domingo, 2 de outubro de 2016

De olho no futuro

‘Papai, que é plebiscito?’ Assim começa um conto de Artur Azevedo, que constava de muitas antologias escolares na época em que havia leitura de coletâneas literárias como parte integrante do currículo de Língua Portuguesa no país. A maioria dos que então estudaram acompanhava o desenvolvimento da história lida em voz alta pelos alunos em classe, desde o início em que o pai fingia dormir para não ter de revelar que não sabia a resposta, passando pela insistência do filho e a pressão da mãe para que tirasse a dúvida da criança, até a cena da zanga paterna que incluía sair da sala e se trancar no quarto.

Após consultar um dicionário que lá havia, o triunfal chefe de família podia elucidar que plebiscito era uma lei romana que queriam introduzir no país, num caso típico de estrangeirismo. A história tem muita graça na linguagem divertida do autor, que ao mesmo tempo ridiculariza o autoritarismo patriarcal e os excessos nacionalistas da época — que acabariam levando à Primeira Guerra Mundial. Tive de resumi-la para comentá-la, pois tenho me lembrado muito desse conto ultimamente, por diferentes razões.

Por um lado, acentua que criança tem curiosidade sobre política. E sobre as palavras que encontra e não conhece. Por outro lado, nos recorda que a satisfação dessa curiosidade tem a obrigação ética de procurar ser clara e equilibrada. Na atual discussão tão acalorada, sobre escolas sem partidos e os perigos da doutrinação ideológica, por vezes parece que os debatedores apontam para o alvo adjetivo e abandonam o substantivo.

Esquecem que o problema não está em incentivar ideias, estimular a formação do conhecimento sobre ideologias, apresentar os argumentos de diferentes visões do mundo e da sociedade. O risco para a educação está em alguém com poder querendo doutrinar, falar como doutor que não admite contestação nem dúvida, ser dogmático, impor uma forma única de encarar a realidade e analisar os fatos, carimbando com rótulos pejorativos e frases feitas tudo aquilo que não se encaixa com perfeição na agenda do momento. Com frequência, partidária.

Surrealism:
Quem usa sua posição de autoridade para impingir seu pensamento de modo autoritário, sobretudo diante de quem tem menos conhecimento para refutar, comete um abuso de poder. Ainda mais quando a resposta discordante pode resultar em notas baixas ou expor o aluno a ser ridicularizado. Não é democrático e ensina a se defender com hipocrisia. É preciso aceitar a divergência como parte integrante da educação. Um bom professor tem condições de sugerir caminhos e ideias que julga mais recomendáveis, sem desrespeitar outras opções.

Pode mesmo provocar sutilmente o discordante a perceber incoerências nos pontos que defende, mas precisa ter empatia com ele e entender o que o leva a pensar diferente. Todos na turma aprenderão com isso. Uma amiga que estudou na Inglaterra conta que aos 16 anos tinha aula de Política, analisando a organização do Estado e o funcionamento das instituições. E os alunos aprendiam a debater.

Certa ocasião, a turma foi dividida em dois times para um debate: uns defenderiam o grampo de papel, outros tentariam mostrar a superioridade do grampo de cabelo. Não importava a mínima quem ganharia. O que pesava era a maneira de discutir. A avaliação dos alunos levava em conta quem apresentava argumentos pertinentes, não gritava, esperava a vez de falar, era impessoal, se apoiava em dados concretos, refutava de modo consistente.

Em minha infância, muitas vezes perguntei a meus pais sobre política. É claro que me respondiam segundo suas opiniões. Mas deixavam espaço. Lembro de ficar algum tempo pensando se seria melhor o Brasil aceitar que estrangeiros com dinheiro viessem explorar o petróleo e só nos deixassem uma parte pequena, ou se seria preferível não explorar nada enquanto não tivéssemos os recursos, mesmo ao risco de perdermos o bonde.

Por volta dos 10 anos, concluí que era convicta defensora de “O petróleo é nosso”. Mas depois examinei com frieza as razões da concessão frente à partilha. Também escolhi ser parlamentarista após ter pesado muito os argumentos — o que me faz respeitar o presidencialismo e achar, hoje, que talvez uma forma de semipresidencialismo possa ser preferível. Isso me faz voltar ao plebiscito.

Andam falando em plebiscito revocatório na Venezuela. Pode ser útil ter algum mecanismo desses, de recall de presidente. É menos traumático que impeachment, um sintoma de problemas no funcionamento da democracia representativa quando temos dois em 25 anos. Já que não há o voto de desconfiança como no parlamentarismo, nem o ostracismo da velha democracia ateniense, pode ser bom debater alternativas

A reforma política é prioridade absoluta da nação. A educação também. É assustador ver que são encaradas tão levianamente, com veementes palavras de ordem e desqualificação das ideias alheias, por gente que nem se dá ao trabalho de ler as propostas. O futuro exige que examinemos esses assuntos com cuidado e isenção.

E agora, eleitor?

A campanha de 2014 foi das mais disputadas e requintadas que tive oportunidade de assistir. Há tempos essas contendas vinham avançando em magnitude, tornando-se mais e mais caras e sofisticadas. Um número significativo surpreendia pela densidade. Peças publicitárias de alguns candidatos a deputado, suas viaturas e cabos eleitorais cobriam e operavam em todo o Estado. Incalculável dinheirama irrigava verdadeiras máquinas de fazer votos. Passado o pleito, ficamos sabendo, pelas investigações da Lava Jato, que, em certos casos (logo saberemos quais), o dinheiro não era dos próprios disputantes nem provinha de legítimas doações privadas. Era nosso mesmo, era dos pagadores de impostos. Milhões desviados dos serviços públicos, das obras públicas e das empresas estatais haviam sido canalizados para custear eleições e compor bem apadrinhadas e numerosas bancadas.

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Nossa democracia foi acometida por essa enfermidade. Se alguém anda por aí com lupa, bancando Sherlock a procura de um golpe, pode começar por este que aponto: o golpe proporcionado pela gigantesca ilicitude eleitoral que, penosamente, foi se descortinando ante nossos olhos. Ao longo de sucessivos pleitos, ele drenou recursos ilícitos para eleger candidatos e bancadas que por outros meios não seriam vitoriosos. Quantos acumularam mandatos que não mereciam e deformaram a representação política da sociedade? Nada melhor do que a campanha agora finda para mostrar a diferença. Pode-se atravessar Porto Alegre, por exemplo, em várias direções, sem saber que centenas de candidatos somam trocados e tentam comunicar aos eleitores sua presença na disputa. Quando some o dinheiro fácil, a vida fica difícil.

Passamos, porém, de um extremo a outro. A regra hoje vigente concede enorme privilégio a quem já tem mandato e busca uma reeleição para a qual, bem ou mal, trabalhou ao longo de quatro anos. Quem entrou na disputa como aspirante novato dispôs de dois meses para cochichar sua campanha nas redes sociais. Ainda assim, pensando nas assimetrias a que estávamos habituados, considero preferível uma refrega em que o dinheiro é curto para todos. Competição política de baixo custo, útil e efetiva, só teremos com a distritalização do voto. Sem ela, andaremos da casa arrombada à tranca de ferro. Com ela, teremos menos candidatos em confronto num espaço geográfico limitado onde todos fiscalizam todos.

Reflitamos mais detidamente sobre estas horas em que a democracia abre a janela. O voto é um momento de participação ao qual todos são chamados. Mas cuidado! A participação socialmente benéfica é a esclarecida, do bom cidadão. Essa condição independe de viés político ou ideológico, terrenos onde se configuram as disputas. E quem é o bom eleitor? É o que reconhece a importância da política. É o capaz de fazer renúncias em favor do bem de todos. É o que sabe ser, o parlamentar, um representante de opinião e, por isso, confia seu voto a alguém cuja vida, critérios, princípios e valores conhece e aprecia. De fato, embora descurada por muitos, a função mais nobre do parlamentar é a de expressar sua convicção nas matérias que propõe ou naquelas que aprova ou rejeita durante as deliberações. E são aquelas afinidades as que de fato importam na hora de eleger um vereador, ou deputado ou senador. Se a escolha corresponder a um "impeachment" no atraso, na demagogia e na mentira, melhor ainda.

Todos os demais, a saber, a multidão dos desinteressados, dos venais, dos que só cuidam de si mesmos, dos que se deixam conduzir pelo nariz por demagogos e corruptos, dos que sujam a cidade e dos fora da lei fariam grande bem se ficassem longe dos locais de votação ou se votassem branco ou nulo. As urnas dispensam o voto em "qualquer um", a má intenção, o desinteresse e a ignorância política colhida da omissão. Aos bons cidadãos que, por desanimados e enojados, recusam todos os candidatos, em pacote, lembro que é aos piores políticos que essa omissão favorece. A ideia de que são todos iguais é falsa. Há os melhores e há os piores. Todos sabemos isso. Escolha os melhores e faça um bem ao município. Vote.

Temer, a questão das culpas e o pior de todos os crimes cometidos pelo PT

O presidente Michel Temer participou nesta sexta de um evento da revista “Exame” e mandou ver ao falar da economia: “Por trás desses dados estão homens e mulheres que pagam um preço inaceitável. Chegamos a quase 12 milhões de desempregados. E reitero que não foi culpa minha”.

Pois é… Estivesse ele apenas fazendo uma crônica da crise, eu viria aqui para dizer que a um presidente não cabe se eximir da culpa, virar de lado e dormir. É preciso dar resposta. E, justiça se faça, ele está tentando. Encontra-se ainda na fase da catequese. Mas deixou claro qual é o caminho. Seu governo está apenas no começo. E olhe que a situação é particularmente delicada. Porque estamos também em ano eleitoral. E sabem como é… Em tempos assim, políticos querem é soltar dinheiro, em vez de cortar. Sem uma maioria de três quintos na Câmara e no Senado, o presidente não conseguirá fazer o mínimo necessário.

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Escrevo isso porque noto aqui e ali a impaciência: “Ah, governo recua de novo”. Ou: “Governo hesita em fazer tal coisa…” Acho recuos e hesitações naturais nesse contexto, ainda que eu já tenha recomendado e reitere que ministros não saiam pensando alto por aí. Com a nomeação de um porta-voz, espero que diminuam os contratempos nessa área.

O que vem pela frente não é fácil. Aprovar o teto de gastos — e os Estados também precisam entrar nesse regime — vai requerer engajamento do Congresso. Sem o Legislativo, não há saída possível. Ou só há uma saída, como sabe Dilma Rousseff. Tinha mesmo de cair porque cometeu crime de responsabilidade. Mas não teria caído se tivesse conseguido manter sua base de apoio. E olhem que, no fim das contas, ela só precisava ter 28 senadores com ela… Nem isso conseguiu! Mas volto ao ponto.

É claro que a culpa não é de Temer, mas lhe coube a responsabilidade de dar uma resposta. O crime mais grave cometido pelo PT no país foi ter destroçado as contas públicas e ter elevado os gastos a um patamar insuportável. As consequências? Juros na estratosfera, investimentos em baixa, recessão, desemprego ainda em alta. E tudo isso aliado à pressão inflacionária.

A vigarice de esquerda já se prepara para jogar os dissabores no colo de Temer. Os que pretendem ser “justos” dizem que a ex-presidente teve a sua parcela de culpa ao nomear Joaquim Levy para a Fazenda. São duas mentiras escandalosas. Levy começou a desarmar as bombas que a dupla Dilma-Mantega armou na economia. A recessão não veio por causa do ajuste, que, de resto, ainda nem aconteceu. O ajuste é consequência de um país quebrado. E já em recessão.

O presidente tem razão. A culpa não é dele. A ele cabe a responsabilidade de encaminhar as soluções, cujos efeitos benéficos não surgirão num estalar de dedos.

Para o crime mais grave do PT — ter quebrado o país — , não há pena. Infelizmente!

A confissão de Lula

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O mensalão constituiu comprovadamente a forma espúria pela qual o PT, partido de 50 deputados, sem partilhar o poder com os demais partidos, veio a formar uma maioria parlamentar.

A concentração de poder nas mãos do partido era sagrada. Podia-se contemplar outro partido com cargo de ministro, mas não com ministério, cujo controle a partir do secretário executivo era detido por apaniguados do PT. O aparelhamento do Estado foi absoluto. A administração, direta e indireta, agências reguladoras, fundos de pensão foram entregues a sequazes do PT.

Com essa forma de governar se descontentavam os demais partidos e seus parlamentares, que passaram a ser cooptados por meio de envelopes com dinheiro entregues em hotéis de Brasília. José Dirceu, chefe desse esquema de propina, que destrói a democracia por dentro, tesoureiros do PT e líderes do PP e do PTB arquitetaram inteligente manobra financeira para alimentar a compra de deputados.

Denunciada a trama urdida com Marcos Valério & Cia., passou-se a recorrer a outra fonte pagadora: os sobrepreços em contratos da Petrobrás, visando exatamente ao mesmo fim: a governabilidade num presidencialismo de coalizão, desvirtuado, pela sede de poder, em presidencialismo de corrupção. Instalou-se nova ditadura da propina, envolvendo gravemente dois ministros da Fazenda, pessoas de alta confiança de Lula.

Diretores da Petrobrás foram indicados por partidos políticos para angariar fundos em contratos superfaturados. Empreiteiras amigas, partidos e alguns próceres políticos foram aquinhoados com fortunas. E assim se satisfazia a “base parlamentar”. A nomeação desses diretores sempre contou com a anuência de Lula e de Dilma, esta seja no Conselho de Administração, seja, depois na presidência, como atestou em delação Nestor Cerveró.

Consolidava-se a paz suja na democracia petista, com os ânimos serenados dos parlamentares de diversos partidos graças à divisão do butim. O PT era, sem dúvida, o mais beneficiado, com formação de um caixa fabuloso visando à perpetuação no poder.

Esse o pano de fundo que os procuradores da República desejaram desenhar, com exagero na forma, mas não no conteúdo. Desvelou-se um procedimento criminoso que nasceu para garantir a governabilidade, passou a visar à continuidade no poder, e – por que não? – ao proveito pessoal.

Mas o fator desencadeador e principal do mensalão e, logo em seguida, do petrolão foi a busca de governabilidade sem partilha de poder, sendo o PT minoria no Congresso Nacional.

À denúncia e à explanação dos procuradores Lula respondeu no dia seguinte em reunião do PT, na qual pretendeu acusar os seus acusadores. Sempre verborrágico e dramatizador, Lula não se ateve ao fulcro do fato delituoso que lhe é imputado, qual seja, a propriedade dissimulada do triplex com cozinha gourmet e elevador privativo patrocinado pela OAS, após visita ao apartamento em companhia do presidente da empreiteira.

No meio de choros e lamentos como perseguido por ser protetor dos pobres, declarou-se vítima de algozes tal como foram Jesus e Tiradentes. Lembrou-se de sua infância miserável e, ao defender sua família, chorou.

Todavia, no meio dessa algaravia de lamentações mal encenadas, havia um núcleo racional, no qual se tem a impressão de que Lula falava consigo mesmo, como para justificar por que os fatos assim se deram e não poderia ter sido diferente. Subliminarmente, ao atacar os concursados como analfabetos políticos, Lula confessou a prática dos malfeitos como forma inevitável da real política, ignorada pelos frequentadores de gabinetes.

Cabe relembrar as frases de Lula, extremamente reveladoras. Disse ele: “Eu, de vez em quando, falo que as pessoas achincalham muito a política. Mas a profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para a rua encarar o povo, e pedir voto. O concursado, não. Se forma na universidade, faz um concurso e está com emprego garantido o resto da vida. O político, não. Ele é chamado de ladrão, é chamado de filho da mãe, é chamado de filho do pai, é chamado de tudo, mas ele tá lá, encarando, pedindo outra vez o seu emprego”.

“Ontem eu vi eles falarem dos partidos políticos, dos governos de coalizão, vocês sabem que muita gente que tem diploma universitário, que fez concurso, é analfabeto político. O cara não entende do mundo da política. Não tem noção do que é um governo de coalizão. Ele não tem noção do que é um partido ser eleito com 50 deputados de 513 e que tem que montar maioria.”

Lula tentou explicar ou se explicar falando do mundo da política, onde um partido com 50 deputados numa Câmara de 513 deve buscar ter maioria. Deixou subentendido que só os analfabetos políticos, ingênuos, não percebem que a cooptação a todo custo de deputados era uma via obrigatória, pois só assim se obteria a governabilidade.

E o político, nesse mundo de realidade nada ética, em busca da coalizão, pode ser ladrão que sempre será o profissional mais honesto, pois anualmente (sic) “tem que ir para a rua encarar o povo e pedir voto”. Assim, a caça ao voto purga os males, pois encarar o povo santifica e faz do político o mais honesto, por mais ladrão que tenha sido, enquanto o empertigado concursado descansa no seu mérito sem depender da aprovação popular a cada pouco.

São na visão de Lula dois mundos inconciliáveis: o da política, próprio da esperteza de a cada eleição ir ao povo buscar votos, numa catarse purificadora; e o mundo do esforço contínuo daqueles que pretendem vencer pelo merecimento.

Lula não é um analfabeto político; é, segundo o seu critério, um homem honesto, por mais acusado que seja de corrupção. Lula, que confessou sua “honestidade”, tem um futuro desolador pela frente.

A última campanha do ciclo petista

Neste domingo, o Brasil faz sua última campanha municipal sob o desfraldar de velhas bandeiras. Algumas delas podem ser assim lembradas: o apartheid social desenhado pelo PT por meio de seu insistente bordão: “nós e eles”; o desfile de caras e bocas na mídia eleitoral, cuja audiência foi um fracasso face à rejeição do eleitor aos políticos, de forma geral, e aos candidatos, em particular; os debates entre candidatos a prefeito, geralmente monótonos e com regras muito restritivas; promessas que entram na esfera das extravagâncias e exageros.

Os 144 milhões de eleitores até reconhecem que este pleito trouxe novidades. As ruas se apresentaram mais limpas, sem o entulho publicitário de santinhos e cartazes afixados em postes; a proibição de recursos às campanhas por parte de empresas exigiu mais sola de sapato, com os candidatos se obrigando a percorrer as ruas de regiões e bairros, reforçando os eixos da articulação social e da mobilização de grupos; a indignação contra os escândalos que mancham o perfil de políticos, gestores públicos e empresários tem propiciado postura mais crítica do eleitor. Em São Paulo, chegou-se a ver eleitor revoltado enfiando o dedo na cara de candidatos que circulavam em feiras livres. Portanto, é possível se dizer que a campanha, cujo primeiro turno hoje se encerra nas cidades com mais de 200 mil eleitores, já foi bastante diferente das anteriores.

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Mas a mudança não termina com as disposições impostas pela atual legislação eleitoral. Estamos assistindo ao final do ciclo PT na administração federal – pelo menos por uns bons tempos - e sua saída do cenário central implica reordenação da moldura partidária, com sensíveis alterações do estado social da Nação. A recorrente parolagem de condenação às elites, que Lula e seu entorno plasmaram com afinco nos últimos anos, azedou as relações de parcelas significativas da sociedade. Construiu-se, de um lado, um inferno para “eles” e um céu para “nós”, divisão que começou a fragmentar quando os “olimpianos” foram flagrados nas teias do mensalão e arremetidos ao poço do descrédito pelo tsunami do petrolão.

Com o PT estreitado pelo cabresto do eleitor, que lhe sugará um formidável quinhão das atuais 650 prefeituras, o ambiente político e social se libertará do grilhão expressivo que ainda faz eco em grupos incrustados na Universidade pública, em setores da cultura (bafejados pelo Estado protecionista da lei Rouanet) e em turbas agressivas de movimentos do arquipélago que reúne ilhas como UNE, MST, MTST, CUT e adjacências. Esses pedaços de militância ganharam cofres cheios na era petista, formando uma espécie de bastião avançado de defesa do petismo/lulismo/dilmismo. O Estado foi literalmente tomado por hordas de grupos radicais, que se infiltraram nas malhas administrativas das três instâncias federativas, usando a cor vermelha como a estética de virada de mesa, de vitória contra as elites, de combate direto a tudo que lembre consenso de Washington, neoliberalismo, privatização etc. O foro de São Paulo, criado por Lula e Fidel Castro, em 1990, passou a se constituir na referência maior da revolução socialista e o Estado gordo e paquiderme tornou-se seu símbolo.

Uma nova forma de sindicalismo pelego tomou assento nos desvãos do Estado, fazendo do Ministério do Trabalho seu trono. Nada se pode fazer na área de relações do trabalho porque o grupo formado pelas Centrais Sindicais – que se expande a olhos vistos – decidiu forjar sua República sindicalista, cuja modelagem tem mais jeito de casa de moeda. O que interessa a esses núcleos que pretensamente proclamam fazer a defesa dos trabalhadores é aumentar o tamanho de suas contribuições e seus cofres. Para eles, tudo é imexível: previdência e CLT, por exemplo. Em um mundo que perde postos de trabalho a cada minuto, os controladores do neo-sindicalismo pelego defendem o aumento das contratações de trabalhadores pelo Estado, execrando as modalidades de trabalho do mundo avançado (temporários, serviços especializados por terceirizados etc).

Essa é a face da pavorosa cara que o petismo e seus séquitos deixam na paisagem devastada do país, onde um buraco de R$ 170 bilhões nas contas públicas, uma dívida interna de R$ 4 trilhões e 12 milhões de desempregados esperam por medidas saneadoras. Portanto, a eleição que ocorre hoje no país se apresenta como a oportunidade de o eleitor renovar o passaporte de alguns prefeitos e despachar outros. As projeções apontam para o crescimento do PSDB e do PMDB e o enfraquecimento do PT. Das 93 principais cidades do país – 26 capitais e 67 municípios – o PSDB deverá ganhar em mais de 20, o PMDB virá em segundo lugar, na faixa dos 18, ficando o terceiro lugar com o PSB e o PDT, de acordo com planilha estabelecida pelo site do jornalista Fernando Rodrigues.

A diferente fisionomia partidária, com a redefinição do poder na base do edifício político, deverá contemplar a parte central do espectro ideológico, fato que desanuviará o ambiente de tensão formado no ciclo petista. Por outro lado, a indignação social funcionará como aríete para fustigar o universo da política. Donde se pinça a hipótese de que não haverá alternativa senão a reforma política, a partir da reconstituição da cláusula de barreira (proibindo siglas sem votos suficientes em parcela dos Estados), proibição de coligações proporcionais e revisão das normas das campanhas eleitorais com o fito de torná-las mais próximas aos interesses dos eleitores.

É razoável supor que os partidos políticos ganharão densidade ideológica, deixando de ser entes amorfos, insossos e incolores. Da mesma forma, é possível prever campanhas menos exuberantes, mais modestas, sem estardalhaços, acompanhadas atentamente por um eleitor crítico. Observa-se em todos os rincões, mesmo os mais distantes, o crescimento da racionalidade. Donde se pode tranquilamente afirmar: no Brasil, o voto começa a escapulir do coração para entrar na cabeça. Um avanço que merece palmas.

Como éramos atrasados...!

Em época de tanto desenvolvimento e tão mágicas tecnologias, é que vemos o quanto a política brasileira era primitiva. A começar pelas eleições. Tudo se resolvia em urnas de papelão e cédulas de papel! Se bem que a suprema democracia dos Estados Unidos, os ingleses, franceses, alemães e a infinita maioria dos outros países usem o mesmo sistema, quanto evoluímos! Se ficamos na rabuda praticamente em todos os quesitos, neste somos os "Caras".

Éramos mesmo um povinho que não sabia de eleição. Até se voltava para presidente e para vice-presidente - ninguém de hoje imagina - , e podiam ser eleitos um de um partido e outro do partido adversário. Tudo convivendo no governo! Um absurdo!

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Era mesmo atraso vereador, fora das capitais, não receber um tostão e prefeito correr de pires na mão para obras. Quando se vê agora vereador de beira de estrada ganhar salário acintoso para quatro horas de trabalho por semana, se tanto, e ainda ter direito a gasolina e carro oficial, se vê o atraso de antigamente.

Prefeitinho pé de chinelo se esparrama pelo mundo em viagens para conquistar investimentos, usa helicóptero para chegar ao trabalho (ugh!) e ainda pode ascender socio-economicamente, garantir patrimônio até a quinta geração. É ou não uma evolução?

Não ficam atrás os vereadores, que abandonam os trabalhos de barraqueiro, de comerciante, de não-faz-nada, para seguir carreira política. Mais rendosa e mais adequada ao politicamente correto de se dar condições mínimas de sobrevivência a quem tem tanto a fazer e ainda sequer completou a educação de 2º grau. Agora podem desfrutar de muito tempo regiamente pago para se dedicar ao sustento familiar e educação.

E como era antes dessa evolução?

Vereador, até mesmo sem dinheiro para comprar carrinho furreca, ia nas pequenas cidades de charrete de aluguel para o trabalho. Incrível que isso era quatro vezes por semana, religiosamente!

E o prefeito, então, sofria. De manhã, despachava na Prefeitura até a hora do almoço, quando passava no boteco. Eram dois dedos de prosa e três de branquinha para abir o apetite antes da obrigação de almoçar em casa. Fazia a sesta e seguia para despachar normalmente em sua loja (ou consultório), porque precisava de um segundo emprego.

Quanto progredimos! Prefeito de qualquer merreca de cidade, que nunca teve emprego, hoje trabalha muito para fazer jus ao salário. Anda de carro, blindado e com segurança, para lá e para cá, almoça em restaurante, desfruta de esbórnias gastronômicas e outras. Fica, coitado, até sem tempo de andar pela cidade. Ainda mais com essa falta de segurança seria mesmo um crime que fosse à rua sem blindagem.

Sem darmos conta, a evolução eleitoral e política é assustadora no Brasil. Sem par no mundo, também diga-se. Pena que ainda sejamos nesta evolução do século XXI ainda exageradamente caiçaras para espíritos minimamente éticos.
Luiz Gadelha

Imagem do Dia

Fairy Glen Gorge, no rio Conwy, em Gales (Craig McCormick)

Ouçam as crianças

Toda reforma educacional precisa ter dois propósitos: atender ao aluno e ao futuro do Brasil. Ouçam as crianças, os adolescentes e as vozes que vêm do futuro. Os alunos brasileiros estão há anos gritando o horror como eles percebem o ensino médio: gritam ao abandonar a escola e gritam tirando 3,7 no Ideb. E o Brasil de hoje não ouve, nem atenta para as trágicas consequências disto para o futuro. A escala Ideb mede terremotos sociais e econômicos futuros.

Seus últimos resultados mostram a catástrofe que ameaça o futuro do país e de seus futuros adultos. Depois de quase 30 anos de democracia, 13 de governos da esquerda - ao-redor do - PT, o ensino médio brasileiro carrega duas falências: a brutal evasão de alunos e o baixíssimo nível no seu Ideb. A medida provisória que propõe a reforma do ensino médio deve ser bem recebida, por trazer urgência e ser uma resposta à catástrofe nesta fase educacional.

Educacao lapis subindo no pau de sebo
Mesmo sabendo que ainda não é suficiente para construir a escola com a mesma elevada qualidade para pobres e ricos em todas as cidades, traz uma primeira evolução ao ouvir o aluno na definição de sua grade de disciplinas. Uma das causas da evasão está na desconsideração da diversidade vocacional dos alunos para escolher as disciplinas que lhe agradam.

Os pioneiros da educação, há 80 anos, e Paulo Freire, há 50, defendiam que a escola precisa respeitar o aluno. Para eles, a escola deve ser libertária, e não uma prisão. A imposição de disciplinas é uma forma de palmatória intelectual. A escola tem que estar ao gosto do aluno. Ele pensa, tem personalidade, alma, deve ter voz. O governo tem de ofertar todas alternativas, mas o aluno deve ter o direito de escolher a sua demanda.

No mundo moderno, com o nível de informação de que os adolescentes dispõem e das possibilidades pedagógicas e gerenciais que as novas tecnologias oferecem à escola, é possível compor um menu conforme a vocação, o talento ou o simples gosto de cada aluno. Os temas gerais, que são importantes para a formação deles, devem ser oferecidos sob a forma de atividades como debates filosóficos semanais sobre temas da realidade; exposições de artes plásticas; participação política; jogos e práticas esportivas; publicação e recitais de poesia e música.

A Lei nº 13006/14, de minha autoria, por exemplo, obriga a oferta de cinema nas escolas, mas não obriga o aluno a assistir aos filmes. Junto com a flexibilidade na formação da grade curricular, a medida provisória determina a oferta de cursos profissionalizantes que, além de fazerem o ensino médio mais atraente para o aluno, lhe dá uma habilidade profissional que hoje ele não recebe.

Contando com a necessária e adequada infraestrutura, o estímulo à adoção do horário integral, formulado há 30 anos por Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro, com os Cieps, torna possível um avanço na qualidade do ensino médio. A MP 746 ainda não é suficiente, mas é necessária e positiva. Ainda está longe de iniciarmos uma revolução, mas estamos fazendo uma evolução.

Hoje tem domingão!


O caráter demagógico e o propósito de agir sobre as massas são agora comuns a todos os partidos políticos. Para tanto precisam transformar seus princípios em grandes bobagens pintadas a fresco e penduradas nas paredes.
 
Não se pode mudar mais nada. Nesta matéria aplica-se perfeitamente a afirmação de Voltaire: "Quando a populaça se mete a raciocinar, tudo está perdido"
Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Brasil precisa de governantes que apenas saibam o que é certo ou errado

Imerso em meus pensamentos, antes de decidir em quem votar para prefeito e vereador no ainda belíssimo e mal administrado Rio de Janeiro, já tendo atingido a idade média de longevidade do homo sapiens tropicalista (daqui para frente, tudo é lucro…), prestes a completar 50 anos de jornalismo de política, fico a constatar nas contradições da vida moderna, que são mais ainda gritantes numa estranha nação como o Brasil, o quinto maior em território e número de habitantes, a oitava economia, o país que reúne as melhores condições de desenvolvimento no planeta, em função de suas riquezas naturais, mas não consegue deslanchar, devido à mediocridade de seus governantes.


A lista de candidatos é desalentadora. Com toda certeza, os melhores e mais capacitados cidadãos não estão relacionados. Muito pelo contrário, a grande maioria é formada de pessoas sem a devida qualificação, que se apresentam como candidatos por mero oportunismo, sem falar nos políticos profissionais, os modernos coronéis do asfalto, que fingem representar o povo, além dos milicianos, que desempenham idêntico papel, vejam a que ponto chegamos.

O fato concreto é que nossos políticos insistem em tentar manter a convivência da riqueza total com a miséria absoluta, é claro que se trata de uma mistura explosiva, qualquer idiota percebe que isso não pode dar certo. Como uma pessoa rica pode ser feliz como sua consciência, vivendo em meio a uma população que abriga miseráveis em cada esquina? Como podem classificar essa situação de meritocracia?

Pessoalmente, estou livre desse tipo de angústia. Minha mãe diz que desde pequeno eu sempre fui comunista, preocupado com as injustiças do mundo e o bem estar dos menos favorecidos. E continuo assim. Mas sei que não existe um partido comunista de verdade no Brasil, como nunca existiu uma experiência verdadeira de comunismo no mundo, e hoje já me contento com oportunidades iguais de ensino, assistência médica universal, uma moradia sólida para todas as famílias, assistência social aos mais carentes, para que não há crianças nem adultos morando nas ruas. Apenas isso.

Meu comunismo pragmático hoje não me pede muita coisa, porque aceito todos os pontos positivos do capitalismo, acredito que Marx e Engels hoje procederiam assim e continuariam a lutar pela liberdade de imprensa, como sempre fizeram. Injustamente, são acusados de totalitarismo, embora os dois geniais pensadores sempre tenham sido libertários. Se estivessem vivos e morassem na União Soviética no regime stalinista, não há dúvida de que teriam sido confinados na Sibéria.

Minha filha se surpreendeu outro dia ao saber que sou comunista. Jamais tentei doutriná-la. Cada um deve seguir suas convicções. Ao mesmo tempo, sou religioso, respeito todas as religiões e sigo a linha doutrinária de Lao Tsé, Buda, Sócrates e Cristo, os quatro maiores pensadores sociais da História da Humanidade, cujos ensinamentos Marx e Engels tentaram seguir, não existe a menor dúvida sobre isso.

'O eleitorado é que mudou...', dirão os institutos de pesquisas

Aproxima-se a noite das decepções. Horas depois de encerradas as eleições em todo o país, a maioria dos candidatos a prefeito ficará fora do segundo turno. Ranger de dentes em todos os estados, em especial nas capitais, com os derrotados correndo atrás de desculpas e argumentações incapazes de justificar a falta de votos. Poucos culparão o eleitorado, na verdade o maior responsável pelo fiasco. A maioria atribuirá a derrota à falta de competência dos auxiliares encarregados da comunicação social. Uma parte, à falta de dinheiro para as campanhas. Outros, à sabotagem da mídia. Uns, até aos institutos de pesquisa, certamente a serviço de seus adversários.

Vale começar pelo fim. Pesquisa não ganha eleição, conclui-se com algumas exceções. Dirão todos ter sido o eleitorado que mudou, o eleitor que não dispôs de caráter para votar como prometeu.

Importa, porém, atentar para a fragilidade dos institutos de pesquisa. É claro que os jornais de amanhã estarão cheios de explicações para demonstrar que as previsões estavam certas, foi o povo que mudou à última hora. No entanto, a formulação das questões, como sempre, deixou a desejar.
Tempos atrás os resultados de cada pesquisa eram acompanhados do tal “a margem de erro é de dois pontos para a frente ou para trás”. De duas eleições para cá os números foram aumentados: a margem de erro passou a três pontos. Este ano as empresas que sondam a opinião pública perderam a compostura: já situaram a margem de erro em quatro pontos para cima ou para baixo.

Logo, nas próximas eleições, essa confissão de fracasso aumentará. Vão situar suas previsões em cinco ou seis pontos. Equivale a dizer, o candidato vencerá ou perderá porque seis mais seis são doze, ou seja, até esse total de diferença o instituto acertou…

Engana-se quem quer, tornando-se meio cômica a conclusão a que chegarão as empresas empenhadas em faturar: “nós acertamos; o eleitorado é que mudou”…

Vida moderna: o Big Brother virtual e o fim do anonimato

Aqui na Inglaterra, até por volta de 2008, era normal assistir ao aviso na TV britânica alertando a todos que evitassem jogar no lixo quaisquer papéis contendo simples dados pessoais, como endereço e telefone. Na Inglaterra não portamos documento de identidade, o que vale é a palavra. Mesmo hoje em dia, qualquer pessoa que, vasculhando meu lixo, obtenha meus dados, nome, telefone, endereço e o número da minha conta bancária, copiados de um papel de correspondência de banco que eu porventura tenha jogado fora sem destruir, poderá realizar inúmeras funções e transações sociais em meu nome, passando-se por mim nas compras, em empréstimos etc…

Foi com essa mentalidade, quando retorno ao Brasil em 2009, que me assombrei quando me perguntaram se eu queria a tal da Nota Fiscal Paulista, da qual nunca havia ouvido falar, mas fui logo me interando do que se tratava.

O Brasil havia se tornado a cobaia desse novo mundo exposto no vídeo da pizza no Youtube…

Pensei: – Ué? Tomam 17% de imposto no caixa para depois de um tempo ressarcir 4%, por que então não cobram logo os 13% e diminuem o Custo Brasil?
15 dibujos discordantes que muestran lo absurdo de la vida de todos
Trata-se de gerar um banco de dados, onde, informando o nosso CPF, partilhamos com sabe-se lá quem até a cor da calcinha que a esposa usa. Se conseguem incutir tal procedimento justamente no povo brasileiro, que ainda “olha e vive com pudor” como diz a música, nem imagino o que conseguirão pelo mundo afora…

Nos seis anos consecutivos longe do Brasil, de 2003 a 2009, houve uma única vez que assisti toda a população inglesa manifestando-se de forma generalizada; foi quando o governo cogitou instituir um documento de identidade (o RG, que para nós brasileiros é tão normal), e foi um escândalo nacional só o fato do gasto que teriam em tirar as fotografias para fazer os documentos…

Estou de volta á Inglaterra. Hoje em dia, ao sair de casa para colocar a lixeira na rua, tendo o telefone celular comigo, em questão de segundos todos os meus dados no telefone, criptografados ou não, são transmitidos a um sistema que controla toda a grade de informações, o chamado “Grid”, o mesmo que sabe qual interruptor de luz apertei há 3 minutos atrás, e que estou em casa, precisamente geolocado, digitando no teclado deste computador, neste instante…

Dando um salto para encurtar conversa, no contexto em que vivemos hoje, mesmo nos comentários que leio na TI, vejo o quanto vivemos agarrados aos nossos antepassados, ao vínculo das gerações, à educação recebida, vejo tantas vertentes, crenças, e neste debate sobre o poder mistura-se de tudo aos acontecimentos, Deus e religiões, teorias das conspirações etc…

Discutimos as façanhas dos famigerados, dos notórios, procuramos lideranças, como que carentes de sumidade restauradora da ordem, quando na verdade estamos mesmo é apegados a um poder, que criou um fator social, de imperativa importância, que hoje passa desapercebido e nos torna totalmente desguarnecidos de esperança futura.

Embora celebremos, juntos na internet, nossa “liberdade” de acesso á tamanha quantidade de informação, conhecimento e sabedoria, como, por exemplo, saber que um Rockefeller bancou o movimento feminista com o intuito de agregar ao sistema metade da população mundial que não pagava imposto. O saber dos fatos, para um fim do anonimato, trouxe-nos a chegada das redes sociais, quando milhões e milhões de indivíduos, até então anônimos, foram inseridos no “Grid”.

Consequentemente popularizaram-se os dispositivos móveis, celulares, tablets, um sem-número de “gadgets”, o Wi-Fi, e para tornar viável essa agregação de milhões foi necessário aumentar muito a frequência Hertz da telefonia celular viabilizando assim os smartphones com streaming de vídeos (Youtube), o sinal de TV na palma da mão, tornar os Facebooks, Twitter e Whatssap funcionais.

 Aí o fator social que passa despercebido: somos agora uma geração que convive com campos eletromagnéticos 20 mil, 25 mil vezes mais fortes do que os humanos podem suportar. Nossos filhos e netos estão recebendo essa radiação eletromagnética desde o dia em que nasceram, e através desses dispositivos móveis onde se concentra a internet hoje em dia, seja num laptop no colo (que já nem chamam mais de laptop, óbvio), num tablet com seu enorme campo de radiação colado nos ovários das meninas e moças, um celular emitindo altíssimas frequências de radiação no crânio, ou diretamente no sêmen humano dos jovens sentados interagindo com um celular…

Infinitamente mais nocivo que aquecimento global, que todo Lula, Temer, Trump e porvires juntos…

Quaisquer tentativas de trazer a público esta realidade, as poucas pesquisas independentes que constatam esses fatos são desmoralizadas e esmagadas.
Somos na realidade regidos por outro poder, do qual hoje mal damos conta em reconhecer; o poder da vida, regido por uma antena eletromagnética que denominamos de nossa espinha dorsal, que não pode com toda essa radiação de agora.

Sou do tempo da BBS do Mandic, cresci com TV em preto e branco, sempre fui avisado que ficasse bem longe da radiação da TV. Hoje nem se fala mais nisso, as TV’s LED não emitem radiação! Ledo engano, trouxemos o mal da radiação para bem mais perto, colado em nossos corpos…

Quando chegaram os computadores com internet foi o anonimato que proporcionou a grande parte dos usuários a possibilidade de conhecer, através do que era chamado “cena underground” (anônimos), algo mais que o joguinho de paciência no ambiente Windows. Naquele tempo, sim, a internet teve sua verdadeira função social de prover informação, conhecimento e sabedoria! Nem se compara à experiência online que temos agora.

Hoje, há a ilusão de que o poder nos parece tão escancarado, temos Wikileaks, delações no Brasil etc., sabemos de tudo num flash, mas confesso que em meio a toda essa experiência social na qual estamos envolvidos, quando nos apercebemos do que realmente está acontecendo, vem a certeza de que o anonimato foi sempre uma melhor alternativa.

Neste mundo do avesso de hoje, são os famigerados, os ilustres, os célebres, que nos enganam, estamos como insetos rodeando uma lâmpada artificial no meio da noite. Essas “celebridades” do poder atual, são eles os donos do “Grid”, que contém todas as nossas informações, nossos dados. Sabe-se lá o que irão aprontar ainda com isso.

Falta de anonimato é o fim da liberdade, e o que farão anonimamente com esse “Grid” pode significar um fim para a humanidade, como a conhecemos hoje.

Vote no vice

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Ainda que seja regar o que a chuva já molhou, nestes tempos em que a assunção de um vice ao poder chegou a ser taxada de “golpe”, é essencial que o eleitor tenha a consciência de que seu voto também elege o vice. E que esse vice poderá assumir o mandato do prefeito eleito em qualquer tempo: viagens, doença, morte, renúncia, impedimento
Mary Zaidan

Cidade alemão onde moradores pagam R$ 3,20 de aluguel por ano há cinco séculos

O aluguel subiu e está com dificuldades de pagar a conta? Esse é um problema desconhecido para os moradores da comunidade de Fuggerei, um conjunto habitacional onde os residentes pagam apenas um dólar (cerca de R$ 3,20) de aluguel ao ano.

O complexo de moradias, conhecido como "o projeto habitacional mais antigo do mundo", fica na cidade alemã de Augsburg, na Baviera. O valor dos aluguéis não subiu ali desde o século 16, quando era cobrado em florins.

O local abriga cerca de 150 pessoas que vivem em casas pitorescas, algumas das quais atravessaram os séculos com suas fachadas quase inalteradas.

"Somos uma pequena comunidade e nos damos bem", diz Ilona Barber, 66, à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Contendo ainda um museu, um apartamento-modelo e um bunker construído durante a Segunda Guerra Mundial, o complexo é um dos principais atrativos de Augsburg: recebe cerca de 180 mil visitantes por ano.

Moradores de Fuggerei
Os vizinhos Ilona Barber e Friedrich Fischer passeiam em Fuggerei
Fuggerei foi fundado em 1521 por Jakob Fugger, "o Rico", um comerciante e banqueiro da época que destinou parte do seu ímpeto filantrópico à criação de um complexo residencial dedicado aos necessitados da cidade.

Mas o presente vinha com condições registradas por escrito: para viver em Fuggerei, além de necessitado por motivos econômicos, era preciso ser católico e rezar três vezes por dia.

As mesmas condições continuam valendo hoje em dia, mas segundo Astrid Gabler, porta-voz de Fuggerei, a decisão de cumprir ou não com as orações é uma decisão individual de cada morador.

O complexo conta com uma igreja e um padre, que também vive ali.

Há outras exigências: as portas, por exemplo, são fechadas às 10h da noite. Quem volta para casa depois desse horário precisa pagar uma multa entre 50 centavos de euro e um euro (entre R$ 1,80 e R$ 3,60), dependendo da hora.

A aposentada Ilona Barber diz que se considera uma pessoa de sorte. Conta que a pensão que recebe do Estado é "muito limitada" e que não seria suficiente para pagar um aluguel na cidade.

Todas as manhãs ela sai para uma caminhada com seu vizinho de baixo, Friedrich Fischer, de 95 anos. Fischer vive en Fuggerei desde antes da Segunda Guerra Mundial.

"Nós, moradores, fazemos trabalhos para a comunidade. Eu agora estou encarregada da vigilância durante a noite", afirma a aposentada.

O município é o princípio e a razão de qualquer nação

Ruas limpas, visual também despoluído, não da sujeira rotineira produzida pelos usuários, consequência de nossa má educação, mas do material de propaganda eleitoral. Refiro-me à propaganda dos candidatos a prefeito e vereador. São milhares espalhados pelo Estado.

Nossa democracia está sob teste nestas eleições. Acabou a época do marketing político, e desapareceram os profetas da comunicação. Em poucos dias, saberemos se nosso processo eleitoral, antes turbinado pelo dinheiro, tornou-se, pelo menos, mais transparente.

Os candidatos à Câmara Municipal correm de um lugar para outro, como formiguinhas. E isso, leitor, já aconteceu em passado não muito distante. Ao todo, são 1.395 candidatos. Alguns tímidos, outros mais destemidos – todos, uníssonos, pedindo votos ao pé do ouvido. Distribuem “santinhos”, nos quais expõem seus atributos, mas muitos escondem, com “mão de gato”, o nome do partido ao qual pertencem. Na prática, negam o regime democrático, que não existe sem partido.

São muitos os candidatos a prefeito – 11 ao todo, se não estou enganado. Todos disputam, com aparente dedicação, a difícil missão de melhorar (e muito) a educação, a saúde, a segurança, a mobilidade urbana. São itens que fazem parte de uma relação enorme de outras inadiáveis necessidades, tão essenciais ou importantes quanto as que apregoam. O custo absurdo da máquina municipal, o desperdício generalizado, a eficiência na gestão, a consciência do bem comum, a ética, a liberdade, a participação popular, a diversidade, o transporte, por exemplo, têm que ser incluídos nessa primeira relação de prioridades.

Fiquei ciente, no debate a que assisti na Record, no último dia 25, domingo, de que o Orçamento anual da prefeitura é de R$ 9 bilhões. Não saberei contar, nem muito menos visualizar tanto dinheiro, mas imagino, perfeitamente, o quanto dessa grana deve ter escoado no ralo da safadeza, da irresponsabilidade ou da notória incompetência.

Escolher o futuro administrador de nossa cidade não é nada fácil, mas é possível. O eleitor belo-horizontino dispõe de bons candidatos, alguns deles jovens ainda e de bom potencial. Dos 11 que se habilitaram e se dispuseram a enfrentar os novos tempos, um deles sobressairá aos olhos de cada eleitor. Será julgado por sua história pessoal, por sua qualidade humana e por sua experiência na política.

Dizer por aí que Belo Horizonte “precisa de prefeito, não de político” é um equívoco. O cargo de prefeito é eminentemente político, no mais exato sentido da palavra. A política é a arte de bem governar os povos. O mal nunca esteve nela, mas em seu desvirtuamento pelos que a desonram. A política é meio de valorização do ser humano.

As últimas pesquisas apontam que, dos 11 candidatos a prefeito, João Leite, do PSDB, e Alexandre Kalil, do PHS – o primeiro, ex-goleiro do Atlético Mineiro, e o segundo, ex-presidente do clube –, estarão no segundo turno. Nas eleições de 2014, Kalil pensou em ser candidato a deputado federal, mas desistiu na última hora dizendo que jamais seria candidato a qualquer cargo público. Agora, tudo indica que irá até o fim. João Leite, além de ex-atleta, é formado em história. Foi vereador, secretário municipal e estadual e está, hoje, no sexto mandato de deputado estadual.

Mas nada impede que haja uma reviravolta nas pesquisas de opinião feitas até agora. Isso poderá ocorrer até domingo, na boca da urna. Ademais, quantos deixarão de votar nas eleições municipais, decepcionados que estão com nossos políticos? Juízo, pois.