terça-feira, 20 de outubro de 2015

Dima Cunha Rapel abismo pendurado corda faca cortar queda

Adeus às ilusões

Um grupo de intelectuais e artistas se reuniu em São Paulo para fazer um manifesto contra a possibilidade de impeachment da Dilma. Estão no direito deles, claro. Ninguém sabe se o impeachment será bom ou ruim para o país. Talvez eles tenham razão. Quem sabe? Mas, por trás da luta contra o impeachment, existe uma negação clara da grande crise política que vivemos. As instituições são acusadas de serem usadas pela “direita”, como disse um deles: o TCU é um bando de políticos fracassados.

Outro escreveu há dias que as marchas populares de junho e as deste ano foram uma manifestação de “gente de direita”. Segundo ele, 1 milhão de “direitistas” querem destruir o sagrado ninho da história que é o PT. Outro autografou um livro de presente para o Maduro. Que interstícios percorrem as ideias dentro de suas mentes, para negar tudo que está acontecendo hoje? Não conseguem fazer uma reles autocrítica de suas crenças. Mudar de ideia é considerado traição. É uma visão paranoica de que o país está tomado por “fascistas” que querem tirar o PT do poder. Eu, por exemplo, não sou fascista (dirão meus inimigos: reacionário neoliberal), mas quero ver o lulopetismo fora do poder. Eles estão desmanchando tudo que era sólido em nome de uma fé paralítica. Negam-se a ver que a corrupção virou um sistema político. Não só roubaram bilhões em conluio com aliados ladrões, como também roubaram nossos mais generosos sentimentos. A crise destrói o país e muda nossas mentes e corações. Cada um leva consigo uma forma de melancolia. É a grande neurose nacional do “que fazer?”.


Os petistas têm uma visão de mundo deturpada por conceitos compartimentados e acusatórios: luta de classes, culpados e inocentes, traidores e traídos. Stálin: “A humanidade está dividida entre ricos e pobres, proprietários e explorados. Subestimar esta divisão significa abstrair-se dos fatos fundamentais”. Ou Lênin: “Qualquer cozinheiro devia ser capaz de governar um país”.

Só veem vítimas e carrascos. Preocupam-se mais com as ossadas do Araguaia do que com o futuro de nossa anomalia atual.

O filósofo João Pereira Coutinho disse outro dia na “Folha de S.Paulo” uma frase ótima: “Oprimido e opressor não esgotam as relações humanas possíveis, mesmo as desiguais. A luta de classes é uma escolha política, não um dado natural” – na mosca.

Não arredaram os pés dos velhos dogmas da era stalinista, como, aliás, os antigos comunas fizeram desde quando se recusaram a votar nos social-democratas alemães, fazendo Hitler subir ao poder. Já em 1924, Stálin chegou a afirmar: “O fascismo e a social-democracia não são inimigos, mas irmãos gêmeos”. A verdade é que os petistas nunca acreditaram na “democracia burguesa”. Eu me lembro de mim mesmo no tempo da UNE, quando usávamos a palavra “democracia” apenas como estratégia para avançar na “linha justa”. “Vamos fingir que acreditamos na democracia para depois extirpá-la”. Assim pensávamos, e eles pensam assim até hoje; como disse uma filósofa: “Hoje não vamos perder a luta, pois antes da ditadura éramos inexperientes, mas hoje não somos mais”. É “um janguismo mesclado com toques de bolivarianismo”.

Até agora governaram um país capitalista com regras e métodos anticapitalistas – dá no desastre econômico a que assistimos. Pedem a volta da nova matriz econômica que quebrou o país. Como é que pode?

Alguns intelectuais ficam “angustiadinhos”: “Ah... Eu tinha um sonho... que se esfumou...” – choram os militantes imaginários, e nada fazem. A covardia intelectual é grande. Há o medo de ser chamado de “reacionário” ou de “careta”. Continuam ativos os três tipos exemplares de “radicais”: os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os burros e os loucos. Uns bebem e falam em revolução; outros zurram; e os terceiros alucinam.

Acham que a complexidade é um complô contra eles, acham a circularidade inevitável da vida uma armação do neoliberalismo internacional. Para eles, “administrar” é visto como ato menor, até meio reacionário, pois administrar é manter, preservar – coisa de capitalistas.

Estamos diante de um momento histórico gravíssimo, com os dois tumores gêmeos de nossa doença: a direita do atraso e a esquerda do atraso. Como escreveu Bobbio, se há uma coisa que une esquerda e direita é o ódio à democracia.

Esta crise é tão sintomática, tão exemplar para a mudança do país, que não podia ser desperdiçada pelos pensadores livres. É uma tomografia que mostra as glândulas, as secreções do corpo brasileiro – um diagnóstico completo. Esse espasmo de verdade, essa explosão de nossas vísceras, talvez seja perdida, porque as manobras do atraso de “direita” e do atraso de “esquerda” trabalham unidos para que a mentira vença.

E intelectuais sérios, os artistas famosos e as celebridades não entendem isso, não abrem a boca.

Não veem a reestatização da economia, o inchamento maior ainda da maquina pública, a destruição das agências reguladoras, da Lei de Responsabilidade Fiscal, em busca de um getulismo tardio, uma visão do Estado como centro de tudo. Quem quiser alguma positividade é “traidor”. No Brasil, a palavra “esquerda” continua o ópio dos intelectuais.

E por cima deles, nos colóquios, nos seminários, nas universidades, flutuam os discursos de análise política límpidos, a sociologia infalível, a orgulhosa ostentação da verdade. “Nós sabemos a verdade: está tudo claro em nossas teses de doutorado. O problema é que o Brasil não se curva a nossas teses...”.

Não admitem que um “choque de capitalismo” seria a única bomba a arrebentar a casamata paralítica do Estado inchado, gastador e ineficiente e que isso seria muito mais progressista que velhas ideias finalistas, esse “platonismo” de galinheiro. Quem tem coragem?

O Brasil evolui pelo que perde, e não pelo que ganha. Sempre houve no país uma desmontagem contínua de ilusões históricas. Com a história em marcha à ré, estranhamente, andamos para a frente. Como?

O Brasil se descobre por subtração, não por soma. Chegaremos a uma vida social mais civilizada quando as ilusões chegarem ao ponto zero.

Os direitos do brasileiro deixaram de caber no orçamento do governo


Todo brasileiro tem direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Quem nasce no Brasil também tem garantido por lei acesso à educação, à saúde, à cultura, a uma aposentadoria. Para aqueles que têm carteira assinada, os direitos são repouso semanal remunerado, seguro-desemprego em caso de demissão e um décimo terceiro salário, entre outros benefícios assegurados pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Nem tudo funciona como o planejado na legislação, mas a conta tem de ser paga mesmo assim: todos esses direitos, ainda que não atendidos, não sairão por menos de 1,43 trilhão de reais no próximo ano. O problema é que o Governo já adiantou que só terá 1,4 trilhão para gastar. De onde sairão os 30 bilhões de reais que faltam para pagar a fatura é a questão sobre a qual se debruçam as autoridades do país. Mas o buraco das contas públicas, alertam os economistas, é bem mais embaixo.

Os gastos do Governo aumentam anualmente e, por isso, dependem do crescimento constante do país, que tem fraquejado nos últimos anos. Em 2014, por exemplo, os gastos subiram 6%, enquanto o Brasil cresceu apenas 0,1%. De quem é a culpa? Para uma ala de economistas, é da Constituição de 1988. Inspirada no Estado de bem-estar social europeu, a Constituição Cidadã é reconhecida pelas garantias que protege, mas é criticada por alguns experts por, segundo eles, projetar uma sociedade irreal. Mas por que o plano funciona na Suécia, e não dá certo no Brasil? Um dos maiores críticos da Carta Magna de 1988, o finado ministro Roberto Campos dava sua explicação em números: a Constituição foi promulgada com a palavra "direito" escrita 76 vezes, mas "dever" aparece em apenas quatro momentos, enquanto "produtividade" e "eficiência" não são mencionadas mais que duas vezes.

Especialista em contas públicas, o economista Fabio Giambiagi escreve em seu Brasil: Raízes do Atraso que "um país é resultado de suas escolhas — e, em 1988, nós fizemos as escolhas erradas", como perpetuar ao longo do tempo medidas que só faziam sentido naquele momento. Giambiagi acrescenta que "mais de um membro daquela Assembleia Nacional Constituinte declarou anos depois que a Constituição teria assumido um perfil bem diferente se ela tivesse sido escrita em 1990, após a queda do mudo de Berlim", que demonstrou o ocaso do projeto soviético. "Como foi escrita antes desse episódio histórico, porém, ela foi uma espécie de 'canto do cisne' do dirigismo distributivista", finaliza.
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A blasfêmia do Porsche de Jesus.com

Como qualificar, desde um ponto de vista de sensibilidade religiosa, a união do nome de Jesus a um Porsche de luxo proporcionada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), membro da Igreja Evangélica? E a situação é ainda pior se existe a suspeita de que a frota de carros, cotados em mais de um milhão de reais, que Cunha possui poderia ser um fruto maldito da corrupção política. Para muitos cristãos deve ter parecido blasfêmia, um vocábulo que, em sua acepção original, significa um “insulto a Deus” e, em seu sentido mais amplo, representa uma irreverência em relação a algo considerado sagrado.

Cunha é, segundo sua biografia,cristão evangélico, de uma igreja que considera Jesus como o filho de Deus. E esse filho de Deus, segundo os textos sagrados, que os evangélicos conhecem e sobre os quais meditam todos os dias, “não tinha onde repousar a cabeça”, era mais um pobre entre os pobres, amigo e defensor de todos os desamparados.


Talvez o político e evangélico Cunha não seja o maior responsável por esse circo de corrupção que suja a vida pública do Brasil e deixa atônitos, com seus números milionários, os trabalhadores honrados que suam para ganhar um salário que quase não é suficiente para cobrir suas necessidades. Cunha pertence, no entanto, a uma igreja, que se inspira nos princípios cristãos, mas que não esconde suas pretensões de conquista do poder político no Brasil, chegando a sonhar com um presidente da República evangélico que se baseie mais na Bíblia do que na Constituição.

Isso faz com que os supostos escândalos de corrupção de Cunha, que poderiam ter circulado através de firmas que levam o nome sagrado de Jesus.com, adquiram um simbolismo negativo que não deixa de chocar e escandalizar duplamente.

Lendo a notícia sobre o Porsche Cayenne registrado em nome da empresa Jesus.com, propriedade da família Cunha, não pude deixar de me perguntar o que pensam essas centenas de milhares de evangélicos sinceros, que, fiéis a seus princípios religiosos, sacrificam, cada mês, de boa fé, uma parte de seus pequenos recursos para alimentar uma Igreja cujos membros mais responsáveis se revelam milionários e, o que é pior, acusados de enriquecimento ilícito.

O fato me trouxe à memória a história de um trabalhador que perfurava poços com uma ferramenta rudimentar e grandes esforços físicos. Levava ao trabalho um pedaço de pão com salsicha para não perder tempo tendo que voltar a casa. Ouvi quando ele comentou, enquanto secava as gotas de suor que escorriam por seu rosto, que aquele mês estava em apuros porque não sabia se ia a poder pagar sua parcela à Igreja evangélica à qual pertencia.

Temia a reprovação do pastor e até o castigo do bom Deus. São dois mundos, que se cruzam e que usam o nome de Jesus, para a esperança e a fé verdadeira, e também para blasfemá-lo. “Raça de víboras”, assim o manso e pobre Jesus dos Evangelhos caracterizava aqueles que, segundo sua própria expressão, “jogavam sobre os ombros dos outros pesos que eles não podiam suportar”.

Dois mil anos depois, aquelas palavras continuam a nos interrogar, enquanto seguem vivos os novos Pilatos que lavam suas mãos ostentando inocência e que ainda se perguntam: “O que é a verdade?”.

Uma questão para a qual os brasileiros honrados, que amam e sofrem seu país, gostariam de poder ter uma resposta nesses momentos difíceis, nos quais as palavras perdem seu valor, ou são degradadas como a de Jesus, com o rótulo blasfemo desse Porsche Cayenne S de luxo.

Até onde e até quando se manterá contida a ira dos mansos que contemplam, incrédulos, cada manhã, a novela de novas supostas e comprovadas desmoralizações por parte daqueles que deveriam servir de guias e exemplos da vida pública?

Jesus, não o do Porsche de Eduardo Cunha, mas o dos Evangelhos, afirmou que a verdade está sempre nas mãos dos puros de coração e dos semeadores da paz. O ódio tem sempre um sabor diabólico.

Sem o SUS, o Brasil retrocederá ao tempo dos indigentes

Não é catastrofismo, mas, na toada em que vamos, ou o povo se levanta em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), ou o Brasil retrocederá ao tempo dos indigentes. O processo está em curso. As ameaças são reais.


Para Marcelo Pellegrini, o “maior sistema público de saúde do planeta, o SUS, é uma obra em demolição”. E relembra que a Agenda Brasil, proposta do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), previa “a possibilidade de cobrança diferenciada de procedimentos do SUS por faixa de renda” (“Projetos em tramitação no Congresso ameaçam a sobrevivência do sistema único”, 15.8.2015). Dilma não caiu na vigarice, mas parou por aí.

O jornalista João Paulo Cunha avalia: “Na recente reforma ministerial, a Saúde entrou como moeda de troca. Saiu um ministro identificado com o SUS e com os valores da reforma sanitária, e entrou um político profissional do mais fisiológico dos partidos, o PMDB. Pode-se argumentar que, como política de Estado, o SUS esteja preservado em sua esfera de atuação. Sabemos que não será assim” (“O SUS é maior que o governo”, 13.10.2015). No Congresso Nacional, tramitam várias propostas que visam minar o SUS, sem esquecer que a presidente sancionou a MP 656, de dezembro de 2014, que permite o capital estrangeiro na saúde!

Dá para imaginar viver num Brasil sem SUS? Sabe o que é morrer à míngua, como um cão sem dono? É um cenário de terror, “como dizia o meu avô, nos moldes do vale o que possui: ‘Quem tem um barraco, um cavalo, um jegue ou um cabrito, quando adoece, vale um barraco, um cavalo, um jegue ou um cabrito!’”. Antes do SUS, eram nossos bichos quem nos salvava na doença, então eu não troco um dia de SUS de hoje, por pior que ele seja, por um da era pré-SUS.

“Na era pré-SUS no Brasil, quem não possuía barraco ou bicho pra vender pra ‘se tratar’ era tipificado como indigente, foco da caridade das antigas Santas Casas, ou morria à míngua. O SUS acabou com a figura do indigente da saúde, mudando radicalmente 500 anos de história do Brasil, quando o doente valia o que possuía” (“O maior mérito do SUS é a extinção do indigente da saúde”, O TEMPO, 24.11.2009).

O SUS, além de ser o maior sistema público de saúde do mundo, é a maior conquista democrática do povo brasileiro! Repito: “O SUS é uma conquista que precisa ser concretizada cotidianamente. Temos problemas de gerenciamento, de incompreensão política dos governos e até de usuários que usam o pronto-socorro até para espirro.

“Outro problema: às 17h, todo lugar que faz consulta na rede pública neste país está fechado! Sou defensora intransigente do terceiro turno no setor de saúde, tanto em postos como em ambulatórios. Se eles funcionassem à noite, as pessoas não precisariam faltar ao trabalho para fazer uma consulta. Ampliaria o número de consultas e geraria mais empregos”.

E mais, a mídia sataniza o SUS. “O falar mal do SUS é muito patente. A mídia está sempre do lado do contra quando tem uma votação que prevê mais dinheiro para o SUS. Ela não quer que o SUS tenha mais dinheiro. Foi assim com a CPMF, ou com qualquer projeto, e teve também um papel decisivo na ampliação dos planos de saúde no Brasil, dourando a pílula. Os planos de saúde venderam uma coisa que não tinham. Venderam tanto que agora deu ‘crap’” (entrevista à “Gazeta do Povo”, 18.12.2011).

Como disse uma mulher numa UPA em São Luís abarrotada de gente, com apenas duas cadeiras reclináveis na sala de medicação: “Se eu visse Dilma, diria: mulher, torne o SUS aquilo que a gente precisa na hora da doença e da morte, que eu quero ver quem vai mexer contigo!”.

República das bananas?

A delação premiada do lobista Fernando Baiano envolve, entre os beneficiários da roubalheira na Petrobras, o presidente do Senado, Renan Calheiros, os senadores Delcídio do Amaral, do PT, e Jader Barbalho, do PMDB, o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau e até mesmo a nora do ex-presidente Lula, por intermédio de um repasse feito por seu amigo íntimo José Carlos Bumlai. Estão expostas de forma cada vez mais nítida as vísceras da Velha Política, com suas degeneradas práticas de fisiologismo no Legislativo, encobertas pela cumplicidade do Judiciário.


O tráfico de influência, o desvio de recursos dos contribuintes e o pagamento de propinas a políticos e partidos revelam o fenômeno da corrupção sistêmica, alimentada pela ininterrupta escalada dos gastos públicos. Aplica-se à nossa classe política o diagnóstico de Barbara Tuchman sobre os papas renascentistas: "Recusam-se a mudar, mantendo em estúpida teimosia o sistema corrupto existente. Não podiam fazer as reformas porque eram parte da corrupção, com ela cresceram e dela dependiam. Ignoraram todos os protestos e os sinais de uma revolta crescente. Colocaram seus interesses privados acima do interesse público, sob a ilusão de um status invulnerável" Por omissão e imprudência de nossa classe política, a dinâmica dos eventos atuais é dirigida agora pelo Ministério Público, pela Política Federal e por um novo Judiciário, que tenta se afirmar como poder independente.

Estamos construindo as instituições de uma Grande Sociedade Aberta. O choque de poderes independentes dispara um processo de aperfeiçoamento em busca das melhores práticas, desde que as instituições atuem dentro de seus limites constitucionais. Confesso que é perturbador o desembaraço com que as figuras coroadas da Velha Política criam obstáculos ao nosso aperfeiçoamento institucional. Mas o despertar do Poder Judiciário anuncia novos tempos. O Brasil não quer mais ser uma república das bananas. A hipertrofia e o aparelhamento do Estado deturparam valores morais e práticas políticas. Fabricaram escândalos, desmoralizaram partidos e derrubaram nossa taxa de crescimento. Continuamos prisioneiros do fechamento cognitivo e da amoralidade de obsoletas lideranças ante os desafios da estagflação e da corrupção.

Pedala, Lulinha

Enquanto essa imprensa golpista fica tramando o impeachment de Dilma Rousseff, Lula da Silva resolveu explicar o que aconteceu, para acabar com a conspiração: as pedaladas fiscais foram necessárias para que o governo pudesse honrar o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. Ou seja: todo esse barulho em torno do TCU, toda essa grita por causa do rombo no Orçamento, toda essa crise político-administrativa não passam de espuma. O único fato real é que o governo popular, mais uma vez, arranjou uma maneira de ajudar os pobres. Aliás, já são quase 13 anos ajudando os pobres (a ficar mais pobres), por maneiras que até Deus duvida.

No dia em que os pobres entenderem quanto seu sofrimento foi usado por Lula para ficar no poder, o ex-presidente precisará se mudar para um triplex no Irã. O PT prostituiu o uso do dinheiro público no Brasil, arrombando as metas fiscais e de inflação, tudo embalado numa meticulosa maquiagem contábil, para poder financiar seu banquete fisiológico - do qual o mensalão e o petrolão são os pratos mais visíveis.Lula e os companheiros jogaram o Brasil numa recessão genuinamente nacional, genuinamente petista, empobrecendo democraticamente o país inteiro. Se a moda pega, assaltante apanhado com bolsa roubada vai dizer que é bolsa família.


O delator Fernando Baiano, operador do esquema do petrolão preso na Lava.Jato, afirmou à Justiça que deu R$ 2 milhões a Fabio Luis da Silva, o Lulinha. As investigações esclarecerão os detalhes do maior caso de corrupção da República, mas já está evidente que 'seu dinheiro, caro leitor, foi usado sem parcimônia para irrigar o partido governante e os heróis do povo que o integram. Eles saber disso e estão dobrando a aposta: Dilma acusou os "moralistas sem moral" de tramar sua queda. É preciso sangue-frio para falar em moral no centro de tamanha rapinagem. Ou melhor, sangue de barata - e isso não lhes falta. Depois de depenar um país com -a ajuda de cúmplices que estão presos, causando à sua nação a perda dó selo de confiança perante o mundo, você só consegue olhar nos olhos de um filho se tiver sangue de barata. E moral de barata.

Dilma Rousseff tem de sofrer o impeachment porque é a representante legal de um projeto de assalto ao Estado. Está mais do que evidente que o PT, partido que desmoralizou a bondade, instalou-se no poder para viver dele - rasgando o contrato da democracia e do princípio da representação política. Nada mais fará no Palácio diferente do que já fez, não há como. O que mais é preciso ser demonstrado? A maior empresa do país jogada na lona para, entre outras causas nobres, garantir a reeleição da presidente - como apontam todas as evidências da Lava Jato. O que mais precisa aparecer! Como disse Fernando Gabeira, o Brasil parece ter desacreditado até a imagem popular do batom na cueca: a mancha sempre pode ter vindo da lavanderia. E eles têm diversos especialistas em lavagem para assumir a culpa. São os laranjas de batom. Na cueca, só dólar.

Joaquim Barbosa deu seu pitaco. Disse que o impeachment "é um mecanismo brutal que não pode ser usado de qualquer maneira". Prezado Barbosa: o impeachment não é um mecanismo brutal, é um mecanismo legal. E ninguém com juízo quer fazer nada de qualquer maneira, como juízes que atiram adjetivos ao vento. A única vergonha nacional até o momento é a barreira venezuelana no STF,seu velho conhecido, impedindo a investigação de uma presidente que em qualquer país 100% democrático já estaria sendo investigada.

E a barreira chavista conta com a operativa patrulha dos inocentes úteis (nem sempre inocentes, mas sempre úteis), que alugam suas santas reputações à mulher sapiens para renovar seus crachás de bondade progressista. Esse estranho oba-oba petista é cada vez mais envergonhado, naturalmente, e achou uma saída genial: eleger Eduardo Cunha o inimigo público número um. Cunha é hoje praticamente o único vilão nacional, porque quem rouba com estrelinha no peito é herói.

O pequeno detalhe dessa história é que Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, tem a chave do impeachment nas mãos. E o PT desperta seus instintos mais primitivos. Enquanto o gigante dorme, alguém tem de trabalhar.

Dilma virá do frio pegando fogo

Mesmo no frio da Suécia e da Finlândia, a presidente Dilma pegou fogo. Teve certeza de que por trás da sugestão de Rui Falcão para demitir Joaquim Levy está o Lula. O alvo de sua resposta agressiva, de que não vai demitir, foi o ex-presidente da República, não o presidente do PT, simples acessório.

Madame ficou uma fera e deu o troco: o governo pensa diferente do partido. Não haverá que falar em rompimento, mas as relações entre o antecessor e a sucessora esfriaram mais do que as estepes geladas da Escandinávia. Ao desembarcar em Brasília, porém, ela parecerá a irmã do Tocha Humana.


Por certo que Joaquim Levy sai chamuscado do episódio, mas fica no ministério, pelo menos até o dia em que sua paciência estourar. Perde também a tal agenda positiva de que tanto fala o Lula.

Para cada lado que Dilma se volte, surgem problemas. O mais agudo de todos chama-se Eduardo Cunha, capaz de surpreender dando seguimento ao pedido de impeachment da presidente, a ser reapresentado hoje pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior. Acirrará os ânimos a simples formação de uma comissão especial de deputados para examinar a proposta. Como o prazo para essa manifestação é de 90 dias, imagina-se a questão estendida para o próximo ano, a menos que o presidente da Câmara entre em desespero. Mesmo forçado a renunciar, decidiu ficar onde está e enfrentar o Conselho de Ética, onde imagina dispor de maioria. A bancada de seus seguidores é forte, não a ponto da decretação do afastamento da chefe do governo, mas bastante para incomodar o palácio do Planalto. Por isso ainda persistem tentativas de um acordo entre Dilma e Cunha, visando a preservação de seus mandatos. Aguarda-se a chegada da presidente que virá do frio pegando fogo.

Carlos Chagas

Estamos caminhando para a destruição da nossa economia

O caminho que estamos trilhando agora nos levará à perda das reservas cambiais, à hiperinflação e, por fim, à destruição do Real, com a consequente descaracterização do Banco Central como guardião da nossa moeda. O descontrole da política monetária trará de volta todas as características dos anos 80 superadas com a implantação do real.

Todo o esforço da sociedade para adquirir o equilíbrio monetário na época de Itamar e FHC será perdido. O PT e a guerra política que estamos vivendo jogarão o país no limbo, e toda a sociedade pagará o imposto inflacionário que o governo cobrará pela emissão descontrolada da moeda que está por vir para financiar o descontrole fiscal. Todos pagaremos pelo retorno da hiperinflação.

Esta é a verdadeira desgraça que está em curso e foi o PT que jogou toda a economia no buraco em função da política.

Se hoje o país se encontra travado economicamente por conta da política,não há outro culpado disso que não sejam a Dilma e o PT, que usaram toda a estrutura econômica do país para dar sustentação política à sua agremiação.

Vê-se assim que o país inteiro se tornou um mero instrumento de dominação política do partido dos trabalhadores.

A única coisa que separa a frágil democracia do país de uma ditadura petista é a guerra política estrelada agora entre o PT e o PMDB.

Se não fosse o forte compromisso de Joaquim Levy com o banco que lhe ordenou assumir o papel de Ministro da Fazenda, ele já teria abandonado o cargo há muito tempo, quando se viu isolado e escanteado no governo de Dilma.

Não sei se Levy continuará sustentando esta situação com as investidas de Lula com intenção de sua queda e substituição.

A guerra diária do Brasil contra os jovens


O Brasil teve 46.881 casos de assassinato em 2014. Com 4.610 homicídios – 28 para cada 1.000 habitantes – o estado do Rio de Janeiro fica atrás apenas da Bahia (5.450). Os dados foram revelados em um balanço publicado pelo Ministério da Justiça na última semana. O quadro geral é alarmante se comparado, por exemplo, à taxa de homicídios da República Democrática do Congo, país africano assolado por uma guerra civil: 30,8 para cada 1.000 habitantes.
Na contramão de todos avanços sociais conquistados na última década, o Brasil ainda ocupa o terceiro lugar em homicídios de adolescentes entre 85 países, de acordo com o Mapa da Violência, estudo encomendado pelo governo federal e divulgado este ano, com dados relativos a 2013. São 54,9 homicídios para cada 100 mil jovens de 15 a 19 anos, atrás apenas de México e El Salvador. Para efeito de comparação, a taxa brasileira é 275 vezes maior do que a de países como Áustria ou Japão, que apresentam índices de 0,2 homicídios por 100 mil.
No Brasil, negros e pardos representaram 72% das vítimas. Emerge, assim, o fantasma do racismo num país que se debate para deixar para trás seu passado colonial. Na capital fluminense, muita gente deu de ombros às estatísticas divulgadas num ano em que todos os olhos estão voltados para a sede dos Jogos Olímpicos. Afinal, para moradores de comunidades carentes, esse retrato da violência representa uma rotina conhecida. Os números são apenas mais uma pesquisa incapaz de produzir mudanças. E uma constatação renovada da indiferença de parte da sociedade, sobretudo, quando os alvos da matança são jovens, negros e pobres.

'Eles perderam a decência'

Sim, a Dilma pedalou! Pedalou, pedala, incorre em crime previsto na Constituição, mas há quem faça pouco caso do assunto. Seu tutor, o ex-presidente Lula, que o diga. Ele tripudia da acusação. Encontra até desculpas que, no seu entender, justificam as afrontas legais da pupila. Lula admitiu publicamente que Dilma pedala e pedalou para “pagar o Bolsa Família, para pagar o Minha Casa, Minha Vida”. Na visão oportunista e sem limites do líder do PT, os fins justificam os meios. Foi o que ele disse e fez ao longo de dois mandatos e repete agora como mantra.

Lula não mede consequências. Quer, inclusive, que o governo gaste mais, libere empréstimos do BNDES, crédito para a baixa renda e gere empregos. Parece fácil falar depois que seu grupo quebrou a nação com a tal “nova matriz econômica” e dilapidou os cofres públicos com benefícios e desvios para simpatizantes e apaniguados do partido.

Lula não enxerga o óbvio. Ou esconde. Joga pra plateia. Critica Dilma abertamente, sem pudores. Disse que ela adotou o discurso de quem perdeu. Que só fala em cortes e ajustes. Que se esquece de conversar com o povo. Depois, pede compreensão “por Dilminha”.

Lula distorce a realidade. Para ele o problema do País não é econômico, mas político. Pouco importa que a inflação caminhe para a casa dos dois dígitos. Que o déficit nominal ultrapasse os 8% no ano. Que a queda do PIB alcance a marca recorde de 3% negativos. Que as empresas quebrem.

Lula não emite qualquer comentário sobre as acusações que rondam dois de seus filhos. Não é tema adequado, na consideração dele, para dividir com seus seguidores. Mais fácil para Lula é acionar o PT em busca de um acordo que salve o segundo mandato de Dilma. Mesmo que em troca da blindagem do encrencado deputado Eduardo Cunha.

Foi o que ele fez. Barganhou a sobrevivência de um e do outro na base do “ajude ela que no Conselho de Ética tentamos segurar você”. A despudorada aliança mostra a que ponto chegou o jogo de conchavos dessa turma pelo poder. Às favas com a lei. Com a moral. Com o zelo pelas práticas republicanas. O Brasil está à mercê de líderes sem escrúpulos.

Lula move-se de acordo com as suas conveniências. Para retornar ao Planalto. Oscila de humor e de opinião em relação à Dilma na cadência da temperatura ambiente. Criador e criatura vivem a dança das aparências. Ela também se deixa levar nesse minueto de chantagens, do toma-lá-dá-cá, como se não tivesse mais nada a fazer. Comercializou ministérios com a raia miúda dos parlamentares. E correu ao abraço com seu arquirrival Cunha, tentando livrar-se do impeachment.

Escolhe sempre os piores pares. O ministro da saúde em vigor, empossado por ela, caiu em descrédito. Pregou a tungada da CPMF na entrada e na saída. Bitributação inaceitável. Aliás, quase nada das deliberações de Dilma e de sua equipe têm sido aceito. Nem os vetos.

Dilma invoca a prerrogativa de jamais ter cometido malfeitos na vida política. Mede os deslizes conforme sua régua. Mentir em campanha, “fazer o diabo”, leiloar o governo por um punhado de votos, largar a maior estatal do País nas mãos de saqueadores e administrar as contas públicas em benefício próprio não estão no seu radar de equívocos.

Por esses dias a pajelança política que envolve Dilma, Lula & Cia assumiu patamares inimagináveis. O Planalto adiou até a eliminação dos três mil cargos comissionados – medida anunciada como demonstração de corte na própria carne – para atender a base aliada e acomodar o clima de insatisfação no berço político. A encenação burlesca choca os brasileiros. Causa repúdio. Indignação e revolta. Com qual moral Dilma, Lula & Cia se arvoram o direito a legitimidade?

Dilma faz governo de direita. Vai defender?


Gente, por favor. Dilma faz um governo marcadamente de direita. Preferiu, num contexto economicamente pior que o de seu antecessor, aliar-se e render-se à direita histórica ao invés de se unir às forças progressistas que, inclusive, garantiram sua última vitória nas urnas. Esse governo promove retrocessos absurdos – tanto quanto ou mais que o tão falado ‘congresso mais reacionário da história’ – e endossa essa mesma política nos estados.

Apoio à leis criminalizantes, aliança com agronegócio, dependência de oligarquias regionais, política econômica neoliberal e imposição de um ajuste fiscal que beneficia os ricos e pune os pobres, privatizações, apoio a políticas de segurança pública de promoção do encarceramento e do genocídio negro, retirada de direitos trabalhistas, retrocesso nas políticas de direitos humanos… É um governo indefensável.

E não me venham dizer que “falar mal do PT ajuda a direita”, afinal, falar da direita, que são canalhas, seria chover no molhado. O grupo que prometeu ser uma coisa e foi outra é o que governa o país há 4 mandatos. Um grupo que, embora eleito em nome da classe, jamais enfrentou os grandes interesses dos algozes seculares do povo brasileiro. Ao contrário, preferiu a tática da conciliação, como se nunca houvera aberto um livro de história para saber o quão impossível seria.

Alguns dirão: é a defesa aos avanços sociais dos últimos anos. Responderia: não se trata da negação daquilo que alguns consideram “avanço”, mas sim do que devia ter sido feito, em forma e conteúdo, e não se fez. Das brigas e disputas políticas e ideológicas que não se fizeram. Do enfrentamento aos interesses da classe dominante, que não se fez. E que sequer foram tentadas. E o porquê de não terem sido tentadas, mesmo com o clamor permanente dos movimentos sociais.

Essa crítica em nada tem a ver com defender impeachment ou “golpe”. E cá entre nós, não acho provável nenhum dos dois – até porque faltam elementos objetivos para tal – afinal, derrubar um governo que garante os interesses dos ricos e a opressão dos pobres tão bem quanto o governo Dilma, para que, né?!

Mas vivemos no Brasil, onde os absurdos são comuns. Então também não duvido. E num contexto de disputa “político ideológica” entre PSDB/PMDB versus PT, eu leio assim: de um lado a direita histórica, escravocrata, fascista, racista e elitista, logo, inimigos históricos da classe trabalhadora. De outro os capatazes, ex-escravos, a serviço das vontades do senhor, logo, traidores da classe trabalhadora. A “esquerda” não está, a meu ver, em meio a essa disputa.

Quando digo isso, deixemos explícito, falo dos projetos políticos e da direção de cada um dos lados, e não do povo iludido ou politicamente equivocado – na minha opinião – que as partes reúnem.

É deprimente ver gente séria, com trajetória de luta e compromisso se rebaixando em último nível para defender o indefensável. Triste, muito triste.

Sim, é preciso juntar os cacos de um vaso que nós mesmos quebramos. Não há de se negar ou demonizar o PT ou os grupos e movimentos apoiadores do governo, claro que não, até porque “os partidos são as pessoas”, e tem muita gente séria e comprometida nesses espaços.

Mas é preciso superar, construir o novo com novos atores e, caso os atores de sempre queiram colaborar, que reconheçam e limpem sua sujeira, que lavem seus pratos cuspidos e peguem a fila lá de trás. O protagonismo não deve estar com aqueles que nos conduziram à beira deste precipício. Estes, por dignidade, deveriam perceber isso.

O declínio da mineração e seu legado na América Latina

A América Latina acaba de viver uma década de bonança na mineração que despertou esperanças de riqueza como poucas vezes em sua história, embalada pelo que parecia ser uma inesgotável demanda chinesa por cobre, carvão e outros minérios. Mas a bonança terminou.

A economia da China demonstrou ser como todas as outras, ou seja, uma economia de altos e baixos. E a redução recente do apetite chinês levou a uma freada brusca nos planos de investimento e venda de projetos multimilionários de mineração em países latino-americanos.

Reuters

Nesta semana, por exemplo, a Glencore, uma gigante global desta indústria, anunciou que está vendendo a mina de Lomas Bayas, no Chile. Um caso que não é único em meio ao ajuste do setor diante da queda de preços internacionais de muitos produtos básicos.

Mas qual é o legado que fica desta chuva de dólares que caiu na região nos últimos dez anos com chegada de projetos de mineração, muitas vezes diante da resistência de comunidades onde eles se instalaram?

A América Latina tornou-se neste anos um dos epicentros globais da mineração, recebendo 27% do total de investimentos em exploração, segundo o Banco Mundial.

É difícil subestimar tal volume de dinheiro. O órgão afirma que um só país, o Chile, recebeu dividendos da mineração da ordem de US$41 bilhões (R$ 155,8 bilhões) em 2011, ou 19% de seu Produto Interno Bruto (PIB). O Peru recebeu US$17 bilhões e a Bolívia, US$ 1,3 bilhão.

No Brasil e no México, as duas maiores economias da região, a contribuição desta indústria não foi tão dominante em comparação com as demais atividades, dada a maior diversificação de suas economias, mas o valor recebido por ambos estão longe de serem desprezíveis. No Brasil, por exemplo, a receita gerada pela mineração alcançou US$67 bilhões, ou 3% do PIB.

Apesar da desaceleração, o Banco Mundial espera que os novos investimentos para a região até 2020 cheguem a US$200 bilhões.

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