sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Esperanças roubadas

Em 27 de dezembro foi publicada em O Globo a seguinte matéria do jornalista Antonio Werneck: “Carga milionária de remédio para câncer some a caminho de SP. Uma carga milionária de um medicamento usado no tratamento de leucemia crônica e no combate a tumores de estroma gastrointestinal desapareceu misteriosamente quando era levada de caminhão do Instituto Vital Brasil, em Niterói, para a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Avaliado em cerca de R$ 5 milhões...”

Não foi a primeira vez.

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Pesquisando jornais do Rio e de São Paulo, há relatos do roubo de drogas de alto custo que são revendidas por preços inferiores a farmácias e clínicas criminosas na capital e no interior desses estados. Desde 2007 foram noticiados assaltos nos hospitais Emílio Ribas, Brigadeiro, Servidor Público e Samaritano, todos em São Paulo. Os ladrões levaram os medicamentos específicos para oncologia, AIDS e reumatologia, que custam de 6 a 10 mil reais a dose. Apesar de armados, não usam de violência, mas certeiras informações ou crachás.

Há pouco mais de um mês, em um prédio de consultórios no Rio, foram roubados agentes biológicos caríssimos utilizados em reumatologia e que precisam ser conservados em baixa temperatura para manter sua eficácia. Hoje a clínica tem segurança armada na porta.

Será que existe um COCO - Centro Oncológico do Crime Organizado? Não creio.

Gente estabelecida compra, comercializa e administra esses medicamentos. Esses bandidos usando jaleco devem ter notas fiscais de remédios adquiridos legalmente, que usam para burlar a fiscalização.

No entanto, o crime mais grave é que essas drogas armazenadas de forma inadequada deixam de agir como deveriam, causam efeitos maléficos e podem matar os pacientes.

A Agência de Vigilância Sanitária, após o escândalo das “pílulas de farinha”, em 1999, aprovou uma resolução para a criação do sistema nacional de rastreabilidade de medicamentos, o que permitiria o controle do caminho de medicamentos da fábrica até o paciente.

O aumento do custo foi estimado em 0,05%, mas melhoraria enormemente a segurança no uso dos medicamentos, em todas suas fases: fabricação, transporte, distribuição, armazenamento, prazo de validade, prescrição, administração e avaliação de efeitos colaterais por lotes específicos, além de ajudar no combate tanto da falsificação, quanto do roubo. Porém a pressão da poderosa indústria farmacêutica e a complacência de nossos congressistas adiou essa normatização em 2013 e 2015. O golpe fatal foi desferido em 27 de setembro de 2016, quando sepultou qualquer prazo para adoção dessa saneadora medida.

O mercado brasileiro de medicamentos, que tem uma “informalidade” (amoralidade) de 30%, fato inconcebível nas sedes mundiais da lucrativa indústria farmacêutica, segue feliz.

Por quê? Uhum! Estranho!

A segurança dos pacientes exige a rastreabilidade dos medicamentos, fundamental também no combate à receptação de esperanças roubadas.

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