Pior: em muitos casos, para a maioria dos seus colegas, o honesto representa um mau exemplo, uma influência negativa e até mesmo um risco a ser contido, silenciado, isolado e, de preferência, eliminado.
Em certas situações, todavia, há tolerância com a honestidade, desde que ela seja inofensiva, ou seja, omissa, inerte, passiva, acomodada e contente. O honesto perigoso é o indignado, o inconformado, o ruidoso e, sobretudo, o independente.
Tenho externado muitas vezes a firme convicção de que a maioria dos cidadãos é honesta, assim como a maioria dos gestores, líderes sociais e dirigentes políticos. Contudo, reconheço que às vezes penso que o país estaria mais bem servido se houvesse um maior número de honestos perigosos.
De outro lado, vale lembrar que a honestidade é uma virtude necessária, porém absolutamente insuficiente. A cultura política tradicional ainda é bastante assombrada pelo mito do ‘rouba, mas faz’. Tal entendimento representa uma espécie de indulgência para com a corrupção, desde que sejam feitas obras, muitas obras, mesmo superfaturadas, desnecessárias ou inacabadas. Entre o gestor que é reconhecido como honesto, mas acusado de inoperante, e aquele corrupto com fama de empreendedor, ainda há uma expressiva parcela da opinião pública que repete a escolha da multidão de Jerusalém que, diante da opção oferecida por Pôncio Pilatos, preferiu libertar Barrabás.
A literatura política registra o caso de um ex-prefeito do Rio, intocável no quesito honestidade, mas que concluiu sua gestão com altos índices de impopularidade. Seus críticos diziam que ele tinha desmoralizado a honradez. Alguns dos seus sucessores, bem mais flexíveis no aspecto ético, foram aclamados como realizadores.
Assim como Jesus Cristo recomendou aos apóstolos que fossem simples como as pombas, mas prudentes como as serpentes, é necessário que os nossos honestos sejam perigosos, como na música do U2, mas também habilidosos para driblar as armadilhas dos lobos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário