terça-feira, 29 de novembro de 2016

O dia D dos ladrões

Hoje é um dia importante para o Brasil. O Congresso vota (creio) o projeto contra a corrupção assinado por 2,5 milhões de pessoas. Se for desfigurado, com anistia para o caixa 2, a Lava Jato estará ferida de morte. Hoje é mais importante estarmos nas ruas, nas redes sociais, com protestos mais audíveis, porque os corruptos que querem anistia não têm mais pudor algum de inventar “jabutis” venenosos para desconstruir a única coisa boa dessa crise sem dono, sem fim, sem foz. Vaiaram o relator Onyx, riram dele, chamaram-lhe de “babaca a serviço do MPF”.

Agora, mesmo com a declaração de Temer de que vetará qualquer anistia ao caixa 2, os malandros estão na navalha entre o medo de serem presos e a vergonha de votar pelo roubo. E torcem pelo voto secreto.
Não há mais o que analisar, criticar, debater nada. A única coisa que há a se fazer é o protesto.

Os canalhas do Congresso estão em pé de guerra. Estava demorando muito essa reação dos velhacos. Há dois anos, foram pegos de surpresa. Só agora entenderam que eles têm de reagir como, digamos, honrados ladrões orgulhosos, que sabem esconder suas cumbucas e mãos grandes. Querem arrasar tudo que o MPF e a PF fizeram, numa onda inédita de eficiência, ao revelar o esgoto político do país, onde nadam esses caretas, esses medíocres criados na sombra. Eles se refazem como rabo de lagarto, liderados por Renan Calheiros, camaleão do atraso, lugar-tenente do Sarney. E Renan tem pressa porque, dois dias depois, ele será julgado no STF e pode virar réu.

Eles estão indignados como se defendessem uma cultura: eles continuam achando que um país não se governa com esses inócuos slogans purificadores; para eles, fomos progredindo por séculos de hábitos e cacoetes sagrados, com a doce mistura do público com o privado. Eles pensam: “Esse adultério movimentou nossa história. Como agora vêm esses Moros querendo interromper esse ciclo vicioso, mas muito virtuoso?”

Eles acreditam na beleza do clientelismo, com séculos de formação ibérica, no qual um amigo vale mais do que a dura impessoalidade dos cruéis saxões. Eles parecem querer a preservação do imaginário nacional!


Eles nascem nos currais de sua região, escolhidos entre os mais espertos e boçais. Eles buscam captar a alma dos pobres-diabos sem cultura, mais fáceis de serem enganados. A estupidez vence como uma estranha forma de inteligência, uma rara esperteza para golpes sujos e sacos-puxados. Eles são a covardia, a mentira, a ignorância, uma torta escultura feita de gorjetas, de sobras de campanha, de canjica de aniversários e água benta de batismos. Eles são fabricados entre angus e feijoadas do interior, em favores de prefeituras, em pequenos furtos municipais, em conluios perdidos nos grandes sertões. Para eles, não há o tal de “interesse nacional” – para eles, isso só existe na imaginação de alguns parlamentares metidos a intelectuais, que têm uns “frissons” de responsabilidade, uns discursos mais acesos, mas logo diluídos na molenga rotina dos quóruns, nas piadas dos saguões, nas coxas de uma secretária que passa. Para eles, só existem o lucro e o poder impune; senão, qual a vantagem de ser político? Até a anistia internacional está impressionada com a jogada dessa gente.

Eles querem o impensável – o Congresso julgar o Judiciário. Seria genial, pensam eles, o Legislativo dono do país, para eles roubarem em paz. Eles têm saudade do grande Lula, que fê-los florescer como nunca, desde Cabral.

Eles têm um tempo diferente do nosso. Sabem que os brasileiros vivem angustiados, com sensação de urgência. Mas, para eles, isso é problema nosso: apressadinhos comem cru. Que lhes interessa a pressa nacional? É doce morar lentamente dentro dessas cúpulas redondas, não apenas para maracutaias tão “coisas nossas” – é um vago sentimento de poesia brasileira. Querem apenas saber se seu curralzinho está satisfeito. Eles só desejam exercer seus mandatos com mansidão, pastoreando eleitores, sentindo o frisson dos ternos novos, dos bigodes pintados, das amantes nos contracheques, das imunidades para humilhar garçons e policiais. Detestam que os obriguemos a “governar”. Não é preguiça – porque gastam mil horas em comissões e conchavos tortos –, é por amor ao fixo, ao eterno. Eles têm a fantasia erótica de “ser” a sociedade.

Sua ideia de democracia é um vago amor pelos amigos, um quebranto para a camaradagem, a troca de favores, sempre com gestos risonhos, abraçando-se pela barriga, na doce pederastia de uma sociedade secreta. Eles não dão a mínima bola por serem chamados de “patifes” ou “larápios” – eles têm o prazer narcísico de se sentirem superiores a xingamentos, superiores à ridícula moralidade de classe média. Sua única moralidade é vingar-se de inimigos, cobrar lealdade dos corruptores ativos, exigir pagamentos de propina em dia.

Para eles, a efusiva (e hipócrita) amizade é mais importante que essa bobagem de interesse nacional! O que nós chamamos de “irresponsabilidade e corrupção”, para eles é quase a resistência de uma originalidade brasileira.

Por isso, hoje é um dia decisivo.

Os articulistas, como minha pobre pessoa, não têm mais o que analisar. Está tudo aberto como uma grande galinha destrinchada.

E o dia de hoje é fundamental, não apenas para enquadrar os responsáveis, como também para entendermos que mais importante do que apenas denunciar a corrupção é impedir os terríveis danos ao país que ela promove: descaso pela República e incompetência, como foi na era Lula-Dilma.

E já sabemos também que só a pressão da opinião pública pode impedir a dissolução da operação Lava Jato. Espero que o Congresso seja cercado pela sólida presença dos brasileiros contra a anistia dos “amigos do alheio”.

Por isso, perdoem-me o ardor ingênuo de um romantismo militante, perdoem-me erguer o braço e, como um velho revolucionário, berrar: “Avante, povo!”

Imagem do Dia

Cidade das águas, Zhouzhuang, é uma cidade da província de Jiangsu, China. Zhouzhuang é um destino turístico popular. Trata-se de um dos mais famosos bairros de água na China, notável por seu fundo cultural profundo, as casas residenciais antigas bem preservadas e vistas aquosas elegantes. Ela tem sido chamado de " Veneza do Oriente ".:
Zhouzhuang (China) 

Moral imoral

sponholz

A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele
Apparício Torelly, Barão de Itararé

A liberdade, segundo Russell

O princípio da democracia liberal, que inspirou os fundamentos da Constituição Americana, consistia em que as questões controversas deveriam ser decididas, de preferência, por meio de argumentos e não pela força. Os liberais sempre afirmaram que as opiniões deviam formar-se por livre debate, e não permitindo que apenas uma das partes fosse ouvida. Os governos tirânicos, tanto antigos como modernos, adotaram o ponto de vista oposto. Por minha parte, não vejo razão para se abandonar, neste ponto, a tradição liberal. Se eu estivesse no poder, não procuraria impedir que os meus adversários fossem ouvidos. 
Esforçar-me-ia por proporcionar iguais facilidades para a manifestação de quaisquer opiniões, deixando os resultados entregues às consequências da discussão e do debate. Entre as vítimas acadêmicas da perseguição alemã na Polônia, há, tanto quanto sei, alguns lógicos eminentes que são católicos ortodoxos integrais. Eu faria tudo o que pudesse para conseguir posições acadêmicas para esses homens, apesar dos seus correlegionários não retribuírem tal cortesia.

A diferença fundamental entre o ponto de vista liberal e não-liberal é que o primeiro considera todas as questões possíveis de discussão e todas as opiniões susceptíveis de um maior ou menor grau de dúvida, enquanto a última afirma, de antemão, que algumas opiniões são absolutamente indiscutíveis e que não se deve permitir qualquer argumento contra elas. O que é curioso a respeito dessa posição é a crença de que, se se permitisse uma investigação imparcial, esta levaria os homens a uma conclusão errada, e que a ignorância é , por conseguinte, a única salvaguarda contra o erro. Este é um ponto de vista que não pode ser aceite por nenhum homem que deseje que as ações humanas sejam mais dirigidas pela razão do que pelo preconceito.

Não é triste ver que as pessoas se agarram à vida tão precariamente que aceitam qualquer delírio absurdo em vez de encarar uma verdade sombria e ocasional?:

Foi o ponto de vista liberal que levou a Inglaterra e a Holanda, nos últimos anos do século XVII, a reagirem contra as guerras religiosas. Tais guerras grassaram com grande fúria por espaço de 130 anos, sem que trouxessem a vitória a nenhuma das partes. Cada lado tinha absoluta certeza de estava com a razão e que a sua vitória era de suprema importância para a humanidade. Por fim, alguns homens sensatos cansaram -se da luta indecisa e decidiram que ambos os lados estavam equivocados quanto à sua certeza dogmática. John Locke, que exprimiu tanto na política como na filosofia esse novo ponto de vista , escreveu no começo de uma era de tolerância crescente. Realçou a falibilidade dos juízos humanos e enveredou por uma era de progresso que durou até 1914. É devido à influência de Locke e da sua escola que os católicos desfrutam de tolerância em países protestantes , e os protestantes em países católicos. Nas controvérsias do século XVII os homens aprenderam , mais ou menos, a lição da tolerância, mas, no que toca às novas controvérsias surgidas desde o fim da Primeira Guerra Mundial, as esclarecidas máximas dos filósofos do liberalismo foram esquecidas.

Não nos sentimos horrorizados com os quakers, como se sentiam os piedosos cristãos da corte de Carlos II, mas horrorizamo-nos diante dos homens que aplicam aos problemas de hoje as mesmas ideias e os mesmos princípios que os quakers do século XVII aplicavam à sua época. Há opiniões de que discordamos, que adquirem , pela sua antiguidade, uma certa respeitabilidade, mas uma opinião nova da qual não compartilhamos parece-nos, invariavelmente, chocante.

Há dois pontos de vista possíveis quanto ao funcionamento da democracia. Segundo um desse pontos de vista , as opiniões da maioria deviam prevalecer, de maneira absoluta, em todos os terrenos. Segundo a outra maneira de ver, sempre que uma decisão comum não é necessária , deveriam ser apresentadas opiniões diferentes, tanto quanto possível, em proporção com a sua frequência numérica. O resultado desses dois pontos de vista é, na prática, muito diferente. De acordo com o primeiro, quando a maioria já decidiu acerca de uma opinião, não se deve limitar-se a canais obscuros e pouco influentes. De acordo com o outro ponto de vista, as opiniões da minoria devem ter as mesmas oportunidades de expressão que as opiniões da maioria, mas somente em menor grau.

(...) Depois do fim da Primeira Guerra Mundial, renasceu a intolerância fanática até se tornar, numa grande parte do mundo, tão virulenta como durante as guerras religiosas. Todos os que se opõem à livre discussão e procuram impor uma censura às opiniões a que os jovens se acham expostos, estão a contribuir para o aumento desse fanatismo e a mergulhar ainda mais no abismo de lutas e intolerância de que Locke e os seus colaboradores os livraram.

Bertrand Russell, "Porque não sou cristão"

O debate à esquerda

Dentre os vários ensinamentos que a história e a sociologia política nos legaram está a noção de que “conceitos são palavras em seus contextos”. Tanto mais se o conceito em questão guarda uma polissemia construída historicamente. É esse precisamente o caso da noção de “esquerda”, assimilada como um conceito que, no plano político, deve ser pensado de maneira relacional. Assim, em relação à esquerda talvez não se deva buscar nem uma normativa fora da história nem uma suposta evolução conceitual que derive em significados absolutos e imutáveis.

Olhando historicamente, é constatável que a esquerda pode, muitas vezes, estar ausente ou ser muito rarefeita num determinado sistema de forças políticas, tornando difícil sua identificação. Não é incomum que a esquerda se mostre dividida em vários grupos, sem que se possa dizer qual deles é mais representativo ou autêntico. Também não são poucas as ocasiões em que a esquerda se expressa como uma força antagônica ao sistema social, ou como conciliatória no sistema político, não se descartando até mesmo uma combinação, às vezes surpreendente, entre ambas. Desnecessário dizer, portanto, que estamos diante de um universo de possibilidades quase infinito.

Em função da crise vivenciada pelo PT e do debate que está provocando, nota-se que não raro emergem equívocos de interpretação a respeito dos problemas de identidade da esquerda. Por vezes vemos predominar nas intervenções de intelectuais e políticos um reiterado dogmatismo, ao se sugerirem diversos invólucros para abrigar o que seria uma “verdadeira esquerda”, como uma espécie de Graal capaz de dirigir as massas que, em tese, estariam dispostas a se manter vinculadas ao PT ou ao que vier a emergir da sua crise.

Há problemas de diagnóstico no enfrentamento da crise do PT e dos destinos da esquerda brasileira. Além do corporativismo, do personalismo e do reconhecimento do que agora se chama de “reformismo fraco” promovido pelo lulismo, justificadamente levantados, há questionamentos mais amplos a respeito da visão totalitária presente em parcelas da esquerda, da sua inclinação ao adesismo e, por fim, do seu viés populista.

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A retomada do tema do totalitarismo dá a impressão de um recuo no tempo. É curioso observar que a parcela da esquerda brasileira que há anos rechaça práticas do totalitarismo seja desconsiderada no debate, especialmente aquela que assumiu como central a perspectiva da “democracia como valor universal”. Imaginava-se que o PT também havia cumprido esse percurso, mas depois se percebeu que entre seus dirigentes havia mais retórica do que convicção nessa direção. De resto, felizmente, a esquerda que valida práticas totalitárias é, entre nós, residual. Surpreende, contudo, termos de retornar a tal ponto para pensarmos numa “reconstrução da esquerda”. Talvez esse seja um forte indicativo das limitações intelectuais que esse campo sofre para avaliar o fracasso do petismo e os desafios do futuro.

O mesmo se dá com tema do adesismo, uma ideia banal presente no imaginário esquerdista. Trata-se de uma definição de esquerda a partir do seu status antissistema, de sua eterna vocação anti-institucional. Suspeita-se da incorporação da esquerda ao sistema da democracia representativa e da afirmação de uma “esquerda de governo”, quer como líder de uma coalizão, quer como um dos partidos coligados de um governo democrática e constitucionalmente instituído. Esse fantasma martiriza a esquerda por se temer uma identificação com a social-democracia ou com um “reformismo” que busque soluções positivas por meio de reformas institucionais, de programas sociais universalistas e de transformações culturais democráticas e emancipadoras. Na velha linguagem, o que há é o temor de que a esquerda administre o capitalismo, como se essa fosse a questão definidora no nosso tempo. Novamente há um retorno a uma abordagem antiga, tornando inviável um diagnóstico mais preciso da crise e dos elementos teóricos que devem ser mobilizados para a reconstrução da esquerda, especialmente diante de um cenário de ruínas deixado pelo petismo e de um contexto mundial cheio de sobressaltos e riscos para o País.

O populismo, por fim, é um problema mais profundo. Trata-se de um conceito fracassado na interpretação da história latino-americana. Contudo o que chamamos hoje de populismo, vindo da esquerda ou da direita, ultrapassa suas origens, fronteiras e seus marcos históricos de referência, manifestando-se essencialmente, e em perspectiva, como uma política de rechaço à democracia. Para se afirmar como “antielitista” o populismo mobiliza o conceito de “democracia iliberal” para relativizar seu rechaço aos sistemas democráticos do nosso tempo. Caracterizado como ideologia ou apenas como uma retórica, o fato é que a contraposição entre populismo e democracia indica que não poderá haver uma esquerda democrática que compactue ou coqueteie com o populismo. As experiências recentes do bolivarianismo, que arrasaram a economia da Argentina e da Venezuela, comprovam tal evidência.

No Brasil, esse problema é visto de soslaio e se perde num escapismo que não consegue dar conta de explicar que as razões do fracasso do PT repousam mais no colapso do esquema mafioso de poder e de uma política econômica desastrosa do que da imposição de um “populismo orgânico”. O PT, de bom grado, deixou-se assenhorear por Lula e hoje vive para defendê-lo. Sendo impossível deslocar seu protagonismo, Lula passou a ser um poderoso obstáculo para que a esquerda, a partir do petismo, se reinvente no País.

O debate em torno do futuro da esquerda brasileira deve ser mais exigente e se pôr à altura dos desafios do nosso tempo, buscando um novo lugar no mundo para o Brasil, e não se pautar por um catálogo antigo dos pecados cometidos pela esquerda histórica.

O honesto perigoso está fazendo falta ao Brasil

“Achtung Baby” foi um dos álbuns de maior sucesso da banda de rock irlandesa U2. Numa de suas mais conhecidas canções, o primeiro verso chama a atenção: ‘You’redangerous, cause you’rehonest’. Traduzindo: ‘Você é perigoso, porque é honesto’. Sempre recordo desse verso quando reflito sobre alguns episódios que testemunhei ou acompanhei na vida pública. Em alguns círculos, a simples presença de uma pessoa honesta gera imenso desconforto. A honestidade causa constrangimentos, pois introduz um elemento estranho ao ambiente, inibindo conversações e atrapalhando negócios.

Pior: em muitos casos, para a maioria dos seus colegas, o honesto representa um mau exemplo, uma influência negativa e até mesmo um risco a ser contido, silenciado, isolado e, de preferência, eliminado.

Em certas situações, todavia, há tolerância com a honestidade, desde que ela seja inofensiva, ou seja, omissa, inerte, passiva, acomodada e contente. O honesto perigoso é o indignado, o inconformado, o ruidoso e, sobretudo, o independente.

Tenho externado muitas vezes a firme convicção de que a maioria dos cidadãos é honesta, assim como a maioria dos gestores, líderes sociais e dirigentes políticos. Contudo, reconheço que às vezes penso que o país estaria mais bem servido se houvesse um maior número de honestos perigosos.

De outro lado, vale lembrar que a honestidade é uma virtude necessária, porém absolutamente insuficiente. A cultura política tradicional ainda é bastante assombrada pelo mito do ‘rouba, mas faz’. Tal entendimento representa uma espécie de indulgência para com a corrupção, desde que sejam feitas obras, muitas obras, mesmo superfaturadas, desnecessárias ou inacabadas. Entre o gestor que é reconhecido como honesto, mas acusado de inoperante, e aquele corrupto com fama de empreendedor, ainda há uma expressiva parcela da opinião pública que repete a escolha da multidão de Jerusalém que, diante da opção oferecida por Pôncio Pilatos, preferiu libertar Barrabás.

A literatura política registra o caso de um ex-prefeito do Rio, intocável no quesito honestidade, mas que concluiu sua gestão com altos índices de impopularidade. Seus críticos diziam que ele tinha desmoralizado a honradez. Alguns dos seus sucessores, bem mais flexíveis no aspecto ético, foram aclamados como realizadores.

Assim como Jesus Cristo recomendou aos apóstolos que fossem simples como as pombas, mas prudentes como as serpentes, é necessário que os nossos honestos sejam perigosos, como na música do U2, mas também habilidosos para driblar as armadilhas dos lobos.

Bossa Nova no Japão

Nara Leão e Roberto Menescal em show na televisão japonesa

Amor bandido

Penso que nada prova melhor a extensão da encrenca em que estamos metidos do que o assíduo comparecimento da expressão "só isso não resolve" em todos os discursos e análises de conjuntura. E não importa se estamos falando de problemas sociais, políticos ou econômicos. Não faz diferença, tampouco, se o que está em discussão é projeto singelo ou pacote de espectro mais amplo, como o anunciado na última segunda-feira pelo governador Sartori. Tudo que se proponha no Brasil peca pela insuficiência.

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O Estado é um ente gastador. Dotado de apetite voraz, consome todo o dinheiro que lhe seja proporcionado. Se, milagrosamente, revertêssemos o quadro atual e dona Receita se tornasse superior à dona Despesa, esta imediatamente dispararia em busca daquela, puxando-a pelos cabelos. São duas irmãs que não se dão bem, como a gente sabe, mas Despesa, em definitivo, não gosta de se sentir menor do que Receita. O Rio de Janeiro faz prova disso. Durante anos, foi um Estado privilegiado por acrescentar robustos royalties de petróleo às suas receitas tributárias. Resultado: o Rio nivelou sua despesa corrente num patamar ainda mais elevado. E agora soma às perdas advindas da recessão uma grande redução dos royalties que recebe. Quebrou mais do que os outros.

Em fins de 2005, Antonio Palocci estava alinhavando um plano para atingir e manter elevado superávit nos anos por vir. Jornais da época ajudam a lembrar o fato. O superávit primário já fora 4,5%, beirava os 5%, e o ministro queria manter a pressão sobre o gasto público. Dilma Rousseff, porém, como chefe da Casa Civil, fuzilou as intenções de longo prazo com uma frase que entrou para a História: "...despesa corrente é vida: ou você proíbe o povo de nascer, de morrer, de comer ou de adoecer, ou vai ter despesas correntes". Em dose errada, essa receita mata. A partir de então, o Brasil traçou seu rumo para um lugar de destaque no quadro de fracassos keynesianos e desenvolvimentistas. A economia afundou e o superávit virou déficit de 2,8% do PIB neste já histórico 2016.

O PIB real brasileiro está 7% abaixo do que era em 2013! Se somarmos a isso o que deveríamos ter crescido, caso mantivéssemos a média das últimas décadas (parcos 2,5% ao ano), constataremos que a perda efetiva se eleva a algo como 15% nesses três anos. Mas as despesas correntes, aquela peculiar forma de vida, continuaram crescendo. É o número que falta hoje, a grosso modo, no caixa de todos os governantes. Buraco dessa fundura não se preenche sequer em médio prazo. Precisaríamos prover condições que não temos para um crescimento padrão chinês.

Governos perdulários atendem demandas, colhem afetos e sorrisos. São vistos como benevolentes e amorosos. Mas é um amor bandido. Dá com uma das mãos o que, ali adiante, tomará com as duas, levando empregos, destroçando esperanças, comprometendo o futuro e incapacitando o Estado para o cumprimento de funções essenciais. Aprender dos próprios erros, pela pedagogia do desastre, é a mais sofrida aprendizagem. Mas sinto que está sendo bem-sucedida. Se Sartori dispusesse de tempo e submetesse seu pacote a um referendo, receberia amplo respaldo popular. A sociedade entendeu a lição na sala de aula da realidade.

O amor bandido faz da irresponsabilidade fiscal instrumento de sedução. Pulsa coraçõezinhos com ambas as mãos. Coleciona gratidões passageiras. E semeia tempestades cujos maiores danos incidem sobre os mais miseráveis entre os pagadores de impostos. No setor público, em suas mais importantes esferas, não há razoabilidade na pretensão de viver fora da crise. Não é justo que recebam primeiro os funcionários que ganham mais, nem que os poderes do Estado cobrem, em valor real, duodécimos de receita virtual. Quando um avião entra em zona de turbulência, não podem os passageiros da primeira classe pretender que sua cabine não sacoleje.

Percival Puggina

Temer reclamar das instituições é como comandante de navio esculachar o mar

Estreou em Brasília, na noite desta segunda-feria, um espetáculo político inédito. Nele, Michel Temer, no papel de si mesmo, vive o drama de um mandatário cofuso, que cospe no prato em que não consegue comer. O personagem deve sua presença no comando do Executivo à solidez das instituições. Em meio à crise, foi alçado ao topo da República como solução constitucional implementada pelo Legislativo, sob a supervisão do Judiciário. Súbito, vai à boca do palco para expectorar desaforos sobre as instituições que lhe asseguram o poder.

Dirigindo-se a uma plateia amiga, feita de empresários e investidores, Temer sapecou: ''Os senhores imaginam o capital estrangeiro como está ansioso para aplicar no Brasil. Aliás, os senhores sabem melhor do que eu. Mas é interessante que, de vez em quando, há uma certa instabilidade institucional com um fato ou outro. Como não temos instituições muito sólidas, qualquer fatozinho, me permitam a expressão, abala as instituições.''

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O ‘fatozinho’ a que se refere Temer é o caso do ministro que foi apanhado com lanças em punho, guerreando contra o interesse público para salvar o negócio privado da compra de um apartamento milionário em Salvador. O episódio converteu-se num ‘fatozão’ no instante em que Temer decidiu transformar a agenda imobiliária do amigo Geddel Vieira Lima num processo de desmoralização de sua Presidência. Era uma crise localizada. Irradiou-se para o governo depois que Marcelo Calero deixou a pasta da Cultura batendo a porta.

''O investidor fica um pouco assustado, sendo o investidor nacional e muito maiormente o investidor estrangeiro”, disse Temer. “Mas essas instabilidades são passageiras e não podem ser levadas a sério, porque levado a sério tem de ser o país.'' Levando-se em conta que os brasileiros que não toleram brincadeiras com seu país rosnam para o governo nas redes sociais enquanto se preparam para voltar às ruas, Temer parece considerar que o Brasil, para tornar-se mais estável, precisa trocar de povo.

Esse povo que aí está não consegue compreender que Temer apenas repete em cena o velho enredo do gestor que, rendido às circunstâncias, promote o avanço econômico com os pés fincados no atraso político em que se misturam o patrimonialismo e a corrupção. De saco cheio, o povo se divide em dois grupos. Num, estão os brasileiros que acham que o governo é tocado por pessoas capazes de tudo. Noutro, encontram-se os patrícios que acreditam que a máquina pública é tocada por pessoas incapazes de todo. Nenhuma das duas alas está preparada para oferecer o país tranquilo que os investidores precisam.

Como não ficaria bem para um presidente da República esculhambar o povo do seu país, Temer reclama das instituições, que “não são muito sólidas”. Além de inédito, o espetáculo é confuso. Deve doer em Temer o destino que a história lhe reservou. Ao reclamar das instituições que o levaram à cabine de comando, o substituto constitucional da presidente que foi impedida fica numa posição parecida à de um comandante de navio que se queixa da existência do mar.

É bom lembrar!

Danielle Mazur: Climate Change -  One of the main reason is fossil fuels such as oil, coal and natural gas as they supply most of the energy needed to run vehicles, generate electricity for industries and households. The energy sector is responsible for about 3/4 of the carbon dioxide emissions & 1/5 of the methane emissions. This is one of the main human causes which have impacted climate change.:

A maioria de nós esquece que a natureza e a sociedade são a mesma coisa
Jerzy Kosinski, O videota

Universidade tradicional ou corporativa

Durante séculos, desde a criação da Universidade de Bolonha, nos acostumamos aos modelos de educação em que demandas tradicionais eram atendidas pela oferta de cursos convencionais, conduzindo a diplomas formais, sujeitos à legislação de cada país, e que habilitavam ao exercício profissional.

Com o advento da sociedade do conhecimento, resultado dos acelerados avanços da ciência e da criação de novas tecnologias, passamos a ter que preparar jovens para profissões que ainda não existem e para tecnologias que ainda não foram geradas. Por outro lado, as empresas são cada vez mais forçadas a incrementar a sua competitividade, para que permaneçam "vivas" num cenário de crescente seletividade.
A Universidade de Bolonha, fundada em 1088 e ainda em atividade, é a universidade mais antiga do mundo (Foto: Divulgação)
Universidade de Bolonha, fundada em 1088,
ainda em funcionamento
Por isso, muitas empresas começaram a ver seus quadros técnicos como potenciais “alunos não convencionais”, que necessitavam de “cursos não formais” específicos que, mesmo sem oferecer certificados ou diplomas formais, os preparassem para o enfrentamento dos inúmeros desafios que se colocavam nas suas atividades diárias.

Assim, foram implantadas as universidades corporativas, com o objetivo de desenvolver as competências determinantes para o negócio da empresa.

A primeira surgiu nos Estados Unidos, nos anos 1920, numa ação pioneira da General Motors, que construiu uma escola noturna para familiarizar seus técnicos com as linhas de montagem da indústria automotiva. Sua iniciativa foi tão bem sucedida que, em 1997, se transformou numa universidade independente, a Kettering University.

Hoje, as universidades corporativas naquele país são em número próximo ao das universidades convencionais.

No Brasil, elas começaram nos anos 90. Suas características dificultam saber o número efetivamente em funcionamento, mas, certamente, devem ultrapassar as 400.

Apesar da educação não ser o principal objetivo das empresas que as criaram, elas acabam por agregar, a cada um de seus funcionários, as competências que vão assegurar a sua empregabilidade no futuro, na medida em que, quase sempre, os preparam para aprender a aprender, para a construção de um raciocínio lógico na identificação e na solução de problemas, para o conhecimento das tecnologias empregadas no projeto e na fabricação de seus produtos, para o trabalho em equipe e para o autogerenciamento da própria carreira.

Dessa forma, os egressos das empresas que oferecem programas corporativos poderão vir a ter grande vantagem na busca por uma nova função, noutra empresa. Entretanto, ainda não desenvolvemos no Brasil procedimentos que sejam capazes de certificar os saberes, as competências e as habilidades adquiridas nas empresas. Noutras economias, como na Norte-Americana, na Britânica e na Australiana, há mais de um século foram criadas instituições especializadas neste tipo de certificação, e com validade em todo o mundo.

Pode, então, o modelo das universidades corporativas ameaçar o das universidades convencionais, já secular?

Parece-me que não, na medida em que as primeiras têm seu foco nas necessidades do setor produtivo, e as últimas são caracterizadas por uma formação geral, privilegiando o avanço do conhecimento.

Dessa forma, muitas instituições estão preparando para dar continuidade ao avanço da ciência e poucas na atuação dentro das empresas. O resultado é que sobram graduados no mesmo ambiente em que faltam trabalhadores qualificados.

A oferta de cursos superiores de tecnologia é uma solução, ainda desprezada pelas grandes universidades. A melhor articulação universidade-empresa, como um todo, se bem conduzida, poderá resultar em progresso expressivo para o nosso desenvolvimento.

Como exemplos, a realização de projetos de investigação que permitam o aumento da competitividade, a oferta de programas de educação continuada e a utilização dos laboratórios universitários em ensaios relevantes para muitas empresas, e que dependem de laboratórios de alto custo. Levar a universidade ao setor produtivo será decisivo para a retomada do crescimento.

Melhor com Temer ou sem Temer?

Muitas análises podem ser feitas acerca do governo do Presidente Temer.

Uns, pessimistas.

Acham que não há vontade política; o estilo é suave demais; idas e vindas nas decisões tomadas; vacilações; escolhas incorretas de auxiliares etc.

Outros, confiantes.

Reconhecem o equilíbrio do presidente; o desejo de acertar e confiam na opção que ele fez para governar nessa emergência nacional.

E qual foi a opção do Presidente Temer, ao assumir o governo?

Tinha dois caminhos básicos a seguir.

Mostraria “mão de ferro”; definiria rumos; exigiria postura do Congresso Nacional e faria escolhas de auxiliares com base em critérios pessoais de competência.

A outra alternativa seria a que ele optou.
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Entendeu que, assumindo o governo num país democrático, deveria conviver com o Congresso Nacional e a classe política, como único meio de forçar os caminhos possíveis para as reformas necessárias.

No retrovisor, o presidente ainda enxergava o desastre do relacionamento da ex-presidente Dilma com a sua própria base política, dando no que deu.

Ontem, ao conceder entrevista à imprensa, após a saída do seu ministro político, Geddel Vieira Lima, o presidente Michel Temer deixou claro que assumirá a coordenação política do seu governo e deu a entender que é isso que sabe fazer.

Realmente, a sua história de vida tem a marca do diálogo congressual.

Eleito três vezes presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, antes de ser vice de Dilma Rousseff, assumiu a presidência da República interinamente por duas vezes: de 27 a 31 de janeiro de 1998 e em 15 de junho de 1999.

Por essa razão, na história do Brasil é um dos poucos Presidentes que adotou a postura de repartir o poder com a classe política, através dos partidos.

Mesmo com membros do Parlamento atingidos (alguns até no seu governo) pelas acusações notórias que permeiam a realidade do país, sem a colaboração do Congresso nada seria possível, salvo preparar a Nação para ingressar no autoritarismo, que mereceria a repulsa de todos.

Se o presidente não tivesse agido dessa forma, o pós Dilma seria melhor?

Claro que há imperfeições.

Porém, com o estilo agressivo do PT e seus aliados, de nada adiantaria a demonstração de força como meio de persuasão política.

Por outro lado, as deformações de alguns membros do Congresso Nacional não têm a digital do governo.

A causa remota foi a escolha popular equivocada.

Parece que, com a saída do ministro Geddel, o presidente fará realmente o que gosta.

Entender-se com os políticos; avançar e recuar; buscar consensos e dessa forma tentar chegar à aprovação do essencial, que são as reformas clamadas pela Nação.

Se ele conseguirá ou não, só o tempo dirá.

Mas é absolutamente consciente a estratégia de aproximar-se dos políticos e dos partidos, mesmo enfrentando o risco de acusações como “toma lá me dá cá”, ou fisiologismo.

Em toda democracia do mundo, a relação executivo e legislativo passa por concessões recíprocas.

Note-se o “radical” Trump já buscando adversários para ajudá-lo no Congresso e até recuando em certas posições.

Observe-se que o momento político nacional tem sinais de surrealismo.

Partido como o PT e aliados se opõem, esbravejam e usam todos os métodos para dificultar a aprovação de uma medida legal, que proíbe gastar mais do que o governo arrecada.

Por mais incrível quer pareça, todos eles são a favor da gastança sem controle.

É o caso de perguntar: melhor com o estilo Temer, ou sem Temer?

A resposta é de cada internauta.

Ney Lopes

Cem cientistas pedem recursos para evitar que asteroide destrua a Terra

“Se os dinossauros tivessem possuído uma agência espacial e investido na prevenção da colisão de um asteroide, hoje continuariam dominando a Terra”, brinca Javier Licandro, pesquisador do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC). A piada pretende ilustrar o momento em que se encontra o estudo dessa ameaça para a vida na Terra, tão explorada no cinema. “Temos certeza de que um asteroide voltará a colidir com o planeta. O que estamos fazendo para evitar isso?”, questiona. Licandro integra um grupo de mais de 100 cientistas, entre eles Stephen Hawking, que pedem à Europa o financiamento de uma missão que poderia ser decisiva. Atualmente, já existem planos para explorar os minerais dos asteroides e explicar à humanidade que esse corpo rochoso pode acabar conosco, mas ainda não sabemos como fazer mais do que os dinossauros para nos salvarmos.

Trata-se de uma missão conjunta das agências da Europa (ESA) e dos Estados Unidos (NASA), com o objetivo de estudar o que aconteceria com um asteroide perigoso se o atingíssemos para desviá-lo de sua trajetória. O projeto, denominado Avaliação de Impacto e Desvio de Asteroides (AIDA, na sigla em inglês) tem duas partes complementares: os norte-americanos atingem o asteroide e os europeus observam. O que os cientistas reivindicam numa carta à conferência ministerial da ESA é que esta agência financie a parte europeia, batizada de AIM (Missão de Impacto de Asteroides), que ainda está no ar. A decisão será tomada neste final de semana em Lucerna (Suíça).


O alvo da missão é uma dupla de asteroides: o sistema binário Didymos, formado por um corpo maior, de 800 metros de diâmetro, e seu pequeno satélite, chamado coloquialmente de Didymoon, de 150 metros. A NASA enviará o DART, uma sonda-projétil de 300 quilos, para colidir com a Didymoon em 2020 e assim observar como intervenções desse tipo afetam a trajetória dos asteroides. Para analisar as consequências em detalhe, a AIM deverá ter chegado em maio deste ano para observar antes, durante e depois do impacto o sistema binário de asteroide e minilua. O impacto, a mais de 6 quilômetros por segundo, não pode significar um perigo para a Terra porque os asteroides não cruzarão a rota do nosso planeta, por mais que se altere sua trajetória.

Segundo Licandro, a missão europeia terá três eixos. O mais evidente é o já mencionado sobre segurança, ou seja, entender como proteger a Terra contra objetos potencialmente perigosos. O segundo eixo é o conhecimento sobre asteroides obtido a partir da observação do sistema binário, que dará pistas sobre a formação do universo. A missão também testará, pela primeira vez, um sistema de comunicação a laser desenvolvido pelo IAC. “É muito mais efetivo e rápido que os sistemas de rádio usados habitualmente”; diz Licandro.

Sem a AIM e sua comunicação a laser, ainda seria possível acompanhar o impacto da Terra, mas seria perdida grande parte da informação decorrente do choque do DART contra o asteroide. Essa comunicação via laser é uma grande oportunidade para que organismos e empresas espanholas desenvolvam a tecnologia. O IAC também fornecerá uma câmera térmica para a missão. Ao lado de Licandro, Julia de León e Miquel Serra-Ricart integram a equipe do IAC que também faz pressão para que a ESA aprove a missão.