terça-feira, 3 de agosto de 2021
Resposta da Justiça
Como aqueles arruaceiros de rua que vivem atrás de pretexto para uma briga, o presidente Bolsonaro não passa um dia sem atacar o Supremo Tribunal Federal (STF) e seus ministros. E também afronta a Câmara, que se prepara para vetar a proposta de voto impresso na Comissão Especial montada para estudar o assunto.
Não é preciso ser adivinho para saber que, ao agir com tamanha imprudência, Bolsonaro quer apenas um pretexto para tentar arranjar uma grande confusão no país, diante da possibilidade de perder a eleição presidencial do ano que vem.
A resposta dura do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao abrir inquérito administrativo sobre as ameaças de Bolsonaro à realização de eleições do ano que vem, com seus ataques à urna eletrônica, mostra que suas bravatas estão prestes a se ver às voltas com a Justiça.
Não há evidências de que os bolsonaristas que saíram às ruas no domingo a favor do voto impresso sejam a maioria do eleitorado, como diz o presidente. Nem que Bolsonaro tenha condições de levar as Forças Armadas a apoiar um golpe militar, muito menos por um motivo tão fútil.
O descrédito a que as Forças Armadas foram submetidas diante dos arroubos autoritários de Bolsonaro parece ter levado os militares a repensar esse apoio irrestrito, mesmo que o ministro da Defesa, Braga Netto, pareça infenso ao desgaste. Agora que se entregou ao Centrão, assumindo-se como um de seus membros desde o início de sua carreira política, Bolsonaro não deixou apenas seus seguidores mais radicais de queixo caído, mas também os militares que acreditavam na sua capacidade de lidar com políticos sem se entregar às negociações promíscuas.
Pegue-se o exemplo do sumido general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Como estará se sentindo diante da desmoralização que sofreu com seu grande líder não apenas chamando para dentro do governo o grupo político corrupto que atacava, como dizendo-se ele próprio membro do Centrão?
De qualquer maneira, o que já não seria provável de acontecer, hoje parece uma quimera distante de um golpista inveterado que desde os tempos dos quartéis se acostumou a reivindicar à base de violência e terrorismo. Daí para a busca de um pretexto para tumultuar o panorama político, é um pulo para quem é considerado “incontrolável” pelos próprios companheiros de farda.
Dizer que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso está defendendo a urna eletrônica para favorecer o ex-presidente Lula é simplesmente não conhecer o histórico dos votos do atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No mais recente sobre o assunto, quando o plenário do STF manteve a decisão do relator, ministro Edson Fachin, de anular o processo do triplex do Guarujá julgado na Vara de Curitiba, Barroso seguiu o relator, mas ressalvou que sempre votou pela competência da Vara presidida pelo então juiz Sergio Moro e que se curvava à maioria já estabelecida.
Mesmo assim, fez questão de anotar que considerava que a anulação não se estenderia automaticamente aos demais processos, o que acabou não se concretizando porque o ministro Gilmar Mendes a estendeu a todos os julgamentos de Moro contra Lula. Em vários outros julgamentos, Barroso votou a favor da Lava-Jato e de Moro e pela prisão de Lula quando condenado em segunda instância.
Ontem, Bolsonaro voltou a criticar Barroso, afirmando que ele só foi nomeado para o STF pela presidente Dilma porque defendeu o terrorista italiano Cesare Battisti, caso que interessava ao PT. Recebeu duras respostas na volta do recesso do Judiciário. O presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, lembrou que independência de Poderes não significa impunidade. Também Barroso, presidente do TSE, criticou Bolsonaro indiretamente ao falar sobre os perigos “do populismo, extremismo e autoritarismo”. Segundo Barroso, depois de eleitos, esses líderes “vão desconstruindo, tijolo por tijolo, os pilares da democracia, concentrando poderes no Executivo, procurando demonizar a imprensa, procurando colonizar os tribunais constitucionais que atuam com independência”.
Mais uma vez, Bolsonaro joga com o antipetismo para tentar se colocar como o único capaz de derrotar Lula na eleição do ano que vem. Diante da calamidade que é seu governo, não creio que essa farsa volte a funcionar. Mais fácil os eleitores desgostosos tentarem encontrar uma alternativa aos dois.
As verdades monstruosas de Bolsonaro agregam mais que suas mentiras
Quando Bolsonaro fala ele o faz ao pé do ouvido de cada um dos integrantes da sua base, erroneamente colocada na crítica pública da esquerda como gado. Eles não reagem de maneira uníssona ao seu comando, mas o fazem como uma soma de indivíduos, impulsionados por motivos diversos, pretensões ocultas e abertas, que apenas se somam, miticamente, sem relação com um programa político ou com um destino comum. Bolsonaro não propõe enunciados, mas diatribes lancinantes, que aparentemente o separam, de um lado, da política neolibeal de Guedes e, de outro, da ordem jurídica democrática que não deveria tolerá-lo.
Seu povo não é um gado organizado com destino tocado em direção ao pasto ou ao matadouro, mas são conjuntos dispersos tocados em direção a um grande vazio sem crenças, “num cinza impalpável”, cujo amálgama interior é saber sofrer e impor sofrimentos. Falo aqui, não dos seus eleitores, mas do cerne do bolsonarismo, que é bem pouco fascismo de massas e mais fascismo de somas de indivíduos, que suprem o vazio de ideias do seu líder com respostas de ódio e negação do mundo real.
Eric Hobsbawm num dos seus clássicos (“A era das revoluções”, Paz e Terra, 1977, pgs.322 e segs.) diz que no fim do Século XVIII “a ciência nunca fora tão vitoriosa; o conhecimento nunca fora tão difundido (…), mais de quatro mil jornais informavam os cidadãos do mundo (…), a inventiva humana dava, a cada ano, vôos cada vez mais ousados (…), a lâmpada Argand (1782-4) acabava de revolucionar a iluminação artificial” (…): o gás já passava “ao longo dos intermináveis tubos subterrâneos” e (…) “começava a iluminar as fábricas”, próximas à fome e às doenças que grassavam lúgubres e fétidas nas vielas de Manchester.
Era o sacrifício de milhões para o avanço civilizatório, na época acolhido com benevolência por frases como esta, de Lord Palmerston (1842), sobre a fome: “Senhor, este é o desígnio da Providência!” Era um tempo no qual já se sabia que a terra era plana e era preciso conciliar a necessidade iluminista do progresso pela ciência com a concordância magnânima do Senhor. Ao contrário dos dias que correm, a fé para não perder espaços para a ideologia religiosa, precisava atribuir ao Senhor, tanto a força construtiva da ciência, como a provação pelo sofrimento que a Revolução Industrial levava pela fome.
A longa apresentação de Bolsonaro, das “provas” de fraude nas eleições apuradas pelo TSE, no último dia 29, não passou de mais um ato nada inocente. Em um processo contínuo de desmoralização da República, destinado a compor um discurso para o seu núcleo duro, de caráter político fascista e patologicamente doentio, a sua apresentação visava mais uma vez armá-los para um passo final na sua aventura de semear a desconfiança para aventurar-se no golpe. Esta precisa contar com a indiferença da maioria e com a morte anunciada da consciência republicana.
Nos momentos de crise, a indiferença dos vivos e a morte, como ameaça – logo ali na esquina – é o que gera o ceticismo capaz de assassinar a razão do progresso e erguer a tocha fúnebre da razão perversa. Não só a teoria política, mas a literatura e o cinema também nos remetem para estas quadras da História. É interessante, para desvendar o discurso bolsonariano das mentiras em série, lembrar igualmente das suas verdades pontuais, algumas delas mais construtivas do seu ser político do que as suas mentiras.
Quando Bolsonaro defende a tortura ele fala a verdade e desafia a sociedade, fazendo a passagem dos limites civilizados que poucos ousariam fazer, embora se saiba que milhares de pessoas – religiosas ou não – defendem estes métodos de investigação e domínio sobre o outro, pelas mais diversas razões. Também Bolsonaro “fala a verdade” quando ele diz que Mourão não ajuda, às vezes atrapalha, “mas ele tem que aguentar”, porque a personalidade do Vice-Presidente – como sujeito do golpismo nacional que se apresenta como caçador de corruptos- nao tem mais nenhum motivo para permanecer num Governo apropriado pelo maior grupo de corrupção que opera no país: o “centrão”.
O estado psicológico das pessoas que recebem os discursos de Bolsonaro é constituído a partir do “local” – social e político – dos que o escutam. O que nos parece ridículo e mentiroso, para outros pode ser visto como grandioso e corajoso; o que nos avilta e nos humilha, como alguém precisar aguentar um Presidente que defende a tortura e tem “ataques” insólitos de racismo, pode ser visto por outros como um conforto, para assumirem posições que, em outras circunstâncias históricas, não teriam coragem de fazê-lo; o que nos parece deformação necrófila, para outros pode ser a celebração de um sentimento pervertido da vida.
Este estado é mais de um estado de embriaguez permanente do que um estado de abatimento político; é mais um convívio com o próprio mal que habita e domina as suas cabeças, do que uma passagem por um delírio eventual. Bolsonaro não é um fascista “antigo” gerado pela crise do sistema do capital, mas é um político cujo fascismo “novo tipo”, lida com as subjetividades dominadas pelo mercado e pelo fim da identidade operária clássica, que ameaçava o capitalismo com a ideia de uma sociedade “do comum” e da autogestão do trabalho e da produção.
Marlowe, o personagem de Conrad no “Coração nas Trevas”, ao falar na compulsão da morte como existência-limite, diz que ela é a “peleja mais tranquila que se possa imaginar, “um cinza impalpável com um nada sobre os pés” (…), “sem clamor, sem glória, sem o grande desejo de vitória, sem o grande temor da derrota, em uma atmosfera doentia de ceticismo tépido, sem muita crença nos próprios direitos, e menos ainda nos direito dos adversários.”
Pensei, quando reli este texto, nesta época áspera e regressiva, que tal descrição poderia encerrar uma dupla compreensão: de um lado, da técnica fascista de “naturalização do mal”; de outro, da política necrófila como vulgarização das ideias de fatalidade e destino glorioso. Ambas capazes de conquistar, tanto os entristecidos pelo fracasso como os solitários sem destino, que o capital joga nas ruas todos os dias: ao frio, à fome e à deserção. Enfrentar a decomposição fascista do Estado e da Política destituindo Bolsonaro não é apenas mais uma proposta de unidade democrática, mas a única via de sobrevivência do que nos resta de República.
Seu povo não é um gado organizado com destino tocado em direção ao pasto ou ao matadouro, mas são conjuntos dispersos tocados em direção a um grande vazio sem crenças, “num cinza impalpável”, cujo amálgama interior é saber sofrer e impor sofrimentos. Falo aqui, não dos seus eleitores, mas do cerne do bolsonarismo, que é bem pouco fascismo de massas e mais fascismo de somas de indivíduos, que suprem o vazio de ideias do seu líder com respostas de ódio e negação do mundo real.
Eric Hobsbawm num dos seus clássicos (“A era das revoluções”, Paz e Terra, 1977, pgs.322 e segs.) diz que no fim do Século XVIII “a ciência nunca fora tão vitoriosa; o conhecimento nunca fora tão difundido (…), mais de quatro mil jornais informavam os cidadãos do mundo (…), a inventiva humana dava, a cada ano, vôos cada vez mais ousados (…), a lâmpada Argand (1782-4) acabava de revolucionar a iluminação artificial” (…): o gás já passava “ao longo dos intermináveis tubos subterrâneos” e (…) “começava a iluminar as fábricas”, próximas à fome e às doenças que grassavam lúgubres e fétidas nas vielas de Manchester.
Era o sacrifício de milhões para o avanço civilizatório, na época acolhido com benevolência por frases como esta, de Lord Palmerston (1842), sobre a fome: “Senhor, este é o desígnio da Providência!” Era um tempo no qual já se sabia que a terra era plana e era preciso conciliar a necessidade iluminista do progresso pela ciência com a concordância magnânima do Senhor. Ao contrário dos dias que correm, a fé para não perder espaços para a ideologia religiosa, precisava atribuir ao Senhor, tanto a força construtiva da ciência, como a provação pelo sofrimento que a Revolução Industrial levava pela fome.
A longa apresentação de Bolsonaro, das “provas” de fraude nas eleições apuradas pelo TSE, no último dia 29, não passou de mais um ato nada inocente. Em um processo contínuo de desmoralização da República, destinado a compor um discurso para o seu núcleo duro, de caráter político fascista e patologicamente doentio, a sua apresentação visava mais uma vez armá-los para um passo final na sua aventura de semear a desconfiança para aventurar-se no golpe. Esta precisa contar com a indiferença da maioria e com a morte anunciada da consciência republicana.
Nos momentos de crise, a indiferença dos vivos e a morte, como ameaça – logo ali na esquina – é o que gera o ceticismo capaz de assassinar a razão do progresso e erguer a tocha fúnebre da razão perversa. Não só a teoria política, mas a literatura e o cinema também nos remetem para estas quadras da História. É interessante, para desvendar o discurso bolsonariano das mentiras em série, lembrar igualmente das suas verdades pontuais, algumas delas mais construtivas do seu ser político do que as suas mentiras.
Quando Bolsonaro defende a tortura ele fala a verdade e desafia a sociedade, fazendo a passagem dos limites civilizados que poucos ousariam fazer, embora se saiba que milhares de pessoas – religiosas ou não – defendem estes métodos de investigação e domínio sobre o outro, pelas mais diversas razões. Também Bolsonaro “fala a verdade” quando ele diz que Mourão não ajuda, às vezes atrapalha, “mas ele tem que aguentar”, porque a personalidade do Vice-Presidente – como sujeito do golpismo nacional que se apresenta como caçador de corruptos- nao tem mais nenhum motivo para permanecer num Governo apropriado pelo maior grupo de corrupção que opera no país: o “centrão”.
O estado psicológico das pessoas que recebem os discursos de Bolsonaro é constituído a partir do “local” – social e político – dos que o escutam. O que nos parece ridículo e mentiroso, para outros pode ser visto como grandioso e corajoso; o que nos avilta e nos humilha, como alguém precisar aguentar um Presidente que defende a tortura e tem “ataques” insólitos de racismo, pode ser visto por outros como um conforto, para assumirem posições que, em outras circunstâncias históricas, não teriam coragem de fazê-lo; o que nos parece deformação necrófila, para outros pode ser a celebração de um sentimento pervertido da vida.
Este estado é mais de um estado de embriaguez permanente do que um estado de abatimento político; é mais um convívio com o próprio mal que habita e domina as suas cabeças, do que uma passagem por um delírio eventual. Bolsonaro não é um fascista “antigo” gerado pela crise do sistema do capital, mas é um político cujo fascismo “novo tipo”, lida com as subjetividades dominadas pelo mercado e pelo fim da identidade operária clássica, que ameaçava o capitalismo com a ideia de uma sociedade “do comum” e da autogestão do trabalho e da produção.
Marlowe, o personagem de Conrad no “Coração nas Trevas”, ao falar na compulsão da morte como existência-limite, diz que ela é a “peleja mais tranquila que se possa imaginar, “um cinza impalpável com um nada sobre os pés” (…), “sem clamor, sem glória, sem o grande desejo de vitória, sem o grande temor da derrota, em uma atmosfera doentia de ceticismo tépido, sem muita crença nos próprios direitos, e menos ainda nos direito dos adversários.”
Pensei, quando reli este texto, nesta época áspera e regressiva, que tal descrição poderia encerrar uma dupla compreensão: de um lado, da técnica fascista de “naturalização do mal”; de outro, da política necrófila como vulgarização das ideias de fatalidade e destino glorioso. Ambas capazes de conquistar, tanto os entristecidos pelo fracasso como os solitários sem destino, que o capital joga nas ruas todos os dias: ao frio, à fome e à deserção. Enfrentar a decomposição fascista do Estado e da Política destituindo Bolsonaro não é apenas mais uma proposta de unidade democrática, mas a única via de sobrevivência do que nos resta de República.
Brasil é o país do mundo que se sente mais abandonado pelos que o governam
Entre os 25 países do mundo com maiores problemas e que se sentem em declínio e desamparados pelos que os governam, o Brasil está em primeiro lugar. De cada 10 brasileiros, 7 afirmam se sentir abandonados e em crise política, segundo o estudo Broken Sentiment 2021 do Ipsos divulgado dias atrás pela BBC Brasil.
Somente a Hungria e a África do Sul aparecem com índices de abandono da sociedade por parte de seus governantes parecidos ao Brasil. Segundo os responsáveis pela pesquisa, hoje quase todos os países do mundo revelam um sentimento de que os governantes trabalham somente para os mais poderosos e em proveito próprio, mas em nenhum país essa crítica aos governantes aparece tão forte como no Brasil. Os sentimentos da maioria da população são de “decepção e insegurança”.
74% dos brasileiros apelam, como remédio, à chegada de um líder forte que tire o país das mãos dos ricos e poderosos. De acordo com a pesquisa, esse líder deve ser capaz de “quebrar as regras e deve ser alguém de fora das instituições”. Isso indica, principalmente no Brasil, uma certa nostalgia pelos tempos da ditadura que hoje são vistos pelos mais desiludidos com a política como tempos de “ordem e sem corrupção”, algo que já sabemos que é falso.
Desse modo, se explica a alma do bolsonarismo alimentado hoje por seu líder com seus instintos de quebrar as instituições democráticas, de impor o autoritarismo e do uso da mentira e das fake news que, no melhor estilo do nazismo, repetidas mil vezes acabam parecendo verdade. O último exemplo de Bolsonaro é sua obstinação em afirmar que as urnas eletrônicas não são confiáveis nas eleições, sem nenhum fundamento já que são usadas e consideradas como as mais seguras na maior parte dos países civilizados e democráticos.
Por isso parece cada dia mais claro que a ideologia bolsonarista não só é conservadora e de extrema direita liberal, como tem em suas bases ligações com o neonazismo, como revela a antropóloga Adriana Dias, uma das maiores pesquisadoras do mundo sobre nazismo. Ao site The Intercept, a pesquisadora contou que encontrou referências a Bolsonaro em sites neonazistas datadas de 18 anos atrás, quando ele era ainda apenas um obscuro deputado. Isso é uma confirmação clara de que a parte da base bolsonarista tem ligações neonazistas.
Não ajudou o vergonhosa foto de dias atrás em que o presidente Bolsonaro com a deputada Beatriz von Storck, da extrema direita alemã, neta do ministro das Finanças de Hitler, que tanto peso teve no genocídio judeu, o mais bárbaro e emblemático da história. Na foto ela está abraçada ao presidente Bolsonaro que mostra com um largo sorriso uma felicidade sem dissimulação e que, diante das críticas, se sentiu surpreso por alguém estranhar seu encontro com a líder nazista.
Assim se explicam as falas no Congresso, anos atrás, quando defendia a ditadura militar e elogiava os torturadores. E se explica sua atitude diante da pandemia da covid-19, que deixou 556.000 vítimas no Brasil, que lhe rendem a alcunha de genocida. Isso porque sua atitude diante da pandemia não foi só negacionista. Foi algo pior que deverá ser melhor estudado.
Sua atitude leva a sombra do espírito de extermínio dos mais fracos e dos que não são úteis ao trabalho como os doentes graves e os idosos. Nenhum problema em que morram todos os que não são úteis ao trabalho, o que economizaria o gasto em aposentadorias. Pelo contrário, defendeu com certo orgulho que os atletas e fortes como ele sequer seriam infectados. Toda sua atitude, na pandemia e até agora com a luta contra as vacinas, reflete os ecos de uma ideologia que desprezava os diferentes.
Não é, portanto, estranho que os que estão na luta pela defesa dos indígenas sejam hoje perseguidos pelo bolsonarismo raiz. Esses indígenas que eram os donos destas terras até serem colonizados pelos europeus são vistos hoje pelo bolsonarismo como inúteis e até como um estorvo que o impedem de tomar a Amazônia para transformá-la em um campo que pode ser explorado pelo capitalismo selvagem.
Toda essa política de Bolsonaro, que já está provado que não sabe e não quer governar usando os cânones da democracia, aparece cada dia mais evidente. Seu sonho é quebrar as instituições democráticas para poder se perpetuar no poder absoluto no melhor exemplo dos piores ditadores e é isso o que hoje sente a grande maioria da sociedade brasileira e causa preocupação mundial, essa sensação de abandono, de insegurança, de desesperança e de medo de uma quebra não só econômica, e sim de valores.
70% do Brasil hoje tem a consciência de estar órfão de liderança democrática, sem esperanças no futuro, cada vez mais devorado pela crise econômica e de valores, com filas de famílias disputando restos de comida que os mercados jogam no lixo porque sofrem de fome e desemprego.
O Brasil hoje sabe que a educação está em crise, como a cultura e a segurança pública. Sabem muito bem os que são diferentes e cada vez mais perseguidos e, principalmente, não enxergam uma saída digna e esperançosa no horizonte. Isso é o que arrasta os brasileiros a um sentimento de decepção, às vezes de desprezo e até de hostilidade aos seus governantes incapazes de apresentar a eles uma alternativa que defenda os valores da democracia capaz de abraçar todas as categorias sociais, oferecendo as oportunidades para melhorar na vida e poder sonhar com um futuro digno para eles e seus filhos.
O que o estudo do Ipsos, que coloca o Brasil como o país do mundo com maior grau de desilusão ao presente e ao futuro e com o perigo de apostar em governos autoritários e nazifascistas, nos revela é como é possível que diante do crescimento da política nefasta do bolsonarismo nesse país, as instituições democráticas apareçam passivas e até indiferentes. Não se explica por que o Congresso e a Justiça parecem paralisados quando não indiferentes diante do crescimento evidente de uma involução autoritária e destrutiva dos valores civilizatórios, que ninguém sabe para aonde podem levar o país.
Há momentos para um povo que, como a história nos ensina, são definitivos para determinar se escolhe-se o caminho da convivência pacífica e construtiva, da defesa da vida e dos valores que permitem que todos desfrutem dos direitos libertadores, não só os privilegiados, ou fica-se de olhos fechados. São momentos sem volta se não existir a capacidade de usar a tempo o bisturi para extirpar o mal do neonazismo que parece querer reviver novamente. Uma política de destruição e culto da mentira que ameaça não só a convivência pacífica como tenta extirpar o que há de melhor e mais nobre no ser humano para arrastá-lo aos tempos sombrios da barbárie que a humanidade já experimentou e que parece querer erguer novamente sua bandeira de morte e destruição.
Que o Brasil apareça na pesquisa na liderança desse declínio civilizatório e do medo do presente e do futuro é algo que deveria fazer refletir os que ainda têm em suas mãos a possibilidade de impedir que o barco da esperança possa naufragar sem possibilidade de retorno.
Somente a Hungria e a África do Sul aparecem com índices de abandono da sociedade por parte de seus governantes parecidos ao Brasil. Segundo os responsáveis pela pesquisa, hoje quase todos os países do mundo revelam um sentimento de que os governantes trabalham somente para os mais poderosos e em proveito próprio, mas em nenhum país essa crítica aos governantes aparece tão forte como no Brasil. Os sentimentos da maioria da população são de “decepção e insegurança”.
74% dos brasileiros apelam, como remédio, à chegada de um líder forte que tire o país das mãos dos ricos e poderosos. De acordo com a pesquisa, esse líder deve ser capaz de “quebrar as regras e deve ser alguém de fora das instituições”. Isso indica, principalmente no Brasil, uma certa nostalgia pelos tempos da ditadura que hoje são vistos pelos mais desiludidos com a política como tempos de “ordem e sem corrupção”, algo que já sabemos que é falso.
Desse modo, se explica a alma do bolsonarismo alimentado hoje por seu líder com seus instintos de quebrar as instituições democráticas, de impor o autoritarismo e do uso da mentira e das fake news que, no melhor estilo do nazismo, repetidas mil vezes acabam parecendo verdade. O último exemplo de Bolsonaro é sua obstinação em afirmar que as urnas eletrônicas não são confiáveis nas eleições, sem nenhum fundamento já que são usadas e consideradas como as mais seguras na maior parte dos países civilizados e democráticos.
Por isso parece cada dia mais claro que a ideologia bolsonarista não só é conservadora e de extrema direita liberal, como tem em suas bases ligações com o neonazismo, como revela a antropóloga Adriana Dias, uma das maiores pesquisadoras do mundo sobre nazismo. Ao site The Intercept, a pesquisadora contou que encontrou referências a Bolsonaro em sites neonazistas datadas de 18 anos atrás, quando ele era ainda apenas um obscuro deputado. Isso é uma confirmação clara de que a parte da base bolsonarista tem ligações neonazistas.
Não ajudou o vergonhosa foto de dias atrás em que o presidente Bolsonaro com a deputada Beatriz von Storck, da extrema direita alemã, neta do ministro das Finanças de Hitler, que tanto peso teve no genocídio judeu, o mais bárbaro e emblemático da história. Na foto ela está abraçada ao presidente Bolsonaro que mostra com um largo sorriso uma felicidade sem dissimulação e que, diante das críticas, se sentiu surpreso por alguém estranhar seu encontro com a líder nazista.
Assim se explicam as falas no Congresso, anos atrás, quando defendia a ditadura militar e elogiava os torturadores. E se explica sua atitude diante da pandemia da covid-19, que deixou 556.000 vítimas no Brasil, que lhe rendem a alcunha de genocida. Isso porque sua atitude diante da pandemia não foi só negacionista. Foi algo pior que deverá ser melhor estudado.
Sua atitude leva a sombra do espírito de extermínio dos mais fracos e dos que não são úteis ao trabalho como os doentes graves e os idosos. Nenhum problema em que morram todos os que não são úteis ao trabalho, o que economizaria o gasto em aposentadorias. Pelo contrário, defendeu com certo orgulho que os atletas e fortes como ele sequer seriam infectados. Toda sua atitude, na pandemia e até agora com a luta contra as vacinas, reflete os ecos de uma ideologia que desprezava os diferentes.
Não é, portanto, estranho que os que estão na luta pela defesa dos indígenas sejam hoje perseguidos pelo bolsonarismo raiz. Esses indígenas que eram os donos destas terras até serem colonizados pelos europeus são vistos hoje pelo bolsonarismo como inúteis e até como um estorvo que o impedem de tomar a Amazônia para transformá-la em um campo que pode ser explorado pelo capitalismo selvagem.
Toda essa política de Bolsonaro, que já está provado que não sabe e não quer governar usando os cânones da democracia, aparece cada dia mais evidente. Seu sonho é quebrar as instituições democráticas para poder se perpetuar no poder absoluto no melhor exemplo dos piores ditadores e é isso o que hoje sente a grande maioria da sociedade brasileira e causa preocupação mundial, essa sensação de abandono, de insegurança, de desesperança e de medo de uma quebra não só econômica, e sim de valores.
70% do Brasil hoje tem a consciência de estar órfão de liderança democrática, sem esperanças no futuro, cada vez mais devorado pela crise econômica e de valores, com filas de famílias disputando restos de comida que os mercados jogam no lixo porque sofrem de fome e desemprego.
O Brasil hoje sabe que a educação está em crise, como a cultura e a segurança pública. Sabem muito bem os que são diferentes e cada vez mais perseguidos e, principalmente, não enxergam uma saída digna e esperançosa no horizonte. Isso é o que arrasta os brasileiros a um sentimento de decepção, às vezes de desprezo e até de hostilidade aos seus governantes incapazes de apresentar a eles uma alternativa que defenda os valores da democracia capaz de abraçar todas as categorias sociais, oferecendo as oportunidades para melhorar na vida e poder sonhar com um futuro digno para eles e seus filhos.
O que o estudo do Ipsos, que coloca o Brasil como o país do mundo com maior grau de desilusão ao presente e ao futuro e com o perigo de apostar em governos autoritários e nazifascistas, nos revela é como é possível que diante do crescimento da política nefasta do bolsonarismo nesse país, as instituições democráticas apareçam passivas e até indiferentes. Não se explica por que o Congresso e a Justiça parecem paralisados quando não indiferentes diante do crescimento evidente de uma involução autoritária e destrutiva dos valores civilizatórios, que ninguém sabe para aonde podem levar o país.
Há momentos para um povo que, como a história nos ensina, são definitivos para determinar se escolhe-se o caminho da convivência pacífica e construtiva, da defesa da vida e dos valores que permitem que todos desfrutem dos direitos libertadores, não só os privilegiados, ou fica-se de olhos fechados. São momentos sem volta se não existir a capacidade de usar a tempo o bisturi para extirpar o mal do neonazismo que parece querer reviver novamente. Uma política de destruição e culto da mentira que ameaça não só a convivência pacífica como tenta extirpar o que há de melhor e mais nobre no ser humano para arrastá-lo aos tempos sombrios da barbárie que a humanidade já experimentou e que parece querer erguer novamente sua bandeira de morte e destruição.
Que o Brasil apareça na pesquisa na liderança desse declínio civilizatório e do medo do presente e do futuro é algo que deveria fazer refletir os que ainda têm em suas mãos a possibilidade de impedir que o barco da esperança possa naufragar sem possibilidade de retorno.
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