de 20 perfurações de fuzil, era a imagem da barbárie.

“Morreu na frente de todo mundo. Tinha acabado de dizer o quanto nos amava. É desumano”, lamenta Fábio, de 15 anos, amigo de Maria Eduarda. O professor de educação física, “um negão enorme”, como todos os colegas o descrevem, está de licença desde então. “Naquele dia ele se jogou por cima de um monte de crianças para protegê-las das balas. Ainda não consegue entrar na escola sem chorar”, conta o diretor, Luiz Menezes, que ainda parece estar em estado de choque.


Após quase um mês sem aulas, dedicado ao cuidado psicológico de alunos e professores e atividades lúdicas para aliviar o trauma, a escola voltou à rotina. Tem pela frente o desafio de recuperar o conteúdo atrasado, mas também apagar as marcas da tragédia. O muro já não é branco e os sinais da perícia policial que circulou com uma caneta marca-texto cada impacto de tiro foram substituídos por um mural de um céu azul em que voam pássaros e peixes coloridos feitos com pneus. Plantas crescem, pintaram a palavra "paz" em letras grandes e coloridas e um eletrocardiograma com 23 corações intercalados percorre a extensão da parede. Um para cada bala. “Foi nossa forma de recomeçar, tentando apagar as marcas da violência, que nunca pensamos que chegaria aqui dentro. Todos pensávamos que, apesar de tudo, esse era um lugar seguro”, diz Menezes.

Virar a página não está sendo tão fácil, pois nada mudou. Ao se dobrar a esquina continua no mesmo lugar um ponto de venda de drogas protegido por adolescentes com fuzis nos ombros e os arredores da escola continuam sendo o lugar ideal para que os criminosos retirem a carga dos caminhões roubados, uma de suas atividades mais lucrativas, intensificada com a crise, e que age como um imã para as operações policiais. Se perguntarmos em uma das salas de aula quantos já perderam um parente por culpa da violência, 17 de 22 alunos levantarão as mãos. “O maior impacto dessa violência é que os alunos ficam tão próximos dela que não veem que há alternativa, não cultivam expectativas”, opina o professor de História, Leonardo Bruno da Silva.

Porque nada acontece

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Se você anda estupefato por nada ter acontecido ainda diante da avalanche de fatos, eis a explicação: nada acontece porque acontecer alguma coisa não interessa a ninguém que pode fazer alguma coisa acontecer. Decepcionante talvez, mas com certeza didático. Você que sai à rua atrás de miragens tem aqui a chance de crescer. Políticos movem-se pelo poder

Joesley é fruto da avacalhação do Brasil doente

O Brasil está tão avacalhado que um empresário, que fez fortuna à sombra do dinheiro dos bancos públicos, chama o presidente da república de “chefe de quadrilha” e não acontece nada. Joesley Batista, dono da JBS, que goza das benesses da Procuradoria Geral da República, revelou-se o capo di tutti capi em um país desgovernado e moralmente doente. É réu confesso em vários crimes de suborno e formação de quadrilha. Por muito tempo financiou as campanhas do PT com recursos que lhe chegavam às mãos pelos ministros da Fazenda Palocci e Mantega, com a conivência da dupla Lula/Dilma. Agora, com o cinto apertado pelas dívidas, decidiu novamente vomitar o que sabe para se livrar da cadeia.

A entrevista de Joesly à revista Época é um escárnio. Lula, o cara a quem ele acusa de ter “institucionalizado a corrupção no Brasil”, já minimizou as declarações dele ao dizer que nada do que o empresário falou tem valor jurídico. Mas, com certeza, mostra definitivamente como os políticos, principalmente aqueles que tinham a chave do cofre, envolveram-se promiscuamente com empresários bandidos e saqueadores do dinheiro público. Transformaram esses aventureiros de armazéns de secos e molhados em bilionários da noite para o dia para depois serem vítimas de suas próprias garras afiadas. Hoje pagam um preço alto pela cumplicidade inescrupulosa que tiveram com esses oportunistas gananciosos que lhes garantiram o poder.

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É bom, entretanto, colocar os pontos nos is. Nessa guerra de delações e de revelações desavergonhadas não existe ninguém inocente. Pelo que se viu até agora tanto o PT como PMBDB e PSDB estão no lixo da história. O último dos moicanos a tentar se segurar na corda bamba fazendo malabarismo para não cair é o Temer, herança do próprio PT que caiu do poder, mas deixou esse legado imoral para o país. Na essência, o Brasil vive no esgoto. Isso porque o Partido dos Trabalhadores, chefiado por Lula, Palocci, Zé Dirceu, Mantega, Vaccari, Vargas e Dilma abriram a estação de tratamento para despejar os dejetos palacianos in natura em todos os lugares. Não é exagero dizer que nesse aterro sanitário o país fede de um canto a outro.

As declarações intempestivas de Joesly contra os dois presidentes, que a gente sabe que não são flores que se cheirem, só mostram quanto envolvimento esses dois senhores – Temer e Lula – tinham com a escória do empresariado. Só um cara que ainda guarda segredos inconfessáveis da república e se diz “achacado” por esses políticos, como ele disse na entrevista, dispara misseis com essa potência em direção a um presidente. Encurralado, com dívidas estratosféricas, ameaçado de ir para prisão nos Estados Unidos que, pela legislação, não permitem que empresários estabelecidos lá subornem autoridades em outros países, Joesley visualiza o fim do império que se aproxima.

Mas até la, o que desperta mais curiosidade em todo esse imbróglio é saber que Joesley recebeu um salvo conduto do Rodrigo Janot e do Ministro Edson Fachin, do STF, para ficar em liberdade e deixar o país depois de tanta revelação escandalosa que o inclui também como partícipe da farra financeira e da corrupção. Fachin, sabe-se agora, precisou do lobista da JBS, Ricardo Saud, também delatou, para convencer os senadores da sua indicação para o tribunal. Quanto a Janot, não se sabe até agora porque tanta benevolência com Joesley que se revelou o cérebro por trás de toda engrenagem da organização criminosa.

A participação de Joesley e seus irmãos na cooptação dos políticos é tão insolente que leva a população a perguntar como esses senhores conseguiram convencer o governo petista de que abrir empresa lá fora era melhor economicamente para o Brasil com a criação de multinacionais. Pelo menos foi esse argumento que eles usaram para levar os bilhões do BNDES para os Estados Unidos e outros países a juros maternais. Isso é a negação do que o Lula pregava quando chegou ao governo. Ele dizia que a Petrobrás deveria refazer sua política de compra, produzindo internamente para incrementar a indústria local e gerar emprego e renda no Brasil.

Nada disso aconteceu. Pelo que se viu, Lula era um blefe. Nunca entendeu patavinas de economia e menos ainda de administração. Deixou que seus dois ministros da fazenda agissem como Al Capone, transformando os gabinetes de Brasília em bordeis de luxo para lavar dinheiro e sangrar os cofres públicos. É a mais cabal de todas as evidências do despreparo do ex-presidente para gerar alguma coisa na vida, pois por onde passou deixou um rastro de corrupção.

Erário rima com sacrário

É de Albert Einstein este categórico juízo: "A imaginação é mais importante que o conhecimento". De Mário Quintana, esta conhecida metáfora: "A imaginação é a memória que enlouqueceu".

Pelo que passei a imaginar como a "Ética" escreveria um texto sobre si mesma, no torvelinho da atual quadra histórica do Brasil. Deu nos escritos que seguem:

"Ética é meu nome. Ora me chamam de "ciência da moral", ora de "moral" mesma. Seja como for, o que me define é ser a única trilha para a conduta das pessoas de caráter. Aquelas que são unha e carne com a verdade. Mais até, aquelas pessoas que têm como primeira religião o total respeito pelo que pertence a terceiros.

Em especial, o completo, o devocional respeito pelos "dinheiros, bens e valores públicos" (parágrafo único do art. 70 da Constituição brasileira). Com o que desponta clara a rima entre erário e sacrário.

Ser dura na queda é outra das minhas caraterísticas. Radicalizo na afirmação: eu não desisto nunca! Eu nunca jogo a toalha!

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O pugilato é o ar que respiro, porque sempre me puxam o tapete. Sempre há quem viva para me ver morta. Eu ali muito abaixo dos sete palmos de chão. Mesmo sabendo, meus inimigos, que não vim ao mundo para servir de pasto aos vermes.

Ainda que sabendo, meus antagonistas, que sou o oposto da lama, do visgo, do sujo, do lodo.

Mesmo sabendo cada um deles que só existo, tal qual o poeta Castro Alves, para fitar os Andes. Eu, irmã e ímã do sol a pino. Eu, arquiteta da fronde das árvores, engenheira das mais altas varandas da consciência.

Por isso que tenho tudo a ver com vergonha na cara. Por isso é que tenho sangue nas veias e vontade de ferro. Persistência em mim é como tatuagem na alma. Não vou desistir jamais de um dia chegar à porta dessa imensa casa de nome "Política", para encontrar o quê? Uma placa de "Entre sem bater". Não como cortesia dela, porém como direito meu.

Direito meu? Assim está na cabeça do art. 37 da Constituição, entre muitos outros dispositivos dela. Donde a consequência de que parlamentos e tribunais não têm como deixar de me reconhecer e aplicar.

Os que me derem as costas irão bater de frente com as mais claras e vigorosas normas constitucionais. Todas mais e mais acessíveis ao direto entendimento do povo, porque também mais e mais familiarizado com elas.

O povo, sim, pois finalmente o Brasil já surfa na crista de uma era que o jurista alemão Peter Häberle bem etiquetou como "A Sociedade Aberta dos Intérpretes da Constituição". Todo o povo, sim -falo pela segunda vez-, pela percepção de que eu sou um princípio-dever do Estado e um correlato princípio-direito dos cidadãos. Dever de lá, direito de cá.

Falo um pouco mais de mim. Isso para ajuntar que só ali onde eu impero é que há vida social civilizada. Que o meu desafio maior, estruturalmente falando, é dinamitar as vigas todas desse tal de "patrimonialismo". Persistente ninho desta venenosa serpente de três cabeças: corrupção sistêmica, desperdício desbragado de tudo que é dinheiro do Estado, corporativismo.

Por isso que devo insistir: meu nome é "Ética". Se você tem identidade comigo, abanque-se. Venha sentar-se a meu lado e ser 'um comigo'. Um só corpo, uma só consciência, uma só alma. Assim é que o mais cristalino espelho da história passará a refletir o unitário rosto de quem já não tem o menor motivo para corar de vergonha.

Concluo esta minha fala com um outro pensamento de Einstein: 'Quando a mente humana se abre para uma nova ideia, impossível retornar ao tamanho inicial'.

Digo o mesmo quanto à ideia coletiva de que eu vim para ficar. Ideia coletiva, essa, de que farei o meu escudo, o meu aríete, a minha catapulta.

Aqui e em todo lugar onde o direito vier a me consagrar como uma das suas mais fortes razões de se dar ao respeito. Como verdadeira condição e elemento conceitual da própria Justiça".

Pronto! Nada mais disse a minha imaginação nem lhe foi perguntado. Mas não posso deixar de acrescentar que foi precisamente a ética o núcleo denso desta sentença de Thomas Jefferson: "A arte de governar consiste exclusivamente na arte de ser honesto".