Projeto Niemeyer para a UNE |
No final de seu segundo mandato, Lula assinou a autorização para que a UNE recebesse nada menos que R$ 44,6 milhões a título de compensação pelos danos causados pela ditadura. Tal indenização não estava prevista na Lei de Anistia, que só menciona pagamentos a indivíduos, e não a entidades. Mas, como se sabe, a lei nunca foi um constrangimento para o lulopetismo. Em junho de 2010, Lula fez aprovar no Congresso uma norma que tratava especificamente do “reconhecimento da responsabilidade do Estado brasileiro pela destruição da sede da União Nacional dos Estudantes”. Estava resolvido o problema.
Com dinheiro em caixa, a UNE lançou a pedra fundamental do empreendimento ainda em 2010, com a presença de Lula – saudado como “guerreiro do povo brasileiro” por uma audiência embevecida com seu mecenas.
Feita a partir de um projeto doado por Oscar Niemeyer, a obra demorou a deslanchar, mas agora está a todo vapor – e a UNE, afinal, não usará recursos próprios na construção. Como mostrou o Estado, a entidade preferiu se associar a diversas empresas privadas para bancar a obra e explorar o aluguel de salas comerciais. É um progresso e tanto para uma organização administrada pelo PC do B desde 1979 e habituada a denunciar a perversidade da exploração capitalista.
Um vídeo por ela divulgado para promover a obra mostra que a UNE disporá de luxuosas instalações, decerto muito melhores do que nos tempos em que corajosamente fazia oposição ao governo. Agora como sócia do Estado, a UNE vai dispor de equipamentos e de estrutura que contrastam com a situação de penúria enfrentada pelos estudantes das universidades bancadas com dinheiro do governo federal.
Na Universidade Federal Fluminense, por exemplo, um dos prédios corre o risco de desabar. Na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, algumas turmas são obrigadas a ter aulas em uma escola estadual, por falta de salas. Há relatos de falta sistemática de equipamentos e de segurança.
A ostentação da UNE contrasta também com o momento difícil pelo qual passam estudantes que dependiam do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), crédito que passou a minguar desde que o governo mudou suas regras.
Pois não há registro de protestos da UNE nem em relação à situação dos alunos das federais nem contra o corte abrupto do financiamento estudantil. A entidade ocupa seu tempo atualmente fazendo campanha a favor da reforma política defendida pelo PT. Nem se podia esperar outra atitude de uma entidade que abandonou há muito tempo a defesa dos estudantes, preferindo servir como mera – e agora lucrativa – claque do lulopetismo.