Supremas esperanças
Até que os discursos inflamados e empolados do decano Celso de Mello impressionam com sua retórica de combate implacável à corrupção e aos “marginais da República”. E, no entanto, quando foi julgada a decretação da prisão depois de condenação por colegiado em segunda instância, fundamental no real combate à impunidade, o ministro votou contra a maioria do STF. Em nome da presunção de inocência, quem tem dinheiro e bons advogados consegue arrastar seus processos até a prescrição.
E os “marginais da República”? Renan Calheiros tem 12 processos no STF, entre eles o que acusa o lobista de uma empreiteira de pagar a pensão de sua filha fora do casamento, que se esconde há sete anos no Supremo, e ninguém sabe por que até agora não foi julgado. O que pode fazer a presidente Cármen Lúcia sobre isso? O que podem os demais ministros? Quem está segurando este processo e por quê? Sete anos não são suficientes para formar um juízo e levar a julgamento? Não há discurso jurídico que explique isto, só a baixa política.
O José Casado tem razão quando os chama de “políticos de toga”, que não chega a ser ofensivo (a não ser talvez às ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber ), afinal, nem todo político é corrupto, e os ministros do STF não pintam os cabelos nem fazem implantes. Mas Lewandowski, Gilmar, Dias Toffoli (foi advogado do PT, serviu a José Dirceu na Casa Civil, mas não se julgou suspeito para absolvê-lo no mensalão), Barroso, Teori, Fachin, Luiz Fux, Marco Aurélio, são ligados a correntes políticas e corporativas que apoiaram suas carreiras até o Supremo, até a suprema vaidade humana, à sensação de poder ilimitado, aos egos inflados de tanta sabedoria. Como são justos! E probos! E poderosos! Como são supremos! Basta observar-lhes a expressão corporal, o prazer em ouvir a própria voz em discursos intermináveis recheados de termos eruditos.
Com a falência do governo Dilma e a desmoralização do Congresso com Eduardo Cunha, o Judiciário ganhou o protagonismo da cena política. Mas discursos não bastam: dois anos de Lava-Jato, e o STF ainda não julgou nenhum político.Nelson Motta
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