segunda-feira, 20 de junho de 2016

Aqui se faz. E os outros pagam

Quando soube, estava, por coincidência, na Vila Olímpica. Vila Olímpíca de Vancouver, diga-se. Sentados no terraço do restaurante a beira-mar, aproveitamos o dia bonito a vista do perfil da cidade, emoldurado pelas montanhas ainda com um pouco de neve no pico, apesar da estação.

Era sexta-feira preguiçosa e bem aproveitada na companhia de amigos. Como convém a estas ocasiões, dilatávamos sobre o nada e falávamos sobre o tudo. Exceto claro, assuntos sérios. Isso, sim era proibido.

Foi quando o celular vibrou anunciando a chegada da mensagem. Apenas uma linha. Simples, assim. Falava de calamidade publica. Avisava do decreto. E perguntava se estava tudo bem.

Fiquei preocupado, claro. Afinal, até onde sabia, calamidade publica era coisa que precisava ser precedida de desastre. E de grande porte. Corri para casa para saber mais e, se necessário, disposto a ajudar algum amigo em dificuldade.

Já em frente ao computador, veio o alivio. Tudo parecia estar em ordem. Quer dizer, em ordem, considerando os tempos estranhos que temos vivido. Do desastre, da calamidade, nem sinal.

Na mídia social, a vida seguia em ondas, como o mar. Os bondes continuavam em cima dos trilhos. E todos os maridos funcionavam regularmente. Apesar de ainda não ser sábado.

Confuso, assistia as explicações das autoridades enquanto sentia o bafo do cinismo emanado da tela a cada palavra. Na imprensa escrita, noticias confusas relatavam o escarnio escrito com a pena da galhofa e a tinta da melancolia. Tudo dito e feito, nada fez sentido. Exceto a falta se sentido.

No país da piada pronta, perdeu-se qualquer apego ao significado das palavras ou a logica dos argumentos. E se pariu a primeira calamidade publica decretada preventivamente para evitar prejuízos potenciais a um evento esportivo.

Em uma cidade frequentemente tiro, porrada, e bomba em doses industriais e diárias, achamos por bem declarar calamidade publica tendo por justificativa o medo de vexame imaginário. Tudo, aparentemente, para justificar (apenas) formalmente os aportes de recursos financeiros adicionais ao arrepio das leis orçamentárias.

Tempos estranhos estes onde vigoram regras estranhas. Aparentemente, aqui se faz. E os outros pagam.

Recolha a tropa, Janot, e se atenha aos autos

Os movimentos de rua — e foram eles que levaram a Câmara a aceitar a denúncia contra Dilma e o Senado a abrir o processo contra a presidente —, mais uma vez, estão à frente da média da imprensa na percepção do que está em curso. Sempre foi assim, não é mesmo? Enquanto setores expressivos do jornalismo insistiam em dar espaço para meia-dúzia de bocós que queriam golpe militar, as ruas, de verdade, queriam o impeachment segundo as regras do jogo. Enquanto os “especialistas” do jornalismo duvidavam que Dilma seria afastada, as ruas nunca hesitaram.


O movimento Nas Ruas me manda a imagem de dois bonecos que passaram a frequentar a Avenida Paulista, junto com o Pixuleco: o “Enganô”, que faz alusão ao Rodrigo Janot, procurador-geral da República, e o Petralovski, que remete ao presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski.


Acho que não é preciso expor, vamos dizer assim, as reservas a Lewandowski. Pode até ser um exagero meter-lhe uma estrela no peito, mas não chega a ser segredo que suas concepções mais gerais de mundo estão bastante adequadas ao universo mental petista. No julgamento de uma das ações que buscavam paralisar a tramitação do impeachment, o ministro discursou em favor de uma inexistente soberania do Supremo para decidir se Dilma será ou não cassada. Como se sabe, a Constituição diz que os juízes num processo de crime de responsabilidade são os senadores. PONTO!

Qual é a treta com Janot?
E com Janot? Qual é a treta? Notem: toda pessoa decente quer que todos os corruptos paguem por seus crimes. Mas os movimentos que levaram milhões às ruas em favor da deposição de Dilma começam a perceber que o sr. Rodrigo Janot se move com o que parece, a esta altura, ser uma agenda.

Um estrangeiro que não tivesse acompanhado o escândalo e conseguisse ler a imprensa brasileira teria algumas certezas inquestionáveis:
a: o PMDB foi o coração do petrolão;
b: o PMDB comandou o governo mais corrupto da história;
c: Eduardo Cunha é o chefe inconteste do petrolão;
d: nada há, até agora, que justifique uma denúncia contra Dilma;
e: nada há, até agora, que justifique uma denúncia contra Lula;
f: o PT foi um parceiro menor na administração do petrolão.

Ora, é a maior coleção de mentiras jamais contava sobre o caso.

Militância política
Infelizmente, resta evidente que o Ministério Público Federal, ao lado do meritório trabalho de investigação que fez em muitos casos, resolveu operar também com a política. Aponto esses desvios aqui no meu blog desde sempre. Infelizmente, eu estava certo. Ocorre que a militância passou a ser, agora, mais desabrida. Com os holofotes no mais das vezes acríticos que lhes garante a imprensa, procuradores falam abertamente em refundar a República e não têm receio nenhum de conceder entrevistas que buscam intimidar até o Supremo.

Ou Deltan Dallagnol, o loquaz coordenador da Lava-Jato, não o fez duas vezes enquanto Teori Zavascki decidia sobre o destrambelhado e injustificado pedido de prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney? O irrequieto procurador deu a entender, com todas as letras, que a Teori só cabia uma decisão correta: dizer “sim” à pretensão do Ministério Público. O ministro consultou a lei e disse “não”.

Dallagnol e pares seus estiveram em Londres para um seminário sobre a Lava-Jato. Ele e Paulo Roberto Galvão concederam uma entrevista ao Globo. Mais uma vez se manifesta aquele viés de salvadores do mundo e almas messiânicas tocadas pelo desejo de purificar a Terra.

Numa de suas respostas, afirmou Dallagnol:
“Sem entrar no caso concreto, eu diria que a corrupção não tem cor, não tem partido. Ela existe há séculos no Brasil. Apenas na década de 90 tivemos 88 casos de corrupção só na área federal. O nosso compromisso é apurar corrupção envolva quem for de modo cego, apartidário, técnico e imparcial. Esse é o compromisso que temos com a sociedade.”

De todas as teses até agora expostas, essa é a mais profundamente petista. Já escrevi aqui que a Lava-Jato fala, muitas vezes, com o sotaque do PT da década de 80. Ora, essa avaliação desconsidera a particularidade do assalto petista ao Estado: foi também uma forma de conquista do Estado; não foi só o roubo aos cofres públicos; tratou-se também do sequestro da democracia.

A escolha das palavras diz muito do que vai hoje no MPF: “uma apuração de modo cego”. Os olhos vendados da Justiça significam apenas que ela não distingue nem protege este ou aquele. Mas não se pode ser tão cego a ponto de não enxergar os limites institucionais.

A seleção de alvos que vem fazendo o Ministério Público e a forma como articulou a delação do senhor Sérgio Machado pôs a instituição a serviço de uma tese: a deposição do governo Temer para a realização de novas eleições, o que poderia levar hoje o país para o buraco.

E, no buraco, não se consegue nem combater a corrupção.

É bom o Ministério Público Federal deixar a política de lado. As ruas já perceberam. Elas apoiam o combate à corrupção, não os impulsos de candidatos a tiranos virtuosos. Porque isso não existe.

Recolha a tropa, Janot, e se atenha aos autos.

Brasil, país intransitivo?

Os inconformados com a Constituição e militantes das eleições já fizeram um estardalhaço porque Michel Temer se reuniu com Renan Calheiros no Jaburu numa noite dessas para uma conversa que se estendeu até a madrugada. Seria mais uma prova incontornável do complô para barrar a Lava Jato num governo cujo ministro da Justiça, Alexandre Morais, reitera o apoio à investigação.

É impressionante como os alarmados espíritos a respeito das eventuais ameaças vindas do governo não tenham se escandalizado quando o ministro anterior, Eugênio Aragão, ameaçava as equipes se sentisse “cheiro de vazamento”. E o antecessor, José Eduardo Cardozo, só não o fez porque não conseguiu; e acabou, numa sessão notável da comissão do impeachment, ao invocar o colega Thomas Turbando, confessando a real e exasperante tarefa dos defensores de Dilma.

O tal complô do novo governo, entendem os pró-eleições-já, seria a sequência da conspirata que afastou Dilma Rousseff. Sim, aquela presidente de crimes em série; a czarina do petrolão; o poste autoritário que despreza os limites da democracia aos poderes e quereres de um poste com complexo de governante; a mandatária que inaugurou dramas novos no país cujos dramas antigos ela ignorou enquanto os aprofundava.

Contudo, é normal e mesmo desejável que Renan (ou quem quer que seja o presidente do Congresso) se reúna com Temer (ou quem quer que seja o presidente interino), num encontro às claras na calada da noite, depois de termos assistidos entre a perplexidade e a repulsa um jeca sem cargo receber deputados de alta rotatividade, num hotel, tentando comprar votos contra a admissibilidade do impeachment. Na velocidade dos dias, parece longíqua mais uma patifaria do presidiário misteriosamente adiado ocorrida há somente dois meses.

A falação esquisitona de Sérgio Machado tentando envolver Michel Temer encurtou ainda mais o tempo para se respirar, ou refletir. Num país já transitado para a civilização, seria inadmissível o presidente manter o posto; mas também seria inadmissível um troço como Sérgio Machado. É essa velocidade que quero comentar. Ralph Waldo Emerson (poeta e filósofo americano do século 19) afirmou que “quando se patina sobre o gelo fino, a segurança está na velocidade” para sintetizar a transição na Modernidade em que não há mais chão – ou há este de gelo que nada sustenta –, tudo é questionável e mutável, guiado pela racionalidade que, prometendo organizar tudo, voltou-se contra si mesmo, passando ela também a ser objeto de exame.

Nessa aceleração das mudanças promovendo incertezas, aprofundar-se – num pensamento, ação, valor ou sentimento – poderia significar afundar. O simpático filósofo polonês Zygmunt Baumann usou a frase do americano para ilustrar a eloquente imagem do “mundo líquido”, erguido já pela pós-modernidade na falência da racionalidade como solução, deixando claro que corremos atrás da… do… de quê? Os dois filósofos, portanto, provam que refletir é essencial.

Na velocidade voraz, a pausa é imperiosa para alcançar, senão o luxo da compreensão, a satisfação do básico: refletir. Sem isso, a camada de gelo sob os pés dos brasileiros pode se romper e só não afundaremos se pudermos supor um cordão de alguma sanidade e lógica em torno desses dias incessantes em que tudo parece relevante, bombástico, emblemático, simbólico, decisivo, definitivo. Assim, as reuniões discretas de Temer, mas divulgadas, longas ou não, não deveriam escandalizar ninguém.

Além disso, ele governa com honestidade quanto às próprias despretensões políticas, com a firmeza possível para quem não sabe se será promovido de interino a transitório, com a articulação política disponível em meio ao quase caos, com a gestão administrativa arrancada das garras dos lulopetistas que, em algumas situações, não entregaram nem mesmo as chaves de muitas salas. Se não buscarmos algum distanciamento, alguma baliza, algum parâmetro, a interinidade naufraga sem ter tido a chance de ser o que acho (ainda) que pode ser: nossa transição possível até o outro lado da… do… disso.

Ainda que caiam ministros como as folhas no outono e entendendo que nossa melancolia atinge os ossos também porque muito acontece e, aparentemente, não saímos do lugar, creio que Temer se fortalece quando se livra dos delatados sem acusações contra a Justiça, o jornalismo independente, as elites, etc. Ou seja, superamos o modelo lulpetista. Mas a matriz putrefata está ativa e a lista de Machado, pretendendo misturar sujos e mal-lavados para que a sujeira e a meia-limpeza de uns redimam as dos outros, remete a ela. Se não refletirmos, essa matriz odiosa nos manterá um país intransitivo.

Um trocado para a vã democracia

I

Meu caro Sérgio Machado,
Eu lhe digo com franqueza
Que Miguezim de Princesa
Só precisa de um trocado,
Porque seu eleitorado
É só cana com limão;
Aluguel e prestação
Pode deixar pra outro dia,
Que não temos a agonia
De quem só pede milhão.

II

O homem do bigodão
Pediu logo foi dezoito,
Comprou tudo de biscoito,
Saiu dando na eleição.
Nas terras do Maranhão,
Onde o bigodudo é rei,
Contar a história eu sei,
O povo andava dizendo
Que todos viviam comendo
O biscoito de Sarney.
III

O “matador” de Alagoas,
Doido por rabo de saia,
Fez uma ligação da praia
No dia que estava à toa,
Fez uma encomenda boa
De quase trinta milhões,
Se enfiou pelos grotões,
Elegeu até cavalo,
Que quem segura o badalo
Não se perde em eleições.

IV

Saiu dinheiro voando
Do miolo do jucá,
Viram uma mala passar
Quando ele estava voltando,
O dinheiro passeando
Pela mão de quem tem sorte.
Juro na frente da morte.
Com sua foice matadeira,
Que encontraram uma pacoteira
No Rio Grande do Norte.

V

Virou praxe o deputado
Pedir ao governador,
Este pede ao senador,
Que corre a Sérgio Machado,
Um vereador safado,
Cheio de demagogia,
Também passou sua bacia
Arrecadando o bambá
Em nome de sustentar
Nossa vã democracia!

É a ética, estúpido!

Em 1992, quando George Bush, considerado imbatível pelo sucesso na política externa, foi derrotado por Bill Clinton, que teria se mostrado mais apto a gerir uma economia estagnada, James Carville, assessor-chefe de marketing do democrata, sentenciou: “É a economia, estúpido!”

A partir daí, esta frase foi usada para decretar que, na era pós-ideológica, globalizada, ideais e valores não teriam mais vez, só o bolso. E eis que, pouco mais de 20 anos depois, a política retorna em grande estilo, acompanhada de sua velha parceira, a ética.

Foi a crise do capitalismo financeiro em 2008 que fez ressurgir a necessidade de uma política de valores, fazendo com que se formassem, por todo o mundo, “redes de indignação e esperança”, como Occupy Wall Street e Indignados,que levaram milhares às ruas em protesto contra as políticas de austeridade, a falta de democracia, o cinismo e a arrogância das elites políticas e financeiras em conluio criminoso e reivindicando uma “necessária revolução ética”!


Em 2013, o Brasil assistiria, atônito, à explosão de manifestações que levaram às ruas mais de um milhão de pessoas em luta por mais educação, mais saúde, melhores serviços públicos e contra a falta de representatividade dos partidos e a corrupção na política.

Na base da insatisfação, estavam mais democracia, mais respeito ao cidadão e mais transparência, todos valores éticos. No Brasil e no mundo, hoje, o clamor é pela ética na política.

Mas, diante desse clamor, o que a Operação Lava-Jato pedagogicamente tem nos mostrado é um deprimente espetáculo de cupidez e cinismo de uma classe política que implantou um verdadeiro sistema criminoso na política.

Ainda que tenhamos aprendido com Maquiavel a ver a política como ela é, não podemos não nos indignar com a avidez pelas propinas milionárias, pelos cargos a serem desfrutados por dias ou até horas, pelas comezinhas barganhas por verbas públicas

E tudo embrulhado no mais puro cinismo que proclama: “Sou vítima de perseguição”, “Nada foi provado contra mim” ou pelo malabarismo das maiorias moles que fazem o amigo (ou sócio?) de ontem se tornar o inimigo de hoje.

Apesar da inabalável alienação dos poderosos, tem avançado no Brasil um movimento para inscrever nas leis a exigência de uma ética republicana, fundada no respeito à coisa pública e ao bem comum: a Lei da Ficha Limpa, a proibição do financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas, a Lei Anticorrupção e a Lei de Acesso à Informação.

Ainda estão na pauta do Congresso a Proposta de Lei da Sociedade Civil Sobre Acordos de Leniência e a Proposta de Lei das Dez Medidas Anticorrupção, patrocinada pelo Ministério Público e apoiada por dois milhões de cidadãos. Todas essas leis e propostas de lei advêm de mobilizações populares, e não da vontade dos políticos, por razões óbvias.

Geraldo Tadeu Monteiro

O bom e velho faroeste

Dia desses assisti a um filme de faroeste. Mas não gostei. Tinha tiro demais. Muito sangue jorrando. Muita desordem. Ora, o “velho oeste” norte-americano era um lugar organizado!

Segundo me recordo das aulas de história, tudo começou quando descobriram ouro na California, em 1848. Em 1862, Abraham Lincoln emitiu o “Homestead Act”, através do qual seria doada a propriedade de terras no oeste a quem se dispusesse a ocupá-las por pelo menos cinco anos.

Os assentamentos decorrentes deste ato eram rigidamente controlados pelo governo - os pioneiros, tão logo se estabeleciam, eram obrigados a enviar ao Congresso toda a documentação da área. A partir daí criava-se um conjunto de regras locais, e eram institucionalizados os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com a eleição do prefeito, do juiz e do xerife.

Naqueles velhos tempos o porte de arma era objeto de controle rigoroso. Em 1870, por exemplo, quem chegasse a Wichita, no Kansas, era obrigado a ir até a Delegacia e registrar sua arma. Há uma fotografia de um aviso na entrada de Dodge City, datada de 1879, segundo o qual o porte de armas de fogo era estritamente proibido.

É curioso, isso: segundo consta, atualmente o porte de armas de fogo é permitido em 49 dos 50 estados norte-americanos! E eis que o velho oeste, ao contrário do que vemos nas telas do cinema, era muito mais responsável!



Aliás, sobre violência, esqueça os tiroteios e mortes: em média as cidades fronteiriças registravam apenas dois homicídios por ano. E nas cinco maiores cidades do velho oeste aconteceram apenas 45 homicídios entre 1870 e 1885.

Vamos a alguns exemplos concretos: em Abilene, uma das mais violentas cidades do velho oeste, não se registrou sequer um homicídio entre 1869 e 1870. E as famosas Ellsworth e Dodge City foram as únicas em toda a região nas quais foram registrados mais que cinco homicídios por ano.

E os assaltos a banco, tão comuns nos filmes de faroeste? Tudo mentira! Segundo constatou o historiador Larry Schweikart, da Universidade de Dayton, aconteceram apenas quatro deles em nada menos que 15 estados, entre os anos de 1859 e 1900! Por incrível que pareça, nos tempos atuais há mais assaltos a banco em qualquer grande cidade brasileira ao longo de um único ano do que em toda uma década daqueles tempos de faroeste.

Diante de toda estas mentiras, larguei para lá o filme de faroeste. Fui assistir a um outro, sobre a Guerra do Vietnã. Também não gostei. Tiro demais. Muita gente morrendo. E novamente a realidade sendo distorcida - afinal, o Vietnã não era assim tão violento!

Ora, com todos aqueles tiroteios e explosões, o Exército dos EUA perde durante uma guerra cerca de 53,67 soldados por dia. Já o Brasil, por exemplo, usufruindo de uma paz absoluta, perde 119,46 habitantes assassinados por dia - mais do que o dobro!

Resolvi fazer umas contas. Verifiquei quantos soldados norte-americanos morreram em combate na Guerra do México, Guerra Hispano-Americana, I Guerra Mundial, II Guerra Mundial, Guerra da Coréia, Guerra do Vietnã, Guerra do Golfo, Guerra do Iraque e Guerra do Afeganistão. Cheguei a 666.056 baixas ao término de uns 34 anos de batalhas terríveis. Enquanto isso, em apenas 16 anos (1990 a 2006), 697.668 civis brasileiros morreram a tiros, facadas ou pauladas pelas ruas deste tranquilo país.

Foi assim que joguei fora os filmes de guerra e faroeste que tinha, e fui assistir ao “Deu a Louca no Mundo”, de Stanley Kramer.

Pedro Valls Feu Rosa

Com a Rede e o PSOL?

Foi Antonio Carlos Magalhães quem definiu Temer como mordomo de filme de terror. O velho era bom de apelido. Rebatizou um então investigativo trapalhão Suplicy, por exemplo, como “o Agente 86”. Mas, quando Temer assumiu, cheguei a pensar: quando nada, teremos um partido de profissionais tocando o barco, até novas eleições. Ledo engano. Os “profissas” batem cabeça o tempo todo. E haja acusação de corrupção.

Mas, aqui, os tempos mudaram – e não foi pouco. Pensando bem, a história político-administrativa do Brasil, das primeiras décadas do século 20 às primeiras do século 21, pode ser dividida, sem risco de erro, em dois grandes períodos. Primeiro, tivemos a época do ROUBA MAS FAZ. Hoje, é a vez do SÓ FAZ ROUBAR.


O período do “rouba mas faz” contou, entre os seus mais lídimos representantes, com políticos-administradores da cepa de Adhemar de Barros (a matriz pós-Estado Novo deles), Antonio Carlos Magalhães e Paulo Maluf, que já deve estar completando aí por volta dos seus 200 e poucos anos de idade.

Já o segundo período, bem mais robusto e produtivo, arrasta partidos inteiros. Seus mais vistosos representantes (ou suas “almas honestas”, se preferirem) estão no PT, no PMDB e no PSDB. Aí, segundo o cara da Transpetro, “não sobra ninguém”. Pode-se mesmo dizer que neste triângulo é que se concentra o tal do CRIME ORGANIZADO no país. Como me diz um amigo, hoje, a bandalheira de Collor-PC Farias, comparativamente, seria coisa para juizado de pequenas causas...

Aliás, nossos artistas e intelectuais precisam abraçar a Lava Jato, abraçar as reformas fundamentais para o país, em vez de se limitar a defender o seu balcão de negócios, fazendo festa no prédio (por que, agora, “palácio”?) Capanema, no Rio.

Vejo também o temor, em alguns analistas políticos que conheço (o sociólogo Werneck Viana é uma exceção lúcida), de que a Lava Jato realmente atinja todo mundo e vá tudo de vez por água abaixo, sobrando apenas a Rede (caso Sirkis e Leal não tenham feito nenhuma peraltice comprometedora) e o PSOL (por falar nisso, parem de pronunciar “pê-sol”: digam a sigla partidária como quem diz “psiu”, ok?).

Ora, se o atual sistema político vai naufragar “in totum” e só vão sobrar a Rede e o PSOL, qual o problema? A gente recomeça, retoma a viagem, com a Rede e o PSOL. Aliás, já ando até cantarolando uma antiga marchinha da década de 1960, em versão atualizada: caminhando contra o vento, com Rede e sem documento, ao PSOL de quase dezembro, eu vou...

Viagem ao Brasil mais pobre, o que sempre vota no PT

Um dia, faz um mês, deixaram de construir a casa de Antônio José do Nascimento em Belágua, no Estado do Maranhão. Os operários lhe explicaram que havia acabado o dinheiro do programa do Governo do Estado, e foram embora, com tudo pela metade: um esqueleto de casa sem serventia e um monte de tijolos que tostam sob o violento sol da uma da tarde destas latitudes quase equatoriais. Alguns meses antes, esses mesmos operários haviam contado a Nascimento, de 37 anos, com dois filhos, de 14 e 15 anos, e a mulher doente, que o Estado ia substituir seu velho casebre de barro e teto de palmeira, aqui chamado de taipa, por uma casa de tijolos e cimento, como parte de um programa que incluía outras cinquenta famílias miseráveis da cidade.

Mas agora, nesta manhã calorenta, Nascimento contempla sua quase casa com a melancolia de quem esteve a ponto de ganhar uma vez. Ele e a família subsistem à base da mandioca que coletam dia após dia nas terras comunais e que constitui sua comida principal e quase exclusiva, mesclada com água. E também do que compram com os 381 reais da subvenção mensal do Bolsa Família.

Belágua (uma rua asfaltada, um conjunto de casas e casebres dispersos, estradas de terra, ninguém entre uma e quatro da tarde, jegues presos com cordas às portas das casas, porcos e galinhas pelo caminho) é a cidade mais pobre do Brasil. Com 7.000 habitantes, situada a 200 quilômetros da capital do Estado, São Luís, a localidade tem uma renda per capita média de 240 reais por mês, segundo o último censo, elaborado em 2010. A taxa de analfabetismo supera os 40%. Nascimento é um desses analfabetos. Sua mulher, derrubada na cama agora pela artrose, é outra.

Antônio José do Nascimento em casa (Foto: Albani Ramos)
Belágua (lojas diminutas que vivem indiretamente do Bolsa Família, crianças que lavam mandioca no rio) ostenta outro recorde nacional: a maior porcentagem de apoio eleitoral para Dilma Rousseff na última eleição. Uma estranha unanimidade de 95%. Nascimento também se encaixa aí: votou no Partido dos Trabalhadores (PT) de Rousseff precisamente por causa da subvenção do Bolsa Família, instaurado pelo Governo Lula. “Graças a isso seguimos em frente. Agora sei que tiraram Dilma do poder. Contaram-me, porque minha televisão queimou. Não sei o que vai acontecer conosco”, diz. Nascimento se refere não ao futuro do país em abstrato, mas ao futuro desses 381 reais por mês, vitais para sua família. O Governo do presidente interino, Michel Temer, garantiu que vai respeitar certos programas sociais, incluindo esse, mas nascimento, desconfiado e acostumado a que as coisas se saiam mal, olha de soslaio o projeto inacabado de sua casa inútil de tijolos sem data de término e seu rosto se enruga.

A secretaria de Estado das Cidades e Desenvolvimento Urbano do Governo do Maranhão, do Partido Comunista do Brasil (PC do B), reconhece, por meio de um comunicado, certos problemas com os materiais, mas diz que já deu ordens para que as casas sejam concluídas e os prazos sejam cumpridos.

Belágua é um exemplo fiel do Nordeste brasileiro, atrasado, pobre e resignado à sua sorte, que aceita a ajuda estatal um dia e com o mesmo fatalismo aceita no dia seguinte que a tirem. Também um expoente da desigualdade descomunal que aflige o país: enquanto nos bairros nobres de São Paulo há quem suba em um helicóptero para contornar o congestionamento da tarde de sexta-feira, no abafado casebre de Nascimento, sem torneiras, a água é armazenada em um pote de barro tampado com um paninho de crochê.

Quem viver e quem temer

Vem chumbo grosso esta semana. Eduardo Cunha não escapa. Perderá não apenas a presidência da Câmara, mas o mandato. Bem como suas economias, aliás, vastas, exceção daquelas que já voaram. Além de sua liberdade.

Só isso? Parece que não, porque dois senadores estão na marca do pênalti. O Supremo Tribunal Federal continuará acionando suas baterias, com o dedo do relator Teori Zavaski no gatilho. Ministros? Pelo menos um, o quarto, por mais bem educado que seja.

O Judiciário tem seu ritmo próprio, mas nem por isso arrefece, a começar pela Primeira Instância do Paraná. A Polícia Federal, a Procuradoria da República e a Receita Federal não esmoreceram.

Em suma, o batalhão dos justiceiros permanece na disposição de não recuar, como desejariam Executivo e Legislativo. Quem viver, verá. Quem temer, também…

Em ponto morto está a possibilidade de o palácio do Planalto encaminhar emenda constitucional ao Congresso propondo eleições diretas e imediatas de presidente e vice-presidente da República, em outubro. Michel Temer é contra, apesar de Dilma Rousseff estar a favor. Madame vai perdendo a chance de voltar ao poder no final dos 180 dias. Já cuida da mansão que adquiriu em Porto Alegre, cujo preço de milhões um jornal de São Paulo anda atrás. Parece que conseguiu.

O manual da idiotice neoesquerdista

Miran

Na magistral obra de Plinio Apuleyo Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Alvaro Vargas Llosa, “O Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”, explica Mario Vargas Llosa no prefácio:

“A idiotice que impregna esse “Manual” não é a congênita, mas de outra índole. Postiça, deliberada e eleita, se adota conscientemente por preguiça intelectual, modorra ética e oportunismo civil. Ela é ideológica e política, mas acima de tudo, frívola, pois revela a abdicação da faculdade de pensar por conta própria, de cotejar as palavras com os fatos que elas pretendem descrever, de questionar a retórica que faz às vezes de pensamento. Ela é a beataria da moda reinante, o deixar-se levar sempre pela correnteza, a religião do estereótipo e do lugar comum”.

No Brasil temos o PT como grande partido de esquerda e partidos nanicos que gravitam ao seu redor, São dotados da mesma idiotice a que se referiu Mario Vargas Llosa, sendo bom esclarecer que temos três grupos de idiotas neoesquerdistas: o que compõe a massa de manobra, os oportunistas e as espertas lideranças políticas:

Os que se tornam massa de manobra são os que recebem uma lavagem cerebral que geralmente começa na juventude, quando se é doutrinado na escola ou na universidade por professores marxistas pertencentes ao PT. Sem maturidade para cotejar os fatos à luz da realidade os cérebros juvenis absorvem algumas noções marxistas recheadas com palavras de ordem. Aprendem que ser de esquerda é ser bom, defensor dos pobres, um sujeito de caráter. Na direita, ao contrário, está a elite maldosa, seguidora de um tal de neoliberalismo, opressora dos fracos e oprimidos. Idealistas, em busca de bandeiras que justifiquem seu existir às vezes sem graça, os jovens abraçam com ardor ideias que os transformarão em fanáticos. Tudo será justificado em nome da fé.

Nas universidades ou alunos e professores seguem essa trilha ideológica ou simulam que seguem. Isso porque, não ser petista significa não conseguir nada, nem bolsas nem acesso a pós-graduações nem mesmo, no caso dos alunos, notas para passar se a prova não contiver teor marxista.

Os jovens doutrinados quando formados seguirão idiotizados. Serão artistas, profissionais liberais, clérigos, sindicalistas, militantes do PT ou de pequenos partidos de esquerda, ou seja, lá o que for. Nenhum terá noção do que foi o comunismo com seus horrores e opressões.

Para reforçar essa deformação intelectual recentemente o MEC quis tirar do ensino a História europeia. Apenas se aprenderia sobre América Latina e África, sem dúvida, com base em louvações e inverdades como, por exemplo, crer que democracia perfeita só existe em Cuba e na Venezuela

Os idiotas neoesquerdistas desconhecem o que foram os totalitarismos comunistas e nazista, irmãos xifópagos que infelicitaram a vida de milhões de pessoas. Ruins, dizem soberbamente, são os Estados Unidos, o grande Satã Branco onde vão frequentemente passear, comprar, estudar, tratar da saúde, sendo que muitos vão para morar.

Se nem todos passaram por universidades, a massa de manobra foi sendo generalizada na sociedade através de uma visão distorcida de mundo na qual se repete que para ser decente a pessoa tem que ser de esquerda. Note-se que nenhum dos nossos partidos políticos, esses trampolins para alcançar o poder, se rotulam de direita. São de esquerda, centro-esquerda, centro e, no máximo de centro direita. Direita virou palavrão. Conservador e neoliberal, que não têm a mesma significação conceitual, são insultos.

Foi através desse processo orientado pelo Foro de São Paulo, entidade que congrega as esquerdas latino-americanas, que o PT triunfou para chegar agora à sua profunda decadência cuja causa reside na ganância, na inco

Na verdade, as lideranças de esquerda em todo mundo nunca fugiram deste padrão. No poder enriqueceram, se tornaram corruptos, se aferram ao poder e produziram ditaduras cruéis.

Escapamos por enquanto disto por conta do retumbante fracasso do governo petista, mesmo assim, em que pese o desastre sob o comando de Dilma Rousseff que levou o País aos abismos da recessão, da inflação, da inadimplência, do desemprego, dos Pibinhos, muitos idiotas neoesquerdistas ou espertos oportunistas bem pagos dos movimentos sociais, sindicais ou estudantis vão às ruas gritar: “volta querida”, “fora Temer”. Prova que o PT quase acabou, mas o petismo segue firme.

Dia destes em Brasília, uma manifestação cuja maioria devia ser petista tornou-se o símbolo máximo da idiotice neoesquerdista. Perto do Palácio da Alvorada um bando tirou a parte de baixo das roupas e exibiu seus traseiros gordos para depois gritar: “Fora Temer”. Mostraram assim que é com essa parte do corpo que raciocinam e não com o cérebro. Isso por si só explica muita coisa sobre o neoesquerdismo. Imagine-se o que acontecerá se Rousseff voltar. Com perdão da expressão, viveremos sob a ditadura de uma bundocracia.

Maria Lucia Victor Barbosa

Prefeito e vereadores reduzem ganhos para salário mínimo


Uma decisão inusitada da Câmara Municipal de Água Branca, município do Sertão Paraibano, pegou os moradores do local de surpresa. Os vereadores da cidade decidiram reduzir o próprio salário de R$2.800 para apenas um salário mínimo. O presidente da Câmara receberá mais um salário, a título de despesas de representação.

A decisão ocorreu na sexta-feira a partir da aprovação de projeto de resolução apresentado pelo vereador Eilsom do Carmo Lima. O prefeito do município, Tarcísio Firmino, liderou o esforço e obteve a adesão dos vereadores, tendo em vista a grave crise financeira. O prefeito ganhava R$5.600 por mês e passará a receber mensalmente o equivalente a dois salários mínimos.

Ainda está previsto na resolução aprovada que “a ausência de vereador na ordem do dia de sessão plenária ordinária ou extraordinária, sem justificativa legal, determinará um desconto de 10% em seu subsídio”.