domingo, 15 de março de 2015

Fora Dilma

Hoje, repúdio à corrupção é sinônimo de “fora Dilma”, “fora PT”
Apoiar a presidente Dilma Rousseff e atacar o ajuste fiscal que ela precisa fazer. Defender a Petrobras e condenar os corruptos, como se eles nada tivessem a ver com o governo de plantão. Frente a tarefas tão antagônicas, esquizofrênicas, pode-se dizer que as centrais sindicais até colheram êxito na última sexta-feira. Pelo menos, para os seus propósitos.

Ainda que percam em número de gente nas ruas para as manifestações deste domingo, conseguiram bater e rebater na tecla de que qualquer protesto contra Dilma é golpe, coisa da direita, da elite, da mídia mancomunada com os donos do dinheiro.

Danem-se os fatos, que diariamente escancaram os sofisticados esquemas do PT e de seus parceiros para garfar bilhões. Da Petrobras e de outras instâncias do Estado. Até o mensalão virou troco perto do que a Lava Jato apurou até agora.

É essa corrupção institucionalizada, como bem definiu o delator Pedro Barusco em depoimento na CPI da Petrobras, o ponto de união entre os diferentes motes dos que ocupam as ruas neste domingo. Até da bestial meia-dúzia que prega intervenção militar.

Hoje, repúdio à corrupção é sinônimo de “fora Dilma”, “fora PT”.

É também, sem ferir preceitos legais, pedir o impedimento da presidente, algo previsto na Constituição. Cassar mandatos, aliás, tem ocorrido com frequência para afastar chefes do Executivo que surrupiam o Estado, que abusam do poder político e malversam o dinheiro público.

Dados da Confederação Nacional dos Municípios apontam que 107 prefeitos foram cassados em 2013, outros 210 entre 2009 e 2012, a maior parte por atos lesivos à administração. Em bom português, roubalheira. Foram cassados em ritos legalíssimos solicitados pelas câmaras municipais e depois de vencidos todos os trâmites judiciais.

O governador eleito do Maranhão Jackson Lago (PDT) também foi cassado. Perdeu um processo por compra de votos, iniciado por Roseana Sarney (PMDB), segunda colocada no pleito de 2008, que assumiu o mandato no lugar do vitorioso. E um presidente da República, Fernando Collor de Mello, renunciou pouco antes de ter o seu impeachment aprovado.

Definida a legalidade, tem-se a oportunidade.

Dilma Rousseff está iniciando o seu segundo mandato, que lhe foi renovado pela maioria, ainda que com pequena margem. Como a lei brasileira não contempla o instrumento do recall, que permite reavaliar o eleito, o fato de a presidente ser alguém incapaz de conduzir o país não é suficiente para impedi-la de governar.

Mas o caso de Dilma é de outra ordem: ela mente, com plena ciência da mentira. Ao fazê-lo, enquadra-se no Inciso 7 – “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo” - do Capítulo V da lei que define os crimes de responsabilidade e regula o processo de julgamento de impedimentos.

Diante de uma crise econômica seriíssima, debilitada politicamente, com a popularidade no chão, vaiada, Dilma teria de se reinventar. Ou sucumbir. Parte significativa dos petistas parece preferir a segunda hipótese. Lula e o exército de Stédile à frente.

Além dos que estão nas ruas hoje, há muitos que torcem pela imolação de Dilma - e não o fazem por querer um país melhor.

Mary Zaidan

Sermão dos Peixes

Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?
Sermão de Santo Antônio (1654) do padre Antônio Vieira (1608-1697)

A igrejinha vermelha


Um teólogo de esquerda disse que o movimento de 15 de março é coisa das elites que não ouviram a mensagem de Jesus. Pelo visto, o céu também já é deles. Nesse ritmo, seus branquelos, para vocês só vai sobrar mesmo a rua. Corram para lá — antes que seja tarde

Por que sair às ruas

Quem quer derrubar Dilma no grito não respeita o voto. Quem a apoia sem crítica não pensa no país nem no povo

Um bom motivo para participar de manifestações – a favor ou contra Dilma Rousseff – chega a ser pueril. Podemos sair às ruas porque ainda é possível protestar pacificamente no país sem ser preso. O Brasil ainda não virou uma Venezuela; o regime democrático ainda não caiu de “maduro” e algumas instituições não estão podres. Melhor aproveitar e exercer o direito à livre expressão – ou será que não?

Um bom motivo para ficar em casa é não acreditar em nenhuma grande bandeira das manifestações pró e contra. Os grupos se confundem. Se existe algo que não identifica a grande massa de manifestantes e não manifestantes, é a ideologia. A maior burrice é rotular de “direita” ou “esquerda” quem vai numa ou na outra manifestação. Ou quem decide não sair às ruas. Quem são os fascistas? Em qual categoria ideológica se situam os que querem detonar, “com botas e chuteiras”, a política econômica atual de Dilma? Leia-se aí o MST de Stédile.

Pergunte se são de esquerda ou de direita os garis em greve contra o reajuste anual ridículo de 3%, os caminhoneiros que bloqueiam as estradas, os favelados sem-casa-esgoto-creche-hospital, os policiais, os professores, os médicos, os comerciantes, os estudantes em fila por senha para estudar. Pergunte se são de esquerda ou de direita os desempregados pela incompetência oficial, ou todos nós que pagamos contas de luz e gasolina estratosféricas pela má gestão do governo.

A resposta será: ah, vem para a vida real, sem esse papo de direita ou esquerda, somos a maioria sem voz, queremos um país que funcione, um governo que não assalte os cofres públicos, uma economia que favoreça o emprego e os empreendedores, sem descontrole da inflação, uma educação de qualidade para todos, uma saúde digna, uma aplicação honesta dos altos impostos que pagamos, uma infraestrutura que nos tire do Terceiro Mundo, uma política de segurança que não deixe as famílias à mercê de criminosos. Queremos bons exemplos de cima e fim da corrupção institucionalizada. É pedir muito?

Se você é a favor da Petrobras e contra o roubo sistemático do PT à Petrobras, a qual manifestação deve aderir? Se você abomina o cinismo dos últimos pronunciamentos de Dilma Rousseff mas é contra o impeachment, deve sair às ruas em protesto ou ir à praia e ao futebol? Se você é contra Eduardo Cunha e Renan Calheiros – e, consequentemente, contra o domínio do pior PMDB –, qual manifestação deve escolher? Ou vai ficar no sofá, um direito seu?

Se você acredita na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se você continua estarrecido com o depoimento frio do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, relatando a distribuição sistemática de propinas milionárias ao PT desde a era Lula até a campanha de Dilma em 2010, como deve se comportar? Sai ou não sai às ruas? Leva suas panelas para o fogo ou para a janela?

Se você se preocupa com a desigualdade social, deve se aliar ao MST e ir contra o ajuste fiscal de Dilma e Joaquim Levy? Mas aí você estará conspirando contra a presidente. Como ela disse na quinta-feira no Rio de Janeiro, o Brasil “esgotou todos os recursos para combater a crise”. Se empresários e sindicalistas se unem em São Paulo contra o ajuste, quem é burguês, quem é coxinha, mãozinha, perninha?

Você acredita que o Brasil está nesse buraco por causa da “crise internacional” e porque Dilma fez tudo pelos pobres – na educação e na saúde? Você acredita na presidente quando ela diz que o governo do PT cortou gastos da máquina? Está faltando pau de selfie no Planalto – a presidente precisa se enxergar sem distorções de foco. Sobra cara de pau. Até o ex-tesoureiro da campanha presidencial de Dilma fez mea-culpa, disse que o PT errou. Quando Dilma assumirá alguma responsabilidade e pedirá desculpas à nação? A presidente nos pede “paciência”. A população deveria pedir à presidente “sinceridade”. Mas é pedir muito.

Quem quer derrubar Dilma no grito esqueceu o que é uma ditadura, não respeita o voto democrático, não pensa no país nem no povo e ainda por cima é ingênuo. Está claro que manifestações por impeachment não são oportunas e não darão em nada.

Quem apoia incondicionalmente uma presidente que fez desandar a economia e as alianças políticas, que resistiu durante meses a afastar a presidente da Petrobras e que mentiu e continua a mentir sobre índices e análises de seu desempenho com uma desfaçatez nunca antes vista não pensa no país nem no povo e ainda por cima é ingênuo.

Pedir impeachment de Dilma não é golpismo, é tolice de desmemoriados. Acreditar em Dilma não é idealismo, é tolice de desmemoriados. Vamos tentar o caminho do meio. Saindo às ruas ou ficando em casa. 

Emendar-se o governo não vai

papa francisco pontificado nao vai durar dilma meu tambem nao protestos vaia tv bolsa agua quente panelaco pt psdb
Nada seria mais danoso às carreiras ligadas ao Direito e à Justiça do que a unanimidade das opiniões jurídicas. Vale o mesmo para a imprensa. Nas sociedades livres, a divergência integra o ser social. Não existe ponto sem contraponto. E é por aí que muitos trabalham. As sociedades submetidas ao totalitarismo funcionam ao contrário: dissentir, pensar diferente do rebanho ou de seus pastores, gera consequências que vão dos adjetivos pejorativos às sentenças de morte. Por isso, a afirmação de que o impeachment da presidente Dilma constitui demanda ridícula, golpista, sem fundamento jurídico, não é uma sentença final, irrefutável. É apenas uma das posições possíveis perante o assunto.

Com apenas 7% da opinião pública a seu favor, a permanência de Dilma no poder nada tem a ver com democracia, mas com Estado de Direito. É este que a sustenta contra aquela. Para resolver tais casos, a Constituição disponibiliza o processo de impeachment. Que tem lei própria. Que é um instituto de natureza eminentemente política, nem surdo nem mudo, com motivações éticas e regras claras. Golpe, só não percebe quem não quer, foi dado ao país antes, durante e depois da eleição. Antes, com governança irresponsável, com franquias à corrupção, com esbanjamento dos recursos públicos para fins eleitorais, com negligência no controle dos gastos, com a ruína da aritmética. Durante, com repetição de despudoradas mistificações, com ocultação da realidade nacional, com a estratégia serial killer de reputações e a imputação aos adversários das maldades que o governo viria a cometer. Depois, no agir como se o dia 27 de outubro nada tivesse a ver com o dia 26. E transcorresse noutro país, sob outra realidade, perante outro povo. Mas o que é isso, companheira?

A presidente, por tudo que fez e deixou de fazer, precipitou a nação no descrédito e nos afundou numa crise em que não deveríamos estar. A improbidade se instalou no governo como quem reclina a poltrona e põe os pés sobre a mesa. É um seriado de infinitos episódios. Milhões de brasileiros que não perceberam isso antes compreenderam agora, em dois meses. Emendar-se o governo não vai! Então, a mobilização em favor do impeachment é ato de respeito próprio. É questão de decoro nacional. Expiação ante o mundo civilizado. Contrapor que isso causaria faniquitos em Stédile e outros como ele, não é argumento. É afofar a cama dos brutamontes! Para isentar-se de qualquer culpa por toda improbidade praticada em sua gestão, seria necessário que a presidente estivesse muito longe daqui, comandando, quem sabe, outro país e outro governo. No Brasil, não vejo como.

Única desculpa do PT é inventar terceiro turno

Quem critica ou questiona é porque está querendo terceiro turno. Mas Dilma Rousseff, eleita nas urnas, tem o direito de fazer e dizer o que bem quiser. Vamos deixar claro: quem inventou a história de terceiro turno foram os espertos marqueteiros do PT. Os idiotas petistas só tiveram a missão de repetir a bobagem.

Os que questionaram as urnas o resultado do segundo turno não aceitam as mentiras de Dilma, que enganaram parcela da sociedade. Muitos parlamentares a ajudaram nesta missão. Lembrem-se da deputada Maria do Rosário, em cujos comitês dizia-se que “Aécio acabaria com o Bolsa Família”.

A própria atuação de Tofolli, como presidente do TSE, deixou transparecer que as desconfianças eram fundadas. O ministro passou a mão por cima de tudo. Tinham razão os que denunciaram o processo eleitoral. Se nada foi errado, por que esconderam tudo?
Com o estouro da operação Lava Jato, a casa caiu e o mundo petista, agora, está desmoronando. Dilma e suas promessas de combate a corrupção não passaram de devaneios. Como combater a corrupção, se isso atingiria seus próprios companheiros, aliados e serviçais?

A oposição, frágil, débil e sem inspiração, não fez nem precisou fazer nada. Tal qual acontece com as quadrilhas (lutas internas e/ou externas), iniciou-se a matança entre os próprios comparsas. Apanhados em flagrante, os irmãos metralhas abriram o bico e começaram a contar como esquema foi montado.

Agora, a defesa do PT é a mesma de sempre. Com discursos estudados e decorados, os petistas mais uma vez tentam ludibriar parcela do povo brasileiro. Reparem o que dizem: 1) a oposição está atacando a democracia; 2) querem terceiro turno; 3 ) tentam destruir, inviabilizar, enfraquecer e depois vender a Petrobras.

No caso da Petrobras, surgem perguntas. Afinal, quem está administrando a empresa? Quem deixou de responsabilizar FHC pelo “desmonte” que realizou? Quem permitiu que saqueassem a estatal, no período entre 2003 a 2015?

Antes de cobrar os governos anteriores, os petistas têm de prestar contas de sua gestão. Não adianta organizar atos públicos em defesa da Petrobras e denunciar que ela está sendo destruída. Mas destruída por quem?

Sindicatos e centrais financiadas com recursos públicos, cabides de emprego para pelegos e serviçais petistas, estudantes profissionais, movimentos sociais financiados por partidos e com recursos públicos, é este o povo que vai às ruas defender um governo que jogou o país no caos.

O PT, nascido para servir como exemplo de ética, está atirando 25 anos de democracia no lixo. Com total certeza, é o partido mais corrupto da história de nosso país. A estrela apagou-se. Vive os últimos suspiros e respiros de um sonho construído e destruído por tresloucados.

O Brasil é grande, rico. Seu povo, um dia, poderá ser feliz. No entanto, é triste dizer que este dia ainda está distante.

O PT apodreceu o Brasil


Manifestação de rua em troca de dinheiro. Votos em troca de dinheiro. Apoio parlamentar em troca de dinheiro. Apoio sindical em troca de dinheiro. Obras públicas em troca de dinheiro. Jornalistas em troca de dinheiro. Estudantes em troca de dinheiro. Artistas em troca de dinheiro. Intelectuais em troca de dinheiro.
O PT não corrompeu o Brasil. O PT apodreceu o Brasil.

O Antagonista            

Por que protesto de domingo é mais grave que o de 2013

As manifestações preocupam mais desta vez porque o país, em vez de ter melhorado, está pior do que então.

As manifestações de protesto convocadas para domingo no país todo, chamadas de 15/15, não serão as de 2013, quando os brasileiros foram às ruas para exigir um país melhor. Naquela ocasião este jornal se perguntou: “Por que o Brasil e por que agora?”. A resposta foi que diferentemente, por exemplo, do movimento dos indignados da Espanha, que protestavam pelo que as pessoas estavam perdendo com a crise econômica de 2008, os brasileiros exigiam o que ainda não tinham.

O de 2013 não foi um protesto para exigir uma mudança de governo, nem de regime político. Não ressoou nele o “Fora Dilma”. Exigiam-se dos governantes melhores serviços públicos, melhor qualidade de vida, melhor transporte, melhor saúde e melhores escolas. E menos corrupção política.

“Éramos infelizes e não sabíamos”, dizia uma dos milhares de cartazes criativos daquelas manifestações. Significava que os brasileiros se sentiam conformados com o já conseguido e não tinham tomado total consciência de que, por exemplo, seus serviços públicos ainda eram de terceiro ou quarto mundo, enquanto pagavam impostos de primeiro mundo.

A manifestação de 15/15 (ainda sem saber qual poderá ser sua força) será diferente. Não se pede apenas que as coisas melhorem; rejeita-se o Governo da recessão, da inflação que corrói os salários, de serviços cada dia mais caros, de uma carga tributária que sufoca a cada ano que passa. Não se aguenta mais a corrupção, cada vez maior e mais espalhada. E os participantes vão gritar que saia do comando do Titanic que faz água a equipe atual: o PT e sua comandante, a presidenta Dilma Rousseff.

O protesto de 15/15 é mais grave que o anterior porque o Brasil, em vez de ter melhorado desde então, impulsionado pelas promessas feitas e não cumpridas, piorou.

É possível alegar que nas últimas eleições a maioria dos votos foi para Rousseff, e que é apenas a minoria que protesta hoje, inconformada com o resultado das urnas. Na verdade, quem toma o pulso da opinião pública pode notar, como revelou a última pesquisa do Datafolha, que essa maioria mudou. Hoje, nem Rousseff nem o PT, com muita probabilidade, venceriam as eleições.

De fato, uma dos motivos que mais irritam a sociedade é ter visto que a então candidata presidencial Dilma Rousseff não contou a verdade. Mostrou um Brasil feliz, pujante e sem crise. Jurou que não haveria cortes nem sacrifícios, menos ainda para os mais necessitados, e acusou seus concorrentes Aécio Neves e Marina Silva de quererem entregar o país aos banqueiros, que acabariam roubando a comida do prato dos pobres.

Leia mais o artigo de Juan Arias

O domingo é de protesto

Hoje é mais um domingo no calendário. Na história já está como o dia em que o Brasil reconquistou a democracia, mas se quer mais: o democrático direito de protestar quando e quanto quiser contra os desgovernos, pois ninguém protesta contra governo sem motivo. Portanto, deve-se marcar este como o Dia do Protesto.

Sejam 300, mil ou 300 mil, não importa. Quem for às ruas representará mil daqueles que por qualquer razão não podem comparecer, mas estarão em prece pelo sucesso, ou na internet manifestando sua insatisfação com a situação do país (serão os net blocks?).

Nas ruas ou fora delas, no entanto, uma certeza há: a manifestação de hoje larga vitoriosa. O crescimento das adesões, o movimento através das redes sociais já puseram o governo de cabelo em pé. Fizeram até manifestação chapa branca, gastando dinheiro público, para esvaziar o tsunami que viam pelas telinhas do computador.

O sucesso se confirma antecipadamente, porque não há financiamento público nestas manifestações, nem bolsa passeata, kit protesto, boca livre ou happy hour. É o povo com a cara e a coragem na rua, berrando que tem voz, porque o país é dele e não de um partido ou de um governo.

Brasil tem 'democracia imperfeita'

País tem processo eleitoral confiável, mas população tem poder limitado para monitorar e influenciar decisões do governo
O Brasil completa neste domingo 30 anos de democracia. Os avanços acumulados nesse período são evidentes: o processo eleitoral é confiável, a liberdade de expressão e manifestação aumentou, a economia hoje tem mais estabilidade do que no passado e a pobreza vem recuando.

No entanto, cientistas políticos apontam diferentes fatores que reduzem a qualidade do regime democrático brasileiro, como o poder limitado da população de monitorar e influenciar as decisões do governo, a corrupção elevada e a desigualdade social ainda alta, que limita os direitos de parte da população.

"A nossa democracia ainda é muito pouco democrática", afirma Marcos Nobre, professor de filosofia da Unicamp.

"Uma coisa é você falar de instituições formais da democracia. Há um Judiciário relativamente independente, todos têm direito ao voto, etc. Mas democracia não é só isso. Não são só instituições democráticas em funcionamento formal", ressalta.

A consutoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU) produz um índice que classifica os países de acordo com a qualidade da sua democracia. O ranking coloca o Brasil como o 44º país mais democrático entre 167 nações analisadas. Noruega, a mais democrática, e Coreia do Norte, a menos, ocupam as pontas do ranking.

Com essa posição, o Brasil está no grupo das "democracias imperfeitas". Segundo a EIU, nos países que recebem essa classificação há eleições livres e justas e as liberdades civis básicas são respeitadas (como liberdade de expressão e religiosa). Por outro lado, costuma haver problemas de governança (como corrupção e pouca transparência em órgãos públicos) e baixos níveis de participação política.

Há 24 democracias com notas superior a 8 e por isso consideradas "completas" pela consultoria. Vale notar que os países que ocupam as melhores posições geralmente têm uma história mais longa de democracia continuada do que o Brasil, como Dinamarca, Austrália, Reino Unido e Estados Unidos.

Mas há também casos como o do Uruguai (17º lugar), cuja ditadura também acabou em 1985, e da África do Sul (30º), onde o regime de segregação racial (apartheid) terminou em 1994.

Ao subir uma posição em 2014, o Brasil foi o único país da América Latina a melhorar sua classificação no ranking. A nota brasileira - que desde 2010 estava estagnada em 7,12 - subiu no ano passado para 7,38 (a avaliação vai de zero a dez).

No caso do Brasil, o país tem melhor performance nos critérios eleitorais (9,58) e de liberdades civis (9,12), e vai pior em participação política (4,44). Já o funcionamento do governo recebeu 7,5.

O que puxou a melhora em 2014 foi o aumento da nota em cultura política (de 5,63 para 6,25), quesito que mede, por exemplo, qual apoio da população ao sistema democrático ou militar, a tolerância com a impunidade e a separação entre Estado e religião.

Leia mais