sexta-feira, 18 de março de 2016

Aí é que está o busílis


O Brasil esfarelando, literalmente, e dona Dilma fica discutindo o sexo dos anjos! Em vez de tentar reverter os erros que cometeu e pedir desculpas à sociedade pelas conversas que teve com o ex-presidente Lula, ela se dedica a lutar pela manutenção do Poder.

E como luta? O que faz? O que diz?

Desmente, com provas, que tenha feito o que fez? Que tenha ouvido o que ouviu? Toma atitudes positivas para reverter os erros que cometeu e que foram muitos?

Não, limita-se a reclamar do juiz Sergio Moro, do Ministério Público e a empossar, em seu ministério, o ex-presidente Lula. A personalidade dos dois, depois de 13 anos com o leme nas mãos, é mais do que conhecida do povo brasileiro e ninguém que tenha mais de dois neurônios acreditará que Lula não vai ser o presidente de facto e ela uma mera caneta sob o comando dele.

Estamos no pior dos mundos. Temos dois presidentes e não temos governo.

Vemos a presidente da República em vez de governar e tentar salvar o Brasil, ficar discutindo se alguma regra foi quebrada, ou seja, se o conteúdo das gravações podia ou não ter sido divulgado.

O que foi dito nessas gravações não poderia ter sido pensado, que dirá dito. Mas já que foi dito, tinha que ser revelado pela Justiça: nós, o povo, temos todo o direito de saber como pensam, agem e se acertam nossos governantes.

O que a gravação mostra é assustador! Nas mãos de quem estivemos e nas mãos de quem estamos! Em vez de discutir o conteúdo das gravações – conteúdo que enoja – vamos ficar discutindo se foi legal ou não? Primeiro temos que nos livrar da malta que nos desgoverna, depois, se for o caso, podemos julgar se o juiz Moro fez mal ou bem.

Nessas gravações ouvimos ofensas graves ao Supremo Tribunal Federal, ao Ministério Público, à Câmara dos Deputados, ao Senado Federal, à Receita Federal, numa linguagem que mostra muito bem como são baixos os instintos que as provocaram.

Lula pensa que essas instituições deveriam estar no bolso da Presidência da República. Mas como são isentas e independentes, Lula se revoltou e fez aquele comentário covarde pelo telefone.

Dona Dilma em algum momento reprovou o que dizia seu futuro novo ministro? Não, ela se limita a criticar a divulgação e não o que ouviu Lula dizer.

Dona Dilma e Lula ofendem muito o STF não só pelas palavras ditas ao telefone, como por difundir a ideia que ser julgado pelo STF é melhor para ele do que pela ‘República de Curitiba’, rótulo que ele quer colar no Juiz Sergio Moro.

Antes vivêssemos numa ‘República de Curitiba’! Mas vivemos mesmo é numa República desgovernada, que só pensa nos problemas pessoais de cada um de seus, digamos, dirigentes, e nunca no Brasil.

Mas, por estarem cegos pelo medo de perder o Poder, eles não atinaram que o STF não é um escudo para malfeitores, como imaginam. Nem escudo, nem abrigo. Ao contrário, a Corte mais alta de nossa Justiça será como tem sido até agora: isenta e impessoal.

Aí é que está o busílis. Os dois presidentes ainda não compreenderam nada.

Só tenho um pedido a São José, cujo dia é comemorado amanhã: que venha logo o impeachment e, com isso, novas eleições. Precisamos higienizar e, depois, reconstruir o Brasil. Enquanto ainda temos alguns alicerces!

Mas, antes de encerrar: quem será que redigiu a Carta Aberta do Lula a desmentir o que disse ao telefone? Carta onde troca a pele de jararaca pela pele de um cordeirinho recém-nascido?

Com João Santana preso, confesso que minha curiosidade é imensa...

Desconstruindo a carta aberta de Lula

O Lula dessa carta aberta não passa de uma tentativa fraudulenta de responder à fala muito dura de Celso de Mello, decano do Supremo, que se posicionou em nome do tribunal, lembrando que ninguém, nem o Sumo Pontífice do Petismo, está acima da lei.
 Esse Lula caroável e servil às leis é uma farsa. O Lula de verdade manda tomar no c… qualquer um que decida enfrentá-lo, ainda que segundo os mais estritos limites legais. O Lula de verdade anunciou que comparece nesta sexta a um ato que vai chamar de “golpe” o cumprimento da lei e da Constituição.
 O falso Lula da carta está com medo que o verdadeiro Lula das gravações vá para a cadeia.
Reinaldo Azevedo

Lula nu

O ‘Lulinha paz e amor’ criado por João Santana, no escurinho do celular trouxe de volta o ‘Lulão pau e rancor’

Nelson Rodrigues sempre dizia que “se todo mundo soubesse da vida sexual de todo mundo, ninguém falaria com ninguém”. Os últimos acontecimentos mostram que se todos os eleitores soubessem o que os políticos falam quando pensam que ninguém está ouvindo, ninguém votaria em ninguém.

Vaidoso de seu poder e de sua invulnerabilidade, Lula se mostra nos grampos em toda a sua horrenda nudez. Grosso, cínico, autoritário, arrogante, vingativo, esculhamba o Supremo, o STJ, a Câmara e o Senado — porque não o estão defendendo como ele queria, como se todos lhe devessem favores e reverência.

O “Lulinha paz e amor” criado por João Santana, no escurinho do celular se mostra o “Lulão pau e rancor”, como nos velhos tempos, agora revelado pelos grampos da Polícia Federal. Entre palavrões e xingamentos, exigências e deboches, se apresenta em toda a sua nudez, sem qualquer pudor por pessoas ou instituições.

A favor da ideia de Lula nu, que já é uma piada, louve-se que, mesmo nos piores momentos, ele consegue manter o humor de grande comediante. Como quando abre a porta para a Polícia Federal e faz a piada antológica: “Ué! Cadê o japonês”. Ou quando Jaques Wagner pergunta se ele está amadurecendo a decisão (de ir para o Ministério), e ele responde que amadureceu tanto que já está podre. Ou quando diz a Wagner que irá a um encontro com Dilma “se não estiver preso”, e os dois riem juntos.

Um dos grampos mais reveladores é o seu esculacho em um constrangido e atemorizado ministro Nelson Barbosa, reclamando da Receita Federal por estar em cima do Instituto Lula. Ele não diz que o IL está limpo, exige aos berros investigações na Globo, no Instituto Fernando Henrique Cardoso, na Gerdau e em outras grandes empresas.

Mas nunca explicou o que o Instituto Lula fez com os R$ 34,9 milhões que recebeu em doações, legais e declaradas. Que ações contra a fome foram bancadas pelo IL? A quem o IL ajuda com dinheiro, trabalho, comida, bolsas de estudos? Quanto o IL gastou para ajudar os fracos e oprimidos, como a Fundação Bill Clinton?

O que faz o Instituto Lula, além de pagar seus funcionários e servir o próprio Lula?

O poder a serviço da ilegalidade

Depois de criminalizar a política, o PT tenta agora politizar o crime. Mais grave: faz isso sob o patrocínio da Presidência da República, ora em via de ser exercida por duas pessoas ao mesmo tempo.

Não bastasse a situação já ser por si suficientemente anômala sob qualquer ângulo que se examine, acrescenta-se a ela o fato de que o “presidente” nomeado pela presidente eleita é alvo de seis inquéritos no Ministério Público Federal, outro no MP do Distrito Federal e uma denúncia apresentada pelos procuradores de São Paulo. Luiz Inácio Lula da Silva passa à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, mas leva junto essa folha corrida para o Planalto.

Provavelmente, imaginando-se agora respaldada pela aludida “identificação” de Lula com o povo e pela determinação demonstrada por ele nas gravações divulgadas pelo juiz Sérgio Moro, de movimentar a máquina do Estado em sua defesa, a presidente Dilma Rousseff abandonou qualquer cautela inerente ao cargo para, durante a cerimônia de posse, criticar de maneira contundente os agentes da lei responsáveis pelas investigações em curso.

Ela o fez em tom inflamado, consoante ao ambiente misto de assembleia sindical e comício partidário que tomou conta do Palácio na posse de Lula. A ponto de saudar as dezenas de presentes como os “brasileiros de coragem que estão aqui nesta sala”. Por essa ótica, os milhares que estavam do lado de fora em vários pontos do País manifestando-se contra, seriam covardes.

Além de ter dado, com a nomeação de Lula, resposta oposta aos protestos de milhões de brasileiros no domingo, a presidente da República ainda desdenhou de todos ao falar à militância petista como se ela representasse a maioria – e não o contrário – convocando-a à reação. Poderá, e certamente irá, colher mais tempestades ao aderir à ofensiva agressiva proposta por Lula.

Dilma estendeu-se sobre o tema da legalidade ignorando a evidência de que é o governo quem está do lado sombrio da lei. Há a condição legal de Lula e, em decorrência do diálogo mantido com ele em uma das gravações, sobre o uso do termo de posse, há a possibilidade de ela ser alvo de investigação e de novos pedidos de impeachment.

Em palavras claras: o poder no Brasil está nas mãos de dois chefes com calcanhares de Aquiles. Calcanhares estes expostos à caça de agentes da lei e do Congresso. Em sua já provada incapacidade de governar, que a levou à total fragilização, Dilma não teve opção; curvou-se às conveniências do momento acreditando que a entrada de Lula no governo seria um bote salva-vidas para ambos. Estava, como sempre, equivocada.

O problema maior, no entanto, não é o erro de avaliação. É a suposta solução ter sido urdida em ambiência de ilegalidades e impropriedades tão flagrantes que incentivou as pessoas a voltarem às ruas, desta vez para pedir explicitamente a renúncia de Dilma e a prisão de Lula.

O discurso de ontem da presidente não contribui para acalmar os ânimos. Por outra, inflama a indignação reinante na sociedade e incentiva a animosidade de seus defensores.

Boa coisa não poderá resultar daí. Queira o bom senso que o governo não esteja apostando no caos que gera violência e produz vítimas.

Mensagem tumular


Não raro um homem se crê depositário de uma mensagem mas é apenas seu túmulo
Amin Maalouf

Para salvar Lula, Dilma põe em risco o governo

Nove horas da manhã de quinta-feira, dia 17 de março. A uma hora da posse de Lula na Casa Civil, o País está em pé de guerra. A avenida Paulista já foi mais uma vez fechada por manifestantes, que começam a se aglomerar também em frente ao Palácio do Planalto, onde o policiamento foi reforçado para evitar confrontos, como ocorreu na véspera, com o reforço do Batalhão da Guarda Presidencial.


Com a nomeação de Lula para salvar o ex-presidente da Lava Jato e evitar o impeachment, Dilma conseguiu provocar o efeito contrário e jogar quase todo mundo contra ela. Agora, ao insistir na política do vale tudo, pode colocar em risco o seu governo e as próprias instituições democráticas. A crise política está chegando a um ponto terminal e absolutamente fora de controle.

A divulgação dos grampos da Polícia Federal nos celulares de Lula acabou sendo a gota d´água que faltava para encurralar um governo agonizante. Na gravação, Dilma diz a Lula, pouco depois de ser anunciada a sua nomeação:

"Seguinte, eu tô mandando o Messias junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse".

A revelação desta espécie de salvo-conduto foi o estopim para deflagar uma rebelião na Câmara, com os deputados pedindo aos gritos a renúncia da presidente, e para levar novamente milhares de pessoas às ruas, com protestos em Brasília e nas principais capitais brasileiras.

Nas gravações divulgadas pelo juiz Sergio Moro no final da tarde, aparecem ataques grosseiros de Lula ao Congresso Nacional, aos tribunais superiores, à PF e à Receita Federal, em conversas com ministros, parlamentares e dirigentes do PT.

A anunciada saída do PMDB da base governista pode ser seguida agora por outros partidos no mesmo dia em que a Câmara se prepara para instalar a comissão especial do impeachment.

Com Lula no governo, Dilma pretendia recuperar o apoio do PMDB, acalmar os mercados e ressuscitar a economia. Aconteceu tudo ao contrário. E, para piorar a situação, o vazamento das gravações expôs diretamente a presidente Dilma nas tentativas de obstrução da Justiça.

Enquanto especialistas discutem a legalidade da decisão de Moro, o governo anuncia que pretende processar o juiz e a oposição tenta impedir a posse de Lula na Casa Civil, o fato é que mais uma vez o Supremo Tribunal Federal será convocado para decidir os destinos do País.

Agora não se discutem mais meios para garantir a governabilidade, que já havia entrado em colapso nas últimas semanas, mas a sobrevivência do próprio governo petista e o que poderá vir depois dele.

Para a maioria das pessoas com quem converso, é melhor um final horroroso do que um horror sem fim, como já se resignou outro dia um assessor próximo da presidente Dilma. De fato, estamos vivendo dias de horror, de revolta e de vergonha. Já faltam palavras a velhos comentaristas como este que vos escreve para contar o que está acontecendo. Ninguém aguenta mais.

Agora à mão armada


A anexação do governo Dilma à coleção de propriedades privadas por interpostos “amigos” do senhor Luis Inácio da Silva, com a redução da presidente eleita à condição de uma OAS da vida que se limita a assinar os cheques emitidos por ele, na sequência da maior manifestação da história deste país de repúdio à “quadrilha organizada para destruir com a arma da corrupção os fundamentos da democracia, da Republica e do estado de direito” é só o ato de ocupação formal de um território previamente conquistado.

O lance decisivo que animou o PT a tanto deu-se em 18 de dezembro de 2015. Enquanto o país se distraia com o fantasma de Eduardo Cunha que os golpistas agitavam à sua frente, o Supremo Tribunal Federal, para reinstalar Leonardo Picciani, o rei da Olimpíada, na “barreira” à frente do gol do impeachment que Renan, o rei da Transpetro, fora contratado para defender, de onde tinha sido removido pelo voto dos representantes dos 204 milhões de brasileiros, instituiu uma inédita “democracia representativa criativa” à imagem e semelhança da contabilidade idem das contas públicas de Dilma Rousseff.

Na sequência a corte emitiu uma série de liminares “legalizando” renuncias e posses de suplentes encadeadas, além de reconversões de ministros em deputados e vice-versa, de modo a fabricar uma “maioria venezuelana” que sacramentasse no voto a recondução “no tapetão” de Leonardo Picciani.

Nesta fatídica 4a feira, 16, enquanto Dilma Rousseff combinava ao telefone com Luis Inácio o envio de emissário com o Termo de Posse ainda não havida e a redação do Diario Oficial esperava, com o dedo na ignição, para rodar a sua desprevenida e bem intencionada “edição extra” com “notícias” escritas dias antes de acontecerem, reunia-se mais uma vez a severa corte que só aceita promotores-ministros com prazo vencido para reconfirmar, com a maioria de seus ministros exibindo ar de enfado diante dos argumentos dos que insistiam em relacionar premissas com conclusões e causas com efeitos, que não importa quem esteja abaixo ou acima da corrente, os lobos decidirão sempre pelos cordeiros. Não valem maiorias nem de 2/3, para casa contra casa do Legislativo, nem absolutas dentro de cada uma, só vale o que disserem que vale os “líderes” da nova “democracia criativa” o que reduz, como notou o ministro Tóffoli, “a 28 indivíduos, na realidade até menos”, os cidadãos credenciados para decidir em nome de nós, os 204 milhões, quem tem ou não tem o direito de se lixar para o nosso consentimento nesse novo contrato social de araque.

O que a sequência que culmina com a substituição da “presidenta” pelo “amigo da presidenta” resulta de bom para o esquema do PT e seus sócios réus ou ivestigados pela Lavajato é muito claro. Conforme antecipado tantas vezes pelo próprio Luis Inácio em suas perorações ao Foro de São Paulo, o Brasil já desfruta, para esse efeito, de tanto “excesso de democracia” quanto a Venezuela onde, diante da perda da maioria nas urnas pela ditadura de Nicolas Maduro a mais alta corte do país, onde 13 dos 32 magistrados tinham sido substituidos pelo governo, impugnou eleitos bastantes para desfazer o que o voto popular tinha feito.

O que desta segunda reeleição sem votos de Luis Inácio resulta de bom para o Brasil já é bem mais difícil de discernir. Ele e o PT advogam “uma guinada radical na política econômica” … de volta para o lugar de onde, por obra e graça deles próprios, ela nunca foi autorizada a se deslocar um milímetro que fosse. É exatamente por isso, aliás, mais que por qualquer outra razão objetiva presente ha um ano e dois meses, que o país permaneceu paralisado desde que a “presidenta” reeleita pela mentira passou a encarar a verdade com Joaquim Levy, heresia que custou a ambos ir parar na geladeira junto com o resto da economia nacional.

Falar a esta altura em banir do horizonte qualquer reforma da Previdência e lançar mão das reservas para distribuir dinheiro aos governadores, relançar obras do PAC a cargo das empreiteiras da Lavajato e distribuir carinhos ao eleitorado até 2018 seria nada menos que a senha para o “salve-se quem puder” que, para além dos outros aspectos sintetizados na onipresença dos “Pixulecos”, é o que explica a monumentalidade da histórica manifestação de 13 de março: o Brasil inteiro está à beira do pânico econômico lutando desesperadamente para livrar-se dessa bomba de neutrons cujas ondas de choque, avançando cada vez mais rápido em todas as direções, está desfazendo a obra pregressa e matando o futuro de toda uma geração.

O problema fabricado pelo PT segue sendo o mesmo que Joaquim Levy fez ver em toda sua assustadora minucia matemática a Dilma e equipe, qual seja, que esse estado de bocarra pantagruélica mas sem nem o mais mínimo orifício de saída, abarrotado de “companheiros” e apaniguados dos pistoleiros da governabilidade, sobrecarregado de propinas eleitoreiras distribuídas às massas que se “petrificam” instantaneamente assim que criadas como manda a Constituição de 88, por cima de uma já vasta montanha de entulho populista, estourou todos os limites da capacidade da nação de sustentá-lo mas nem por isso dá o menor sinal de “se tocar”: continua empregando, dando aumentos nos salários que já não consegue pagar, especialmente nos da camada politicamente apaniguada derramada por cima do funcionalismo que trabalha, distribuindo benesses e se deixando roubar como nunca antes na história deste país.

A resposta que se impõe continua sendo a que Joaquim Levy foi impedido de executar: tirar do caminho os podres poderes que dele se apropriaram e reduzir cirurgica e drasticamente o tamanho do estado o que vale dizer reduzir drasticamente o tamanho do PT, coisa que Luis Inácio e seus sequazes passaram um ano dizendo ao país que só por cima dos seus cadáveres.

Domingo o Brasil deu “ok” para essa parte. Desde então o assalto que prosseguia só na base da intimidação passou a ser à mão armada.

Atingida na cabeça, 'Jararaca' suaviza o timbre

Sérgio Moro enviou o inquérito sobre Lula para Brasília. Mas teve o cuidado de acertar a cabeça da Jararaca antes. Ao divulgar os diálogos vulgares em que Lula, fora de si, mostrou o que tem por dentro, o juiz da Lava Jato borrifou na atmosfera o veneno que a víbora lançara à sombra em direção ao STF, ao STJ, ao Congresso e à Procuradoria-Geral da República. A reação foi dura. Tão dura que amoleceu o timbre da cobra criada do PT.

Em carta aberta divulgada na noite desta quinta-feira, Lula —ou o advogado que redigiu o texto em seu nome— expressou sua “contrariedade” em relação à atuação de Sérgio Moro em linguagem mansa e respeitosa. “Justiça, simplesmente justiça, é o que espero, para mim e para todos, na vigência plena do Estado de direito democrático.”

O Lula da carta tomou distância do linguajar viperino do Lula dos grampos. Ou daquele investigado que, conduzido coercitivamente para prestar depoimento em 4 de março, convocou a imprensa para destilar fanfarrices: “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo, porque a jararaca está viva.''

Moro adotou com a Jararaca a mesma tática do garoto que gostava de puxar o rabo do gato até que o gato lhe deu uma mordida, ensinando-lhe uma lição. Na próxima vez, o garoto deu uma cacetada na cabeça do gato antes de puxar o rabo. Lula deve estar perguntando aos seus botões: o que farão o Judiciário e a turma da Lava Jato na próxima vez?

Num dos trechos mais tóxicos da escuta que Moro mandou divulgar a pedido dos procuradores de Curitiba, Lula dissera para Dilma, no mesmo fatídico 4 de março: “Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado. […] Nós temos um presidente da Câmara fodido, um presidente do Senado fodido. Não sei quantos parlamentares ameaçados. E fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e vai todo mundo se salvar. Sinceramente, eu tô assustado com a República de Curitiba.”

Se a nomeação de Lula para a Casa Civil ficar em pé, ele será julgado pelo STF. O decano do tribunal, ministro Celso de Mello, cuidou de dar-lhe as boas vindas ao responder à provocação em nome dos colegas, todos incomodados com a qualificação de covardes.

“Esse insulto ao Poder Judiciário, além de absolutamente inaceitável e passível da mais veemente repulsa por parte dessa Corte Suprema, traduz no presente contexto da profunda crise moral que envolve altos escalões da República, uma reação torpe e indigna, típica de mentes autocráticas e arrogantes, que não conseguem esconder, até mesmo em razão do primarismo de seu gesto leviano e irresponsável, o temor pela prevalência do império da lei e receio pela atuação firme, justa, impessoal e isenta de juízes livres e independentes”.

No STJ, a reação coube ao ministro João Otavio de Noronha. “Esta Casa não é uma Casa de covardes. É uma casa de juízes íntegros, que não recebe doação de empreiteiras. É estarrecedor a ironia, o cinismo dos que cometem o delito e querem se esconder atrás de falsa alegada violação de direitos. Não se nega os fatos e porque não tem como negar o que está gravado. A atitude do juiz Moro, gostem ou não, certa ou errada, revelou a podridão que se esconde atrás do poder. Se alguns caciques do judiciário se incomodam ou invejam, lamento.”

Na Câmara, o “fodido” Eduardo Cunha colocou para andar o pedido de impeachment. Posicionou soldados de sua infantaria pessoal na presidência e na relatoria da comissão que cuidará do tema antes que ele chegue ao plenário.

Tido como heroi da resistência governista no Senado, o também “fodido” Renan Calheiros não deu as caras na cerimônia de posse de Lula. Declarou: “Eu acho que qualquer comentário […] que desmereça as instituições ou colabore com o enfraquecimento das instituições não é bom para a democracia.”

Se prevalecer o foro privilegiado que Dilma providenciou para seu criador, quem fará o papel de acusador de Lula no Supremo é o procurador-geral da República Rodrigo Janot. Que Lula considera um ingrato: “…Ele recusou quatro pedidos de investigação ao Aécio e aceitou a primeira de um bandido do Acre contra mim. […] Essa é a gratidão. Essa é a gratidão dele por ele ser procurador…”

“Não sei que ingratidão é essa”, estranhou Janot, em entrevista concedida na Suíça. “O que eu posso dizer é que eu entrei no meu cargo por concurso público, tenho 32 anos de carreira, percorri toda a minha carreira, estou em final de carreira e se eu devo algo a alguém, esse meu cargo, é a minha família.”

Há dois dias, Lula era celebrado por auxiliares de Dilma e dirigentes do PT como o personagem que tiraria o governo do caos. Conseguiu. Com a ajuda de Moro, Lula levou a administração petista para o brejo. Deslizando sobre terreno movediço, a Jararaca está em apuros.

Já empossada, a víbora aguarda o desfecho da batalha judicial que sua nomeação causou para saber se poderá ou não ocupar a Casa Civil da Presidência. Se tudo der certo, será submetido ao crivo de um procurador que não lhe deve nada e de magistrados ávidos por demonstrar sua coragem funcional. Se der errado, volta para os braços de Sérgio Moro, na “República de Curitiba”.

Em qualquer hipótese, cresceram muito as chances de a Jararaca levar novas cacetadas na cabeça.

Manifestações populares e desfaçatez

Não chega a ser novidade afirmar que a corrupção, no Brasil, é sistêmica, generalizada. Quase tudo na vida social é sistêmico. Por aqui, são sistêmicos o subdesenvolvimento, o atraso político, a violência, a desfaçatez. Algo novo, mas que tende a tornar-se sistêmico, são as recentes manifestações de rua, as maiores da história do país, que, como a miséria, a criminalidade, o descalabro na saúde e tantas outras mazelas, são solenemente ignoradas pelos donos do poder.

Repetindo velhos chavões da intelectualidade de esquerda, esses senhores e senhoras tentam desqualificar essas manifestações como coisa da classe média, de gente reacionária que tem horror a pobre. Estão redondamente enganados ou, o que é mais provável, nos enganando.

O trabalhador, além do merecido descanso de domingo, não tem dinheiro para pagar seu transporte e o da família até os locais de concentração. Se mal têm dinheiro para se deslocar à procura de trabalho, como esperar que milhões de desempregados participem dos protestos? Além disso, as manifestações espontâneas que estamos presenciando não oferecem transporte fretado, pão com mortadela ou coxinhas de frango providenciados por movimentos e sindicatos governistas. Vai quem quer e, sobretudo, quem pode, quem tem um mínimo de autonomia financeira e política.

Mas, se o descontentamento se restringe à classe média, como explicar a baixíssima popularidade do governo, que, de acordo com as pesquisas, não conta com mais de 10% de aprovação? Haja paciência. Se a classe média não merece o devido respeito, por que gabar-se, como faz o governo, de haver alçado a essa condição 40 milhões de pessoas que viviam na pobreza? Aliás, isso deixou de ser verdade com o crescimento do desemprego e a disparada da inflação, que estão levando essas pessoas de volta a sua condição anterior.

Negar valor à classe média, que, no momento, se mobiliza contra os desmandos e fala em nome da grande maioria dos brasileiros, equivale a negar valor à própria cidadania, à educação e ao raciocínio crítico. Não é a classe média que, além de fomentar o consumo, tem níveis de educação mais razoáveis e, portanto, melhores condições de exercer a cidadania, com discernimento suficiente para forçar mudanças dentro dos parâmetros democráticos? Enquanto o povo se manifesta claramente contra a corrupção, pela valorização do Judiciário e pelo aprimoramento das instituições, as autoridades respondem com reformas limitadas, facilmente abolidas por medidas provisórias ou decretos de conveniência. Na maioria das vezes, prevalece o escárnio.

Voltando à questão dos processos sistêmicos, é obvio que aqueles que prometiam mudanças estruturais e a construção de uma sociedade mais justa não resistiram à podridão sistêmica. Ao ascenderem ao poder, chafurdaram na lama da corrupção e dos expedientes mais retrógrados e vergonhosos para manter o poder. A vergonha do momento é o foro privilegiado.

Receita do golpe petista

Convulsionar a sociedade brasileira em cima da inverdade, de métodos escusos, de práticas criticadas, viola princípios e garantidas constitucionais, viola o direito do cidadão e abre precedentes gravíssimos. Os golpes começam assim
Dilma Rousseff.

SOS Brasil

O mundo olha surpreso para um país que não reconhece mais a si mesmo. Tons dissonantes se misturam à tríade samba, sol e soja da arte brasileira da sobrevivência. E nem mesmo os gênios da bola servem mais para dar um brilho.

Há quatro anos que o país submete a si mesmo a um doloroso processo de limpeza. O início foi em 2012, no esclarecimento do assim chamado mensalão, o pagamento mensal de propina a parlamentares em troca de apoio aos projetos de lei do governo petista.

O mensalão foi uma ruptura. Pela primeira vez na história brasileira, representantes do alto escalão do governo foram detidos, algemados e condenados diante da opinião pública.

O homem que produziu esse milagre, Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), foi eleito pela Time uma das cem personalidades mais influentes do mundo em 2013.

O atual escândalo de corrupção, envolvendo a Petrobras e conhecido pelo nome de Operação Lava Jato, também tem como alvo o PT. É dado como certo que foram desviados 3% do valor dos contratos da empresa. O dinheiro foi lavado e depois repassado a políticos "benévolos".

As recentes investigações mostram, porém, o que a maioria já sabe há muito tempo: a corrupção não é exclusividade do PT. Aparentemente, outros partidos do governo também saíram ganhando. A fila de políticos e empresas diante da Lava Jato era grande.

O que resta fazer se fica claro que não só o governo como também a oposição estão envolvidos no escândalo? Se a cada dia fica mais claro como a corrupção está profundamente ancorada na sociedade? Quem vai poder governar o país se sobre todos os ocupantes de cargos públicos paira a suspeita de serem corruptos?

Uma coisa é certa: a presidente Dilma Rousseff não vai mais conseguir governar por muito tempo. O seu apoio político diminui de forma dramática, mesmo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil. Pois também ele é alvo de uma investigação por corrupção. Por isso que essa jogada pode ser entendida sobretudo como uma ajuda a Lula, pois dá a ele a proteção do foro privilegiado de um membro do governo.

A batalha contra a corrupção é justa e importante, sem dúvida alguma, mas no Brasil ela degenerou numa guerra política. Agora é todos contra todos, e cada um luta pela própria sobrevivência política. E isso é ainda mais trágico porque o país está politica e economicamente paralisado.

Não tem jeito: os políticos vão ter de interromper a batalha suja no lava-jato e negociar uma saída para essa crise – seja eleições antecipadas, seja uma reforma no governo que inclua também outros partidos e se apoie num consenso nacional. Afinal, a Justiça brasileira pode condenar governantes corruptos, mas não pode governar.

O criminoso sempre volta ao local do crime

Quando o ex-presidente Lula mandou que a Justiça “enfiasse o processo dele no cu”, como mostra a gravação do celular da deputada Jandira Feghali, sabia o que estava dizendo. Dias depois, ele voltaria ao Palácio do Planalto como superministro, o mesmo local de onde comandou todos os crimes contra os cofres públicos. Lá, agora, chega como denunciado em vários crimes: lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e formação de quadrilha. Mesmo com todo essa folha corrida, continua sendo apoiado pelo PMDB, um partido de Maria vai com as outras, que não consegue encontrar uma saída ética e política para a crise do país.


Ao desabafar diante do delegado da Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas, que iria ao Janot (Rodrigo Janot, Procurador-geral da República) quando toda essa “porra” acabar, referindo-se as investigações do seu tríplex e do sítio de Atibaia, Lula queria mostrar que tinha intimidade com o procurador. E a comprovação desse convívio também não demorou a aparecer. Saiu da antessala da Procuradoria o nome para assumir o Ministério da Justiça. Quer mais: quando a Dilma foi acuada pelas denúncias do senador Delcídio do Amaral que colocou sob suas costas a responsabilidade pela compra da refinaria de Pasadena, a presidente, em sua defesa, mostrou para todo o país o parecer do Janot que não só a inocentava como livrava a cara de todos os conselheiros da Petrobrás que, à época, lesaram a Petrobrás.

Agora, com a confirmação da delação de Delcídio de que a Dilma esteve à frente das negociações da refinaria é de se perguntar ao Procurador-geral se não foi precipitado o veredito que a inocentou. A recondução de Janot ao cargo de Procurador Geral da República certamente não foi mera coincidência.

É assim que a coisa funciona na republiqueta das bananas. Lula, no poder, vai deitar na sopa. Arrotar prepotência diante dos seus vassalos no Congresso Nacional que tremem de medo de uma provável delação premiada do ex-presidente. Ora, se o Delcídio, ao abrir o bico, criou esse bafafá todo, imagine uma confissão de Lula que chefiou – e chefia – durante mais de uma década essa máfia de políticos e empresários. Não ficaria pedra sobre pedra se tal coisa acontecesse.

Durante os últimos anos, o Lula foi ocupando os espaços no governo porque há muito tempo a Dilma deixou de governar. Prefere os passeios de bicicletas, a modelagem do corpo; as viagens para o exterior onde se hospeda em hotéis luxuosos e restaurante requintados ao trabalho de administrar o país para o qual foi eleita por mais de 50 milhões de pessoas. Dilma traiu todos esses eleitores que, enganados ou não, votaram nela para presidente. Agora, por inépcia e incompetência, vê-se prisioneira dentro do Palácio do Planalto que, na verdade, virou um depósito de futuros presidiários.

Lula se impôs diante dela. Exigiu um cargo com poderes absolutos. É o mesmo que o José Dirceu exerceu para corromper os políticos e seus comparsas petistas que se envolveram no mensalão. Assusta a nação só em pensar que foi desse gabinete que Dirceu e, depois Dilma, comandaram o maior assalto às empresas públicas do país, cujos responsáveis estão sendo condenados pelo juiz Sergio Moro. O ex-presidente escolheu bem o ministério de onde vai comandar novamente a engrenagem do clientelismo porque é por lá que passam os políticos fisiológicos em busca de um troquinho para as sua campanhas.

A valentia de Lula diante do delegado da Polícia Federal era só bravata, como agora os brasileiros veem. Acuado pelo juiz Sérgio Moro, ele foi se esconder embaixo da saia da Dilma, uma atitude covarde, humilhante e desprezível para um homem público. De lá, certamente só sairá para confabular com seus amigos ministros do STF, de quem ele se vangloria de tê-los como afilhados. Afinal de contas, espalha, eles só estão no cargo pela força da sua caneta. Como também ministro, resguardado pelo foro privilegiado, vai discutir com eles de igual para igual. Os crimes cometidos, por enquanto, vão dormir na gaveta dos seus amigos e leais ministros do tribunal.

Como Lula pode exercer o cargo depois de atacar o supremo?

A perguntta se impõe e a resposta torna-se difícil, agravada com a liminar do juiz federal de Brasília, Catta Preta, de embargar sua posse. O conteúdo das gravações comprometem o ex-presidente a um ponto máximo de elasticidade. Ele afirmou, entre outras coisas, que o Supremo Tribunal Federal encontra-se acovardado e propôs à presidente Dilma Rousseff buscar um caminho para influir junto à ministra Rosa Weber, relatora de pedido seu para simplesmente sustar as investigações existentes contra ele.

Lula atacou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chamando-o de ingrato. Em entrevista, Janot rebateu as palavras comuns dirigidas a ele. Merece um destaque especial o recurso de Lula, que estava nas mãos da ministra Rosa Weber. Não está mais. Há cerca de 10 dias ela o despachou, negando o pedido de Lula. Foi esse seu parecer, publicado, aliás com destaque, pelo Estado d São Paulo. Negou medida liminar e, logicamente o remeteu ao plenário do STF. O ex-presidente e a presidente não foram informados desse episódio? Então as assessorias falharam.

O constrangimento ampliou-se com a decisão do juiz Catta Preta. O conflito se agrava e o impasse, principalmente. Impasse que passou a atingir em cheio a presidente da República, aumentando a perspectiva, nesta altura dos fatos, de sua saída do governo. A atmosfera, que era ruim, tornou-se péssima. Carregada ao extremo. O ponto de ruptura aproxima-se aceleradamente. Os argumentos presidenciais não convencem. Só complicam o poder, em plena desestabilização. Quase impossível reverter. Qual o caminho disponível para o Planalto? Nenhum.


A descompressão chamada Lula evaporou-se cedo demais. O que parecia uma solução a curto prazo, pelo contrário, transformou-se num problema enorme. A reação das ruas foi gigantesca e, sobretudo, emocionada. Contra os fatos concretos não cabem argumentos adjetivos. O fim do caminho parece ter chegado. A política é realmente imprevisível. Buscar decifrá-la será eternamente uma tentativa que se repete ao longo do tempo, como é natural. Por falar em tempo, qual será o tempo que resta ao governo?

Dilma Rousseff não chegará até 2018. Quase três anos em política são uma eternidade. A presidente não está conseguindo romper o círculo em que foi aprisionada quando aprisionou a si própria.

E quando chego a esta altura do texto, tomo conhecimento, pela GloboNews, de uma torrente de ações ajuizadas contra a nomeação de Lula. Mais um grande complicador, tanto para o ex-presidente quanto para a atual presidente da República, no momento em que usou a caneta na tentativa de dividir o poder. Como o poder não se divide, o tumulto ocupa o espaço vazio. É o que está acontecendo na véspera do que vier a suceder a fase extremamente crítica que o país atravessa em plena tempestade. Por falar em tempestade, o relator, no STF, do mandado de segurança contra a investidura de Luis Inácio da Silva é o ministro Gilmar Mendes. A presença de Lula no convés pode até afundar o navio.

Atenção à voz das ruas

Acima e além das gravações de grosseiros diálogos do ex-presidente Lula com metade do governo, inclusive a presidente Dilma; superior à guerrinha suja entre Judiciário, Executivo e Legislativo; mais explosivo até do que o clima verificado na Praça dos Três Poderes, esta semana – chama a atenção um perigoso sintoma envolvendo as instituições.

Depois da presença no país inteiro de seis milhões de brasileiros indignados com o governo, domingo passado, dois dias depois, na terça-feira, assistimos aglomerados populares insurgindo-se nas ruas contra os mesmos responsáveis pela baderna nacional. Diante do palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, além de grupos em outras cidades, o povo entendeu de seguir protestando. “Fora Dilma!” só não teve maior agressividade do que o “Fora Lula!” Interpretando: fica difícil para as autoridades constituídas evitar a voz rouca das ruas. A escalada é trágica, se prosseguir nesse diapasão.


Não faz muito tempo que o Comandante do Exército, general Villas Boas, numa entrevista nem tão amena assim, declarou haver apenas uma hipótese de os militares saírem dos quartéis: o tumulto ganhar as ruas. Quer dizer, assaltos a supermercados, depredações maciças de patrimônio público, desmoralização da autoridade e similares.

As imagens do povo demonstrando sua profunda irritação não deixam dúvidas, duas noites atrás. Dessa vez, ainda que em número bem menor, mais se pode aferir o esgotamento dos cidadãos comuns. Não foi diante do fracasso dos transportes de massa nem da falta de água, leite ou energia. Muito mais grave é perceber a explosão coletiva atingindo pessoas, governantes, parlamentares e categorias enredadas em atos de corrupção e incompetência. As manifestações atingem mais do que a falta de gêneros ou necessidades pessoais. Vão diretamente sobre carências éticas e morais, ou seja, visam maus e desmoralizados administradores.

Apesar de um reingresso infeliz nos domínios do poder, teria o Lula condições de dar a volta por cima, ou, como virou moda dizer agora, dar um cavalo de pau na viatura? Pode ser que sim. Experiência não lhe falta. No entanto, além de vir a ocupar um lugar subalterno no governo, chega sob a suspeição de enriquecimento ilícito e debaixo de maciça oposição, além de estar obrigado a enfrentar as piores crises econômicas e políticas de nossa História. Precisará carregar nas costas a presidente Dilma, anda por quase três anos.

De qualquer forma, é bom prestar atenção. Agora, também, para a voz das ruas.

Nero de Garanhuns ainda se acha o Cara



Eu sou a única pessoa que poderia incendiar esse País.
Lula

Dilma decidiu inflar Lula

Dizer que o 13 de março foi a maior manifestação política da história do país é pouco. Ao contrário dos grandes comícios das Diretas, as manifestações de domingo não tiveram participação relevante de governos estaduais, muito menos transporte gratuito. Isso para não mencionar o vexame dos tucanos que tentaram surfar a cena, foram para a Avenida Paulista e ouviram o ronco da rua.

Em 1984, o palanque do Comício da Sé tinha 120 metros quadrados e foi montado pela Paulistur. No do Rio, os palanques foram dois, um só para VIPs, mais um pódio e passarela para os artistas que se acomodavam num prédio próximo. Sinal dos tempos: em 1984, receando vaias da militância petista, o governador de São Paulo, Franco Montoro, chegou ao proscênio ao lado de Lula. (A cena foi coordenada pelo advogado Márcio Thomaz Bastos.) Passou o tempo, e Lula, onipresente nas ruas com seus bonecos infláveis, foi convidado pela doutora Dilma para voltar a Brasília como regente do ocaso do governo e do PT.

O que houve no dia 13 foi povo na rua repudiando o governo e uma oligarquia ferida pela Lava-Jato. A prova disso esteve na beatificação do juiz Sérgio Moro. O paralelo com as Diretas resume-se a uma questão numérica, mas difere nos desdobramentos.

Nos dois casos, a iniciativa caduca se não conseguir dois terços dos votos dos deputados. Em 1984 caducou, pois, apesar de ter conseguido 298 votos, faltaram-lhe 22. Hoje 171 votos dos 518 deputados seriam suficientes para arquivar o pedido.

Admita-se que, num improvável gesto de ousadia dos oligarcas, o impeachment seja mandado ao arquivo. Em 1984, o arquivamento da emenda fechou a porta. Hoje há outra. É a possibilidade da cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os dois processos têm origens diversas. O impedimento está ancorado nas pedaladas fiscais. O TSE julgará a conexão das contas da campanha da doutora com as propinas confessadas por empresários e políticos. A votação do impeachment ocorrerá antes do julgamento. Entre um e outro, poderá ressurgir o grito de Diretas Já, pois, nesse caso, seriam convocadas eleições para até 90 dias depois da sentença.

O ministro Jaques Wagner tem toda a razão quando diz que a Operação Lava-Jato está criminalizando a política. Ele e o PT não perceberam que o juiz Moro está botando na cadeia criminosos que se meteram em transações políticas para atacar a bolsa da Viúva. Quem criminalizou a política foram os criminosos, seguindo um velho hábito da oligarquia. O PT se meteu nesse jogo porque quis.

Jaques Wagner atribui o tamanho do 13 de março à crise econômica. Novamente, tem razão, mas expõe a ruína do governo. Essa crise foi inteiramente fabricada pela doutora Dilma e pelo comissariado. Pode-se dizer que ela não sabia que o PT tinha uma cloaca de pixulecos. (Isso seria o mesmo que dizer que o presidente Medici não sabia das torturas do Doi, onde esteve a Estela-Dilma em 1970.) No caso da crise econômica, a responsabilidade é dela, e só dela.

Os críticos da Lava-Jato repetem com frequência que a Operação Mãos Limpas italiana levou ao poder o teatral Silvio Berlusconi. Se as coisas continuarem dando errado, o PT poderá pensar que Lula é o seu Berlusconi.

Elio Gaspari

Retrato de corpo inteiro do que é e sempre foi o ex-presidente Lula

O ex-presidente Lula, em depoimento à Polícia Federal de São Paulo, se considerou vítima de “sacanagem homérica”. Trata-se de uma contradição em termos (“contradictio in adjecto”). O adjetivo “homérico” se deve ao poeta grego Homero, que teria vivido entre os séculos VII e VIII a.C. É utilizado para exprimir os grandes feitos, ou seja, um fato heroico, grandioso ou épico. Autor das epopeias “A Ilíada” e “Odisseia”, foi o responsável pelo “período homérico”.

“Sacanagem”, segundo o “Dicionário Aurélio”, é devassidão, bandalheira, libertinagem. E “sacana” é aquele que não tem caráter. É o mesmo que canalha, patife, malandro, sabido, espertalhão. Deduz-se, então, que, para o ex-presidente, a sua convocação, para depor na PF, é fruto da devassidão ou da bandalheira que tomaram conta do país, mas, sobretudo, da PF. Para esta, a sua convocação para depor foi, de fato, um grande feito da instituição. É mais uma confirmação de que, na República, “todos são iguais perante a lei”. Na verdade, a PF só exibiu a nudez do rei.

Dediquei-me, leitor, na última segunda-feira, a ler – da primeira à última linha (são 109 páginas!) – o depoimento que o ex-presidente Lula prestou à Polícia Federal. Exausto, depois dessa incrível xaropada, uma só pergunta me pedia resposta: como o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva pôde chegar aonde chegou? E concluí que a arrogância e a esperteza foram os “atributos” responsáveis pela sua eleição e reeleição à Presidência da República, somados, obviamente, à ausência, muitas vezes consciente, dos que tinham, em todos os setores da vida nacional, o dever de “cuidar” do nosso país. Lula, inicialmente apoiado por operários, estudantes, professores, intelectuais, jornalistas, empresários e religiosos de renome etc., deixou uma banana para todos.

Quem errou mais? Ele ou eles? E nesses “eles” também me incluo. Cheguei a ter esperanças no ex-torneiro mecânico. O depoimento do ex-presidente à PF é um retrato fiel do que é e sempre foi. Ele, afinal, concedeu – de corpo inteiro – a maior “entrevista” da sua vida. Ela transita entre o pseudodrama e a comédia. Com certeza, será encenada num dos palcos do nosso criativo teatro.

Milhões de brasileiros, no último domingo, se voltaram contra a presidente Dilma, contra o ex-presidente Lula, contra o PT e contra a corrupção. Aos políticos, deixaram um recado claro de que não mais tolerarão os corruptos ou enganadores. E deram força à operação Lava Jato e ao juiz Sérgio Moro. Foram pacíficos e ordeiros. Deixaram gravada para sempre, na história, sua fé nas instituições democráticas.

Por fim, as manifestações do último dia 13 não só legitimaram o atual Congresso Nacional, mas o convocaram para a nobre missão de recolocar o país nos trilhos mediante o cumprimento do que estabelece a Constituição de 1988. Nada de semipresidencialismo ou semi-parlamentarismo. Sempre fui parlamentarista, mas a decisão sobre o sistema de governo é atribuição de um plebiscito, que pode ser convocado de novo. O governo da presidente Dilma acabou, desintegrou-se, e a ida do ex-presidente Lula para um ministério será a pá de cal sobre o moribundo.

Torçamos para que Dilma e Lula entendam que o fim chegou e que já passou da hora de libertarem o povo. E aqui me refiro, em especial, aos que ainda os apoiam. Ambos tiveram a sua vez. Não souberam conduzir o país ao seu destino de prosperidade, felicidade e paz. À presidente Dilma, porém, ainda resta um gesto – o da renúncia.

Daqui pra frente

A partir de uma semana como esta, com tantas notícias de última hora — instalação da comissão do impeachment na Câmara, a explosiva delação de Delcídio e até Lula num ministério (escrevo quando ainda não tinha sido oficializado) — tudo pode ser diferente. Ou não.

Diante do futuro imprevisível de um governo inteiramente desorientado, quem ousa arriscar previsões? Prefiro fazer como Glória Pires na entrega do Oscar: não sou capaz de opinar. A não ser sobre a impressionante manifestação de domingo, considerada impecável do ponto de vista cívico. Achei bacana, gostei muito, incrível.


Falando sério: além de ter sido o maior espetáculo do gênero no país, me impressionou o seu caráter apartidário, revelado pela hostilidade aos tucanos Geraldo Alckmin e Aécio Neves e à peemedebista Marta Suplicy, xingados e obrigados a sair com seguranças.

Por um lado, o incidente demonstrou a autonomia dos participantes em relação a qualquer partido; mas, por outro, pode ser um sinal que preocupa, o de que a rejeição aos políticos está se transformando em rejeição à política. Quando isso acontece, é grande o risco de surgir um salvador da pátria.

O sebastianismo é uma herança portuguesa muito forte. Costuma-se admirar o carisma como virtude, quando é apenas uma característica de personalidade nem sempre positiva, como no caso de alguns ditadores sanguinários.

A solução pós-impeachment de Collor talvez tenha dado certo porque Itamar Franco não era carismático, apenas um cidadão comum, sem aura, mas honrado e sensato. Vocês veem algum novo Itamar no horizonte do possível?

O cenário está tão confuso que a principal reivindicação da jornada de domingo, o impeachment da presidente, é conduzida por alguém contra o qual há mil$ões de motivos para ter o mesmo fim, logo ele que pode vir a sucedê-la, no caso de cassação da chapa pelo TSE.

Confesso que fiquei com pena imaginando Dilma diante da televisão vendo os protestos. Por mais autossuficiente que seja, a presidente deve ter tido seus momentos de fraqueza e amarga solidão com aquela multidão em todo o país gritando “Fora Dilma” — e ela, para evitar isso, não tem a garantia de poder contar nem com o indispensável apoio de 171 dos 513 deputados da Câmara.

O seu desamparo é tanto que apelou para a solução Lula, mesmo sabendo que, assim, estava nomeando um presidente de fato. Resta-lhe a esperança de que as manifestações a seu favor depois de amanhã consigam empatar o jogo ou vencê-lo. De qualquer maneira, o seu destino não vai se resolver nas ruas, por mais importantes que elas sejam como instrumento de pressão.