segunda-feira, 19 de junho de 2017

Memória e vergonha

Já lá se vai meio ano. 6 meses a se somarem aos últimos 4 jogados fora. Padecemos da maldição de Sísifo. Continuamos condenados a reviver a mesma história, as vezes com personagens novos, sem, entretanto, nada completar, nada conseguir, nada mudar.

Depois de tanto tempo, de tanta repetição, é perfeitamente compreensível que estejamos cansados. Que nossos ouvidos já estejam calejados. Que os olhos já se acostumaram. Que tenhamos aceitado destino aparentemente inevitável da agonia sem fim.

O distinto público não consegue mais apontar a diferença entre os membros da cleptocracia que assola a sociedade, o governo, as instituições. Parece tudo igual. E talvez seja mesmo.

Optamos pela mediocridade. Ninguém mais acredita dá para consertar. Agora ou no futuro previsível. Preferimos a estabilidade reservada aqueles que não sonham. Se despiorar, tudo bem. Não sonhamos. Não desejamos muito. Acreditamos em nada.


Os sonhos morreram sem foguete, reparo ou bilhete, luar ou violão. Apenas morreram. O sofrimento ficou sem sentido. Não mais construímos pontes. Acreditamos ser trabalhoso e inútil. Preferimos pinguelas, mesmo que claramente podres. Precariedade faz tempo não ser motivo de incomodo.

E quando assistimos o previsível e esperado colapso da pinguela, ficamos atônitos. Sem razão. Surpresa, seria que uma pinguela fosse conexão satisfatória entre o presente e um futuro mais digno.

Esquecemos nada. Aprendemos nada. E de alguma maneira esperamos que as coisas melhores pelas mãos dos mesmos líderes que comandaram o ataque aos cofres, a dignidade de todos e a cidadania. Lembramos de tudo claramente. E aprendemos nada.

Memoria não nos falta. Vergonha, por outro lado, está em falta. E desaparecendo rapidamente.

Elton Simões

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