sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Feliz 2017

Vai um ano, chega outro. Divisões infinitesimais do tempo que guardamos como bons ou maus, acolhemos como protegidos por lendários seres ou regidos por estrelas zodiacais, quando o mais importante de todo o tempo é o dia que nasce.

A alegria do renascer a cada dia para uma nova chance de viver é o que conta no tempo. O dia, em sua infinitude, traz todos os matizes de viver: o espanto, a surpresa, a alegria, a tristeza, a vida e a morte, tudo sem o que nunca viveríamos, mas vegetaríamos.

Devemos agradecer e participar de cada dia com intensidade e repetir pelo tempo o renascimento em cada amanhecer.

2017 bate à porta com centenas de dias felizes e saudáveis para se comemorar
Até o ano que vem 

Tributo aos campeões

A repercussão do anúncio dos EUA sobre a ação global da Odebrecht provocou um temporal político na América Latina. Bem maior do que tivemos notícia pelos jornais e TV. Foi um intenso movimento no Twitter, que começou com gente perguntando quem eram os corruptos do governo de cada país, passou por desmentidos de presidentes e ex-presidentes, nomes suspeitos, acusações. Alguns importantes projetos, como assegurar a navegabilidade do Rio Magdalena, na Colômbia, estão ameaçados. Começaram a duvidar até do estudo de impacto ambiental da Odebrecht.

Ao ver aquele furacão durante a semana, não podia perder de vista que tudo aquilo havia sido causado por uma empresa brasileira. Ironicamente, o programa do BNDES para estimular as empresas campeãs nos deu apenas um título mundial: o do maior escândalo de corrupção.

Nenhum texto alternativo automático disponível.

Em termos de política externa, penso eu, seria ideal que o Brasil fizesse o comunicado, informando, como fizeram os americanos, quanto se usou em corrupção e o lucro obtido em cada lugar. Em termos ideais, porque, dados as circunstâncias brasileiras, o ritmo do STF, a delicada posição do governo na Lava Jato, não temos as mesmas condições dos norte-americanos. Verdade é que o próprio relatório divulgado lá destacou as investigações feitas no Brasil, pois trabalhou com dados, essencialmente, obtidos aqui.

Todos estão conscientes da abertura brasileira para compartilhar as informações. Em termos ainda ideais, seria preciso um outro passo: uma legislação disciplinando o comportamento das empresas no exterior.

Quando todo esse movimento rumo ao exterior começou, confesso que tentei formular uma lei que punisse o suborno de autoridades. Alguns assessores da Câmara ajudaram. Mas as possibilidades de êxito eram muito remotas. Não só pela força das empreiteiras. Havia um argumento muito forte: era uma iniciativa ingênua que acabaria reduzindo a competitividade de nossas empresas.

Com as voltas que o mundo deu, uma legislação que discipline as empresas brasileiras pode ser precisamente um instrumento para que não percam a competitividade depois do furacão Odebrecht.

O relatório americano não menciona o papel que o BNDES teve em cada um dos projetos da Odebrecht. Quando tudo isso vier à luz, talvez se desvende que o dinheiro da propina eram recursos públicos.

Uma legislação mais precisa pode evitar que instituições sejam levadas para uma engrenagem criminosa internacional. Mas talvez não seja a falta dela o ponto essencial.

Havia toda uma política, da qual o BNDES era um instrumento, destinada simultaneamente a abrir caminhos para a Odebrecht e fortalecer a imagem de Lula. Os métodos escolhidos para isso resultaram num desastre, pois fecharam os caminhos da Odebrecht e atingiram profundamente a imagem de Lula na América Latina.

A escolha equivocada jogou-os num enredo e crime e castigo. Mas a Odebrecht era considerada a maior empreiteira brasileira atuando no exterior, Lula é o ex-presidente do Brasil. Por mais que tenha nascido e se desenvolvido aqui a investigação que revelou o gigantesco esquema, o Brasil tem um delicado problema externo a superar.

O passo que sugiro é criar legislação que possa atenuar a desconfiança em torno de empresas brasileiras no exterior.

Enquanto o esquema era revelado somente dentro do Brasil, alguns lugares do mundo não se interessaram por ele. Mas agora que pelo menos nove países se deram conta da interface Odebrecht-Lula com os seus próprios políticos e administradores, a América Latina tornou-se uma única aldeia escandalizada.

Outra resposta brasileira que poderia inspirar outros países envolvidos no escândalo seria romper o vínculo entre empreiteiras e governo. Para isso é preciso aprovar um projeto, que já está no Congresso, obrigando a mediação de empresas seguradoras, responsáveis por fiscalizar as obras.

Governo e Congresso estão pisando em ovos com a Operação Lava Jato. Em vez de definirem as alternativas que se abrem com seu desdobramento, preferem discutir como contê-la. No entanto, não acho insensato pressioná-los a se dar conta do que está acontecendo em torno de nós, depois que o relatório americano foi divulgado. Muitos são investigados na Lava Jato. Investigadas ou não, as pessoas podem fazer as coisas certas quando se colocam problemas nacionais. Isso, todavia, não vai absolvê-las nem condená-las.

A dimensão da Lava Jato nos obriga a ir um pouco além do quem recebeu quanto para quê, quando eles serão julgados. O escândalo anexou uma dimensão internacional ao drama e atingiu a imagem do Brasil, por causa do comportamento de seu Lula e das empresas que gravitavam em torno do BNDES.

Pode-se escolher a tática de fingir que não foi conosco, submergir à espera de um melhor momento. Isso costuma falhar. Um título mundial de corrupção não se esquece rapidamente. É preciso correr atrás da credibilidade perdida. O julgamento dos artífices do gigantesco esquema de corrupção será, certamente, uma grande resposta.

E, antes dela, também ajudaria a transparência sobre a delação da Odebrecht. Não é confortável ler algo que aconteceu no Brasil, foi apurado aqui, narrado em inglês com os políticos sendo chamados de brazilian officials e numerados.

O brazilian official número 1, por exemplo, deveria dar uma parada para pensar no rastro de raiva que deixou essa aliança entre corruptos latino-americanos. A prática de roubar o próprio povo transcendeu as fronteiras nacionais. Um fato histórico.

Os líderes comunistas do passado criaram internacionais para marcar posições políticas diferentes. A decadência chegou ao ponto de se criar a partir do Brasil uma internacional da corrupção. Nela, América Latina e África foram unidas pelos seus defeitos, e não pelas qualidades.

Há todo um caminho a reconstruir.

Controle de nações

Por trás da revelação feita pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, com base em investigações da Operação Lava Jato, de que a Odebrecht pagou mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 3,4 bilhões) em propinas em 12 países desde 2001, está muito mais do que um esquema internacional de corrupção.

Tal prática é uma ameaça concreta à estabilidade democrática dos países. Pelo que foi levantado até agora pela força-tarefa da Lava Jato, a empresa teria bancado o pagamento de marqueteiros das campanhas de candidatos vitoriosos a presidente da República em alguns dos países onde tinha interesses comerciais, via caixa 2 ou dinheiro de propina.

Desse modo, passou a empresa a ter – ou a planejar ter – o controle sobre governos, programas de governos, cronogramas de obras.

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Com base em delações negociadas entre executivos e ex-executivos da Odebrecht aqui no Brasil, existe a informação de que medidas provisórias que interessavam à Odebrecht foram compradas por alguns milhões, pagos a burocratas, funcionários do governo e dirigentes partidários, possibilitando um retorno bilionário ao caixa da companhia. Se no Brasil houve a compra de MPs e leis, quem pode dizer que o mesmo não aconteceu nos outros países onde o conglomerado empresarial tinha interesses?

Há algum tempo estudiosos da geopolítica do mundo acreditam que a guerra convencional chegará ao fim. Prevalecerá os interesses de grandes grupos econômicos, que tudo farão para manter a hegemonia sobre outros e, principalmente, sobre as nações, simples joguete em suas mãos.

Criada em 1899, a americana United Fruit Company ficou muito conhecida no mundo, principalmente na América Latina. Financiou golpes de Estado e guerras civis nos quais a atuação do governo local ameaçava seus interesses. No lugar de quem ela derrubava, sempre era posto um fantoche. O Prêmio Nobel de Literatura Gabriel Garcia Márquez dedicou um bom espaço de sua obra Cem Anos de Solidão à United Fruit, identificando-a com massacre de trabalhadores, a negação de direitos sociais, sindicais e humanos, o clientelismo político e o suborno.

Do mesmo modo, também Nobel de Literatura, o escritor chileno Pablo Neruda escreveu um poema chamado La United Fruit Co, publicado em Canto General. Depois de dizer que a empresa se instalou também na costa central de sua terra, ele afirma que a companhia batizou de novo as terras chilenas, agora de “República de Bananas”. “E sobre os mortos dormidos, sobre os heróis inquietos que conquistaram a grandeza, a liberdade e as bandeiras, estabeleceu sua ópera bufa”. Em seguida, Neruda enumera os nomes dos fantoches que a United Fruit levou ao poder países afora.

Boa parte dos movimentos de esquerda na América Latina se fortaleceu na luta contra a empresa americana, principalmente na primeira metade do século 20 e depois da Segunda Guerra.

Há semelhanças entre a atuação da Odebrecht e a da United Fruit na luta pelo poder, com a diferença de que agora não há o emprego da violência. A americana financiava golpes contra governos estáveis e democráticos. A Odebrecht passou a financiar governos instáveis com os quais mantinha negócios, quase todos eles de centro-esquerda.

O que diriam Karl Marx, Rosa Luxemburgo, Lenin e outros se soubessem que em um futuro não muito distante parte daqueles que se inspirou em seus ideais revolucionários acabaria por se desmoralizar pelo dinheiro do Brasil?

A respeito de toda essa questão que envolve o domínio de nações pelo interesse de empresas, diz o ex-deputado petista Paulo Delgado (MG): “Ironia da história o passado se parecer com o presente. A nossa esquerda, que em parte se formou na luta contra a United Fruit Company, se desmoraliza pedindo dinheiro à United Odebrecht Company”.

Imagem do Dia

Claire Droppert

O tempo

#Clock #Time #Watch #Timepiece #Timekeeper #AlarmClock #Reloj #Tiempo #TickTock #Retro #Vintage #Old #Anticque #Shabby: A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
Mário Quintana

Quando todos os gatos são pardos

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Quando a noite é bastante escura, todos os contornos desaparecem 
Jostein Gaarder

Como me queixar de 2016?

2016 não foi, de modo algum, um ano simpático. Foi daqueles que torcemos para que acabe logo. Nem vou elencar aqui tudo que ele nos trouxe de ruim, as más notícias quase que diárias, as perdas irreparáveis. Seria como oferecer a vocês os jornais de ontem, anteontem e trasanteontem...

São tantos os bons jornalistas a analisar e comentar os inacreditáveis e infindáveis nós em que nos meteram, como vou me meter na seara deles? Eu não saberia falar com igual propriedade. “A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos”, aprendi no colégio, quando os mestres ainda nos estimulavam a ler os grandes filósofos.

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Mas tenho um sentimento em relação a 2016: ele não foi de todo negativo. Teve lados altamente positivos para o Brasil: o impeachment da representante do PT no Palácio do Planalto; a força moral da Lava-Jato; e o desmantelo da impressionante cadeia de corruptos responsável pela vergonhosa e lastimável situação em que o Brasil se encontra.

Entretanto, o PT despachado, ver poderosos bem instalados em Curitiba, a corrupção com sua cabeça cortada, não acham que é caso para agradecer, um pouquinho ao menos, o ano que se vai? Não sou das ingênuas que acreditam que a corrupção foi para sempre dizimada. Longe disso. Sempre haverá corruptos. O que é necessário é que sempre haja fiscalização e punição para os corrompidos e para os corruptores!

Mas que a corrupção levou um baita tranco, levou. Durante algum tempo seus acólitos vão se manter afastados desse ofício desgraçado. Quando tentarem voltar, não serão os mesmos e nós estaremos mais atentos e mais fortes.

Não é caso para agradecer aos Céus? Eu acho que é.

E tem mais: as pessoas que eu amo estão bem de saúde. Crianças queridas continuam chegando e encantando nossas vidas. Ainda estou por aqui. Alive and kicking, como dizem nossos amigos anglo-saxões. Probleminhas todos temos, mas nada que nos leve a desesperar. Viver é assim mesmo.

Por tudo isso, como posso me queixar de 2016, assim, sem mais aquela?

Agradeço pois o ano que passou e recepciono, com Fé e Esperança, o ano que vem.

Seja muito bem vindo 2017!

Finlândia, laboratório mundial da renda básica universal

A automatização da força de trabalho cresce a toda velocidade no século XXI. E a primeira consequência é dramática: perda de empregos tradicionais que, agora, a um custo laboral zero, são desempenhados por máquinas como lava-carros ou garçons que anotam os pedidos no restaurante. A Finlândia decidiu começar a se preparar para o futuro, experimentando com novas redes de proteção. O país nórdico será em 2017 o laboratório mundial do que foi batizado como renda básica universal. Ou seja, receber uma quantidade de dinheiro por mês sem motivo algum. Quer a pessoa esteja empregada ou não. Em um programa-piloto que durará dois anos, 2.000 cidadãos receberão a partir de janeiro 560 euros (1.920 reais) por mês somente para existir.

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“Para revolucionar algo tão grande, tão tradicional e tão fundamental como as remunerações é preciso experimentar primeiro”, afirma Roope Mokka, cofundador do Demos Helsinque, o primeiro think tank independente dos países nórdicos. Em um país calvinista no qual em toda esquina se respira a cultura da responsabilidade, esta remuneração adicional é vista por especialistas, políticos e cidadãos não como um presente, mas como uma oportunidade para fortalecer a economia e estimular a população a iniciar negócios, explica este jovem finlandês durante uma mesa redonda no Slush. Trata-se de um evento que congrega todo ano centenas de start-ups, empresas e investidores mundiais, e que se tornou um acontecimento crucial para a economia finlandesa, atualmente ainda lutando para sair de uma profunda recessão.

Mas mesmo com um horizonte difícil — a Comissão Europeia estima um crescimento de 0,9% no PIB do país no ano que vem —, o Governo conservador finlandês é pioneiro mundial em adotar a renda básica. Uma seleção de 2.000 cidadãos receberá a partir de janeiro, e durante dois anos, 560 euros por mês. “As análises mais confiáveis demorarão pelo menos seis anos para chegar”, prevê o especialista. Em um experimento em Oakland (EUA) serão mil famílias que ganharão o equivalente a 1.720 reais mensais, e em Utrecht, nos Países Baixos, a fórmula também será testada em 2017. Entretanto, a Finlândia é dos poucos países na União Europeia que não possuem um salário mínimo válido para todas as profissões, caso também das nações escandinavas. Seu PIB per capita, porém, é dos mais altos do bloco, mesmo em tempos duros: 38.200 euros (131.200 reais) em 2015 (ano em que o déficit alcançou 2,8% do PIB) enquanto o da Espanha é de 23.200 euros (79.650 reais), segundo o site datosmacro.

Para que a ideia da renda básica, que pode parecer utópica para muitos, se transforme em realidade é preciso haver financiamento. O especialista observa que a primeira coisa que as empresas e os Governos deveriam fazer é garantir que “os trabalhos tenham elevada remuneração”, além de pôr em prática uma reforma no sistema tributário que sobretaxe ainda mais as altas rendas. “A propriedade ociosa, bens, deficiência energética, edifícios... há muitas coisas sobre as quais podem ser aplicados mais impostos”, enumera Mokka de forma improvisada, embora tenha um grande conhecimento do que fala.

Do contrário, e como acontece, por exemplo, na Espanha — onde o Governo de Mariano Rajoy (PP) acaba de elevar o salário mínimo para 707,6 euros (2.430 reais), a metade do pago na França, segundo a Eurostat —, continuar trabalhando e receber este complemento salarial “não compensaria” e fomentaria a desocupação, um argumento que não convence Mokka. Acredita, no entanto, que aí se situa uma das chaves para o bom funcionamento da renda básica universal: “É preciso começar a assumir que nem todo mundo pode ter um trabalho porque estamos competindo contra as máquinas, e elas sempre ganharão”. O diretor da Tekes, a agência pública que investe em inovação neste país de pouco mais de cinco milhões de pessoas, Jukka Häyrynen, sustenta que a segurança no trabalho é algo que está sendo perdido em nível mundial, o que ele vê com certo positivismo: “Isto é um ingrediente para empreender”, afirma.

Um estudo que a Universidade Oxford elaborou em janeiro de 2016, mostra que 57% da força de trabalho humana nos países da OCDE está sob o risco de desaparecer por causa da automatização e dos avanços tecnológicos. “Temos a necessidade de integrar todas as pessoas desocupadas na nossa sociedade e, em lugar de subsídios pelo desemprego, a renda básica soa como uma boa ideia”, defende Juhana Aunesluoma, diretor de pesquisa de Estudos Europeus na Universidade de Helsinque, em uma sala do Ministério de Relações Exteriores. Algo que não convenceu a Suíça em junho, quando rejeitou essa iniciativa em um referendo.

Mas os Governos — especialmente os do sul da Europa — estão até certo ponto “obcecados”, diz Mokka, em chegar ao pleno emprego em detrimento da busca de alternativas para que o dinheiro entre nos lares (e no sistema) e para que os desempregados pela automatização do trabalho se mantenham ocupados e reinvistam seu tempo.

Paisagem brasileira

Abstrato
Casario, Durval Ferreira

Esperanças roubadas

Em 27 de dezembro foi publicada em O Globo a seguinte matéria do jornalista Antonio Werneck: “Carga milionária de remédio para câncer some a caminho de SP. Uma carga milionária de um medicamento usado no tratamento de leucemia crônica e no combate a tumores de estroma gastrointestinal desapareceu misteriosamente quando era levada de caminhão do Instituto Vital Brasil, em Niterói, para a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Avaliado em cerca de R$ 5 milhões...”

Não foi a primeira vez.

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Pesquisando jornais do Rio e de São Paulo, há relatos do roubo de drogas de alto custo que são revendidas por preços inferiores a farmácias e clínicas criminosas na capital e no interior desses estados. Desde 2007 foram noticiados assaltos nos hospitais Emílio Ribas, Brigadeiro, Servidor Público e Samaritano, todos em São Paulo. Os ladrões levaram os medicamentos específicos para oncologia, AIDS e reumatologia, que custam de 6 a 10 mil reais a dose. Apesar de armados, não usam de violência, mas certeiras informações ou crachás.

Há pouco mais de um mês, em um prédio de consultórios no Rio, foram roubados agentes biológicos caríssimos utilizados em reumatologia e que precisam ser conservados em baixa temperatura para manter sua eficácia. Hoje a clínica tem segurança armada na porta.

Será que existe um COCO - Centro Oncológico do Crime Organizado? Não creio.

Gente estabelecida compra, comercializa e administra esses medicamentos. Esses bandidos usando jaleco devem ter notas fiscais de remédios adquiridos legalmente, que usam para burlar a fiscalização.

No entanto, o crime mais grave é que essas drogas armazenadas de forma inadequada deixam de agir como deveriam, causam efeitos maléficos e podem matar os pacientes.

A Agência de Vigilância Sanitária, após o escândalo das “pílulas de farinha”, em 1999, aprovou uma resolução para a criação do sistema nacional de rastreabilidade de medicamentos, o que permitiria o controle do caminho de medicamentos da fábrica até o paciente.

O aumento do custo foi estimado em 0,05%, mas melhoraria enormemente a segurança no uso dos medicamentos, em todas suas fases: fabricação, transporte, distribuição, armazenamento, prazo de validade, prescrição, administração e avaliação de efeitos colaterais por lotes específicos, além de ajudar no combate tanto da falsificação, quanto do roubo. Porém a pressão da poderosa indústria farmacêutica e a complacência de nossos congressistas adiou essa normatização em 2013 e 2015. O golpe fatal foi desferido em 27 de setembro de 2016, quando sepultou qualquer prazo para adoção dessa saneadora medida.

O mercado brasileiro de medicamentos, que tem uma “informalidade” (amoralidade) de 30%, fato inconcebível nas sedes mundiais da lucrativa indústria farmacêutica, segue feliz.

Por quê? Uhum! Estranho!

A segurança dos pacientes exige a rastreabilidade dos medicamentos, fundamental também no combate à receptação de esperanças roubadas.

Resoluções de Ano Novo: as impossíveis e as obrigatórias

Hoje, como em todo 30 de dezembro, é dia de alinhar as resoluções de Ano Novo, daquelas impossíveis que abandonamos na primeira semana de janeiro, para reavivá-las no próximo dezembro. Por exemplo:

Parar de fumar. Beber menos. Evitar gorduras nas refeições. Fazer exercícios e corridas todos os dias. Tomar banho frio. Cuidar da saúde e fazer exames médicos. Ser carinhoso com filhos e netos. Ajudar os necessitados. Não pisar no acelerador. Ler um livro por semana. Assistir menos televisão. Matricular-se no curso de inglês. Cumprimentar e sorrir para os colegas de trabalho.
No entanto, por conta do ano bicudo que já termina, surgem novas e obrigatórias resoluções, que todos devemos seguir. São elas:
Acompanhar todos os dias a performance dos políticos. Marcar no caderninho os nomes dos envolvidos com a corrupção, para nas próximas eleições não votar neles. Pesquisar quais os deputados e senadores cujo padrão de vida aumentou depois de eleitos. Saber quantos políticos compraram apartamentos de luxo, sítios ou fazendas no exercício de seus mandatos. Anotar as viagens ao exterior de parlamentares e suas famílias. Acessar informações sobre gastos com cartões corporativos de crédito pelos funcionários do governo.

Mas tem mais. Participar de movimentos de protesto contra leis e iniciativas favoráveis às elites. Protestar contra a presença de políticos corruptos em restaurantes, aeroportos e mesmo na rua. Negar cumprimento aos políticos relacionados em listas da Odebrecht e outras empreiteiras. Aplaudir as ações da Polícia Federal, Ministério Público e Poder Judiciário, pessoalmente ou através de mensagens eletrônicas. Organizar grupos de amigos, familiares ou companheiros de trabalho para manifestações públicas de repúdio à corrupção. Acompanhar o comportamento da mídia na cobertura de escândalos e crimes praticados por políticos, exigindo de seus responsáveis a divulgação de notícias honestas e verdadeiras. Cobrar promessas não cumpridas de governantes e parlamentares.

Como também: ser tolerante para quem incorreu em erros, mas ser implacável com os erros. Transmitir experiências e lembranças para filhos e netos. Meditar e arrepender-se de omissões quando sua iniciativa poderia ter contribuído para a melhoria da vida em sociedade.

Por último, lembrar em quem votou nas últimas eleições e não repetir o voto, se o eleito ou seu partido descumpriram suas promessas.

Suicídio de funcionária exausta levou à renúncia do presidente de gigante japonesa

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O presidente da principal agência de publicidade do Japão anunciou sua renúncia ao cargo após o suicídio de uma funcionária que se dizia física e mentalmente exausta por causa do excesso de trabalho.

Tadashi Ishii liderava a Dentsu, uma gigante nipônica de publicidade, e assumiu a responsabilidade pela morte da jovem. Ele afirmou que vai tornar a renúncia efetiva na próxima reunião da diretoria da empresa, em janeiro.

Matsuri Takahashi tinha 24 anos e trabalhava na companhia havia sete meses quando pulou da janela de um prédio onde morava - que era da própria Dentsu - na noite de Natal de 2015.

O caso veio à tona nesta semana, depois da decisão do Ministério do Trabalho japonês de processar a empresa pela morte dela.

O governo chegou a fazer uma investigação e uma varredura na Dentsu para obter informações sobre as práticas de trabalho. Foi determinado que a empresa descumpriu as leis trabalhistas e, portanto, tem responsabilidade legal pela morte da jovem.

Na última quarta-feira, a empresa admitiu que cerca de 100 trabalhadores ainda faziam cerca de 80 horas extras por mês.

As mortes por excesso de trabalho são um problema tão grande no Japão que já existe até um termo para descrevê-las: "karoshi".

Antes de se matar, Takahashi deixou um bilhete para a mãe, no qual escreveu: "você é a melhor mãe do mundo, mas por que tudo tem que ser tão difícil?".

Semanas antes da morte, ela escreveu uma mensagem nas redes sociais em que dizia: "quero morrer". Em outra, alertava: "estou física e mentalmente destroçada".

Contratada em abril do ano passado, a jovem chegava a fazer cerca de 105 horas extras por mês.

Além disso, a família acusou a empresa de obrigá-la a registrar menos horas do que de fato trabalhava. Em muitos casos, o registro mostra que ela trabalhou 69,9 horas por mês, perto do máximo de 70 horas permitidas, mas a cifra era bem maior.

Takahashi havia acabado de se formar na prestigiosa Universidade de Tóquio e expunha as condições duras de trabalho na sua conta no Twitter, onde detalhava jornadas de até 20 horas diárias.

A carga horária disparou em outubro de 2015, quando ela só chegava em casa por volta de 5h, depois de ter trabalhado dia e noite. Além disso, ela não teve nenhum dia de folga em sete meses.

Ao anunciar sua demissão, o presidente da Dentsu afirmou que jamais deveriam ser permitidas essas quantidades excessivas de trabalho.

"Lamento profundamente não ter prevenido a morte da nossa jovem funcionária por excesso de trabalho e ofereço minhas sinceras desculpas", disse Ishii.