terça-feira, 8 de setembro de 2015
Que tal destituir os políticos acusados de mentiras graves?
Antes de chegar à Presidência da República, o então sindicalista Lula da Silva chegou a defender que a “salvação do país” seria que o povo que escolhesse um político “pudesse destituí-lo” se não cumprisse o que havia prometido.
Hoje, a sociedade se pergunta também, como Lula se perguntava então, por que as mentiras graves e comprovadas dos políticos não podem ter efeitos legais que os obriguem a abandonar o mandato concedido pelos eleitores com seu voto.
A possibilidade de precisar deixar o cargo “por mentir” poderia ser tema, por exemplo, de um projeto de lei de autoria popular, como o da Ficha Limpa.
As mentiras na política atualmente não podem ser castigadas, apesar de serem perigosas para a sociedade e a democracia.
E, entretanto, o uso da mentira para enganar, e com isso ganhar, por exemplo, eleições, pode prejudicar gravemente o futuro do país. Hoje se exalta uma espécie de sacralização do voto conquistado nas urnas, sem que os eleitores que o emitiram possam revogá-lo, mesmo que o eleito faça algo moralmente indigno com esses votos.
Mentira política não é só o apresentar como verdade o que se sabe ser falso, mas também prometer algo sabendo que não poderá cumprir; desenhar um país próspero quando se sabe que está quebrado, ou prometer a realização de programas que se sabe de antemão que nunca serão realizados, assim como estigmatizar o adversário político com acusações graves sabendo que são falsas.
Nas grandes religiões, a mentira é considerada a antítese de Deus. Nos evangelhos cristãos, Satanás é chamado de “pai da mentira”. Só a verdade salva.
No entanto, existe a impressão entre muitos cidadãos de que a mentira é inata aos políticos. Eles sabem disso e a usam com desenvoltura.
Mas chegou a hora em que os cidadãos começam a se cansar desse passaporte de impunidade que permite aos políticos mentir sem consequências jurídicas.
Talvez por isso, a sociedade parece cada vez mais disposta a exigir que, quando os políticos mentirem, quando for provado seu pecado, possam pagar por ele.
Quando se fala de reforma política, por que não introduzir algo que já existe parcialmente em alguns países, como a possibilidade de que as pessoas que deram seu voto a um candidato possam retirar sua confiança quando esse político ainda estiver exercendo o cargo, caso fique comprovado que ele foi gravemente infiel ao que havia prometido para ser eleito?
No Brasil, foi o então sindicalista Lula da Silva quem defendeu que os cidadãos pudessem revogar o voto do político apanhado em mentira flagrante, com estas palavras textuais que aparecem em um vídeo da época: “Nós defendemos que na hora em que o povo vota em um político, se depois de um determinado tempo ele não estiver cumprindo aquilo que prometeu no programa da campanha, os mesmos que o elegeram possam destituí-lo”. E acrescenta: “Se conseguíssemos isso, seria a salvação do Brasil”. Lula na época estava na oposição, ainda não havia chegado ao poder.
Não poderia ser esse um dos temas da reforma política proposta por diversos movimentos de protesto popular?
Se as mentiras, desde as do presidente da República até as do último prefeito, tivessem consequências legais que permitissem a quem os elegeu apeá-los do cargo, os candidatos ficariam mais atentos na hora de fazer suas promessas eleitorais.
A política, hoje tão denegrida, mas que é uma arte indispensável para assegurar a democracia e a organização da vida social, se veria menos estigmatizada, e os jovens, sobretudo, poderiam voltar a se apaixonar por ela.
Muitos jovens que ainda não envelheceram precocemente por causa da desilusão ou do contágio dos mais velhos adoram os desafios e a novidade. São criativos e ainda capazes de conceber ideais desinteressados. Prova disso são os quase 10.000 jovens que dias atrás enlouqueceram de entusiasmo no Rio do Janeiro com as palavras do vovô José Mujica, ex-presidente do Uruguai, só porque este lhes disse que “quem quer enriquecer não deve entrar na política”, e que os políticos “devem viver como a maioria do povo, não como ricos”.
Os jovens são mais sensíveis à autenticidade que nós, os adultos. Mais intransigentes. E têm razão, porque são eles as primeiras vítimas das nossas mentiras que comprometem o futuro que lhes caberá viver e sofrer.
Memórias do futuro
Estou na clínica especial do Nada aqui neste ano remoto do futuro. Futuro de quê? Futuro de um futuro que o Brasil esperava havia vários séculos. Essas clínicas são chamadas hoje de “zonas de esquecimento”; viraram “hype” há mais de um século e hoje abundam. Os sujeitos entram para perder todos os sentidos. Fica apenas a memória, que, aos poucos, sem ajuda de tato, gosto, cheiro, visão e audição, vai se transformando numa leve fonte de murmúrios, em lapsos de visões, em tênue brilho de lembranças, e depois, o silêncio do nada. Muitas clínicas são arapucas, e as mais baratas apenas jogam os pacientes numas salas vazias e deixam-nos na mistura de restos de comida e excrementos. Ninguém reclama. Mas eu vivo na melhor: “Le Néant”, que as famílias visitam para verificar o tratamento – é impecável no trato dos corpos sorridentes, murchos e mudos.
Hoje, inexplicavelmente, me encontro na rua com sol batendo em meus olhos, e volta a mim uma enxurrada de memórias que eu sempre evitara. Como saí? Em que ano estou? Minha lembrança mais antiga jaz no deserto, quando o Califado Islâmico tomou conta do Oriente Médio, chegando até as bordas de Israel-Palestina, já considerada “área insolúvel” e que virou parque temático.
Muitas terras viraram temáticas também: a desolação de Nueva Iork, depois das nuvens de “antrax” na Broadway, o Buraco Iraque, depois da bomba do ex-Paquistão – hoje Talibânia –, e o deserto de Tokyorama, província da China...
Mas vou me ater às memórias do Brasil.
Sei que há muitos anos o futuro do país se delineou. Foi logo depois da reeleição de uma mulher...
Esqueço-lhe o nome... Sei que, depois, o famoso Lula sucedeu-lhe em 2018, continuando em 2022, criando uma dinastia de si mesmo, reeleito em vários mandatos, até 2034, quando ele já não falava mais e tinha sido mumificado num carro móvel de vidro que desfilava entre a multidão de fiéis ajoelhados. A maioria do povo semianalfabeto celebrava a realização do projeto do seu partido, uma espécie de populismo pós-moderno (como chamavam) feito de pedaços de getulismo, chavismo e outras religiões. Quando se iniciou a decomposição, seu corpo foi entronizado no Museu Bolívar, um palácio de mármore vermelho desenhado por Oscar Niemeyer, tendo como curador Gilberto Carvalho, 108.
Nesta época, o velho Brasil tinha renascido como rabo de lagarto. Voltara a correção monetária sob uma inflação de 2.200%, um flashback do período Collor, agora representado por seu neto na grande aliança ainda presidida por Sarney, 117, que visava unir partidos no programa nacional de “decrescimento”, já que a democracia se revelara um antigo sonho grego impossível. Todo o projeto do “lulismo” tinha dado frutos depois de tantos anos no poder. “Podres poderes!” – rosnavam alguns poucos inimigos, urubus complexados. Tinha-se atingido o sonho glorioso de socialismo “puro”, onde só havia o Estado sem sociedade em volta. Era assim.
O MST tinha finalmente desmontado a maldita agroindústria, as manifestações de junho viraram uma data popular, como festas juninas animadas por black blocks, considerados agora “guarda revolucionária”; a imprensa tinha acabado, graças à proibição de papel, enquanto ex-jornalistas gritavam nas ruas e distribuíam panfletos mimeografados.Arnaldo Jabor
Foi nessa fase que houve o Segundo Crash da Bolsa de Nueva Iork, entre nuvens de suicidas e filas de desempregados.
Aqui foi uma surpresa. O Brasil quebrou, e nada aconteceu. Houve, claro, legiões de famintos atacando os supermercados, mas logo ficou claro que a miséria é autorregulável. Muito simples: a fome diminui a população, dado benéfico para a incrível falta de comida, provocada pela decisão do governo de jamais cortar gastos fiscais. Nossos aviões e navios passaram a ser confiscados regularmente pelos países do Império Neoliberal, o que foi bom para desonerar gastos de manutenção.
Foi então que se começou a falar em um novo lema: “Ordem sem Progresso”, no seio de um novo movimento de salvação nacional: o “Recua Brasil!”. Entendêramos finalmente que o Brasil é um “acochambramento” secular e que isso não é um defeito, é nossa grandeza fabricada por séculos de escravismo, de burocracia e de corrupção endêmica.
A nova “república” proclamava: “Vamos assumir nosso atraso, chega de progresso!”. Foi outro grande alívio o fim da angústia de progresso que oprimia os brasileiros: a Paz é a desistência dos sonhos de felicidade.
Daí, veio o movimento “Desiste Brasil”, organizando o antigo caos em ilhas, em zonas de atraso. Um dos sucessos foi o PEP, “Plano de Extermínio de Periferias”. No início, alguns humanistas protestaram, mas, depois, se acostumaram com o fechamento das favelas com muros de concreto, como em Gaza-Auschwitz. Outro grande programa foi o PROCU (Projeto de Criminalidade Unificada), que mapeou as máfias todas, a evangélica, a ruralista, a hospitalar, a de traficantes, formando um arquipélago de áreas exclusivas com regras de matança mais controláveis. Sem falar em iniciativas de vanguarda moral como a COPUT (Cooperativa de Prostituição Infantil), que organizou as meninas de rua e incentivou o turismo sexual de que tanto dependemos.
Isso, além do PROCRACK e do PROMERD (cagadas genéricas) e a PROLIM (venda de liminares “a priori”). Criou-se o “Orçamento Espoliativo”, que os congressistas adoraram, com sete novos necrotérios em Alagoas e nove clínicas essenciais de cirurgia plástica no Piauí, de onde veio também a bela ideia da “Comunidade Sossegada”, que distribui Lexotans aos retirantes da seca.
Mas foi aí que comecei a tremer. Olhava os outros do meu canto: pareciam tão felizes...
Sim, mas de vez em quando eles entravam num choro meloso, um uivo desesperado como as sirenes que circulavam em Nueva Iork, no século XXI. Meu terror foi aumentando. Eu estava só, mas via o repulsivo Futuro brasileiro, preparado por séculos de atraso. Corri de volta à minha “zona de esquecimento”, a “Le Néant”, mergulhei no silêncio dos cinco sentidos e cego, surdo e mudo, pude finalmente descansar no nada.
Esperança ou morte
Um espectro ronda o Brasil. O espectro do pessimismo e da falta de modéstia. Diante do enigma que virou a vida pública, pergunte à autoridade se ela é honesta. Se disser sim, é desonesta; se disser não, pode ser honesta. Todos receberam cargos sem o direito de o exercerem em seu próprio beneficio. Nenhum deles mentiu para a sociedade quando mudou de comportamento. Mentiu para si mesmo. Mas todos têm direito de se arrepender. Uma dúzia de opiniões independentes para um país trancado em sua própria mente.
1 — Todo ministro será vacinado contra os humores da presidente da República. Seu antecessor se compromete a não ajudar a aumentar, com sua volúpia, a bagunça governamental da escolhida por seu gosto.
2 — O pensamento será considerado uma atividade da razão. O capitalismo passará a ser um sistema econômico, e não mera opinião política.
3 — Chamar o erro de erro, divulgar o mal como o mal, não será considerado traição. “Só quem ama pode tornar-se um traidor. A traição não é o contrário do amor, é uma das suas opções”. Entre fanáticos, “traidor é aquele que muda aos olhos dos que não podem mudar e não podem conceber a mudança com exceção de que sempre querem mudar você”.
4 — Quem perceber que seu talento não corresponde às necessidades atuais irá para casa estudar mais um pouco. O poder é uma finalidade mais do que uma prerrogativa. Relativizar seu peso costuma ser mais útil do que valorizar a ambição de servi-lo.
5 — Nenhum juiz ou delegado injuriará um rico por delito passível de perdão. Nem humilhará um pobre por imaginá-lo imperdoável. Não vestirá toga por gosto da pecúnia nem a abandonará para fazer sua carreira.
6 — A honestidade será considerada uma habilidade essencial para o mundo do trabalho. O senso de interesse não prevalecerá sobre o senso de dever. Os desejos das corporações não serão superiores aos desafios da nação. Todos farão um esforço para aceitar e compreender o caráter socialmente útil da virtude.
7 — Quem quiser ser rico não servirá ao Estado. Nenhum homem público receberá além do razoável. Quem exigir na Justiça, ou levar os tribunais a concederem verbas ou privilégios de algum tipo, será acusado de enriquecimento ilícito e terá que indenizar a sociedade pela frustração que é ver a autoridade cuidar primeiro de seu próprio caso.
8 — Não haverá direito adquirido contrário ao interesse publico. Ninguém amará mais seus privilégios do que as carências da maioria.
9 — Fica proibido às autoridades insistirem na tal “vontade política” e na mania de “fazer um gesto”. Está suspensa, por cem anos, a relação da política com carismáticos, gestores, interesseiros, demagogos, marqueteiros, moralistas. “Desgraçado o mortal audacioso que finge saber o que ignora e empreende o que ultrapassa o seu poder”.
10 — Nenhum governante vai se concentrar no que é bom para ele. Todos vão se dedicar ao que realmente Deus lhes pede.
11— Ninguém, analfabeto ou estudado, terá orgulho de ter ido tão longe se seu horizonte é estreito.
12 — Ainda é tempo de explorar a força moral da esperança.
Brasil aspira por um estadista
Aristóteles ensinava que o estadista anseia mais produzir certo caráter moral nos seus concidadãos, particularmente uma disposição para a prática de ações virtuosas. James Freeman Clarke distinguia: um político pensa nas próximas eleições, um estadista pensa nas próximas gerações. Mikhail Gorbachev sentenciava que a diferença entre um estadista e um político está em que um estadista faz aquilo que pensa ser melhor para o seu país; um político faz aquilo que pensa ser melhor para ser reeleito. Um biógrafo de Alexander Hamilton escreveu que o estadista pratica a política da colmeia, ao passo que os políticos praticam outra política – a da abelha. No primeiro, tudo se subordina ao interesse coletivo. Nos segundos, tudo se subordina ao interesse individual.
Um confronto entre personalidades desse jaez mostra que alguns deles eram pobres de encantamento, outros com excesso de magia, uns mais democratas que outros, alguns mais egocêntricos, outros menos, mas todos punham a nação acima de qualquer proveito político. Tinham seus partidos, mas nem sempre seguiam sua diretiva, quando chocava com a concepção pessoal. Concisos no falar, tolerantes ao ponto, sem paixão ideológica, na eleição de seu sucessor não tomavam posição, agiam como magistrados. Usavam linguagem verdadeira, mesmo que dolorosa.
Normalmente ocorre de o estadista ser incompreendido, pois se preocupa com o longo prazo e toma decisões impopulares em curto prazo, enquanto a maioria dos políticos preocupa-se com resultados imediatos de suas ações.
A história conhece muitos estadistas: Winston Churchill, Clemenceau, De Gaulle, Abraham Lincoln, Konrad Adenauer, Franklin Delano Roosevelt, Nelson Mandela.
O Brasil os teve e tem: no geral, todos os presidentes do conselho de ministros do Império do segundo reinado e quase todos os presidentes da República Velha. Washington Luís, barão do Rio Branco, Rui Barbosa, Fernando Henrique, Juscelino, Castelo Branco, Campos Sales.
Milton Campos, ele mesmo um estadista, dizia que o verdadeiro homem público defende a posição de sua ideia, e não a ideia de sua posição. Estava sempre acima dos partidos, conduzia os negócios do Estado segundo seu convencimento e, antecipando-se à sucessão dos fatos, levava-os na direção do que desejava. A leitura de sua biografia, de seus discursos e pronunciamentos é catecismo de honradez, probidade e competência, virtudes que aqui e por toda parte andam vasqueiras.
Talvez importe, no Brasil, acender a lanterna de Diógenes em busca de quem seja capaz de desempenhar a função e esperar que um milagre o eleja presidente.
Sintomas do nosso mal-estar espiritual
Os sintomas do nosso mal-estar espiritual são demasiados familiares. Incluem: a dimensão da corrupção, tanto no setor público como no setor privado, onde cargos e posições de responsabilidade são tratados como oportunidades de enriquecimento pessoal; a corrupção que ocorre no seio do nosso sistema de justiça; a violência nas relações interpessoais e nas famílias, em particular, o vergonhoso recorde de abuso de mulheres e crianças; e a dimensão da evasão fiscal e a recusa em pagar pelos serviços utilizados.Nelson Mandela
Brasil falha em políticas de inclusão, que vão além dos programas sociais
Levantamento do Fórum Econômico Mundial mostra que transferência de renda não é eficaz o suficiente para resgatar população da pobreza
O Fórum Econômico Mundial divulgou um estudo em que analisa o que os países têm feito para implementar políticas inclusivas que não só resgatem pessoas da pobreza, mas também tragam crescimento e desenvolvimento. O levantamento The Inclusive Growth and Development Report reúne dados de uma pesquisa feita anualmente pelo Fórum, e que mostra o desempenho de diferentes países em quesitos como educação, empreendedorismo, corrupção e transferência de renda. Entre as economias de renda média-alta, grupo de 26 nações do qual o Brasil faz parte, o país se encontra abaixo da média em praticamente todos os quesitos. Em corrupção, está em 25º lugar, enquanto em educação, 24º. O único item em que o país teve bom desempenho é o de transferência de renda: 7º entre 26.
O estudo aponta que o Brasil está abaixo da média se comparado aos países correlatos, como Argentina, China, Rússia e África do Sul. O levantamento sugere, ainda, que mesmo que o país retome o caminho do crescimento, uma parcela ampla da população não deverá ver os benefícios desse avanço por um longo período. "O desenvolvimento é um processo multidisciplinar e complexo. Por isso, elevar a renda não deve ser a única política de inclusão. É preciso melhorar instituições como os sistemas públicos de educação, o judiciário, o mercado de trabalho, a competição e o investimento", afirma o documento.
Segundo um dos autores do estudo, Richard Samans, que também é um dos diretores do Fórum, as políticas de transferência de renda deveriam ser parte da estratégia de inclusão, mas não o centro. "Depender de transferências não é o suficiente. É preciso um modelo institucional e econômico que trabalhe em prol da inclusão. Fazer as coisas em dimensão única não resolve. É preciso pensar de forma sistemática, não singular", afirma.
Sobre o péssimo desempenho do Brasil no quesito 'corrupção', Samans explica que o Fórum chegou a essa classificação com base em uma pesquisa feita com executivos de todo o mundo, anualmente. A constatação, diz ele, é de que a corrupção, segundo os empresários, é uma parte relevante dos negócios tanto públicos quanto privados no Brasil. "Isso é ruim porque a corrupção rouba o incentivo de o empreendedor criar seu próprio negócio, pois ele sabe que terá de desembolsar propina para funcionar e isso é desestimulante", afirma. Ao agir contra o empreendedorismo, a corrupção funciona como uma espécie de antídoto à vontade dos indivíduos de criar a própria riqueza, aponta Samans. "Criar empresas é uma forma essencial de ajudar as pessoas a evoluírem para a classe alta e, neste caminho, receber sua fatia do progresso. A corrupção mata essa vontade".
O estudo ressalta ainda o que é ponto pacífico entre economistas: somente o crescimento econômico pode melhorar o padrão de vida dos indivíduos. O Fórum reconhece que, ao analisar o Produto Interno Bruto de um país, é impossível garantir que ele será repartido igualmente entre a população. Mas argumenta que somente o crescimento pode aumentar a soma de riqueza disponível em cada nação para que a população tenha ao menos a oportunidade de buscar sua fatia.
O estudo ressalta ainda o que é ponto pacífico entre economistas: somente o crescimento econômico pode melhorar o padrão de vida dos indivíduos. O Fórum reconhece que, ao analisar o Produto Interno Bruto de um país, é impossível garantir que ele será repartido igualmente entre a população. Mas argumenta que somente o crescimento pode aumentar a soma de riqueza disponível em cada nação para que a população tenha ao menos a oportunidade de buscar sua fatia.
Nepotismo e clientelismo na administração pública
Esses postos de trabalho formam seara preferencial nos conchavos políticos, porque envolvem privilégios na hierarquia administrativa, trânsito com outros órgãos, controle de verbas, mordomias e gratificações especiais. O problema é imenso, porque os protegidos não se tornam servidores públicos, permanecendo como prepostos do patrono na máquina do Estado, sem elos objetivos para medir sua lealdade ao protetor.
Esses afilhados viram gestores de qualquer coisa, e a mobilidade pelos diversos cargos mostra que sua qualificação profissional não corresponde ao conhecimento técnico indispensável em cada departamento. Ou seja, mudam de função ou repartição ao sabor das negociações de seus patronos com outras autoridades para servir apenas àqueles que lhes garantiram um bom emprego.
Entregando a direção de instituições a pessoas estranhas ao serviço público, retira-se dos funcionários de carreira, admitidos por concursos, a possibilidade de ocupá-los. Eles se sentem desmotivados para melhorar seu desempenho, porque não ascendem aos postos de comando em que estão o poder e os melhores salários. Acomodam-se, então, em sua função obscura para que ninguém os desaloje até a aposentadoria.
Esse preenchimento de cargos por indicação de patronos compromete a administração pública, porque a instabilidade na cúpula leva a um eterno recomeçar. Ela fica sem memória, pois não é possível criá-la quando chefes são substituídos a cada mandato e os funcionários permanentes nada podem decidir.
Assim, muitos projetos em execução são abandonados, porque a nova autoridade, especialmente quando não gosta do antecessor, ignora o que existia para viabilizar seus planos com os seus protegidos. Os agentes de antigos projetos são demitidos ou vão para outros cargos, sem transferir experiências para eliminar erros e manter acertos.
Essa tradição de nomear estranhos ao serviço público para cargos estratégicos impede a modernização do Estado, porque não se cria um corpo técnico cujos membros tenham compromissos com a instituição, e não com as pessoas a quem devem o emprego. A administração pública precisa superar a transitoriedade dos mandatos com a formação de equipes permanentes que construam bases sólidas para prestar serviços à sociedade porque se adaptam aos órgãos em que estão lotadas.
Cabe, então, concluir que o sistema de patronagem-clientelismo, sustentado na rede dos cargos de confiança ajustados à politicagem, é mais grave que o nepotismo.
Gestão Dilma está na UTI e Lula diz que é febre
A plateia pouco pode fazer contra o derretimento econômico e moral da administração pública. Isso não significa que, além de ser tapeada, tenha que ser tratada como uma plateia estúpida. A presidência de Dilma encontra-se na UTI. Deve-se a Lula boa parte da septicemia que paralisou o governo. Foi ele quem criou a fábula da gerentona. Foi nos governos dele que nasceram o mensalão e o petrolão.
A despeito de tudo isso, Lula acha que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. E ainda se julga autorizado a fazer o papel de clínico geral. Afirma que a roubalheira não pode afetar a “governabilidade do país.” E sustenta que a ruína econômica é banal: “É como uma febre de 39 graus. Alguém morre por causa disso? É só tomar um remédio e pronto!”
Lula fez o diagnóstico numa entrevista ao jornal argentino Pagina 12. Nela, disse que o impeachment não é remédio adequado. Até porque a crise política também lhe parece trivial: “Não é difícil encontrar uma saída. Hoje temos uma certa insegurança na base de sustentação do governo, por divergências entre a Câmara e o governo, entre os partidos políticos. Mas, se recuperarmos a harmonia política, também poderemos resolver os problemas econômicos.”
Ainda que a plateia fosse estúpida e que Dilma virasse a gestora impecável do fabulário petista, Lula ainda teria de responder às seguintes perguntas: o que madame pretende fazer? O que o governo dela tem a oferecer além de mais impostos?
Ninguém lembra o que Dilma propunha na campanha do ano passado. Ainda que lembrasse, não adiantaria. Era empulhação. Fingir que não tem nada a ver com a encrenca pode auxiliar na desconversa de Lula, mas não é uma solução. Se o criador acha que ajuda sua criatura mantendo-se desconectado da realidade, problema dele.
Como diz o vice-presidente Michel Temer, “ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. Se a economia melhorar, acaba voltando um índice razoável. Mas, se ela continuar com 7% e 8% de popularidade, fica difícil.” Só há uma maneira infalível de um governante alcançar a popularidade: a prosperidade.
Lula fez o diagnóstico numa entrevista ao jornal argentino Pagina 12. Nela, disse que o impeachment não é remédio adequado. Até porque a crise política também lhe parece trivial: “Não é difícil encontrar uma saída. Hoje temos uma certa insegurança na base de sustentação do governo, por divergências entre a Câmara e o governo, entre os partidos políticos. Mas, se recuperarmos a harmonia política, também poderemos resolver os problemas econômicos.”
Ainda que a plateia fosse estúpida e que Dilma virasse a gestora impecável do fabulário petista, Lula ainda teria de responder às seguintes perguntas: o que madame pretende fazer? O que o governo dela tem a oferecer além de mais impostos?
Ninguém lembra o que Dilma propunha na campanha do ano passado. Ainda que lembrasse, não adiantaria. Era empulhação. Fingir que não tem nada a ver com a encrenca pode auxiliar na desconversa de Lula, mas não é uma solução. Se o criador acha que ajuda sua criatura mantendo-se desconectado da realidade, problema dele.
Como diz o vice-presidente Michel Temer, “ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. Se a economia melhorar, acaba voltando um índice razoável. Mas, se ela continuar com 7% e 8% de popularidade, fica difícil.” Só há uma maneira infalível de um governante alcançar a popularidade: a prosperidade.
Um esquerdista acusa covardia na esquerda
Intelectuais brasileiros, inclusive alguns escritores, sem que estejam sob ataque, contra-atacam o escritor peruano (Nobel de Literatura) Mario Vargas Llosa; isso porque ele é dos poucos, entre literatos, que têm lucidez e coragem para denunciar o cruel autoritarismo do regime chavista, que hoje infelicita a Venezuela. Agora, Janio de Freitas, notório esquerdista e um tanto leniente com as patuscadas petistas, faz adequada crítica à vergonhosa omissão do governo brasileiro diante dos obscenos abusos do chavismo. parece concordar com o peruano.
Vargas Llosa denunciou a violência do governo de Nicolás Maduro contra manifestantes nas ruas (dezenas de mortos pela ação da polícia do regime). Denunciou a arbitrária prisão do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, um dos principais líderes da oposição, detido quando se completava um ano da igualmente arbitrária prisão de Leopoldo López (outro destacado opositor) e meses depois da abusiva cassação do mandato da deputada María Corina Machado, submetida a uma perseguição judicial sistemática, só por ser figura de relevo entre os adversários do chavismo.
Em frequentes manifestações públicas - inclusive em sua coluna em La Nación (Buenos Aires), Vargas Llosa tenta abrir os olhos da América Latina, desmascarando o regime venezuelano - que nossos principais jornais, quando se dignam a noticiar, tratam com muita cerimônia. A Venezuela hoje é uma terrível ditadura que se inclina para o totalitarismo: tortura, presos políticos, supressão das liberdades individuais, cerceamento da imprensa livre, um desastre político e econômico (até papel higiênico falta no supermercado. Claro, não falta o discurso governista, acusando inimigos externos para justificar o desastre.
Entrementes, o governo de Dilma Rousseff, a exemplo do que fez Lula, não apenas argumenta em favor de uma suposta legitimidade daquele regime, mas também presta alguns favores (a CPI do BNDES há de informar em pormenores alguns destes).
Pois Janio de Freitas, que tantas vezes tem sido criativo para encontrar atenuantes para os erros petistas, critica em sua coluna na Folha (30/08/2015) o horror a que estão sendo submetidos colombianos pelo regime chavista, e aponta a omissão do governo brasileiro. Descreve ele: "Colombianos expulsos da Venezuela às correrias, com seus pertences miseráveis às costas, cruzando riachos a pé, filhos pendurados no corpo, enquanto seus casebres são incendiados, são parte de um quadro de perversidade intolerável do governo venezuelano."
Pronto. Não é um representante "das elites de olhos azuis", mas um rematado esquerdista quem o diz. E só nos resta acrescentar: a diplomacia brasileira, outrora uma das mais admiradas e respeitadas do mundo, adquiriu a cara vulgar da incompetência e do desvario que caracteriza o governo atual.
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