sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O jargão

Sou fascinado pela linguagem náutica, embora minha experiência no mar se resuma a algumas passagens em transatlânticos, onde a única linguagem técnica que você precisa saber e “a que horas servem o bufê?”. Nunca pisei num veleiro e se pisasse seria para dar vexame na primeira onda. Eu enjôo em escada rolante. Mas, na minha imaginação, sou um marinheiro de todos os calados. Senhor de ventos e de velas e, principalmente, dos especialíssimos nomes da equipagem.

Me imagino no leme do meu grande veleiro, dando ordens à tripulação:

– Recolher a traquineta!

– Largar a vela bimbão, não podemos perder esse Vizeu.

(O Vizeu é um vento que nasce na costa ocidental da África, faz a volta nas Malvinas e nos ataca a bombordo, cheirando a especiarias, carcaças de baleia e, estranhamente, a uma professora que eu tive, no primário.)

– Quebrar o lume da alcatra e baixar a falcatrua.

– Cuidado com a sanfona de Abelardo!

(A sanfona é um perigoso fenômeno que ocorre na vela parruda em certas condições atmosféricas e que, se não contido a tempo, pode decapitar o piloto. Até hoje não encontraram a cabeça do comodoro Abelardo.)

– Cruzar a spínola! Domar a espátula! Montar a sirigaita! Tudo a macambúzio e dois quartos de trela, senão afundamos e o capitão é o primeiro a pular!

– Cortar o cabo de Eustaquio!

Sempre imaginei que poderia escrever uma coluna de economia usando um jargão falso assim, com pseudônimo. Não sei quanto tempo duraria até eu ser descoberto e desmascarado, mas acho que não seria pouco. Não estou dizendo que quem escreve sobre economia não sabe o que está escrevendo, ou se aproveita da ignorância generalizada para enganar.

Estou dizendo que a análise econômica é uma arte tão imprecisa que, mesmo desconfiando do embuste, a maioria hesitaria antes de denunciá-lo. Quem garantiria que o meu enfoque diferente – minha defesa de um overspread corretivo sobre a base de pagamentos, por exemplo – não era uma novidade que merecia estudo, já que ninguém parece mesmo saber o que é o certo?

Luis Fernando Veríssimo

Onde estão os intelectuais apaixonados?

Em um mundo marcado por crises profundas, injustiças sistêmicas e narrativas dominantes que frequentemente silenciam as vozes marginalizadas, essa pergunta ressoa como um desafio urgente. Afinal, qual o papel do intelectual diante das dores coletivas e das opressões estruturais? Mais do que meros observadores ou especialistas distantes, precisamos daqueles que se envolvem com paixão; que se colocam na linha de frente da luta ética e política.


A visão de Edward Said sobre a responsabilidade intelectual serve como uma estrutura orientadora, desafiando-nos não apenas a testemunhar a dor dos outros, mas a nos envolvermos ativamente na reconstrução de um mundo mais justo. Ela nos convida a questionar as narrativas dominantes, a confrontar as injustiças sistêmicas e a defender os direitos dos oprimidos. Diante do trauma histórico, a responsabilidade intelectual torna-se uma bússola, um chamado à ação que transcende os limites da academia e permeia os domínios da transformação social e política.

Said nos oferece uma imagem poderosa do intelectual como testemunha ética e agente de interferência no espaço público. Para ele, pensar não é suficiente; é preciso agir com a palavra. Ao definir a responsabilidade intelectual como a capacidade de “falar a verdade ao poder” (Representations of the Intellectual, 1994), ele rompe com a neutralidade acadêmica e desloca o pensamento para o campo do engajamento político e ético.

Essa visão transforma a crítica em bússola moral: ela orienta o olhar para as feridas históricas, os silenciamentos estruturais e os discursos hegemônicos que naturalizam o sofrimento. Mais do que diagnosticar a dor alheia, essa ética exige uma resposta ativa: reconstruir sentidos, intervir nos meios de comunicação, educar para a consciência política e sustentar as causas dos subalternizados.

“Não podemos lutar por nossos direitos, nossa história e nosso futuro sem estarmos armados com as armas da crítica e da consciência dedicada.”
Edward Said, Culture and Resistance (2003)

Aqui, a crítica não é uma forma de distância, mas de proximidade ética. Said quer um intelectual que se aproxime das lutas, que se contamine com a urgência do mundo — um intelectual verdadeiramente apaixonado.

Nas Reith Lectures (1993), reunidas em Representations of the Intellectual, ele descreve o intelectual ideal como uma figura marginal, quase exilada, que utiliza uma “linguagem que tenta falar a verdade ao poder” ainda que isso a coloque em conflito com instituições dominantes.

“Nada me parece mais repreensível do que aqueles hábitos mentais do intelectual que induzem à evasão […] Você quer parecer equilibrado, objetivo, moderado; sua esperança é ser convidado de volta, ser consultado, participar de conselhos e comitês prestigiados, e permanecer dentro da corrente dominante responsável.”
Edward Said, Representations of the Intellectual

E ainda:

“[O] intelectual amador deve levantar questões morais mesmo na atividade mais técnica e profissionalizada […] perguntar: por que isso está sendo feito, quem se beneficia, como isso pode ser conectado a um projeto pessoal e a um pensamento original?” 

Com essas passagens, Said contrapõe o intelectual-amador — movido por valores éticos, justiça e verdade — ao intelectual profissionalizado, que atua sob as exigências institucionais e frequentemente reforça o status quo.

Essa crítica à neutralidade acadêmica está no cerne de sua concepção de responsabilidade intelectual. Said demonstra que a suposta “objetividade” muitas vezes serve para encobrir estruturas de dominação. O “intelectual moderado” é, para ele, alguém que evita o conflito direto com a injustiça para preservar seu prestígio. Ao contrário, o intelectual que Said propõe deve estar disposto a perder privilégios em nome da verdade e da justiça.

A crítica, portanto, não é apenas diagnóstica, mas interventiva. Ela deve ultrapassar os limites disciplinares e alcançar o campo social, político e midiático, como Said argumenta em seu ensaio Opponents, Audiences, Constituency and Community (1982). Ele defende uma “pedagogia da vigilância” — uma forma de crítica que ensina que a linguagem não é passiva, mas instrumento de transformação. “A melhor linguagem é aquela que move, que envolve reflexão crítica e permite ao usuário fazer escolhas informadas para mudar o mundo.”

Said exorta os intelectuais a abandonarem a postura de especialistas desapaixonados. Seu antagonista não é apenas o poder, mas também a complacência: “a pessoa que assiste à CNN o dia inteiro e diz que aquilo é o mundo”. O verdadeiro intelectual, para ele, deve buscar outras narrativas, desafiar o senso comum e comprometer-se com a mudança.

A responsabilidade intelectual funciona, assim, como uma bússola ética que orienta tanto o pensamento crítico quanto a ação pública. Essa bússola exige o despertar de uma consciência crítica diante das narrativas hegemônicas — aquelas que moldam a percepção coletiva e sustentam estruturas de dominação. Mas a crítica não pode se restringir aos muros da academia; ela deve transbordar para a esfera pública, expressando-se por meio da escrita, do ensino, da mídia.

O intelectual é convocado a se posicionar como testemunha ativa das injustiças, intervindo com palavras e gestos que desafiem o silêncio e a complacência. Mais do que produzir conhecimento, trata-se de ampliar os horizontes democráticos com uma linguagem e uma prática comprometidas com a liberdade.

Em suma, a proposta de Said é clara e contundente: não basta observar — é preciso participar, interferir, contribuir para reconstruir os sentidos que organizam (ou oprimem) a vida em sociedade. A liberdade não nasce do silêncio, mas do choque entre a dor sentida, o pensamento crítico e a coragem de intervir.

Brasil e Estados Unidos: Uma Guerra Assimétrica

A ordem executiva assinada por Donald Trump impondo tarifas de 50 % sobre produtos brasileiros e citando nominalmente Jair Bolsonaro e o blogueiro Paulo Figueiredo, não é apenas uma escalada comercial, é uma declaração de guerra econômica contra o povo brasileiro. É a confirmação definitiva de uma nova fase da guerra assimétrica que os Estados Unidos travam contra países que ousam exercer sua soberania, e representa o momento em que a máscara da "parceria" finalmente caiu. Ao misturar interferência política direta com chantagem econômica, Trump revelou o que há de mais arcaico e desesperado na política externa estadunidense.


A justificativa apresentada pela Casa Branca de que o governo brasileiro representa uma "ameaça incomum e extraordinária" à segurança nacional dos EUA expõe a paranoia de um império em decadência. Declarar emergência nacional com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional de 1977 contra o Brasil, enquanto simultaneamente sanciona o ministro Alexandre de Moraes pela Lei Magnitsky, demonstra o desespero de quem perdeu a capacidade de exercer influência através de meios diplomáticos convencionais.

Durante décadas, os EUA mantiveram sua posição hegemônica no mundo através de uma combinação de uma diplomacia agressiva, força militar, influência econômica e dominação cultural. No entanto, essa hegemonia já não se sustenta mais, a emergência de novos atores globais e o fortalecimento de blocos alternativos como os BRICS, que buscam consolidação de projetos multilaterais de desenvolvimento e cooperação, têm progressivamente minado o poder unilateral dos EUA. O mundo já não gira em torno de Washington e isso os incomoda profundamente.

O Brasil, ao adotar uma política externa mais autônoma e orientada para o multilateralismo, naturalmente passa a incomodar essa ordem em ruínas. As recentes aproximações com a China, com os BRICS+, com países do Sul Global e a defesa de uma nova governança internacional mais equânime colocam o Brasil num novo eixo estratégico. E essa guinada, ainda que moderada e gradual, é percebida por setores do establishment norte-americano como um ato de desobediência intolerável.

A inclusão de Bolsonaro e Paulo Figueiredo na ordem executiva revela uma estratégia ainda mais sinistra e antidemocrática: a instrumentalização de extremistas de direita como pretexto para pressões geopolíticas devastadoras contra o Brasil. Trump não defende genuinamente os direitos humanos, muito pelo contrário, o que vemos é a operação clássica da utilização de seus aliados internos para justificar a destruição econômica de uma nação soberana.

Essa guerra assimétrica não se dá no campo de batalha tradicional, já não há tanques, e não há invasões. O que existe é chantagem comercial, manipulação midiática, operações de desinformação e uso político de organismos internacionais. A atual administração dos EUA pressiona empresas, impõe sanções, desestabiliza democracias por dentro e cria narrativas para justificar suas ações, tudo sob a bandeira da "liberdade" e dos "direitos humanos", ainda que o que esteja em jogo seja, sempre, o controle de mercados e recursos alheios.

A tarifa de 50% não é apenas uma medida comercial, é um recado político. É a tentativa de punir economicamente o Brasil por exercer sua soberania judiciária e por não se curvar às pressões externas. Quando Trump afirma que está "protegendo a segurança nacional dos Estados Unidos de uma ameaça estrangeira", ele revela a rota essência imperial de quem não tolera que outros países tomem decisões independentes que contrariem os interesses da velha potência.

Os brasileiros precisam estar cientes disso. Estamos entrando, pelo nosso crescimento com um ator global extremamente relevante, em uma disputa geopolítica na qual o país será constantemente provocado, testado e pressionado. A guerra é comercial, mas também simbólica. Está em jogo a capacidade do país de construir um projeto nacional soberano, voltado para o desenvolvimento com justiça social e inserção internacional altiva. E, ao contrário do que muitos imaginam, isso não será permitido pacificamente pelos que ainda se imaginam senhores do mundo.

A tentativa do presidente Lula de estabelecer diálogo, relatada em entrevista ao New York Times quando afirmou que "ninguém dos EUA quer conversar" sobre o tarifaço, demonstra a maturidade diplomática brasileira diante da intransigência estadunidense. Enquanto o Brasil busca o diálogo, eles respondem com ultimatos e chantagens.

Por isso, o caminho do Brasil não pode ser o da submissão, tampouco o do alinhamento automático com qualquer potência. O país precisa afirmar sua soberania com lucidez e estratégia, ampliando suas parcerias sul-sul e aprofundando sua integração com a América Latina e a África. Além disso, deve fortalecer o papel dos BRICS como alternativa real à ordem unipolar e apostar em instrumentos financeiros próprios, como o comércio em moedas locais e o uso de bancos multilaterais independentes.

Ao mesmo tempo, é preciso resistir às tentativas internas da extrema-direita de sabotagem. Grupos políticos locais alinhados a interesses estrangeiros atuam como verdadeiros cavalos de Troia, não só aqui, mas no mundo todo, esses grupos buscam desestabilizar governos democraticamente eleitos, desacreditar políticas públicas nacionais e semear o caos como pretexto para restaurar um modelo de dependência que agoniza de morte. A ordem executiva de Trump foi dirigida a eles, não ao Brasil democrático e soberano.

O império, ao agir dessa forma, apenas confirma sua decadência terminal e seu desespero crescente. Quando um país precisa recorrer a sanções econômicas brutais e interferência política descarada para tentar manter sua influência, isso demonstra a sua falência iminente, o esgarçamento do seu modelo de liderança global. É o comportamento típico de um predador acuado, sem capacidade de seduzir ou convencer, resta apenas a tentativa patética de ameaçar quem ousa desafiá-lo. E, quando um país tenta exportar sua crise interna para outro, é preciso firmeza.

O Brasil precisa entender que o novo conflito em curso não é apenas econômico, e sim civilizacional. A disputa é entre um modelo de mundo multipolar, democrático e respeitoso à soberania nacional de todos os estados nacionais, e outro que insiste na dominação unilateral através da força e da chantagem, neste embate, não basta sobreviver é preciso liderar e apontar o futuro.

Ou o Brasil assume seu papel como ator geopolítico soberano, com projeto próprio, resistindo às pressões e construindo alternativas concretas à ordem nati-morta, ou será tragado pela tempestade de um antigo império que, sem conseguir mais mandar no mundo, tenta arrastá-lo para o fundo com ele. Este não é mais um debate acadêmico ou uma reflexão diplomática. Cada brasileiro precisa entender que estamos vivendo o momento decisivo, não se trata apenas de economia ou política externa, trata-se de definir se teremos um país verdadeiramente soberano ou se seremos reduzidos de volta à condição de colônia.

As forças entreguistas internas, aquelas mesmas que Trump cita em sua ordem executiva, trabalham incansavelmente para sabotar qualquer projeto nacional autônomo. Elas preferem a subordinação confortável à dignidade da luta. Precisam ser identificadas, expostas e politicamente derrotadas em cada espaço de poder que ocupam, carregando para sempre o carimbo de quinta-colunistas que são.

A batalha não será fácil, um antigo império ferido é muito mais perigoso, mas nunca na história moderna houve condições tão favoráveis para quebrarmos definitivamente as correntes da nossa dependência. China, Índia, Rússia, África, os países árabes, todos enfrentam o mesmo tipo de chantagem em algum momento de suas trajetórias. A história julgará sem piedade quem se omitiu nesse momento tão grave. O Brasil tem não apenas a oportunidade, mas o dever histórico de ser um dos líderes da resistência global contra a tirania dos EUA sob Trump. O futuro se decide hoje, a neutralidade é cumplicidade e o colaboracionismo crime! Soberania de verdade só se conquista com luta.

Batalha campal

Somos o campo de testes de uma disputa global que tem o potencial de definir um novo mapa do poder nas relações internacionais. Nas últimas duas semanas, a ofensiva do governo de Donald Trump contra o Brasil não ocorreu por uma questão tarifária. Não estão em jogo nem o café nem o suco de laranja. Esses são danos colaterais.

Abalar a estabilidade de um governo democraticamente eleito é o principal objetivo de um movimento que precisa retirar de seu caminho forças progressistas e emergentes para costurar uma nova ordem mundial que perpetue e renove sua posição de força. A autonomia do Brasil, portanto, é intolerável. Inclusive perigosa, caso outros emergentes a usem como modelo. Desmontar a oposição que o País representa aos interesses de Trump cumpre duas funções estratégicas.


A primeira delas é a de permitir que uma operação de grande envergadura para restabelecer a hegemonia norte-americana no mundo e frear a China possa vingar. Robert Lighthizer, o assessor extraoficial do departamento de Comércio de Trump e mentor das tarifas da Casa Branca, resumiu como poucos o que a China representa: “Uma ameaça existencial aos EUA”.

Para a Casa Branca, isso passa necessariamente por voltar a poder chamar a América Latina de quintal. Desde que voltou à Presidência, Trump sinalizou que recuperar a zona de influência entre os vizinhos ao Sul do Rio Grande era uma prioridade, recuperando o espaço que hoje é, em parte, da China. Assim, Washington passou a chantagear o Panamá, forçou entendimentos com países da América Central e Caribe, costurou apoios com Equador, Guiana, Paraguai e Argentina. E, de forma estratégica, busca agora influenciar diretamente as próximas eleições no Chile e na Colômbia. Mas nada disso terá um resultado concreto sem o Brasil.

Há, no entanto, uma segunda disputa travada e ela é ideológica. Nos últimos dias, ao abrir mão do interesse nacional, da renda dos brasileiros e da própria democracia em troca de um apoio externo para proteger seu clã, o bolsonarismo foi desmascarado. Também ficou evidente que não se trata de um grupo isolado. Tea­tralizadas, as demonstrações de líderes ultraconservadores confirmaram, uma vez mais, a existência de uma aliança internacional de uma força política que, ao longo dos últimos anos, costurou uma estratégia globalizada para chegar e se manter no poder.

Um dos líderes que saíram no apoio do ex-presidente brasileiro foi o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. “Continue lutando, Jair Bolsonaro! Ordens de silêncio, proibições de redes sociais e julgamentos com motivação política são ferramentas de medo, não de justiça”, disse o líder húngaro nas redes sociais. No começo de 2024, Bolsonaro passou dois dias na Embaixada da Hungria em Brasília. O movimento ocorreu dias depois de ele ter seu passaporte retido pela Justiça, que o investigava pela trama golpista. O apoio também veio da extrema-direita polonesa, que agora pede sanções na Europa contra Alexandre de Moraes. Na Itália, Matteo Salvini disse que Bolsonaro é um “perseguido pela Justiça de esquerda”. Na Espanha, foram os herdeiros intelectuais e políticos do ditador Francisco ­Franco que saíram ao resgate do brasileiro.

Em todos os casos, as palavras de apoio se repetiam de forma calculada. Como se tivessem sido ensaiadas. O movimento ultraconservador no mundo sabe o que está em jogo no Brasil. E não é a sobrevivência política de um ex-presidente indiciado por golpe de Estado. O que está em jogo é seu projeto de poder.

Se a extrema-direita mundial sempre teve um plano, dinheiro e objetivo, agora também tem um líder com uma bomba atômica, com o maior mercado do mundo e determinado a reverter uma sensação de decadência de um império. Não poderia ser mais perigoso.

Num mundo onde a velha ordem internacional se desfez e na qual uma disputa­ pelo poder é travada a cada dia para determinar quais serão as regras que vão reger as próximas décadas, o que está sendo desenhada é a fundação de uma geografia do poder.

Seja pela busca norte-americana por hegemonia, seja pela disputa ideológica de um grupo que quer refundar a sociedade a partir de um novo parâmetro ultraconservador, a realidade é que o embate, neste momento, está ocorrendo em nossa democracia.

Os golpes enviados desde Washington e ecoados por traidores testam os alicerces de uma sociedade e os parâmetros da civilização.

No país, a disputa é por onde passam a linhas não tão imaginárias das fronteiras de zonas de influência e da definição de soberania.

No Brasil, portanto, disputa-se neste momento o século XXI.