sexta-feira, 16 de setembro de 2016

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O choro que não comove ninguém

É de supor-se que Lula dá de barato que foi de fato o comandante, o general, o maestro da organização criminosa que saqueou a Petrobras, que roubou e deixou roubar com a intenção de se perpetuar no poder. Do contrário, teria respondido de forma direta, objetiva e convincente às acusações que lhe fizeram os procuradores da Lava Jato.

Mas não o fez. Nada respondeu. A jararaca de março último, indignada por ter sido conduzida coercitivamente para depor, deu lugar ao bebê chorão, ao “velho de 70 anos” que pediu para ser deixado em paz, ao perseguido que se compara com Tiradentes esquartejado em praça pública, ao ex-líder sindical ameaçado pelas elites cruéis.

Por que não encarou de frente às acusações? Por que não as respondeu uma por uma? Por que preferiu socorrer-se da fraude de que os procuradores teriam dito carecer de provas contra ele e de só dispor de convicção? Eles disseram dispor de provas, sim. E da convicção, a partir delas, de que Lula incorreu em crimes.


Lula não foi denunciado por ter chefiado uma organização criminosa. Foi denunciado apenas e por enquanto de ter recebido quase R$ 4 milhões do dinheiro desviado da Petrobras. Parte do dinheiro acabou empregada pela empreiteira OAS na reforma do tríplex do Guarujá, parte no armazenamento de sua mudança para São Paulo.

De resto, em uma denúncia, o Ministério Público não precisa oferecer provas do que diz. Basta que ofereça indícios de materialidade da ocorrência de crime e um circunstanciado arrazoado capaz de convencer o juiz a aceitar a denúncia. Uma vez que ela seja aceita, aí, sim, juntam-se as provas e colhem-se outras.

Na proposta de delação premiada do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, ele afirma que Lula sabia que o dinheiro gasto na reforma do tríplex seria descontado da propina devida pela empreiteira ao PT. Assim como seria descontado da propina o dinheiro gasto na reforma do sítio de Atibaia, local de repouso da família Lula da Silva.

Está para aparecer a prova definitiva de que Lula comprou o tríplex que ele jura jamais ter comprado, assim como provas cabais de que o sítio de Atibaia configura um caso clássico de ocultação de patrimônio. É improvável que Lula receba da Lava Jato um atestado de idoneidade, passaporte para sua eventual candidatura a presidente em 2018.

Ele sabe disso. E por saber, agora se ocupa não em limpar as manchas que corroem sua biografia, mas em legar às gerações futuras a falsa imagem do líder dos pobres que teve sua carreira política interrompida pelo “golpe continuado” responsável pela deposição da ex-presidente Dilma e pelo fim da era do PT no poder.

O estoque de truques de Lula esgotou-se, a julgar por seu desempenho patético, caricato no ato que encenou ontem. Embora tenha votado nele mais de uma vez, não sinto pena de Lula. Não consigo sentir. Ele deixou-se seduzir pelo exercício do poder, corrompeu-se e corrompeu. Está na iminência de pagar pelo que fez.

A vez dos parasitas

A desconexão entre realidade e “narrativa” continua sendo o elemento mais angustiante da crise brasileira. Perde-se um tempo que já não ha.

O déficit público bate recordes a cada medição. O custo dos privilégios do funcionalismo continua crescendo e não só em função da “automatização” de carreiras sem desempenho e “correções” de salários e pensões pela inflação. A festa dos aumentos reais continua em pleno velório.

Em julho a diferença entre o que entrou e o que saiu do caixa saltou 20% acima de junho (de R$ 10,02 bi para R$ 12,81 bi) sinalizando que o favelão continental em que se vai transformando o Brasil continuará se expandindo. Adiciona-se à marcha-a-ré dos negócios a arrecadação cessante. Estamos apenas iniciando a segunda volta no círculo e quem ainda não fechou vai de mal a pior. Pesquisa do Ibmec mostra que pelo menos metade das empresas privadas não está gerando caixa suficiente para pagar suas obrigações financeiras…
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Outra pesquisa da Escola de Economia da GV constata, agora com prova científica, o que todo mundo vê a olho nu. Os funcionários públicos, indemissíveis, ganham muito mais pelo que não entregam que seus equivalentes na iniciativa privada fazendo das tripas coração para entregar o suor, as lágrimas e o sangue que já não bastam para livrá-los do desemprego.

Isso é verdade no Brasil inteiro e é três vezes mais verdade em Brasília onde os empregados do Estado ganham “em média” 200% mais que seus equivalentes no mundo real, numero que, diga-se de passagem, está negativamente distorcido pelo fato da pesquisa ter considerado apenas os empregados do setor privado com carteira assinada entre 18 e 74 anos. Se considerasse o Brasil real, onde criança e aposentado, cada vez mais, têm de trabalhar, e carteira assinada ainda é privilégio, chegaria mais próximo dos números escandalosos que as contas da Previdência refletem. As aposentadorias e pensões do setor publico, com 30 vezes menos beneficiados, comem mais de 30 vezes mais recursos que as do setor privado.

30 vezes 30! O Brasil de hoje é um clássico das piores crônicas medievais: está muito, mas muito mais pobre mesmo do que merece porque a casta que se apropriou do “reino” e o escorcha com impostos está muito, mas muito mais rica mesmo do que faz por merecer. E vai ficar ainda mais posto que essa “nobreza” que vive acima da regra dos “plebeus” vende a ideia, que a imprensa compra sem contestar, de que será possível arrumar as coisas espremendo mais um pouco os explorados para manter intactos os privilégios dos exploradores.

O “ajuste” da Petrobras após o estupro coletivo sofrido é um exemplo emblemático. Sob aplauso geral, ela acaba de transferir ¼ de sua gigantesca folha de assalariados, com todos os benefícios necessários para os folgares da vida nas vizinhanças da nova residência da “Honesta Dilma” na Ipanema a que estão acostumados, da conta dos seus acionistas, que também habitam a rua da praia, para a dos brasileiros dos morros que, sob a “Lei do Cão” e no meio do tiroteio, sustentam o rombo de R$ 93 bi por ano que custam, por enquanto, só os aposentados e pensionistas da União. Vai na mesma direção o novo “teto de gastos do setor público”. Como “a Justiça” garante que todos os privilégios dessa casta tornam-se “imexíveis” uma vez enfiados no saco segue, por decorrência, que só a magérrima fatia do orçamento público ainda de propriedade do povo – a dos investimentos em infraestrutura, saúde e educação – são compressíveis. E aí esta tem de ser comprimida, espremida e recomprimida para compensar o “nem um passo atrás” no território ocupado pelos “direitos adquiridos” do funcionalismo. A conta está sendo atirada inteira para os 30 vezes mais pobres e nem uma única voz se levanta para denunciar o “passa-moleque” senão a da turma da “narrativa do golpe” que, todos muito agarradinhos “ao seu”, o faz pela metade, para confundir, para enganar e para agravar a conta.

Se concedesse pagar apenas a parcela dela que exceder os privilégios e abusos mais ostensivos, o país já estaria sendo condescendente o bastante. “Consolidar” os salários públicos na soma final dos “auxílios”, “adicionais”, “gratificações”, “abonos” e outros penduricalhos hoje incorporados às aposentadorias mas isentos do imposto de renda, o que piora o déficit; acabar com as obscenas frotas de jatos e carros de luxo com seus pilotos, motoristas e pessoal de manutenção e back-up; fazer com que arquem com suas residências e mordomias como todo mundo; anular os aumentos de salário auto-atribuídos por atos de “autonomia administrativa” em flagrante “desvio de finalidade” são maneiras de começar a reduzir o acinte de exigir mais carne magra de cima de uma montanha de gordura. Acabar com a esbórnia das bolsas redundantes, dos “auxilios doença” ha anos sem fiscalização, dos 45 mil “pescadores” indenizados por “defeso” em plena Brasília, são outras medidas comezinhas que custam bilhões e valem mais do que pesam. O desmonte das 140 estatais que só servem para o mesmo que a Petrobras serviu; o corte das vastíssimas “assessorias” dos três poderes pelo menos tanto quanto os brasileiros estão cortando suas compras de supermercado; com novos ares no STF, acenos de castigo para o crime e discursos de austeridade auspiciosos no ar, estas são algumas das providências imediatas cuja obrigatoriedade clama aos céus.

Menos que isso será sacrifício inútil. O Brasil violou todo os limites da matemática e não haverá acerto fora da matemática. As reformas para nos colocar na mesma distância do feudalismo que o 1º Mundo alcançou no fim do século 19 podem esperar por um governo eleito. Mas o povo que está começando a expulsar os ladrões pode bem começar ao menos a atacar também os parasitas e os chupins porque livrar-se deles é uma longa batalha que depende essencialmente de expô-los persistentemente à luz do sol e já deveria ter começado ha muito tempo.

Supremas esperanças

Até que os discursos inflamados e empolados do decano Celso de Mello impressionam com sua retórica de combate implacável à corrupção e aos “marginais da República”. E, no entanto, quando foi julgada a decretação da prisão depois de condenação por colegiado em segunda instância, fundamental no real combate à impunidade, o ministro votou contra a maioria do STF. Em nome da presunção de inocência, quem tem dinheiro e bons advogados consegue arrastar seus processos até a prescrição.

E os “marginais da República”? Renan Calheiros tem 12 processos no STF, entre eles o que acusa o lobista de uma empreiteira de pagar a pensão de sua filha fora do casamento, que se esconde há sete anos no Supremo, e ninguém sabe por que até agora não foi julgado. O que pode fazer a presidente Cármen Lúcia sobre isso? O que podem os demais ministros? Quem está segurando este processo e por quê? Sete anos não são suficientes para formar um juízo e levar a julgamento? Não há discurso jurídico que explique isto, só a baixa política.

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O José Casado tem razão quando os chama de “políticos de toga”, que não chega a ser ofensivo (a não ser talvez às ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber ), afinal, nem todo político é corrupto, e os ministros do STF não pintam os cabelos nem fazem implantes. Mas Lewandowski, Gilmar, Dias Toffoli (foi advogado do PT, serviu a José Dirceu na Casa Civil, mas não se julgou suspeito para absolvê-lo no mensalão), Barroso, Teori, Fachin, Luiz Fux, Marco Aurélio, são ligados a correntes políticas e corporativas que apoiaram suas carreiras até o Supremo, até a suprema vaidade humana, à sensação de poder ilimitado, aos egos inflados de tanta sabedoria. Como são justos! E probos! E poderosos! Como são supremos! Basta observar-lhes a expressão corporal, o prazer em ouvir a própria voz em discursos intermináveis recheados de termos eruditos.

Com a falência do governo Dilma e a desmoralização do Congresso com Eduardo Cunha, o Judiciário ganhou o protagonismo da cena política. Mas discursos não bastam: dois anos de Lava-Jato, e o STF ainda não julgou nenhum político.

Nelson Motta

Manhã

Suíte Peer Gynt, Edvard Grieg

O bisavô Lula fala aos seus

Entrevista não foi. Entrevista coletiva, então, vamos falar sério, é que não foi mesmo. Coletiva sem perguntas dos jornalistas é piada, não é, não?

Que nome dar então àquela apresentação de Lula ontem em um hotel em São Paulo?

Pronunciamento? É, pode ser, já que foi somente uma declaração pública de como ele é bom, generoso, altruísta, devotado aos pobres e aos menos favorecidos pela sorte.

Quer dizer, foi outra sessão de autobiografia. Tema que sempre comove seus seguidores que já sabem de cor toda a trajetória do líder, mas que adoram ouvi-lo dizer o quanto foi pobre e como subiu na vida. É o tipo de pronunciamiento que faz sucesso entre os petistas. Talvez acreditem que se ele conseguiu, por que outros não conseguiriam?


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Mas não quero ser injusta: ao menos uma novidade ele apresentou aos vermelhos que o seguem. É verdade que não foi dita em tom muito entusiasmado, mas o fato concreto, como ele gosta de dizer, é o que foi revelado num tom meio monocórdio: Lurian vai ser avó, o que fará dele um bisavô!

Por que Lula não honra seus sete netos e o bisneto que vai chegar com uma entrevista coletiva para responder às acusações do Ministério Público? Isso seria uma herança muito mais rica que qualquer chácara em Atibaia ou apartamento no Guarujá.

Ele bravateia que se apresentarem uma prova de corrupção contra ele irá a pé depor. Como ele sabe que não há nenhum bilhete dizendo “Recebi a propina. Obrigado XXX” e não acha que provas testemunhais ou indícios fortes sejam prova, fez essa ameaça com o coração à larga! Sim, ameaça, porque Lula a pé, de São Bernardo do Campo a Curitiba, seria um martírio que traria ao Brasil os mais altos nomes da Imprensa Internacional. Seria o mártir dos mártires, já pensaram?

Foi um improviso muito bem estudado. Seus advogados pediram a ele que cuidasse das palavras, talvez que esquecesse a jararaca. Pelo menos a jararaca não apareceu, apareceu foi um crocodilo com muitas lágrimas.

Já votei no Lula, em 2010. A decepção que ele causou foi imensa, mais do que isso, imperdoável. Com o tempo, e com as descobertas de todas as tratantadas do PT, fui ficando cada vez mais indignada com ele.

Ele diz que elevou o nome do Brasil no exterior. Bem, depende em que parte do mundo e diante de quais figuras nosso nome ficou mais elevado. Porque, dependendo de quem são, o que Lula nos fez foi um enorme desfavor.

Foram, enfim, palavras ocas, já que ele não respondeu a nenhuma das acusações que fazem parte da grave denúncia feita pelos ‘meninos’ da PGR.

Por exemplo, custava dizer por que a OAS pagou pela guarda daquela “tralha” (a expressão é dele) que deveria ter ficado em Brasília, como acervo da Nação?

Sabem de uma coisa, melhor fez Marisa Letícia que ficou em casa para almoçar com os filhos. Era o que ele deveria ter feito, já que não ia responder a nada, só chorar e se lastimar e se fazer de vítima.

Nem a jararaca você trouxe, Lula. Foi pena. Quem sabe ela não seria a sua salvação?

Para Lula, político ladrão é melhor que procuradores e juízes concursados

Com o luxuoso auxílio dos seus advogados, Lula desperdiça tempo numa cruzada contra Sérgio Moro. Para estigmatizá-lo, recorreu até às Nações Unidas. Denunciado, o ex-presidente passou a demonizar também o procurador da República Deltan Dellagnol e os outros “meninos” da Lava Jato. Lula procede assim por acreditar que, tachando seus investigadores de demônios, fica eximido de todo exame do mal. A começar pelo mais difícil: o autoexame.

Nesta quinta-feira, no comício privê que convocou para politizar a denúncia de que foi alvo, Lula potencializou a impressão de que se tornou um típico político brasileiro— grosso modo falando. Ele discursou por uma hora e oito minutos. A certa altura, a pretexto de criticar os procuradores que têm a mania de procurar e o juiz que cultiva o hábito de julgar, Lula saiu em defesa da classe política, sua corporação. Pronunciou a seguinte frase:

Duke/O Tempo
“Eu, de vez em quando, falo que as pessoas achincalham muito a política. Mas a profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para a rua encarar o povo, e pedir voto. O concursado não. Se forma na universidade, faz um concurso e está com emprego garantido o resto da vida. O político não. Ele é chamado de ladrão, é chamado de filho da mãe, é chamado de filho do pai, é chamado de tudo, mas ele tá lá, encarando, pedindo outra vez o seu emprego”.

O raciocínio de Lula é límpido como água de bica. Mas vale a pena clareá-lo um pouco mais. Para o morubixaba do PT, política não é sacerdócio, mas profissão. E se parece muito com a profissão mais antiga do mundo. O político, ainda que seja um biltre, um pulha, um larápio será sempre mais honesto do que alguém capaz de molhar a camisa numa universidade para ingressar por concurso no Ministério Público ou na magistratura. Toda vilania, toda calhordice, toda ladroagem será perdoada se o político for para a rua “encarar o povo e pedir voto.”

De acordo com a força-tarefa de Curitiba, Lula é o “comandante máximo” da corrupção. Presidiu uma “propinocracia” urdida para assegurar o enriquecimento ilícito, a governabilidade corrompida e a perpetuação no poder. Lula abespinhou-se com a acusação de que comprou apoio congressual.

“Ontem eu vi eles falarem dos partidos políticos, dos governos de coalisão, vocês sabem que muita gente que tem diploma universitário, que fez concurso, é analfabeto político”, declarou. “O cara não entende do mundo da política. Não tem noção do que é um governo de coalisão. Ele não tem noção do que é um partido ser eleito com 50 deputados de 513 e que tem que montar maioria.” Foi como se o pajé petista dissesse: “Num Legislativo em que todos os gatunos são pardos, mensalões e petrolões não são opcionais, mas imperativos.”

A esse ponto chegou o mito. Assumira o poder federal, em 2003, ostentando uma biografia que empolgava o mundo. Imaginou-se que reformaria os maus costumes. Hoje, convoca a imprensa nacional e estrangeira para informar que foi reformado por eles. E concluiu: 1) que a oligarquia política com o rabo preso no alçapão da Lava Jato é inimputável. Recebeu licença das urnas para roubar. 2) que ‘governabilidade’ virou uma grande negociata para justificar qualquer aliança ou malandragem destinada a fazer da discussão política uma operação de compra e venda.

No fim das contas, um comício que serviria para contestar acabou confirmando as formulações dos analfabetos políticos da Lava Jato. Enquanto procura demônios de ocasião para os quais possa transferir suas culpas, Lula revela o porquê do surgimento de fenômenos como o mensalão e o petrolão. Se a urna é um sabão em pó moral, nada mais natural que políticos como Collor, Renan, Cunha e um incômodo etcétera recebessem, sob Lula, licença para plantar bananeira dentro dos cofres da Petrobras e adjacências.

Lula gosta de citar sua mãe, dona Lindu, para informar que aprendeu com ela a “andar de cabeça erguida por esse país.” Está claro que Lula não apreendeu os ensinamentos de sua mãe. Um governante pode até conviver com certos políticos por obrigação protocolar. Qualquer mãe entenderia isso. Mas ir atrás do Collor, adular o Cunha, entregar a viabilidade do seu governo à conveniência de tipos como Renan… Está na cara que Dellagnol e os outros ''meninos'' de Curitiba precisam assumir a função da mãe de Lula, denunciando-o de vez em quando, nem que seja para dizer: “Olha as companhias, meu filho. É para o seu próprio bem. Certos confortos podem acabar na cadeia.”

A pauta certa

Psicólogos estão aí pra isso. Gentalha!:
Andava por uma livraria outro dia quando vi um grupo de adolescentes “debatendo” política. Uns diziam que votariam no candidato do PSol, outros na candidata do PCdoB. Um, solitário, preferia o Partido da Causa Operária. Eram alunos de uma escola particular, num shopping carioca de luxo.

É verdade que a juventude é meio utópica e costuma ter uma queda pelo socialismo. Mas não é apenas isso que explica o fenômeno. Nos Estados Unidos, por exemplo, a garotada votaria em peso no socialista Bernie Sanders. Há algo mais por trás dessa “coincidência”.

Uma das notícias mais importantes da década passou despercebida por nossa imprensa nos últimos dias. Falo do vazamento de dados da fundação de George Soros, o especulador bilionário que financia boa parte da esquerda mundial.

A esquerda sempre foi contra a globalização dos mercados, mas se tornou “globalista” no campo das ideias. Descobriu que é mais fácil fazer uma revolução mundial na cultura, e com isso avançar no controle de nossas vidas, com um Estado cada vez mais intervencionista.

Por isso Soros dá dinheiro para Hillary Clinton, para Fernando Henrique Cardoso e para o Mídia Ninja, de Pablo Capilé. São muitos milhares de dólares por ano para cada um. E qual a contrapartida? O mundo politicamente correto “debate” mais e mais as mesmas pautas, todas com um só denominador comum: o enfraquecimento da família, do cristianismo, o homem branco como vilão da humanidade e a “marcha das minorias oprimidas” como o caminho da redenção.

A solução para tudo – aquecimento global, preconceitos, desigualdades, violência – é sempre mais Estado; para todo problema há de se pregar a mão visível do Estado como resposta. É por isso que vemos tanta convergência na pauta da grande imprensa, dominada por essa esquerda. A julgar por essa gente, as coisas mais relevantes do mundo são a legalização do aborto e das drogas, o clima e o casamento gay ou o “poliamor”, além do desarmamento dos civis inocentes. Esses “formadores de opinião”, bancados por ricaços como Soros e sua trupe, vivem numa bolha, e alguns passam mesmo a crer que essas são as bandeiras mais importantes do momento.

Esqueça as verdadeiras mazelas da população do andar de baixo, o transporte caótico, a falta de saneamento, a comunidade dominada pela bandidagem, a péssima qualidade da educação pública e uma saúde cada vez mais cara. As prioridades da mídia são outras, definidas por uma elite culpada ou interessada em ampliar os tentáculos estatais para benefício próprio.

Voltemos aos garotos da livraria: eles acham que pensam por conta própria, mas nem percebem que são papagaios desses formadores de opinião, sustentados pelo “sistema”. Repetem sem muita crítica aquilo que as “autoridades” e os “especialistas” dizem sobre cada coisa, e ainda se sentem os rebeldes!

Fumar sua maconha em paz, abortar o bebê quando o sexo é descuidado e participar de orgias com novo nome passam a ser suas grandes metas “revolucionárias”, enquanto o pobre luta para sobreviver pagando impostos cada vez maiores e tentando manter sua filha longe do traficante, que o jovem mimado vê como herói, para poder odiar a polícia “fascista”.

Mais de 60% dos partos no Rio, capital nacional dessa “esquerda caviar”, são de mães solteiras, e muitas são adolescentes e sem estudo. É o quadro da destruição real dessas ideias “bonitinhas” que seduzem os filhos da elite, no conforto de seu condomínio.

Precisamos deixar de pautar nossos debates com base nas bandeiras “progressistas” enfiadas goela abaixo pelos globalistas. Há outras prioridades. No curto prazo, recuperar a economia com as reformas estruturais. No longo prazo, resgatar valores morais e impedir essa doutrinação ideológica em nossas escolas. Eis a pauta certa.

Rodrigo Constantino

Farsa ambulante

Se alguma coisa incomoda Lula, é a verdade como todo mundo conhece. Não que a admitindo seja condenado aos quintos do inferno, e tenha medo. Simplesmente não tem com ela a mínima intimidade. Com o passar dos anos, a farsa ambulante foi sua verdade inquestionável. E as mentiras passaram a povoar essa criatura que criou acima de tudo e de todos. Não bastou ser o mais honesto do país, agora se tornou o mais conhecido depois de Cristo, é claro. 


O inocente ex-presidente, que não sabia de nada e só trabalhava em prol dos pobres, deixou um rastro de rombos, quando não de roubos. Mentiu como o diabo, mas essas são suas verdades. Assim se tornou o único e grande criador de muito que os outros criaram. Assume a paternidade de obra alheia como marginal se diz arrimo de família e trabalhador. Sem um pingo de vergonha e na maior cara de pau. 

Depois de apontado como o poderoso chefão da propinocracia no país, Lula se pronunciou entre os seus, bem resguardado de perguntas, para destilar o mesmo blá-blá-blá avinagrado. Não deu respostas, mas ofereceu as fanfarronices em especial a de que o Brasil foi descoberto por Cabral, mas verdadeiramente surgiu com Lula. E segundo o homem mais conhecido do país, a História deve estabelecer duas etapas no Brasil: antes de Lula e depois de Lula. 

Aos 71 anos, com o mesmo discurso contra as zelites, que privilegiou em favor dos pobres, a quem ludibriou, Lula ainda acredita ser um marco histórico. É a sua verdade que não convence a mais ninguém fora do circuito dos seus poucos, raríssimos, defensores, uma vez que até a amigos de anos defenestrou em nome do continuísmo e ainda mais da permanência fora da cadeia.

No picadeiro da política brasileira, é um velho palhaço em esquetes antiguadas ainda querendo palmas pelo que foi, embora não tenha sido tanto quanto se acha.
Luiz Gadelha

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O Julgamento de Underbergh

O Lulalau nunca soube de nada. Desde o primeiro ano primário, Lula nunca soube coisa nenhuma e fez questão de continuar não sabendo. Por isso mesmo, não pode ser acusado de nada. Por absoluta falta de provas. Me mostrem uma única prova que o Lulalarápio tenha feito que eu rasgo meu holerite (no Rio de Janeiro se chama contracheque) de jornalista desempregado.

Luladrão está sendo perseguido só porque veio das profundezas do sertão nordestino de pau de arara, pobre e miserável. Hoje, graças aos nossos esforços e sacrifícios, Luiz Roubácio Lula da Silva é um homem muito rico, mas, sempre fiel às suas raízes, continua um miserável. E a Dona Marisa, coitada, está sendo acusada de ter rabo preso quando, na verdade, ela só tem a língua solta. E, além do mais, enquanto ex-primeira-dama, Dona Marisa tem furo privilegiado.

Lula é Inocêncio, posso garantir. Ou, como diz a ex-presidenta Dilma Roskoff, é inocento! Ele mesmo declarou pessoalmente que não existe ninguém mais honesto que ele no Brasil. Isso dá uma ideia do ponto a que este país chegou!

Luladravaz, corajoso e destemido, não se amedronta diante do Ministério Púbico e declarou que, se alguém conseguisse provar que ele está metido em alguma bandalheira, pode atirar a primeira pedra. E, para fornecer as pedras, montou um "consócio” milionário com a OA$, a Odecheque e a Queiroz Ladrão.
A PF descobriu que empreiteira OA$ pagava um milhão por mês
 para o Lula esconder as suas tralhas num banco secreto do Egito
Estão querendo crucificar o Lula, pegar ele pra Cristo, mas o próprio Luísque Inácio já declarou que não existe nenhum Jesus Cristo mais honesto do que ele. Justamente agora quando seus advogados estão abrindo um processo na ONU para canonizá-lo.

Lula, o homem que tentou acabar com a pobreza no Brasil (começando por ele, é claro), está sendo caçado como um bicho. Querem pegar o Lula para bode expiatório, mas ele mesmo já declarou que não existe no Nordeste nenhum bode mais honesto do que ele.

E tem mais! Todo mundo sabe que o Lulinha não é o dono da Friboi! Todo mundo sabe que a Friboi é uma sociedade do Toni Ramos com o Roberto Carlos, que, aliás, não é perneta nem vegetariano. A Seara é da Fátima Bernardes, que se separou do Bonner por causa de um peru da Sadia congelado escondido na geladeira.

Mas não há de ser nada. Tudo isso vai passar. Passar, lavar e cozinhar. Se por acaso Lula for preso, não vai sozinho. Ele, inclusive, já combinou um campeonato de tranca (com duplo sentido, por favor) com o Zé Dir$eu, o João Maiscari Neto e o Eduardo Pulha. Dedurando Cunha, que, aliás, ficou de levar numa mala de grife a sua mulher Cláudia Cruz, com quem é cassado.

Agamenon Mendes Pedreira foi indiciado na operação Leva Jeito

Como abrir espaço para boas sendas?

Não estamos no vácuo, e sim relacionados diretamente com tudo o que está ao nosso redor – o ar que respiramos, a água que nos mantém vivos, o solo sobre o qual pisamos, os alimentos que nos sustentam –, por mais que os “céticos” do meio ambiente se empenhem em ridicularizar os pensamentos e ações daqueles que se preocupam com os cuidados a respeito do que está ano nosso entorno. Basta ler o noticiário do dia a dia e ver que vivemos um momento de agressões extremas.

Como lembra dom Odilo P. Scherer, cardeal-arcebispo de São Paulo, em seu artigo de 10/9 nesta página, “quando o papa Francisco convida a rezar pelo cuidado da criação”, está propondo uma nova tomada de consciência e uma nova atitude ética diante da questão ambiental. É algo que “faz muito sentido (...): pode levar”, enfatiza ele, “à prática daquela imensidade de pequenas ações que potencializam um novo cuidado da criação, no espaço do cotidiano”, de efeitos benéficos de “grande significado no trato da casa comum”.

Na verdade, bastaria ler a notícia publicada por este jornal no dia seguinte dando conta de que “sem acordo o patrimônio genético do País corre risco”, como adverte o experiente secretário executivo da Convenção de Diversidade Biológica (CDB) das Nações Unidas, o brasileiro Bráulio Dias, em entrevista a Giovanna Girardi. Sem a ratificação do Protocolo de Nagoya, sem regras para o acesso aos recursos genéticos, países detentores desse recursos, povos indígenas, comunidades locais, etc., além de todos os usuários, que incluem a comunidade científica local, toda a indústria farmacêutica e de biotecnologia, estarão ameaçados. E por aí se vê que a ausência ou presença de umas poucas palavras num texto podem ter implicações graves na vida de milhões de pessoas. Como podem ter na vida de todos os brasileiros, já que vivemos no “país mais rico em biodiversidade no mundo”.

Andrei Popov
O tema leva a outra notícia recente. A biodiversidade brasileira, que muitos pensam interessar apenas a cientistas distantes, pode ter importância próxima, direta e relevante para a adaptação a mudanças no clima, conforme estudo publicado pela revista Nature(amazonia.org, 31/8). Por mais essa razão, a biodiversidade deve ser valorizada como “instrumento de políticas públicas contra o agravamento da crise climática”. O passarinho ali no galho, a minhoca aos nossos pés têm muita importância para as condições do ambiente e para o nosso conforto pessoal. Óbvio, mas distante da consciência de muita gente. Quem se preocupa?

No Congresso Internacional de Conservação (Estado, 8/9) a ONG holandesa Black Jaguar Foundation propôs implantar um corredor verde gigante, de 2,6 mil quilômetros de extensão e 40 quilômetros de largura, cortando a metade norte do Brasil numa área total de 10,4 milhões de hectares, com cerca de 2 bilhões de árvores plantadas. Um projeto que tem como base o Código Florestal, que obriga à recuperação de áreas desmatadas ilegalmente. E ali se expandiria agora a biodiversidade.

A poluição atmosférica custa US$ 4,9 bi/ano ao Brasil, informa manchete de página deste jornal (9/9). E acrescenta que “a poluição atmosférica já é a quarta causa de morte prematura no mundo, respondendo por 2,9 milhões de óbitos somente em 2013, conforme relatório divulgado pelo Banco Mundial”. À economia planetária ela custa US$ 225 bilhões por ano. Sem falar que “o planeta perdeu 10% das áreas selvagens em apenas 26 anos” , segundo artigo da revista Current Biology (Fábio de Castro, 9/9). Quanto custará isso para cada cidadão? Que consequências terá na vida de cada um?

E vamo-nos aproximando de temas cada vez mais graves para as pessoas. Por exemplo, o de que 44,7% dos domicílios brasileiros não contam com recolhimento e tratamento de esgotos. Se se lembrar que cada pessoa expele cerca de 200 gramas diários de matéria orgânica com suas fezes, mais de 92 milhões de pessoas (44,7% de 206 milhões da população) produzirão perto de 20 toneladas diárias de matéria orgânica que irão em grande parte sem tratamento para rios. A cada dia.

E que fará cada brasileiro diante da notícia de que a temperatura até o fim do ano será a mais alta desde 1880, tal como em 2014 e 2015? Que faremos, cada um de nós? Como nos organizaremos para que as temperaturas deixem de ser recordes sucessivos na temperatura global? Desde outubro de 2015, julho foi o décimo mês seguido de temperaturas mais altas, segundo a Nasa e uma rede de 6 mil estações. Que iniciativas teremos para chegar a projetos relevantes, capazes de contribuir para o arrefecimento da temperatura no mundo?

Consequências inquietantes já estão por toda parte. Na Amazônia brasileira já houve este ano atraso no fornecimento de comida – por causa do leito mais raso de rios – e agora há também ameaça para o suprimento de água, com os rios baixando e diminuindo o volume de água (Folha de S.Paulo, 10/8). A navegação também tem estado problemática em alguns pontos.

O provável recorde anual no número de queimadas na Região Amazônica é outro ponto que deve preocupar, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e a Nasa. Até agora, já está cerca de 60% acima do mesmo período do ano passado. Com isso crescem as emissões de gases que influem no clima. E até aqui já somos, segundo o Ibama, um dos países que mais queimam no mundo, com a média histórica de 169 mil focos por ano.

Seria possível acrescentar muito: nossa situação vergonhosa em matéria de resíduos (cerca de um quilo diário produzido por pessoa), com mais de 200 mil toneladas diárias só de lixo domiciliar; lixões em mais de 3 mil municípios brasileiros; mais de 10% das residências brasileiras sem receber água tratada. E por aí afora.

Se fosse nos EUA,Lula já teria sido algemado e levado para a prisão

O ex-presidente Lula da Silva transformou o governo num balcão de negócios, destinado a arrecadar recursos para perpetuar o PT no poder, e aproveitou também para propiciar o enriquecimento ilícito dos companheiros e da própria família, com seus filhos se transformando em fenômenos profissionais e empresariais. Ao enveredar por esse caminho tenebroso, Lula tinha certeza absoluta da impunidade. Havia se tornado um superstar internacional, o PT nomeara oito dos onze ministros do Supremo, estava tudo dominado. Quem teria a ousadia de incriminá-lo?

Quando a Lava Jato começou a ameaçá-lo, ele quis economizar e não contratou um criminalista de renome. Preferiu ser defendido pelo compadre Roberto Teixeira, que não é referência em advocacia e também passou a ser investigado pelos federais – entre outras coisas, por ter participado ativamente da montagem da ocultação do patrimônio de Lula, com a utilização de “laranjas” para assumir a compra do sítio de Atibaia, supostamente realizada a mando do ex-prefeito Jacó Bittar, que sintomaticamente jamais esteve na aprazível propriedade.

Quando a situação se complicou para ele, a mulher Marisa Letícia e dois de seus filhos, Fábio e Luís Cláudio, a ficha de Lula enfim caiu e em dezembro do ano passado ele recorreu ao criminalista Nilo Batista, que magnanimamente aceitou defendê-lo de graça.

Foi o que se pensou, até que o jornalista Murilo Ramos, da revista Época, denunciou em fevereiro que Batista tinha recebido R$ 8,8 milhões de Petrobras. Na ocasião, o criminalista negou que houvesse conflito de interesses e seguiu em frente. Mas depois se descobriu que ele também advoga para a Sete Brasil no caso contra o ex-presidente da empresa João Carlos Ferraz, que admitiu receber propina na Lava Jato. E no final de abril, Batista acabou deixando a defesa do ex-presidente, por admitir que realmente existia “uma suposição de conflito de interesse” com outros clientes.

Lula então contratou outro renomado criminalista, José Roberto Batochio, ex-deputado federal pelo PDT de São Paulo, e não se sabe quanto está pagando pelos serviços.

A essa altura, a missão de Batochio é praticamente impossível, porque as provas contra Lula realmente são abundantes. Além das contradições nos depoimentos, havia rasura em contrato, foi descoberto que, além do tríplex, um outro apartamento estava reservado pela OAS para Lula, para abrigar os seguranças e motoristas a que tem direito por ser ex-presidente.

Se não houvesse comprovação, seria muita irresponsabilidade da força-tarefa denunciar criminalmente o ex-presidente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, junto com a mulher Marisa Letícia, o assessor Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, e mais quatro investigados.

E o pior é que Lula não está incriminado apenas pelo caso do tríplex do Guarujá, mas também pelo conjunto da obra, como o “comandante máximo do esquema de corrupção” instalado na Petrobras e em outros órgãos públicos. E por decisão do Supremo, através do relator Teori Zavascki, essa denúncia será apreciada pelo juiz Sérgio Moro, na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba.
Todos já sabem o que vai acontecer. A única dúvida é saber se o juiz Moro, quando aceitar a denúncia, vai mandar prender Lula preventivamente ou somente decretará a prisão ao emitir a sentença.

Se fosse nos Estados Unidos ou em outras nações desenvolvidas, Lula já teria sido algemado diante das câmaras da TV e conduzido para a prisão federal. Mas aqui no Brasil, há muitos recursos à disposição dele, o Supremo ainda nem decidiu se haverá ou não prisão de criminosos após decisão de segunda instância. E ainda dizem que os EUA são o país da liberdade… Ora, na verdade este o país é o Brasil, mas por aqui a liberdade ainda se confunde com impunidade.

Não faltam calhordas

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(Denúncia do MPF) é um atentado à soberania do povo brasileiro
Rui Falcão, presidente do PT

O capotamento

Um belo dia, descendo a serra na Via Anchieta, fui testemunha de um capotamento. O carrinho ficou lá, fumegando, com as pernas pro ar, enquanto vários de nós, motoristas, procurávamos lugares seguros para estacionar e socorrer a família ainda dentro. Chamou-me a atenção o fato do cachorrinho da família ter sido arremessado de dentro do carro e ter ficado correndo desesperado em volta do acidente, tentando entrar no veículo de volta. Todos perceberam o desespero do bichinho, mas a hora era de solidariedade e socorro às vítimas.


Porque me lembrei dessa passagem tão vivamente por aqui? Porque o Brasil é um país esquisito. Sou um designer e, como tal, entendi perfeitamente a função do “desenho” feito pela equipe de Deltan Dallagnol onde, numa espécie de “ponto de magia negra”, todas as flechas se dirigem para o Lula. É didático e explicativo. Mais ainda: é audiovisual. O Brasil comum precisa deste tipo de ajuda visual para perceber certas obviedades que tentam nos fazer engolir a seco por aqui.

No entanto, como o cachorrinho que quer voltar ao carro capotado sem entender a gravidade do ocorrido, hordas de “progressistas” pedem que a equipe da Lava Jato contrate imediatamente um designer para fazer seus powerpoints mais bonitos da próxima vez, declaradamente desqualificando o teor da denúncia que os quadros apresentam. É impressionante o trabalho de desconstrução da verdade que se emprega por aqui. A coisa virou meme. Chacota. O maior crime de que se tem notícia por aqui não passa de um gráfico mal feito. Um cachorro tentando pular a janela de volta.

É claro que a confusão entre a forma e o conteúdo é mais um dos artifícios com que jogam estes criminosos para dissimular seus crimes. Dizem que o Mensalão foi uma quadrilha sem chefe para prender, e agora o petrolão é um chefe sem formação de quadrilha para enquadrar, desqualificando a denúncia. Pera lá. O que está provado – o apartamento e as “tralhas” guardadas em favor do chefe, são irrefutáveis, meus caros. Era isso, se não me engano, que a equipe se dispunha a denunciar naquele momento. E o fez claramente.

A introdução, mostrando Lula como chefe da camorra, mentor do bando e beneficiário principal do esquema de corrupção montado no governo era só um aperitivo do que ainda está por vir na investigação em curso. Sabe a equipe da Lava Jato que eles vão ter de enfrentar uma turma poderosa de “desconstrutores da verdade”, incluindo aí figuras indisfarçáveis do nosso jornalismo.

Desqualificar o trabalho feito pela Lava Jato, assim como desqualificar o trabalho feito até aqui por Michel Temer, é a ordem do dia, a ordem de comando e a ordem unida dessa quadrilha encantadora de cobras. É o que sobrou, diante das evidências escancaradas de que são um bando de bandidos dos nossos combalidos e rapinados cofres públicos. Pois eu insisto: frear essa vigarice passa inequivocamente por derrubar a esquerda toda do poder. Toda ela, sem exceções. Mostrar claramente ao cachorro que o carro capotou. Não adianta ele querer entrar de novo pela janela do veículo, abanando o rabinho insolente. Seu dono está morto.

Mais antigo que as Olimpíadas

Olimpíadas, paraolimpíadas, torneios de futebol: neste inverno não me canso de ir a competições esportivas. Por isso fui até os Kagwahiva, um povo indígena no sul da região amazônica, pelo qual tenho um carinho especial. "Olha só, uma tocha olímpica!", gritou um homem para mim logo na chegada, de gozação.

Era um guerreiro de compleição forte. Não estava levantando tocha nenhuma no ar, mas um bastão de madeira. A brincadeira era uma de muitas da tribo onde estavam preparando eventos esportivos. Tupajakui, o cacique, tinha convocado uma competição. Acontece todo ano nessa região da Amazônia – e é com certeza um evento mais antigo que as Olimpíadas.

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Os 900 sobreviventes desse povo Kagwahiva se embrenham na mata para caçar antas e porcos do mato, pescar e colher castanhas – tudo isso para a competição. Ainda na mata, defumam a provisão de carne para o churrasco em uma fogueira de gravetos e a armazenam em cestos feitos de folhas de coqueiro trançadas. A aldeia que obtiver mais carne, peixe e castanha vence – as regras são simples assim.

Para os Kagwahiva, tudo é uma festa, uma experiência de competição esportiva e aprendizado. Como a festa, com toda a sua preparação, dura semanas, é um boa oportunidade para os indígenas exercitarem suas técnicas oriundas de uma cultura anciã e transmiti-las para seus descendentes. Atirar com arco e flecha, sobreviver na floresta, conhecer as plantas, navegar pelos rios e assim por diante.

No resto do ano, a maioria deste povo já vive com eletricidade e aparelho de TV, à margem de uma rodovia importante. As crianças vão a uma escola, e alguns adultos têm empregos na cidade. No contexto de sua festa e competição de caça, porém, voltam à outra parte de si mesmos, como antigamente.

Quando termina a caçada de semanas, Tupajakui está de braços cruzados na margem do rio. Olha com satisfação e diz o que já sabia: a sua aldeia vai vencer este ano de novo. À margem dos rios mais próximos, estão ancorados um barco de madeira atrás do outro, os recém-chegados tocam flautas de bambu, alguns cantam canções antigas. Os mais jovens fazem saudações atirando no ar com tubos de papelão e pó de pólvora. Essa última é uma modernização das tradições de tempos antigos. Foi aceita no cânone das técnica culturais com admiração, sobretudo pelos membros mais jovens da tribo, quando abriram uma loja de fogos de artifício numa cidade próxima.

"Nós Kagwahiva conhecemos os animais da floresta, sabemos como são os seus movimentos e seus hábitos", diz o cacique com orgulho, ao ver os caçadores se aproximarem da terra com cestos e mais cestos cheios de animais caçados. E então acena para seus visitantes: "Sou eu que decide qual aldeia caça em qual parte da floresta."

Thomas Fischermann

Réquiem para o Nêgo

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Quem saberia dizer o que realmente se passou pela cabeça do Dirceu para ele dar àquele labrador tão simpático e comunicativo com as crianças, um nome tão vulgar, quase beirando o preconceito de cor?

Ao mudar-se para Asa Norte, eis que reassumia seu mandato parlamentar, Dirceu deixou com a Dilma, que o sucedera na Casa Civil, o “Nêgo”.

Nas caminhadas matinais pela orla da península, a Dilma mantinha sempre discreta distancia do Nêgo, que parecia afeiçoar-se mais ao segurança que o conduzia.

Àquela altura, brincadeira ou não, corria nos desvãos do poder em Brasília que o Dirceu, precavidamente, mandara inocular no Nêgo um micro chip de espionagem.

O que tem de cachorro hoje no Brasil, algo em torno de 53 milhões, segundo o IBGE, um labrador tão simpático quanto o Nêgo não poderia ser dispensado numa campanha eleitoral, aliás, milionária e criativa como foi a da Dilma.

Os marqueteiros acharam que a Dilma poderia fazer incrível média com as crianças e com o povo em geral se aparecesse na mídia impressa e televisada, em fotos e filmes, passeando pela aí com o Nêgo.

Quer queiram ou não, o agente secreto do Dirceu fez um bom trabalho na campanha, inclusive ajudando a dar retoques mais humanos àquelas feições da Dilma quando ela amanhecia invocada, com aquela cara amuada de poucos amigos.

Eleita Presidente, ao mudar-se para o Palácio da Alvorada, o Nêgo foi na bagagem. Não demorou e numa manhã, ela viu uma cena que lhe pareceu intragável – o Nêgo fingindo avançar, mas recuando e latindo ao derredor das emas. Era o seu jeito de brincar. Foi o bastante para a Presidenta deportar o Nêgo para a Granja do Torto.

No exilio o Nêgo se deu bem. Conheceu uma labradora que lhe deu três lindos filhotes aloirados. Um deles a Dilma deu a Senadora Hoffman. Não se teve mais noticias do Nêgo e de sua fêmea e de suas outras crias.

A Rainha Elizabeth 2ª presenteou com uma felpuda cadelinha o então Presidente Jânio Quadros, que apelidou-a de “Muriçoca”. Jânio não adotou só o genro de quem, aliás, andou se queixando. Adotou também cães vira latas que encontrava sem donos pelas ruas do Guarujá. Chamava-os pelo dia da semana em que os levava pra casa. Assim – segunda feira, quinta feira. E tal. Era de verdade o carinho com que ele e a Tutu, sua filha, cuidavam dos cães.

Quando se viu sem saída em seu bunker em Berlim, Hitler matou “Blondi” sua cadela de estimação dando-lhe uma pastilha de cianureto e depois um tiro de pistola no céu da boca.

Depois disso desapareceu deixando duas lendas – a primeira a de que teria, ele também, se matado com um tiro na boca e seu corpo depois incinerado com gasolina a céu aberto em frente à chancelaria.

Na outra versão o maluco teria fugido num submarino para a Patagônia Argentina com direito a uma parada técnica em Guimarães, no Maranhão.

Uma das ultimas ordens que a Dilma deu como Presidenta antes de ir embora do Palácio da Alvorada foi mandar matar o Nêgo. Poderia manda-lo de volta ao Dirceu. Ou doa-lo a algum servidor. Mas, não. A ordem presidencial saiu seca – matem o Nêgo. O motivo? Estava velho e doente.

Imaginas se ela não fosse tirada logo e se isso vira precedente...

Edson Vidigal

Oceanos enfrentam uma extinção em massa sem precedentes

“Agora mesmo estamos decidindo, quase sem querer, quais caminhos evolutivos permanecerão abertos e quais serão fechados para sempre. Nenhuma outra criatura jamais havia feito isso, e será, infelizmente, nosso legado mais duradouro”. Elizabeth Kolbert definiu assim o papel que estão desempenhando os seres humanos em A Sexta Extinção, o livro que ganhou o Prêmio Pulitzer no ano passado. O título é bastante expressivo: nos quase 4 bilhões de anos de história da vida na Terra, ocorreram cinco megaextinções, momentos em que muitos dos seres vivos foram arrastados de repente para a desaparição por vários cataclismos. E agora, segundo todos os dados recolhidos pela ciência, a civilização humana está causando uma nova extinção em massa: somos como o meteorito que dizimou os dinossauros do planeta.

E as criaturas dos oceanos não vão conseguir se livrar. Estamos provocando a agonia de numerosas espécies marinhas e, como dizia Kolbert, escolhendo os seres aquáticos que ao desaparecerem deixarão de evoluir no futuro. A este ritmo, os grandes animais que vão povoar os mares dentro de milhões de anos não serão descendentes de nossas baleias, tubarões e atuns porque estamos matando todos eles para sempre. E do mesmo modo que o desaparecimento dos dinossauros deixou um vazio que demorou eras para ser preenchida pelos mamíferos, não sabemos o que vai ser da vida nos oceanos depois de serem arrasados.

Vladimir Kush:
Vladimir Kush
“A eliminação seletiva dos maiores animais nos oceanos modernos, algo sem precedentes na história da vida animal, pode alterar os ecossistemas durante milhões de anos”, conclui um estudo apresentado nesta semana pela revistaScience. Liderado por pesquisadores de Stanford, o trabalho mostra como esta sexta extinção está acontecendo com os seres aquáticos de maior tamanho. Um padrão “sem precedentes” no registro das grandes extinções e que com muita segurança acontece por causa da pesca: hoje em dia, quanto maior o animal marinho, maior a probabilidade de se tornar extinto.

Como explicou para Materia o principal autor do estudo, Jonathan Payne, o nível de perturbação ecológica causada por uma grande extinção depende da percentagem de espécies extintas e da seleção de grupos de espécies que são eliminados. “No caso dos oceanos modernos, a ameaça preferente pelos de maior tamanho poderia resultar em um evento de extinção com um grande impacto ecológico porque os grandes animais tendem a desempenhar um papel importante no ciclo de nutrientes e nas interações da rede alimentar”, disse Payne, referindo-se a que os danos afetariam em cascata todos os ecossistemas marinhos.