segunda-feira, 7 de setembro de 2015
À sombra do Pixuleco
Dos seus dois palácios, o Planalto, onde trabalha, e o Alvorada, onde mora, Dilma só sai para lugares a salvo de vaias e de manifestantes hostis.
Por isso, quem cuida de sua segurança fez de um pedaço da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, um puxadinho do Planalto na tentativa de poupá-la, hoje, de constrangimentos durante o desfile militar de 7 de Setembro. Um puxadinho, não, um puxadão.
É de se ver: foram selecionados com rigor os convidados que ocuparão palanques a certa distância do palanque reservado às autoridades máximas da República.
Placas robustas de aço impedem o acesso do público à área do desfile das tropas.
O momento mais delicado será aquele quando Dilma atravessará em carro aberto um pedaço da pista. Aí reside o perigo de vaias.
Deu-se um jeito para isolar eventuais manifestantes dos palanques oficiais. Se tudo sair como o previsto, não haverá risco de Pixuleco roubar a festa.
Pixuleco é aquele boneco inflável gigante com a cara de Lula e a roupa de presidiário, a mais nova e bem-sucedida invenção dos que querem ver o ex-presidente na cadeia por envolvimento com a roubalheira na Petrobras – mas não só.
Pixuleco é o segundo alvo a inspirar cuidados à segurança de Dilma. O primeiro são os malucos que prometem atentar contra a vida dela.
Para Dilma e Lula, o impensável seria a presidente aparecer em alguma foto com Pixuleco, mesmo que longe dele.
Em São Paulo, outro dia, Pixuleco ganhou a companhia de uma Dilma tamanho gigante e também vestida como presidiária.
Infeliz do governante condenado a ser protegido dos seus governados.
No caso de Dilma, isso tem a ver com a crise econômica, sim, a mais severa dos últimos 12 anos de reinado do PT. Tem mais a ver, porém, com o tremendo engodo que foi sua campanha.
A crise poderia ser suportável se Dilma não tivesse mentido tanto para se reeleger. E se não continuasse a mentir até hoje.
Dilma não tem gosto pela mentira. Se tivesse seria uma mentirosa contumaz. Ela apenas não tem compromisso com a verdade. Não é a mesma coisa, por suposto.
Aprendeu a mentir para sobreviver ao ser presa e torturada durante a ditadura militar de 64. Não desaprendeu mais.
Mentiu para não sair de onde está. Deu certo. Mente para tentar chegar ao fim do mandato. Está dando errado.
Quem ainda sustenta o governo?
O Bradesco, que sustenta seu ex-funcionário Joaquim Levy, Ministro da Fazenda; o PMDB de Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, que leva jeito de que em breve deixará de sustentar; e a falta, por ora, de consenso político em torno da substituição de Dilma. Uma vez que o consenso seja alcançado, o resto será mais fácil.
Para salvar-se do mensalão, Lula entregou a cabeça de José Dirceu, chefe da Casa Civil do seu governo.
Dilma não quer entregar nenhuma cabeça para salvar a sua.
O PT quer a de Levy, com o qual não tem a menor afinidade. O PMDB quer a cabeça de Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil do governo, e responsável pelo distanciamento entre a presidente e seu vice.
A oposição quer a de Lula. Em troca dela, seria capaz de ajudar Dilma a governar se fosse o caso.
Ocorre que Dilma, para dizer o mínimo, é uma pessoa mentalmente confusa. Sua palavra vale pouco ou quase nada.
Pode ter sido uma boa tarefeira quando obedecia a ordens de Lula. Quando passou a ser obrigada a fazer escolhas e a dar ordens, é o que se vê.
Pena de nós.
Por isso, quem cuida de sua segurança fez de um pedaço da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, um puxadinho do Planalto na tentativa de poupá-la, hoje, de constrangimentos durante o desfile militar de 7 de Setembro. Um puxadinho, não, um puxadão.
É de se ver: foram selecionados com rigor os convidados que ocuparão palanques a certa distância do palanque reservado às autoridades máximas da República.
Placas robustas de aço impedem o acesso do público à área do desfile das tropas.
Deu-se um jeito para isolar eventuais manifestantes dos palanques oficiais. Se tudo sair como o previsto, não haverá risco de Pixuleco roubar a festa.
Pixuleco é aquele boneco inflável gigante com a cara de Lula e a roupa de presidiário, a mais nova e bem-sucedida invenção dos que querem ver o ex-presidente na cadeia por envolvimento com a roubalheira na Petrobras – mas não só.
Pixuleco é o segundo alvo a inspirar cuidados à segurança de Dilma. O primeiro são os malucos que prometem atentar contra a vida dela.
Para Dilma e Lula, o impensável seria a presidente aparecer em alguma foto com Pixuleco, mesmo que longe dele.
Em São Paulo, outro dia, Pixuleco ganhou a companhia de uma Dilma tamanho gigante e também vestida como presidiária.
Infeliz do governante condenado a ser protegido dos seus governados.
No caso de Dilma, isso tem a ver com a crise econômica, sim, a mais severa dos últimos 12 anos de reinado do PT. Tem mais a ver, porém, com o tremendo engodo que foi sua campanha.
A crise poderia ser suportável se Dilma não tivesse mentido tanto para se reeleger. E se não continuasse a mentir até hoje.
Dilma não tem gosto pela mentira. Se tivesse seria uma mentirosa contumaz. Ela apenas não tem compromisso com a verdade. Não é a mesma coisa, por suposto.
Aprendeu a mentir para sobreviver ao ser presa e torturada durante a ditadura militar de 64. Não desaprendeu mais.
Mentiu para não sair de onde está. Deu certo. Mente para tentar chegar ao fim do mandato. Está dando errado.
Quem ainda sustenta o governo?
O Bradesco, que sustenta seu ex-funcionário Joaquim Levy, Ministro da Fazenda; o PMDB de Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, que leva jeito de que em breve deixará de sustentar; e a falta, por ora, de consenso político em torno da substituição de Dilma. Uma vez que o consenso seja alcançado, o resto será mais fácil.
Para salvar-se do mensalão, Lula entregou a cabeça de José Dirceu, chefe da Casa Civil do seu governo.
Dilma não quer entregar nenhuma cabeça para salvar a sua.
O PT quer a de Levy, com o qual não tem a menor afinidade. O PMDB quer a cabeça de Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil do governo, e responsável pelo distanciamento entre a presidente e seu vice.
A oposição quer a de Lula. Em troca dela, seria capaz de ajudar Dilma a governar se fosse o caso.
Ocorre que Dilma, para dizer o mínimo, é uma pessoa mentalmente confusa. Sua palavra vale pouco ou quase nada.
Pode ter sido uma boa tarefeira quando obedecia a ordens de Lula. Quando passou a ser obrigada a fazer escolhas e a dar ordens, é o que se vê.
Pena de nós.
A nossa independência
(Não era mais um fuxico),
Mas Dom Pedro disse: “Eu fico,
De voltar não tenho pressa!
Não aceito mais conversa,
Chega de submissão,
Vou erguer uma nação
Com um povo soberano,
Quero até o fim do ano
A nossa libertação!”
II
Pedro Américo pintou
Dom Pedro com uma espada,
A tropa toda montada
Quando o grito ressoou:
“Diga ao reino que eu não vou
Nem para arriscar a sorte
E do Sul até o Norte
Fiquem todos avisados:
O Brasil foi libertado,
Ou independência ou morte!”
III
Dom Pedro o grito soltou
No dia 7 de setembro,
Quando chegou em dezembro
Se tornou imperador,
Oito anos governou,
Depois saiu pelo mundo,
Meio pela porta do fundo,
Porém manteve o reinado
Com o Brasil governado
Pelo rei Pedro Segundo.
IV
Com o tempo a República veio
E quase nada mudou:
O pobre não enricou,
Bonito não ficou feio.
É sempre o mesmo aperreio,
Naquele tempo e agora.
Há quem enxergue melhora
Na vida da nossa gente,
Mas o cavalo é quem sente
Onde pinica a espora.
Mas Dom Pedro disse: “Eu fico,
De voltar não tenho pressa!
Não aceito mais conversa,
Chega de submissão,
Vou erguer uma nação
Com um povo soberano,
Quero até o fim do ano
A nossa libertação!”
II
Pedro Américo pintou
Dom Pedro com uma espada,
A tropa toda montada
Quando o grito ressoou:
“Diga ao reino que eu não vou
Nem para arriscar a sorte
E do Sul até o Norte
Fiquem todos avisados:
O Brasil foi libertado,
Ou independência ou morte!”
III
Dom Pedro o grito soltou
No dia 7 de setembro,
Quando chegou em dezembro
Se tornou imperador,
Oito anos governou,
Depois saiu pelo mundo,
Meio pela porta do fundo,
Porém manteve o reinado
Com o Brasil governado
Pelo rei Pedro Segundo.
IV
Com o tempo a República veio
E quase nada mudou:
O pobre não enricou,
Bonito não ficou feio.
É sempre o mesmo aperreio,
Naquele tempo e agora.
Há quem enxergue melhora
Na vida da nossa gente,
Mas o cavalo é quem sente
Onde pinica a espora.
O dia em que Dilma piscou
Uma língua curiosa, a nossa: pode-se dizer, tanto faz, que a presidente Dilma não é capaz de nada, ou que a presidente Dilma é capaz de tudo. Dizem que é brava, mandona, prepotenta, exigenta, ciosa da autoridade. Mas aceitou que o presidente do segundo banco do país, o Bradesco, lhe transmitisse as exigências de grandes empresários para que dessem apoio ao governo. Se ela não aceitasse, Joaquim Levy, indicado pelo Bradesco, pediria demissão. Era pegar ou largar.
É difícil cortar despesas num governo que, numa viagem aos Estados Unidos, aluga 22 limusines para a comitiva; que abriga mais de cem mil funcionários comissionados, sem concurso; que não tem como, por exemplo, retirar os milhares de carros que parlamentares e magistrados têm à disposição. Os empresários se dispõem a ajudar, indicando cortes possíveis.
Possíveis, talvez; mas doloridos.
Os empresários, entre os maiores do país, se reuniram com Joaquim Levy na noite do dia 2 e na madrugada do dia 3, em São Paulo. Logo depois da reunião, Dilma aceitou voltar aos números que tinha abandonado, como o superávit primário de 0,7% (que tinha virado um déficit de 0,34%). Para isso concordou em cortar despesas até mesmo nos seus programas sociais favoritos e adiar programas de governo que considerava intocáveis. Objetivo dos empresários: manter o Brasil como merecedor do grau de investimento das agências de classificação de risco. Sem esse grau, os empréstimos externos ficariam bem mais caros (esqueça o discurso eleitoral de que o Brasil não deve nada ao exterior. Deve, sim).
É difícil cortar despesas num governo que, numa viagem aos Estados Unidos, aluga 22 limusines para a comitiva; que abriga mais de cem mil funcionários comissionados, sem concurso; que não tem como, por exemplo, retirar os milhares de carros que parlamentares e magistrados têm à disposição. Os empresários se dispõem a ajudar, indicando cortes possíveis.
Possíveis, talvez; mas doloridos.
Minha TV, minha vida
Pesquisa do Conselho de Arquitetura e Urbanismo no "Globo" revelou que 46% da população brasileira moram em casas construídas por eles próprios. Não porque sejam pedreiros diletantes, dados a empilhar tijolos e aplicar-lhes massa nos fins de semana, como quem constrói um forno de pizza ou sauna no quintal. Mas porque, da pobreza ao relaxamento oficial, tudo no Brasil favorece a que se levante um barraco no primeiro terreno baldio que se encontre, e não necessariamente na favela.
Para constatar isto, basta uma volta de carro por qualquer cidade brasileira. A quantidade de casas de tijolo aparente, com um ou mais andares, salta aos olhos. O chocante é descobrir que essas casas toscas abrigam quase metade da população. Em 200 milhões de habitantes, serão dezenas de milhões de moradias feitas sem um engenheiro, um arquiteto ou mesmo um mestre de obras, ao largo da rede de água e de esgoto, a salvo do IPTU e inexistentes para o correio.
Mas todas estão ligadas à eletricidade por um gatilho. Segundo outra pesquisa, esta do IBGE, 97% desses lares têm televisão e geladeira, 58% têm máquina de lavar e 49%, computador. A reportagem do "Globo" entrou na palafita de uma pescadora chamada Jane, no Recife. Trata-se de um cômodo de cinco metros quadrados, sem banheiro e sem fogão –a comida é feita numa lata cheia de carvão. Mas Jane tem algo indispensável: uma TV de LED, de 42 polegadas, comprada a prestações e ainda não de todo quitada.
Sob a acepção (correta) de que Jane tem tanto direito a uma TV de luxo quanto eu ou você, o modelito econômico costurado nos últimos anos garantiu que ela adquirisse essa TV. Infelizmente, não lhe garantiu uma vida nem em sombra parecida com a que ela vê na telona.
E que, em breve, não verá mais, porque vão lhe tomar a TV.
Para constatar isto, basta uma volta de carro por qualquer cidade brasileira. A quantidade de casas de tijolo aparente, com um ou mais andares, salta aos olhos. O chocante é descobrir que essas casas toscas abrigam quase metade da população. Em 200 milhões de habitantes, serão dezenas de milhões de moradias feitas sem um engenheiro, um arquiteto ou mesmo um mestre de obras, ao largo da rede de água e de esgoto, a salvo do IPTU e inexistentes para o correio.
Mas todas estão ligadas à eletricidade por um gatilho. Segundo outra pesquisa, esta do IBGE, 97% desses lares têm televisão e geladeira, 58% têm máquina de lavar e 49%, computador. A reportagem do "Globo" entrou na palafita de uma pescadora chamada Jane, no Recife. Trata-se de um cômodo de cinco metros quadrados, sem banheiro e sem fogão –a comida é feita numa lata cheia de carvão. Mas Jane tem algo indispensável: uma TV de LED, de 42 polegadas, comprada a prestações e ainda não de todo quitada.
Sob a acepção (correta) de que Jane tem tanto direito a uma TV de luxo quanto eu ou você, o modelito econômico costurado nos últimos anos garantiu que ela adquirisse essa TV. Infelizmente, não lhe garantiu uma vida nem em sombra parecida com a que ela vê na telona.
E que, em breve, não verá mais, porque vão lhe tomar a TV.
'Vermelhinhos' proclamam independência de prefeito
Nem Independence Day ou 14 Juillet, mais ao estilo das comemorações brasileiras, o Dia da Independência ganhou novo modelito, principalmente nos monopólios petistas. As conquistas ditas populares operadas pelo PT devem também participar do desfile, ou não são uma forma de independência?
Em Maricá, município dominado por Washington Quaquá, também presidente estadual do partido, não foge à regra da eterna campanha de salvação dos pobres. Pelo segundo ano consecutivo devem participar da festa os "vermelhinhos", ônibus da Empresa Pública de Transportes, "histórica conquista" de gratuidade no transporte que vem engolindo milhões para gáudio de Quaquá. Na verdade, será a volta deles às ruas a única manifestação municipal na data.
- Seremos exemplo para o Brasil. A segunda parte do projeto prevê a integração do transporte público gratuito às vans, diz o prefeitinho espumando de megalomania.
A história da autarquia é um recheio de brigas judiciais para satisfazer o ego governamental de acabar com o monopólio das empresas de transportes (duas) no município. Uma obsessão, caso clínico, que se tornou a meta principal numa região sem saúde, saneamento básico, educação, emprego, água e desenvolvimento.
Depois de tentar a concorrência com as empresas, nos mesmos itinerários, que acabou resultando na paralisação dos serviços por mais de um mês, o transporte "gratuito" volta em itinerários alternativos em estreitas ruas mal pavimentadas, ou em trechos de terra.
Dos 13 ônibus grandes, que nunca tiveram ar condicionado, acesso gratuito à internet, circulação 24 horas, como prometido, muito menos conservação, ainda restam oito em circulação desde dezembro. Os outros já foram para oficina a preço de milhão.
Com a mudança de itinerário, gastou mais uns milhões para adquirir dez ônibus menores e promete, retumbante, mais 33 veículos até o fim do ano. Parece não faltar dinheiro para saciar a megalomania do "Pato", como é conhecido dos velhos tempos em que precisava pescar barrigudinho e caçar rã para comer.
Enfim é o rei do transporte maricaense como qualquer tirano: usando o dinheiro dos outros. Uma verdadeira independência pessoal que merece ser festejada em grande estilo às custas do povo.
Déficit público assusta?
O ex-presidente Tancredo Neves dizia que Minas é o Estado síntese da nacionalidade. Aqui, segundo ele, se retemperam o ímpeto progressista e avassalador do Sul do Brasil e as angústias, o abandono e o sofrimento do Norte e do Nordeste brasileiros. Infelizmente, essa é uma desarmonia histórica, que não muda, porque há muitos que ganham com ela, os que ganham com a seca e com a enchente. No Brasil, paradoxalmente e de forma imoral, ganha-se muito com a miséria. Minas reproduz essa realidade, e as nossas regiões Norte, do Mucuri e do Jequitinhonha trazem com elas as marcas dos bolsões mais miseráveis do país.
Pouco ou nada produz diferenças no seu perfil, especialmente porque nos acostumamos com medidas pontuais, bolsas, favores, pequenos benefícios, e não lutamos por políticas mais abrangentes e estruturantes. Apenas como registro, as bolsas federais que são administradas eleitoralmente pelas prefeituras de todo país, tipo Bolsa Família, se um dia forem fiscalizadas com seriedade e isenção, hão de mandar para a cadeia muita gente. Mas isso é assunto para uma outra coluna.
Voltando à questão dos gastos públicos e sua histórica falta de compromisso com a qualidade dos mesmos, e que motiva o quadro geral de dificuldades do nosso momento econômico: no Norte de Minas, para termos como exemplo, há prefeituras que sustentam os orçamentos de suas Câmaras Municipais com verbas que, se cotejadas com outros investimentos, são, no mínimo, uma desfaçatez. Uma cidade com 20 mil habitantes, com um orçamento projetado para o atual exercício em R$ 49 milhões, destina a sua Câmara R$ 1,6 milhão por ano. Essa verba remunera nove vereadores que se reúnem às sextas-feiras à noite, pelo que percebem R$ 6.000 por mês. Só com subsídios dos seus edis (que chique), gastam-se R$ 702 mil por ano. A diferença, de R$ 900 mil por ano, serve para pagar a luz, a água, os gastos com locomoção, com gasolina, com viagens, cursos, congressos de vereadores e, claro, a remuneração de assessores.
Esses dados, tomados como exemplo, se referem à cidade de Manga, um município com um dos menores IDHs do país. Montes Claros, com 395 mil habitantes e com um orçamento de R$ 1,032 bilhão, destina à Câmara Municipal R$ 16 milhões por ano, onde estão 21 vereadores que recebem R$ 16 mil por mês. A diferença, de R$ 11 milhões, vai pagar as despesas da instituição, os vereadores e, também, remunerar assessores. Janaúba, com 67 mil habitantes e um orçamento fiscal de R$ 198 milhões, destina a sua Câmara Municipal R$ 3,9 milhões por ano, com o que remunera o trabalho de 15 vereadores. Januária tem 65 mil habitantes e gasta com o Legislativo Municipal R$ 3,7 milhões por ano, representando um investimento do município de R$ 260 mil/ano no trabalho de cada um dos seus 15 vereadores.
Que nós, cidadãos, façamos todo dia essa conta sobre o que custam a Câmara Municipal de nossa cidade, a Assembleia Legislativa do nosso Estado, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Busquemos esses números relativos a tudo o que é pago com o nosso dinheiro, com o dinheiro público, nesse Brasil que tem 5.570 municípios. Saiba porque o Brasil tem um déficit fiscal de R$ 32 bilhões. E como zerá-lo, além da corrupção que vemos ampliar-se todos os dias, e que é nosso dever de cidadão denunciar e combater.
Pouco ou nada produz diferenças no seu perfil, especialmente porque nos acostumamos com medidas pontuais, bolsas, favores, pequenos benefícios, e não lutamos por políticas mais abrangentes e estruturantes. Apenas como registro, as bolsas federais que são administradas eleitoralmente pelas prefeituras de todo país, tipo Bolsa Família, se um dia forem fiscalizadas com seriedade e isenção, hão de mandar para a cadeia muita gente. Mas isso é assunto para uma outra coluna.
Voltando à questão dos gastos públicos e sua histórica falta de compromisso com a qualidade dos mesmos, e que motiva o quadro geral de dificuldades do nosso momento econômico: no Norte de Minas, para termos como exemplo, há prefeituras que sustentam os orçamentos de suas Câmaras Municipais com verbas que, se cotejadas com outros investimentos, são, no mínimo, uma desfaçatez. Uma cidade com 20 mil habitantes, com um orçamento projetado para o atual exercício em R$ 49 milhões, destina a sua Câmara R$ 1,6 milhão por ano. Essa verba remunera nove vereadores que se reúnem às sextas-feiras à noite, pelo que percebem R$ 6.000 por mês. Só com subsídios dos seus edis (que chique), gastam-se R$ 702 mil por ano. A diferença, de R$ 900 mil por ano, serve para pagar a luz, a água, os gastos com locomoção, com gasolina, com viagens, cursos, congressos de vereadores e, claro, a remuneração de assessores.
Esses dados, tomados como exemplo, se referem à cidade de Manga, um município com um dos menores IDHs do país. Montes Claros, com 395 mil habitantes e com um orçamento de R$ 1,032 bilhão, destina à Câmara Municipal R$ 16 milhões por ano, onde estão 21 vereadores que recebem R$ 16 mil por mês. A diferença, de R$ 11 milhões, vai pagar as despesas da instituição, os vereadores e, também, remunerar assessores. Janaúba, com 67 mil habitantes e um orçamento fiscal de R$ 198 milhões, destina a sua Câmara Municipal R$ 3,9 milhões por ano, com o que remunera o trabalho de 15 vereadores. Januária tem 65 mil habitantes e gasta com o Legislativo Municipal R$ 3,7 milhões por ano, representando um investimento do município de R$ 260 mil/ano no trabalho de cada um dos seus 15 vereadores.
Que nós, cidadãos, façamos todo dia essa conta sobre o que custam a Câmara Municipal de nossa cidade, a Assembleia Legislativa do nosso Estado, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Busquemos esses números relativos a tudo o que é pago com o nosso dinheiro, com o dinheiro público, nesse Brasil que tem 5.570 municípios. Saiba porque o Brasil tem um déficit fiscal de R$ 32 bilhões. E como zerá-lo, além da corrupção que vemos ampliar-se todos os dias, e que é nosso dever de cidadão denunciar e combater.
Dilma atrás do muro
Nunca antes na história deste país presidentes chegaram a tal ponto de construírem muro para evitar o povo. A construção mostra o quanto o país está isolado do governo
Boneco inflado, país quebrado
Um boneco inflado chamado Pixuleco tornou-se um ator da política nacional. Ele representa Lula com uniforme de presidiário. A prefeitura petista de São Paulo pensa em proibi-lo por ser “uma poluição visual”. Nem todos pensam assim. Como muitos símbolos vitoriosos, o Pixuleco ganhou contornos múltiplos, desempenha outros papéis além dos projetados por seus criadores. Nas redes sociais, o Pixuleco tornou-se um brinquedo fofo. Aparece ao lado das princesas da Disney e no jogo Onde Está Wally.
O Pixuleco, como tantos outros símbolos fortes, sofreu um atentado. Foi algo bem suave, comparado com a ação dos radicais muçulmanos. Uma jovem o furou com um estilete, em São Paulo. O boneco foi para a mesa de operações, de onde já saiu para reaparecer no dia 7 de setembro.
Nos atentados para valer nem sempre se atacam os símbolos, mas seus criadores. Os assassinatos no “Charlie Hebdo” foram o episódio mais trágico dessa tradição. Felizmente, no Brasil, a jovem atacou a caricatura, e seu Maomelula desinflou na calçada.
É divertido as pessoas brigarem com um boneco inflado, tentando proibi-lo, ou mesmo apunhalar seu ventre macio. E ver o PT atacar o Pixuleco.
Entre as muitas perdas do PT ao longo de sua trajetória está a do senso de humor. Parece que isso é meio inevitável: ao virar governo, a pessoa sempre leva muito a sério as bobagens que nos reservam diariamente. O Pixuleco vai flutuar nos ares de um país oficialmente quebrado. O desgoverno de Dilma é o seu combustível.
Ela anuncia que vamos ter um rombo de R$ 30 bilhões em 2016. E os amigos do governo dizem: “vocês deviam reconhecer que, dessa vez, estamos falando a verdade”. Como se reconhecer a própria incompetência a absolvesse dos problemas que criou na vida real. O pior é que fala mentira mesmo quando afirma ter aderido à verdade. O rombo não será apenas de R$ 30 bilhões. Seu projeto orçamentário prevê crescimento em 2016 contra todas as previsões. Só esse detalhe significa alguns bilhões a mais no rombo de R$ 30 bilhões que ela já admite.
Na semana passada, Rodrigo Janot tirou a máscara: resolveu blindar Dilma. Recusou investigar suas contas de campanha. Disse que o pedido era choro de perdedores. E que a sociedade não se interessa mais por esse tema eleitoral. Simultaneamente, ironizou a oposição e disse que deu lições ao TSE sobre como conduzir o exame das contas.
Janot é um homem de coragem. Jogou a reputação num só lance, comprometeu sua imparcialidade blindando um governo moribundo. Será mais um rubro boneco inflado, com o número 13 no peito.
A tática de deixar Dilma sangrar até 2018 tem prevalecido até agora. Se durar até o Natal, como dizer “Feliz ano novo”? Acordaremos em 2016 saudando a mandioca, com um rombo bilionário no orçamento. Nem todos percebem a ação corrosiva da crise na nossa vida cotidiana. Muita gente perdendo o emprego. Das janelas do Planalto, voam passaralhos em todas as direções. Claro que alguns se adaptam, inventam seus trabalhos. Vi um filme sobre a crise americana, e nele as pessoas ganhavam a vida em maratonas dançantes. Viravam a noite dançando.
Dilma ainda pensou em lançar um novo imposto, a velha CPMF. Desistiu em 48 horas porque anteviu uma derrota por 7 a 1. Mas ela tentará de novo. Num esforço desesperado para sobreviver no cargo, vive o dilema de um Hamlet de shopping center: gastar ou não gastar. Como todos os dilemas não resolvidos, será transformado em não gastar, gastando. Se admitiu um rombo de R$ 30 bilhões, sabendo que será muito maior, o que lhe resta senão encenar o teatro da austeridade?
Dilma quer o apoio do Congresso para cortar despesas. Antes, liberou R$ 500 milhões de verbas parlamentares. “O de vocês está garantido, agora vamos cortar o dos outros”. Toda essa farsa vai acabar desmoronando. Os que querem apenas sangrar Dilma comemoram: ela continua. Sem nenhum horizonte. O próprio Michel Temer reconheceu que o governo não tem estratégia.
A cada dia alguém tem razões para celebrar ou lamentar a presença de Dilma. Mas a continuidade a partir de um grande acordo que envolva procuradores, juízes do STF, políticos, empresários e banqueiros é um caminho perigoso. Sérgio Moro levantou a questão da dignidade nacional, um pouco perdida com os escândalos de corrupção. Um país em crise tem tudo para se rebelar com um destino medíocre que se desenha para ele.
Uma jovem prefeita do Maranhão foi estrela na imprensa internacional. Ela está foragida depois de desvios de verba da merenda escolar. Era ativa nas redes sociais e aparece numa foto diante do espelho, muito maquiada, com o rosto esculpido pela cirurgia plástica, lábios pintados de um intenso vermelho. Foi a cara do Brasil esta semana. Um Brasil de pequenos e grandes cafajestes, um Brasil apodrecido, prestes a ser mandado para os ares, inclusive na forma de centenas de bonecos inflados.
Fernando Gabeira
O Pixuleco, como tantos outros símbolos fortes, sofreu um atentado. Foi algo bem suave, comparado com a ação dos radicais muçulmanos. Uma jovem o furou com um estilete, em São Paulo. O boneco foi para a mesa de operações, de onde já saiu para reaparecer no dia 7 de setembro.
É divertido as pessoas brigarem com um boneco inflado, tentando proibi-lo, ou mesmo apunhalar seu ventre macio. E ver o PT atacar o Pixuleco.
Entre as muitas perdas do PT ao longo de sua trajetória está a do senso de humor. Parece que isso é meio inevitável: ao virar governo, a pessoa sempre leva muito a sério as bobagens que nos reservam diariamente. O Pixuleco vai flutuar nos ares de um país oficialmente quebrado. O desgoverno de Dilma é o seu combustível.
Ela anuncia que vamos ter um rombo de R$ 30 bilhões em 2016. E os amigos do governo dizem: “vocês deviam reconhecer que, dessa vez, estamos falando a verdade”. Como se reconhecer a própria incompetência a absolvesse dos problemas que criou na vida real. O pior é que fala mentira mesmo quando afirma ter aderido à verdade. O rombo não será apenas de R$ 30 bilhões. Seu projeto orçamentário prevê crescimento em 2016 contra todas as previsões. Só esse detalhe significa alguns bilhões a mais no rombo de R$ 30 bilhões que ela já admite.
Na semana passada, Rodrigo Janot tirou a máscara: resolveu blindar Dilma. Recusou investigar suas contas de campanha. Disse que o pedido era choro de perdedores. E que a sociedade não se interessa mais por esse tema eleitoral. Simultaneamente, ironizou a oposição e disse que deu lições ao TSE sobre como conduzir o exame das contas.
Janot é um homem de coragem. Jogou a reputação num só lance, comprometeu sua imparcialidade blindando um governo moribundo. Será mais um rubro boneco inflado, com o número 13 no peito.
A tática de deixar Dilma sangrar até 2018 tem prevalecido até agora. Se durar até o Natal, como dizer “Feliz ano novo”? Acordaremos em 2016 saudando a mandioca, com um rombo bilionário no orçamento. Nem todos percebem a ação corrosiva da crise na nossa vida cotidiana. Muita gente perdendo o emprego. Das janelas do Planalto, voam passaralhos em todas as direções. Claro que alguns se adaptam, inventam seus trabalhos. Vi um filme sobre a crise americana, e nele as pessoas ganhavam a vida em maratonas dançantes. Viravam a noite dançando.
Dilma ainda pensou em lançar um novo imposto, a velha CPMF. Desistiu em 48 horas porque anteviu uma derrota por 7 a 1. Mas ela tentará de novo. Num esforço desesperado para sobreviver no cargo, vive o dilema de um Hamlet de shopping center: gastar ou não gastar. Como todos os dilemas não resolvidos, será transformado em não gastar, gastando. Se admitiu um rombo de R$ 30 bilhões, sabendo que será muito maior, o que lhe resta senão encenar o teatro da austeridade?
Dilma quer o apoio do Congresso para cortar despesas. Antes, liberou R$ 500 milhões de verbas parlamentares. “O de vocês está garantido, agora vamos cortar o dos outros”. Toda essa farsa vai acabar desmoronando. Os que querem apenas sangrar Dilma comemoram: ela continua. Sem nenhum horizonte. O próprio Michel Temer reconheceu que o governo não tem estratégia.
A cada dia alguém tem razões para celebrar ou lamentar a presença de Dilma. Mas a continuidade a partir de um grande acordo que envolva procuradores, juízes do STF, políticos, empresários e banqueiros é um caminho perigoso. Sérgio Moro levantou a questão da dignidade nacional, um pouco perdida com os escândalos de corrupção. Um país em crise tem tudo para se rebelar com um destino medíocre que se desenha para ele.
Uma jovem prefeita do Maranhão foi estrela na imprensa internacional. Ela está foragida depois de desvios de verba da merenda escolar. Era ativa nas redes sociais e aparece numa foto diante do espelho, muito maquiada, com o rosto esculpido pela cirurgia plástica, lábios pintados de um intenso vermelho. Foi a cara do Brasil esta semana. Um Brasil de pequenos e grandes cafajestes, um Brasil apodrecido, prestes a ser mandado para os ares, inclusive na forma de centenas de bonecos inflados.
Fernando Gabeira
Os caminhos divergentes, mas paralelos, de imprensa e publicidade
Num brilhante artigo publicado na edição de quinta-feira de O Estado de São Paulo, o professor Eugênio Bucci, da USP, analisou com profundidade as diferenças fundamentais que distanciam o jornalismo da publicidade comercial, embora as duas atividades sejam, a meu ver, como duas linhas paralelas que se acompanham entre si, porém não têm um destino comum, tampouco se misturam uma a outra. Interessante a questão já que os propósitos contidos e ocupados pelas duas vertentes profissionais são veiculados no mesmo meio de comunicação, no caso os jornais impressos. Na televisão não é diferente, o que leva a todos nós leitores e espectadores a separar os propósitos que sustentam o jornalismo daqueles que alimentam a publicidade.
A questão parece desafiadora e complexa, já que a principal receita dos jornais impressos provém da publicidade, muito superiores à receita conseguida por sua venda avulsa, incluindo as bancas tradicionais e as assinaturas.
Devemos atribuir o mesmo cenário também às edições digitais que cresceram, por exemplo, 118% em 2014 segundo o comunicado da Associação Nacional de Jornais divulgada em O Globo também na quinta-feira. Vale frisar que o número de leitores das edições impressas cresceu apenas 64% no mesmo período. As duas vertentes convergem e emolduram o universo da comunicação mais sólido, pois a leitura termina influindo muito mais na percepção e sobretudo na análise dos acontecimentos do que as mensagens recebidas através da televisão e das emissoras de rádio.
A publicidade está presente, porém em escala muito menor nas edições digitais do que nas edições impressas. É natural porque as edições impressas são lidas em média por cerca de 2,5 pessoas cada uma, enquanto os acessos digitais são unitários. A ANJ, no comunicado através de O Globo acentua que, no mundo todo os jornais impressos reúnem um universo de 2,5 bilhões de leitores por dia. O que dá uma média aproximada de 700 milhões de exemplares. Mas esta é outra questão.
A questão da credibilidade e da autenticidade da informação e da análise encontra-se muito mais nas edições impressas e digitais quando da responsabilidade das empresas jornalísticas. Mais do que nas redes sociais em geral, por um motivo muito simples: nos jornais e nas emissoras de televisão funcionam editores selecionando as matérias a serem produzidas. Não é o caso das redes sociais, nas quais cada um é editor de si mesmo. Por este motivo é que informações divulgadas através de redes sociais levam a todos nós a buscar a plena confirmação nas matérias dos jornais digitais e nas edições impressas no dia seguinte. Nas edições digitais podem ou não serem confirmadas no mesmo dia. Faço a ressalva para atribuir o devido valor a essa forma moderna e feliz de comunicação.
Voltando ao tema título, entretanto, retornando assim à colocação de Bucci, devemos todos nós, jornalistas ou não, considerar a diferença entre o jornalismo e a publicidade. O jornalismo parte sempre de um teorema, algo que precisa ser comprovado na prática, completamente diverso da publicidade comercial, que tem origem num axioma, na matemática algo para o qual não há necessidade de confirmação.
Como então convivem duas rotas paralelas que, por definição nunca se encontram? A resposta é simples. O jornalismo alimenta a publicidade, torna-se seu veículo insubstituível, enquanto a publicidade adquire os espaços para veicular seus propósitos, ofertas e mensagens. A liberdade de imprensa, como assinalou muito bem Eugênio Bucci, não depende da publicidade. Em muitos casos os choques são evidentes.
Por exemplo, veja-se o caso específico da Odebrecht, uma das maiores anunciantes do país. Mas nem por isso jornais como O Globo, a Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e o Valor deixaram de noticiar com grande destaque as acusações da operação Lava-jato que pesam contra a empresa e pessoalmente contra seu presidente, Marcelo Odebrecht, herdeiro de uma grande potência empresarial. Pelo contrário.
Basta ler os jornais de 3 de setembro sendo que o Estado de São Paulo publicou editorial afirmando que no seu depoimento a CPI da Petrobrás verificou-se uma vassalagem por parte de alguns deputados em relação a ele. Tal vassalagem, acrescentou o jornal, só pode ter uma razão: a dependência expressa daqueles parlamentares a financiamentos recebidos da empresa em campanhas eleitorais ou fora delas. Outra prova de desvinculação total entre a publicidade e o jornalismo também pode ser encontrada nas edições de quinta-feira que focalizaram a débâcle da Unimed em São Paulo.
A Unimed é outra grande anunciante e nem por isso foi refrescada pelos fatos que a levaram a ter que transferir 774 mil clientes inscritos em seu seguro saúde para outras empresas que desejarem assumir as responsabilidades que lhe pertenciam e que não teve condições de cumprir. Uma reportagem de Paula Felix, na mesma edição de O Estado de São Paulo, destacou o problema da empresa e das dificuldades que os clientes encontrarão para se transferirem a novos planos como foi determinado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar.
Poderíamos citar uma série infindável de outros exemplo. Porém esses dois são suficientes. Uma coisa é a publicidade comercial, outra é o jornalismo profissional. Os leitores e administradores públicos e privados não se devem deixar iludir quando alguém lhes apontar uma conveniente convergência que, na prática, não existe. Fica aqui esta informação que julgo importante e fundamental.
Pedro do Coutto
A questão parece desafiadora e complexa, já que a principal receita dos jornais impressos provém da publicidade, muito superiores à receita conseguida por sua venda avulsa, incluindo as bancas tradicionais e as assinaturas.
A publicidade está presente, porém em escala muito menor nas edições digitais do que nas edições impressas. É natural porque as edições impressas são lidas em média por cerca de 2,5 pessoas cada uma, enquanto os acessos digitais são unitários. A ANJ, no comunicado através de O Globo acentua que, no mundo todo os jornais impressos reúnem um universo de 2,5 bilhões de leitores por dia. O que dá uma média aproximada de 700 milhões de exemplares. Mas esta é outra questão.
A questão da credibilidade e da autenticidade da informação e da análise encontra-se muito mais nas edições impressas e digitais quando da responsabilidade das empresas jornalísticas. Mais do que nas redes sociais em geral, por um motivo muito simples: nos jornais e nas emissoras de televisão funcionam editores selecionando as matérias a serem produzidas. Não é o caso das redes sociais, nas quais cada um é editor de si mesmo. Por este motivo é que informações divulgadas através de redes sociais levam a todos nós a buscar a plena confirmação nas matérias dos jornais digitais e nas edições impressas no dia seguinte. Nas edições digitais podem ou não serem confirmadas no mesmo dia. Faço a ressalva para atribuir o devido valor a essa forma moderna e feliz de comunicação.
Voltando ao tema título, entretanto, retornando assim à colocação de Bucci, devemos todos nós, jornalistas ou não, considerar a diferença entre o jornalismo e a publicidade. O jornalismo parte sempre de um teorema, algo que precisa ser comprovado na prática, completamente diverso da publicidade comercial, que tem origem num axioma, na matemática algo para o qual não há necessidade de confirmação.
Como então convivem duas rotas paralelas que, por definição nunca se encontram? A resposta é simples. O jornalismo alimenta a publicidade, torna-se seu veículo insubstituível, enquanto a publicidade adquire os espaços para veicular seus propósitos, ofertas e mensagens. A liberdade de imprensa, como assinalou muito bem Eugênio Bucci, não depende da publicidade. Em muitos casos os choques são evidentes.
Por exemplo, veja-se o caso específico da Odebrecht, uma das maiores anunciantes do país. Mas nem por isso jornais como O Globo, a Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e o Valor deixaram de noticiar com grande destaque as acusações da operação Lava-jato que pesam contra a empresa e pessoalmente contra seu presidente, Marcelo Odebrecht, herdeiro de uma grande potência empresarial. Pelo contrário.
Basta ler os jornais de 3 de setembro sendo que o Estado de São Paulo publicou editorial afirmando que no seu depoimento a CPI da Petrobrás verificou-se uma vassalagem por parte de alguns deputados em relação a ele. Tal vassalagem, acrescentou o jornal, só pode ter uma razão: a dependência expressa daqueles parlamentares a financiamentos recebidos da empresa em campanhas eleitorais ou fora delas. Outra prova de desvinculação total entre a publicidade e o jornalismo também pode ser encontrada nas edições de quinta-feira que focalizaram a débâcle da Unimed em São Paulo.
A Unimed é outra grande anunciante e nem por isso foi refrescada pelos fatos que a levaram a ter que transferir 774 mil clientes inscritos em seu seguro saúde para outras empresas que desejarem assumir as responsabilidades que lhe pertenciam e que não teve condições de cumprir. Uma reportagem de Paula Felix, na mesma edição de O Estado de São Paulo, destacou o problema da empresa e das dificuldades que os clientes encontrarão para se transferirem a novos planos como foi determinado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar.
Poderíamos citar uma série infindável de outros exemplo. Porém esses dois são suficientes. Uma coisa é a publicidade comercial, outra é o jornalismo profissional. Os leitores e administradores públicos e privados não se devem deixar iludir quando alguém lhes apontar uma conveniente convergência que, na prática, não existe. Fica aqui esta informação que julgo importante e fundamental.
Pedro do Coutto
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