segunda-feira, 1 de agosto de 2016
A hidra
Ando trocando as pernas ultimamente. Bêbada de sono e desgosto, escrevo esta crônica mal humorada. É que ando cansada de assistir à luta contra essa hidra de mil cabeças chamada corrupção brasileira. Mas que raio de bicho é esse que não morre nunca? Mal lhe cortam uma cabeça, nascem mil outras em seu lugar.
E o que é essa nossa gente sem sangue? Já me perguntei várias vezes o que lhes corre nas veias. Creio que é anestésico. Ou Lexotan, vai saber. O certo é que se arrastam feito zumbis, incapazes de reagir. Zumbis, não! Bovinos, que com seus olhinhos redondos e dóceis se conformam em sacudir as orelhas para espantar os vorazes parasitas que lhes devoram as carnes.
O que dizer dessas almas tão seletivas quando se trata de protestar? A lista de condições é maior que o rol de ex-amigos que Marcelo Odebrecht deve citar em sua colaboração premiada: não vou porque fulano vai; não frequento passeatas em que está beltrano; não participo de protestos com gente que pensa assim ou assado. Minha Santa Rita dos Impossíveis, como é difícil agradar à torcida canarinho! Tão sensíveis, melindram-se por um nada! Mas não se coçam diante da tal hidra da corrupção. Ui, que feio isso, deixa eu escrever um texto no Facebook! – exclamam. E esse gesto de catarse e auto-exposição lhes basta. Vendidos por meras curtidas e comentários. Nem precisa pensar muito: basta um meme engraçadinho e uma frase de efeito.
Alguns se lamentam e choram. Inócuo, amigo. Guarde suas lágrimas para o enterro dos que morreram nos hospitais desguarnecidos da nossa Terra de Vera Cruz. Se pranto desse jeito em corrupto, bastava contratar umas carpideiras gregas para se descabelar na praça dos Três Poderes. Não é o caso, pois a experiência mostra que enquanto as carpideiras estivessem se desidratando de tanto chorar, os citados na Lava Jato estariam lambendo os dedos sujos do molho que cobria os camarões gigantes num jantar.
E o que é essa nossa gente sem sangue? Já me perguntei várias vezes o que lhes corre nas veias. Creio que é anestésico. Ou Lexotan, vai saber. O certo é que se arrastam feito zumbis, incapazes de reagir. Zumbis, não! Bovinos, que com seus olhinhos redondos e dóceis se conformam em sacudir as orelhas para espantar os vorazes parasitas que lhes devoram as carnes.
O que dizer dessas almas tão seletivas quando se trata de protestar? A lista de condições é maior que o rol de ex-amigos que Marcelo Odebrecht deve citar em sua colaboração premiada: não vou porque fulano vai; não frequento passeatas em que está beltrano; não participo de protestos com gente que pensa assim ou assado. Minha Santa Rita dos Impossíveis, como é difícil agradar à torcida canarinho! Tão sensíveis, melindram-se por um nada! Mas não se coçam diante da tal hidra da corrupção. Ui, que feio isso, deixa eu escrever um texto no Facebook! – exclamam. E esse gesto de catarse e auto-exposição lhes basta. Vendidos por meras curtidas e comentários. Nem precisa pensar muito: basta um meme engraçadinho e uma frase de efeito.
Alguns se lamentam e choram. Inócuo, amigo. Guarde suas lágrimas para o enterro dos que morreram nos hospitais desguarnecidos da nossa Terra de Vera Cruz. Se pranto desse jeito em corrupto, bastava contratar umas carpideiras gregas para se descabelar na praça dos Três Poderes. Não é o caso, pois a experiência mostra que enquanto as carpideiras estivessem se desidratando de tanto chorar, os citados na Lava Jato estariam lambendo os dedos sujos do molho que cobria os camarões gigantes num jantar.
Afinal foi isso o que todos vimos naquele casamento bancado pela Lei Rouanet, não é? Aliás, que momento memorável: ainda vejo os cílios postiços da noiva (tão grandes quanto a lista de acusações contra o Renan Calheiros no STF), a voz embargada do noivo (corruptos também choram) e aqueles detalhes tão refinados que parecem ter saído direto de um romance de Edith Wharton.
Adianta lembrar que foi o meu e o seu dinheirinho que financiaram aquele momento mágico? Assim como bancaram a festa dos guardanapos em Paris, reformaram sítios e triplexes e financiaram jóias e roupas de uma certa família carioca que tem o inacreditável dom de gastar o Orçamento da União em um fim de semana na Europa? Aprenda de uma vez: sociopatas não tem empatia. Só choram por si mesmos.
Brasileiro é um bicho estranho: engole uma boiada de corruptos e se engasga com um mosquito esquálido. De um lado continua a reeleger corruptos com pedigree, histórico de reincidência e extensa ficha corrida; enquanto, de outro, perante histórias fictícias e causas espetaculares (geralmente expostas com estardalhaço em redes sociais) há desmaios, ranger de dentes e mil petições na Internet. Não tem orixá que salve esse povo cuja adolescência emocional se prolonga até a meia idade cronológica. Aliás, anote aí: cada vez que um brasileiro dá chilique no Facebook por causa de um não-problema, morre um panda bebê no viveiro de Sichuan. E nasce uma cabeça a mais na tal hidra da corrupção. Olha o foco, minha gente.
Arre, que essa conversa já espichou muito. Vou ali lutar de verdade contra a tal hidra, afinal – assim como na história grega – matar esse bicho é tarefa para Hércules e o herói anda precisando de uma ajuda, pois tem outros onze trabalhos a fazer. Inclusive limpar os estábulos do reino, que estão tomados pelo mau odor dos excrementos morais.
Adianta lembrar que foi o meu e o seu dinheirinho que financiaram aquele momento mágico? Assim como bancaram a festa dos guardanapos em Paris, reformaram sítios e triplexes e financiaram jóias e roupas de uma certa família carioca que tem o inacreditável dom de gastar o Orçamento da União em um fim de semana na Europa? Aprenda de uma vez: sociopatas não tem empatia. Só choram por si mesmos.
Brasileiro é um bicho estranho: engole uma boiada de corruptos e se engasga com um mosquito esquálido. De um lado continua a reeleger corruptos com pedigree, histórico de reincidência e extensa ficha corrida; enquanto, de outro, perante histórias fictícias e causas espetaculares (geralmente expostas com estardalhaço em redes sociais) há desmaios, ranger de dentes e mil petições na Internet. Não tem orixá que salve esse povo cuja adolescência emocional se prolonga até a meia idade cronológica. Aliás, anote aí: cada vez que um brasileiro dá chilique no Facebook por causa de um não-problema, morre um panda bebê no viveiro de Sichuan. E nasce uma cabeça a mais na tal hidra da corrupção. Olha o foco, minha gente.
Arre, que essa conversa já espichou muito. Vou ali lutar de verdade contra a tal hidra, afinal – assim como na história grega – matar esse bicho é tarefa para Hércules e o herói anda precisando de uma ajuda, pois tem outros onze trabalhos a fazer. Inclusive limpar os estábulos do reino, que estão tomados pelo mau odor dos excrementos morais.
Eu, robô
O Brasil vive a era do Estado provocador, sem olho no futuro. Destrói a eficiência da sociedade para arrecadar mais, sempre além do razoável. E avança! Agora, esse velho manipulador, indiferente aos danos econômicos de suas escolhas erradas, quer obrigar o empresário a colocar cela no cavalo favorito da política atrasada: a luta de classes.
Ameaça entrar no ar o sistema de produção de estatísticas sociofiscais, previdenciárias e trabalhistas para alimentar um arquivo-combustível. Que o Estado oferecerá, rígido, ao fiscal, auditor, juiz, para impedir sua desconstrução pela sociedade democrática. Se a Nota Fiscal Eletrônica foi um avanço, o eSocial de empresas é um ninho de cobra.
O fato de você juntar erros numa plataforma digital única não faz deles um acerto ou vislumbra um destino comum. Demonstra um álibi do Estado: dizer que tributa o opressor para gerenciar o oprimido.
O imposto está no centro do confronto político. Toda mudança política contém uma ilusão fiscal. O governo Temer e a Câmara dos Deputados deveriam suspender a entrada em vigor do eSocial empresarial, pela insensatez que é um programa de escrituração digital ameaçar quebrar os princípios que regem o sistema democrático. Pode ser um alerta para que as coisas do Estado passem a ser vistas não pelo que ele acha que é, mas pelo que de fato ambiciona. É hora de a autoridade começar a desconfiar que a pratica errada da transparência também alimenta o motor da corrupção.
O Estado de bem-estar social não é filho automático do Estado fiscal. Nasceu da democracia. Assim, as responsabilidades legais do empresário não significam que sua empresa deve ser administrada pelo governo. Ou que é aceitável capataz digital sobre empregados e empregadores.
Não é uma evolução natural do sistema de controle. É o uso político errado da tecnologia. Uma violação dos princípios da sociedade aberta. Tal fervor pelo assédio on-line da vida das empresas é um poder político destinado a decodificar a alma da inovação e criatividade e aprisionar seus agentes, empresários e trabalhadores, no site da escrituração digital para fazê-los estéreis e homogêneos.
O sonho do Estado de reduzir a vida econômica das pessoas e empresas a eventos, arquivos e cadastros é o sonho de um Estado totalitário, que não deixa a sociedade enriquecer, prisioneira de tudo predeterminado.
Quem fiscaliza o fiscalizador? Ele próprio? “Nenhuma taxação, sem representação”. Está de pé a velha luta pela liberdade da sociedade vigiar o Estado.
O apelido eSocial é zombaria. Seu alvo é o controle das regras de compliance das empresas. Vírus estatal que impõe e digitaliza a burocracia pública, dando a ela ares de modernidade. Não contém qualquer simplificação. Eu, robô: só há vida no Estado!
O eSocial empresarial é uma qualificação cadastral de natureza incompatível com a sociedade democrática, a liberdade de iniciativa e gestão econômica moderna. Enterra o horizonte da livre negociação, conciliação, mediação e arbitragem, única forma de gerar ambiente favorável à prosperidade de empresários e trabalhadores que tanta falta faz ao Brasil.
Ameaça entrar no ar o sistema de produção de estatísticas sociofiscais, previdenciárias e trabalhistas para alimentar um arquivo-combustível. Que o Estado oferecerá, rígido, ao fiscal, auditor, juiz, para impedir sua desconstrução pela sociedade democrática. Se a Nota Fiscal Eletrônica foi um avanço, o eSocial de empresas é um ninho de cobra.
O fato de você juntar erros numa plataforma digital única não faz deles um acerto ou vislumbra um destino comum. Demonstra um álibi do Estado: dizer que tributa o opressor para gerenciar o oprimido.
O imposto está no centro do confronto político. Toda mudança política contém uma ilusão fiscal. O governo Temer e a Câmara dos Deputados deveriam suspender a entrada em vigor do eSocial empresarial, pela insensatez que é um programa de escrituração digital ameaçar quebrar os princípios que regem o sistema democrático. Pode ser um alerta para que as coisas do Estado passem a ser vistas não pelo que ele acha que é, mas pelo que de fato ambiciona. É hora de a autoridade começar a desconfiar que a pratica errada da transparência também alimenta o motor da corrupção.
O Estado de bem-estar social não é filho automático do Estado fiscal. Nasceu da democracia. Assim, as responsabilidades legais do empresário não significam que sua empresa deve ser administrada pelo governo. Ou que é aceitável capataz digital sobre empregados e empregadores.
Não é uma evolução natural do sistema de controle. É o uso político errado da tecnologia. Uma violação dos princípios da sociedade aberta. Tal fervor pelo assédio on-line da vida das empresas é um poder político destinado a decodificar a alma da inovação e criatividade e aprisionar seus agentes, empresários e trabalhadores, no site da escrituração digital para fazê-los estéreis e homogêneos.
O sonho do Estado de reduzir a vida econômica das pessoas e empresas a eventos, arquivos e cadastros é o sonho de um Estado totalitário, que não deixa a sociedade enriquecer, prisioneira de tudo predeterminado.
Quem fiscaliza o fiscalizador? Ele próprio? “Nenhuma taxação, sem representação”. Está de pé a velha luta pela liberdade da sociedade vigiar o Estado.
O apelido eSocial é zombaria. Seu alvo é o controle das regras de compliance das empresas. Vírus estatal que impõe e digitaliza a burocracia pública, dando a ela ares de modernidade. Não contém qualquer simplificação. Eu, robô: só há vida no Estado!
O eSocial empresarial é uma qualificação cadastral de natureza incompatível com a sociedade democrática, a liberdade de iniciativa e gestão econômica moderna. Enterra o horizonte da livre negociação, conciliação, mediação e arbitragem, única forma de gerar ambiente favorável à prosperidade de empresários e trabalhadores que tanta falta faz ao Brasil.
Sonho de poucos, pesadelo de muitos
São necessários os votos de 54 senadores para o afastamento definitivo de Dilma Rousseff da presidência da República. De uns dias para cá, a opinião publicada dá como provável que 61 se posicionarão contra Madame. Mas se não for assim? Caso as previsões da mídia não se confirmarem, se 53 senadores se pronunciarem pelo impeachment, acontecerá o quê?
Nada. A presidente se dirigirá ao palácio do Planalto na manhã seguinte à votação, uma sexta-feira. Lá não encontrará Michel Temer. Nem qualquer ministro. Talvez os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal. Desnecessária se tornará qualquer cerimônia de posse. A sede do governo estará cheia de funcionários de segundo escalão, além de militares. Possivelmente pequena multidão de populares, na Praça dos Três Poderes.
Sonho de poucos, pesadelo de muitos, mas ninguém se espante com a hipótese de apenas no fim de semana vier a ser escolhido e anunciado o novo ministério. Um pronunciamento se fará urgente por parte da recém-empossada sem posse, claro que na presença de montes de sabujos, candidatos a ministro. Até alguns governadores.
Um discurso eivado de promessas de estar sendo iniciado um novo ciclo, a ansiada reconstrução política em outros termos. É bom acordar. Jamais votarão pelo impeachment apenas 53 senadores. Ainda bem…
Sonho de poucos, pesadelo de muitos, mas ninguém se espante com a hipótese de apenas no fim de semana vier a ser escolhido e anunciado o novo ministério. Um pronunciamento se fará urgente por parte da recém-empossada sem posse, claro que na presença de montes de sabujos, candidatos a ministro. Até alguns governadores.
Um discurso eivado de promessas de estar sendo iniciado um novo ciclo, a ansiada reconstrução política em outros termos. É bom acordar. Jamais votarão pelo impeachment apenas 53 senadores. Ainda bem…
O que se vê
Uma mão suja a outra
Sistemas de saúde modernos são complexos de serviços e indústrias, instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais, regidos por pesquisas, patentes e regras de propriedade intelectual.
Os tempos nos quais médicos e boticários vendiam pílulas de vida e tônicos fortificantes eram outros. Não havia assepsia, anestesia, os hospitais denominavam-se casas de morte, e as condições de pagamento de cuidados eram similares às do comércio varejista. Ricos (especialmente a aristocracia inglesa) eram atendidos por médicos particulares, em suas casas, e os pobres, por médicos-escravos e curandeiros. Tratamentos baseados em sangrias não curavam, poderiam apressar a morte de doentes de todas as classes sociais.
As mudanças foram radicais, as possibilidades de resolver efetivamente agravos e doenças, de prestar cuidados prolongados para condições crônicas, deixaram no passado as relações horizontalizadas entre compradores e vendedores, profissionais de saúde, pequenas clinicas e hospitais, pagamentos relativamente módicos por tratamentos de curta duração.
No Brasil, esse processo de modernização adquiriu feições singulares. O reaproveitamento de cateteres para procedimentos cardíacos, denunciado no “Fantástico”, é resquício da transformação que não se completou. São procedimentos médicos inovadores pagos por um esquema de rateio semissecreto, mas consentido. Os acordos são conhecidos, exceto pelos pacientes; diminuem custos para os planos; e tornam os valores de remuneração para os profissionais mais atraentes. Relacionamentos paralelos com empresas de planos, fabricantes e distribuidores de materiais cirúrgicos, órteses, próteses e medicamentos são expedientes de reuso também do jeito antigo de cobrança para a difusão de tecnologia de ponta. Os valores envolvidos são incomparavelmente mais elevados do que os pagos para os médicos até o fim do século XX, as contas são apresentadas para pagadores institucionais que atuam em nome dos pacientes. Mas, parte da antiga prática da recompensa individualizada, agora sob a forma de comissionamento, foi mantida.
O escândalo dos cateteres separou didaticamente os componentes antigos e modernos do sistema de saúde. Os pacientes não decidiram usá-los, seguiram recomendações profissionais, muito menos optaram por material reutilizado. Ninguém perguntou se o consumidor gostaria de adquirir um produto de segunda por preço de ocasião. A grande empresa de plano, hospitais considerados de excelência e fornecedores disseram não saber de nada ou não serem responsáveis. Sobrou para os médicos.
O caso ocorreu no circuito restrito que une pessoas que têm plano caro e unidades de saúde que não internam pobres. Diabruras na saúde, que deveriam ser consideradas obsoletas e desrespeitosas com as expectativas dos cidadãos, não ficam por aí. A alternativa predileta de parcela de integrantes das redes informais de comercialização de material médico-cirúrgico é a venda da promessa de uma assistência básica em troca de retribuições pré-pagas baratas. A ideia carece de fundamento técnico, o tamanho do bolso não determina o problema de saúde, diagnóstico e tratamento e tem parentesco com o pacto de reuso.
Pressupor que recursos da saúde possam ser alocados para fazer mais com muito menos qualidade, ou precisamente fazer mais com o mesmo, cheira a mofo. O odor exala da velhaca desculpa de apelar para expedientes sub-reptícios em função das condições de atraso do país.
Empresários da saúde, que faturaram R$ 140 bilhões no ano passado, têm força social para impor interesses, conferem-lhes estatuto de política pública. Influenciam parlamentares, ministros de Estado e contratam porta-vozes entre executivos que ocuparam cargos públicos no modelo portal giratório (sai da empresa, vai para o governo, volta para a empresa e sempre mantém um pé dentro e outro fora). Esse time fica encarregado de apresentar propostas para remendar a legislação e afirmar que o Brasil não está e nunca estará preparado para ter um sistema de saúde moderno.
Estabelece-se a polêmica, as normas ficam como estão, enquanto o boi vai passando. Planos relativamente mais baratos, falsos coletivos e de adesão a entidades completamente alheias aos indivíduos que os contrataram estão sendo comercializados. Atualmente, os porta-vozes dos planos baratos, animados com os discursos privatizantes do ministro da Saúde interino, querem tentar passar a boiada, copagamentos e franquias elevadas, e a regulamentação da dupla porta nos hospitais públicos. Os clientes pagarão mais, e as empresas de planos de saúde economizam usando a rede pública hospitalar.
Pretendem vender um plano de pré-pagamento baseado na responsabilidade da empresa privada pelo Melhoral e copo d´água, e na transferência para o SUS do atendimento das complicações das arboviroses, hipertensões e diabetes, saúde mental e cânceres. A chance de planos baratos darem certo em termos de melhoria das condições de saúde é zero.
No Chile, na Colômbia e no México, proposições mais sofisticadas, por exemplo, propiciar coberturas para queimaduras de segundo grau, mas excluir as de terceiro, provocaram crises políticas e ações severas das supremas cortes contra as restrições de acesso. O que se faz com um paciente que tenha queimaduras de segundo e terceiro grau simultaneamente? Porém, a probabilidade de alavancar negócios e fortunas é elevada. Nesse setor, não se joga para perder, é tudo caso pensado.
Os movimentos para tornar plano barato um tema da agenda política têm direção: afirmam o privado como prioridade pública. Vai que alguém para, pensa e conclui, como o governo de centro-direita da Irlanda, que a melhor resposta para o sistema de saúde no contexto de crise econômica é cortar os subsídios públicos para planos privados. Vai que o destino do Brasil não é atraso, é a democracia, a transparência e a igualdade.
Ligia Bahia
Os tempos nos quais médicos e boticários vendiam pílulas de vida e tônicos fortificantes eram outros. Não havia assepsia, anestesia, os hospitais denominavam-se casas de morte, e as condições de pagamento de cuidados eram similares às do comércio varejista. Ricos (especialmente a aristocracia inglesa) eram atendidos por médicos particulares, em suas casas, e os pobres, por médicos-escravos e curandeiros. Tratamentos baseados em sangrias não curavam, poderiam apressar a morte de doentes de todas as classes sociais.
As mudanças foram radicais, as possibilidades de resolver efetivamente agravos e doenças, de prestar cuidados prolongados para condições crônicas, deixaram no passado as relações horizontalizadas entre compradores e vendedores, profissionais de saúde, pequenas clinicas e hospitais, pagamentos relativamente módicos por tratamentos de curta duração.
O escândalo dos cateteres separou didaticamente os componentes antigos e modernos do sistema de saúde. Os pacientes não decidiram usá-los, seguiram recomendações profissionais, muito menos optaram por material reutilizado. Ninguém perguntou se o consumidor gostaria de adquirir um produto de segunda por preço de ocasião. A grande empresa de plano, hospitais considerados de excelência e fornecedores disseram não saber de nada ou não serem responsáveis. Sobrou para os médicos.
O caso ocorreu no circuito restrito que une pessoas que têm plano caro e unidades de saúde que não internam pobres. Diabruras na saúde, que deveriam ser consideradas obsoletas e desrespeitosas com as expectativas dos cidadãos, não ficam por aí. A alternativa predileta de parcela de integrantes das redes informais de comercialização de material médico-cirúrgico é a venda da promessa de uma assistência básica em troca de retribuições pré-pagas baratas. A ideia carece de fundamento técnico, o tamanho do bolso não determina o problema de saúde, diagnóstico e tratamento e tem parentesco com o pacto de reuso.
Pressupor que recursos da saúde possam ser alocados para fazer mais com muito menos qualidade, ou precisamente fazer mais com o mesmo, cheira a mofo. O odor exala da velhaca desculpa de apelar para expedientes sub-reptícios em função das condições de atraso do país.
Empresários da saúde, que faturaram R$ 140 bilhões no ano passado, têm força social para impor interesses, conferem-lhes estatuto de política pública. Influenciam parlamentares, ministros de Estado e contratam porta-vozes entre executivos que ocuparam cargos públicos no modelo portal giratório (sai da empresa, vai para o governo, volta para a empresa e sempre mantém um pé dentro e outro fora). Esse time fica encarregado de apresentar propostas para remendar a legislação e afirmar que o Brasil não está e nunca estará preparado para ter um sistema de saúde moderno.
Estabelece-se a polêmica, as normas ficam como estão, enquanto o boi vai passando. Planos relativamente mais baratos, falsos coletivos e de adesão a entidades completamente alheias aos indivíduos que os contrataram estão sendo comercializados. Atualmente, os porta-vozes dos planos baratos, animados com os discursos privatizantes do ministro da Saúde interino, querem tentar passar a boiada, copagamentos e franquias elevadas, e a regulamentação da dupla porta nos hospitais públicos. Os clientes pagarão mais, e as empresas de planos de saúde economizam usando a rede pública hospitalar.
Pretendem vender um plano de pré-pagamento baseado na responsabilidade da empresa privada pelo Melhoral e copo d´água, e na transferência para o SUS do atendimento das complicações das arboviroses, hipertensões e diabetes, saúde mental e cânceres. A chance de planos baratos darem certo em termos de melhoria das condições de saúde é zero.
No Chile, na Colômbia e no México, proposições mais sofisticadas, por exemplo, propiciar coberturas para queimaduras de segundo grau, mas excluir as de terceiro, provocaram crises políticas e ações severas das supremas cortes contra as restrições de acesso. O que se faz com um paciente que tenha queimaduras de segundo e terceiro grau simultaneamente? Porém, a probabilidade de alavancar negócios e fortunas é elevada. Nesse setor, não se joga para perder, é tudo caso pensado.
Os movimentos para tornar plano barato um tema da agenda política têm direção: afirmam o privado como prioridade pública. Vai que alguém para, pensa e conclui, como o governo de centro-direita da Irlanda, que a melhor resposta para o sistema de saúde no contexto de crise econômica é cortar os subsídios públicos para planos privados. Vai que o destino do Brasil não é atraso, é a democracia, a transparência e a igualdade.
Ligia Bahia
Dormir é um santo remédio
De impressionar, a quantidade de estudos sobre sono, relógio biológico, ciclos circadianos (nossa ritmicidade a cada 24 horas) e o altíssimo preço que alterações sono/vigília causam na atual geração, urbana, tecnológica, baladeira, com péssimos hábitos e opção pelo artificialismo e alto consumo de bebidas, drogas, soníferos, calmantes, entre outras coisas.
Alarmante a constatação de que sete em cada dez pessoas se queixam de sono insatisfatório, cansaço ao acordar, ou tem distúrbios severos do sono, como apneia, insônias, síndrome das pernas inquietas, terror noturno, etc.
Estranhamente somos os mamíferos mais incompetentes no que tange as funções básicas de comer, fazer sexo e dormir. Gosto de provocar: quem já viu zebra obesa, elefante impotente, leão com insônia? Afinal o que nos rege são leis naturais, ciclos podem ser solares, lunares e nossos hormônios buscam obedecer a ordem natural das coisas. Aí, vem nossa tresloucada pretensão humana de criar um universo paralelo, artificial - industrializamos alimentos, criamos luz elétrica, bebidas, tornamos o tempo uma dimensão psicológica a parte, maquinizamos nossa realidade e nos escravizamos pela tecnologia, entre outras brincadeiras de ser Deus.
E nessa guerra entre leis artificiais e as naturais, com certeza a natureza, sendo divina, sempre nos vencerá e o preço a ser pago é o aparecimento de transtornos mentais e doenças físicas geração pós-geração.
Alguém pode explicar porque vaqueiro não tem problemas para dormir? Simples: vaca dá leite sábado, domingo, feriados. Acorda sempre as cinco, dorme cedo, recebe a luz do início do dia, não tem vícios tecnológicos. Acorda com a claridade, dorme coma escuridão. Fantástico, pois seu relógio biológico é lunar, seus hormônios sono/ vigília ajustados - melatonina aumenta a noite, cortisona aumenta ao acordar. Faz exercício físico naturalmente indo até o pasto, recolhendo o gado, trabalha o ano todo, tira férias todo dia, pois as quatro da tarde relaxa, joga sua pelada, ou conversa fiada, observa a natureza, adquirindo sabedoria.
Enquanto isso em Gothan City... Legiões de zumbis, hipnotizados por suas telas de TV, computador ou celular, segue maquinalmente, sua rotina de estresse, mau humor, “pensação” disparada. Ansiosos com insônias iniciais (demoram a dormir pelos pensamentos disparados), deprimidos com insônia terminal (acordam precocemente, com ideias de ruína, já que o cérebro tenta evitar o excesso de sono de sonhar, chamado REM, que gastaria muita atividade eletro-química já deficitária na depressão). Olha aí a relação direta entre sono e humor! E a memória do sono? Tudo a ver, daí um dos temas recorrentes é que de tanto dormir mal a atual geração terá um percentual de dementes (Alzheimer) imensamente maior e mais cedo. E sono e obesidade? Relação direta pois o insone desregula a química que gere a fome e a saciedade.
E a cada dia novos trabalhos científicos que vão nos mostrando que dormir bem é um dos melhores remédios que a natureza nos deu para viver mais e melhor. Algo que meu avô Zé Cocão já sabia desde o começo do século passado. Afinal, simplicidade, humildade e naturalidade, são velhos ingredientes que a humanidade sempre usa quando a civilização entra em colapso. E como dizia a antiga TV Itacolomi: "Tá na hora de dormir, não espere a mamãe mandar, um bom sono pra você e um alegre despertar!”
Alarmante a constatação de que sete em cada dez pessoas se queixam de sono insatisfatório, cansaço ao acordar, ou tem distúrbios severos do sono, como apneia, insônias, síndrome das pernas inquietas, terror noturno, etc.
John Gannam |
E nessa guerra entre leis artificiais e as naturais, com certeza a natureza, sendo divina, sempre nos vencerá e o preço a ser pago é o aparecimento de transtornos mentais e doenças físicas geração pós-geração.
Alguém pode explicar porque vaqueiro não tem problemas para dormir? Simples: vaca dá leite sábado, domingo, feriados. Acorda sempre as cinco, dorme cedo, recebe a luz do início do dia, não tem vícios tecnológicos. Acorda com a claridade, dorme coma escuridão. Fantástico, pois seu relógio biológico é lunar, seus hormônios sono/ vigília ajustados - melatonina aumenta a noite, cortisona aumenta ao acordar. Faz exercício físico naturalmente indo até o pasto, recolhendo o gado, trabalha o ano todo, tira férias todo dia, pois as quatro da tarde relaxa, joga sua pelada, ou conversa fiada, observa a natureza, adquirindo sabedoria.
Enquanto isso em Gothan City... Legiões de zumbis, hipnotizados por suas telas de TV, computador ou celular, segue maquinalmente, sua rotina de estresse, mau humor, “pensação” disparada. Ansiosos com insônias iniciais (demoram a dormir pelos pensamentos disparados), deprimidos com insônia terminal (acordam precocemente, com ideias de ruína, já que o cérebro tenta evitar o excesso de sono de sonhar, chamado REM, que gastaria muita atividade eletro-química já deficitária na depressão). Olha aí a relação direta entre sono e humor! E a memória do sono? Tudo a ver, daí um dos temas recorrentes é que de tanto dormir mal a atual geração terá um percentual de dementes (Alzheimer) imensamente maior e mais cedo. E sono e obesidade? Relação direta pois o insone desregula a química que gere a fome e a saciedade.
E a cada dia novos trabalhos científicos que vão nos mostrando que dormir bem é um dos melhores remédios que a natureza nos deu para viver mais e melhor. Algo que meu avô Zé Cocão já sabia desde o começo do século passado. Afinal, simplicidade, humildade e naturalidade, são velhos ingredientes que a humanidade sempre usa quando a civilização entra em colapso. E como dizia a antiga TV Itacolomi: "Tá na hora de dormir, não espere a mamãe mandar, um bom sono pra você e um alegre despertar!”
Ideologia na escola
Assiste-se a uma animada esgrima informativa a respeito do papel dos professores na formação dos alunos. Alguns entendem que a sala de aula se transformou em espaço de manipulação ideológica. É o caso dos idealizadores do projeto “Escola Sem Partido.” Estão convencidos de que os conteúdos ministrados pelos mestres não são neutros. São samba de uma nota só. A análise da economia, a visão da política, a interpretação da história e a formação das convicções morais dos alunos passaria por um implacável filtro gramsciano. Exagero? Talvez. Mas como lembrou recente editorial do jornal O Estado de S.Paulo, “evidências não faltam de que muitos professores têm transformado salas de aula em laboratório de doutrinação ideológica esquerdista, sob o argumento de que é necessário criar ‘resistência’ a uma suposta onda conservadora.”
Recente consulta pública lançada pelo Senado Federal sobre projeto de lei relacionado ao programa Escola Sem Partido já recebeu a opinião de mais de 330 mil pessoas. Segundo o Senado, trata-se de um recorde.
Para a ex-secretária da Educação de São Paulo Guiomar Namo de Mello, “não teríamos mais de 300 mil pessoas votando em uma consulta pública se esse debate não fosse real. As pessoas estão percebendo que algo está errado nas escolas.” Para a educadora, o alto interesse na discussão sobre o projeto indica que há preocupação na sociedade sobre o papel do professor. “É muito ruim pensar que se deva ter restrições ao que é feito em sala de aula. Por outro lado, tem havido uma maneira muito parcial de apresentar os fatos aos alunos, que também é contrária à ideia de uma educação crítica e cidadã.”
O debate sobre a educação e o papel do professor na escola não pode ser interditado. A sociedade brasileira não quer ser manipulada. Quer conhecer a realidade e influir no seu destino. Não acredito, sinceramente, que as atuais distorções em sala de aula possam ser resolvidas com censura ou ilusórias medidas legais. Nem todos professores são militantes. Muitos são verdadeiros mestres, forjadores de pessoas livres e independentes. É preciso abrir um debate desarmado de preconceitos. E os professores não podem ser alijados da discussão.
A chave está na família. Os pais devem ter um ativo protagonismo na educação dos seus filhos. É a família, e não o Estado, que tem o poder decisório a respeito da formação da juventude. Não tem sentido, por exemplo, que os pais sejam afastados da educação da sexualidade das suas crianças. É um abuso totalitário. E está acontecendo. O Estado tutor não é bom formador. É sempre manipulador. É preciso lutar para que as associações de pais não sejam uma abstração, mas uma presença decisória nas escolas.
Recente consulta pública lançada pelo Senado Federal sobre projeto de lei relacionado ao programa Escola Sem Partido já recebeu a opinião de mais de 330 mil pessoas. Segundo o Senado, trata-se de um recorde.
O debate sobre a educação e o papel do professor na escola não pode ser interditado. A sociedade brasileira não quer ser manipulada. Quer conhecer a realidade e influir no seu destino. Não acredito, sinceramente, que as atuais distorções em sala de aula possam ser resolvidas com censura ou ilusórias medidas legais. Nem todos professores são militantes. Muitos são verdadeiros mestres, forjadores de pessoas livres e independentes. É preciso abrir um debate desarmado de preconceitos. E os professores não podem ser alijados da discussão.
A chave está na família. Os pais devem ter um ativo protagonismo na educação dos seus filhos. É a família, e não o Estado, que tem o poder decisório a respeito da formação da juventude. Não tem sentido, por exemplo, que os pais sejam afastados da educação da sexualidade das suas crianças. É um abuso totalitário. E está acontecendo. O Estado tutor não é bom formador. É sempre manipulador. É preciso lutar para que as associações de pais não sejam uma abstração, mas uma presença decisória nas escolas.
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