segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Coisa velha

A corrupção é quase generalizada entre os habitantes do Brasil. (...) A impunidade trata de transformar esse vício num hábito
M. De La Flotte (1757) passou apenas duas semanas no Rio

Se mudar acaba


O Senado perdeu mais uma chance de ficar sintonizado com os gritos de mudança que vêm das ruas. A continuidade do mesmo grupo que há anos, talvez décadas, comanda o Senado, substituindo Renan por Sarney e vice-versa, agora sem ao menos mudar o presidente, representa a perda de uma boa chance de mudança.

A impressão é de que o grupo no poder, PT e PMDB, está amarrado ao continuísmo. Não consegue mudar sem acabar.

A senadora Marta Suplicy disse um dia desses que "ou o PT muda ou acaba". Eu concordei, mas a frase certa é: "se o PT mudar, acaba", porque está viciado na maneira como ele é.

Por mais que desejassem mudar a direção do Senado, como diziam diversos petistas, no último momento os senadores do PT, inclusive os que falam em mudanças, tiveram de barrar a mudança.

Há um imenso peso que não deixa PT e PMDB mudarem sem perder as característica básicas atuais deles. Ambos partidos surgiram de luta por mudanças.

O poder os viciou e amarrou. Não têm forma de mudar nem apoiam mudanças, porque eles acabariam.

O pior é que por estarem amarrados às suas características atuais, que nada têm a ver com aquelas que lhes levaram ao poder, amarram as instituições, desmoralizando a política, corrompendo o Estado.

Dilma se trumbica




Quem não conheceu Chacrinha, o Velho Guerreiro, talvez nunca tenha ouvido seu mote mais popular: “Quem não se comunica se trumbica”. Era um visionário. Ele só não previa que pessoas como a nossa presidente, Dilma Rousseff, usassem a comunicação contra si mesmas. Quanto mais a “guerreira” Dilma se comunica, mais se trumbica. Porque a mentira, repetida ad eternum, é uma péssima arma de comunicação, um suicídio político. Não compensa a longo prazo.

“Você pode enganar todo mundo por algum tempo; pode enganar alguns por todo o tempo; mas não pode enganar todo mundo o tempo todo.” A citação é atribuída a Abraham Lincoln, ex-presidente dos EUA. Dilma descobriu isso a duras penas. Na Base do Planalto, a guerreira foi treinada por Lula a enganar, a gritar bravatas, a prometer fantasias. Mas a longa permanência do PT no Poder, aliada à determinação de alguns juízes, no Supremo Tribunal Federal e no Ministério Público, fez ruir o castelo de cartas marcadas.

“Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação”, disse Dilma a seus 39 ministros. “Não permitam que a falsa versão se crie e se alastre”, exigiu Dilma. “Sejam claros. Sejam precisos e se façam entender” – tudo o que Dilma nunca faz. A presidente se enfureceu com a comunicação dos R$ 88,6 bilhões em “ativos inflados” da Petrobras. Uma expressão em economês que nada significa para a maioria da população. Os discursos do governo têm estado coalhados de “tolicês compliquês”, dialeto criado para despistar a verdade.

Pesquisa rápida revela tantas mentiras de Dilma sobre a Petrobras e sobre as contas públicas que lhe falta credibilidade até junto a seus aliados. Eles vivem levando bronca. Não sei quanto tempo Graça Foster suportará servir de para-­raios para Dilma.

Luta contra a pobreza perde fôlego na América Latina


Os avanços na América Latina na redução da pobreza perigam. O menor crescimento econômico obriga a rever programas de investimento e políticas públicas
A América Latina é conhecida como uma das regiões do mundo onde a pobreza e a desigualdade foram reduzidas com mais intensidade nas últimas décadas e, apesar disso, não consegue deixar de liderar os rankings de pobreza e disparidade de renda entre os países em desenvolvimento. Alguns estudos assinalam que os avanços, realmente, foram menos espetaculares do que podia parecer à primeira vista e que a pobreza “persiste como um fenômeno estrutural que caracteriza a sociedade latino-americana”, conforme aponta a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Entre 70 e 90 milhões de pessoas deixaram a pobreza na última década, segundo o Banco Mundial, mas os cidadãos da região que ganham menos de quatro dólares por dia são ainda muito numerosos. A CEPAL estima que, em 2014, 28% dos latino-americanos viviam na pobreza, uma porcentagem quase idêntica à de anos anteriores. São 167 milhões de pessoas, dos quais 71 milhões vivem na indigência, no limite da subsistência, situado em dois dólares por dia. E tudo isso apesar de a região ter vivido uma autêntica era de ouro graças ao expressivo aumento dos preços das matérias-primas, impulsionado em boa medida pela demanda da China e a forte entrada de capitais estrangeiros.

“A recuperação da crise financeira internacional não parece ter sido suficientemente aproveitada para o fortalecimento de políticas de proteção social que reduzam a vulnerabilidade diante dos ciclos econômicos”, admitia a secretária-executiva da CEPAL, Alicia Bárcena. “É verdade que se partia de níveis de pobreza e desigualdade muito elevados. Mas se observarmos os ganhos que esses países tiveram graças ao auge das matérias-primas, fica evidente que desperdiçaram os recursos para avançar nesses objetivos, deveriam ter sido muito maiores”, afirma em Washington Ángel Melguizo, chefe da unidade para a América Latina do Centro de Desenvolvimento da OCDE, Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.


A fronteira entre essa pobreza moderada e o que Melguizo denomina setores médios – “quem ganha entre 4 e 50 dólares por dia, realmente não se pode falar de classe média”, matiza – é definida basicamente por ter ou não ter emprego. Nos países desenvolvidos, as políticas sociais, as transferências do setor público e o denominado Estado do Bem-estar Social representam um fator muito importante na hora de diminuir as diferenças e garantir níveis mínimos de renda para seus cidadãos. Mas em economias emergentes, com seguro desemprego incompleto e acesso limitado a instrumentos de poupança, estar empregado pode representar a diferença entre uma renda de nível médio e uma transferência pública de subsistência. Inclusive em economias, como as latino-americanas, marcadas pelo elevado grau de informalidade, que persiste na região.
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Chegou a hora


Quando eventualmente este artigo vier a ser lido, a Câmara dos Deputados estará escolhendo seu novo presidente. Ganhe ou perca o governo, as fraturas na base aliada estarão expostas. Da mesma maneira, o esguicho da Operação Lava Jato respingará não só nos empresários e ex-dirigentes da Petrobras nomeados pelos governos do PT, mas nos eventuais beneficiários da corrupção que controlam o poder. A falta de água e seus desdobramentos energéticos continuarão a ocupar as manchetes. Não se precisa saber muito de economia para entender que a dívida interna (três trilhões de reais!), os desequilíbrios dos balanços da Petrobras e das empresas elétricas, a diminuição da arrecadação federal, o início de desemprego, especialmente nas manufaturas, o aumento das taxas de juros, as tarifas subindo, as metas de inflação sendo ultrapassadas dão base para prognósticos negativos do crescimento da economia.

Tudo isso é preocupante, mas, não é o que mais me preocupa. Temo, especialmente, duas coisas: o havermos perdido o rumo da história e o fato da liderança nacional não perceber que a crise que se avizinha não é corriqueira: a desconfiança não é só da economia, é do sistema político como um todo. Quando esses processos ocorrem não vão para as manchetes de jornal. Ao entrar na madeira, o cupim é invisível; quando percebido, a madeira já apodreceu.

Por que temo havermos perdido o rumo? Porque a elite governante não se apercebeu das consequências das mudanças na ordem global. Continua a viver no período anterior, no qual a política de substituição das importações era vital para a industrialização. Exageraram, por exemplo, ao forçar o “conteúdo nacional” na indústria petrolífera, excederam-se na fabricação de “campeões nacionais” à custa do Tesouro. Os resultados estão à vista: quebram-se empresas beneficiárias do BNDES, planejam-se em locais inadequados refinarias “Premium” que acabam jogadas na vala dos projetos inconclusos. Pior, quando executados, têm o custo e a corrupção multiplicados. Projetos decididos graças à “vontade política” do mandão no passado recente.

Pela mesma cegueira, para forçar a Petrobras a se apropriar do pré-sal, mudaram a lei do petróleo que dava condições à estatal de concorrer no mercado, endividaram-na e a distanciaram da competição. Medida que isentava a empresa da concorrência nas compras, se transformou em mera proteção para decisões arbitrárias que facilitaram desvios de dinheiro público.

Mais sério ainda no longo prazo: o governo não se deu conta de que os Estados Unidos estavam mudando sua política energética, apostando no gás de xisto com novas tecnologias, buscando autonomia e barateando o custo do petróleo. O governo petista apostou no petróleo de alta profundidade, que é caro, descontinuou o etanol pela política suicida de controle dos preços da gasolina que o tornou pouco competitivo e, ainda por cima (desta vez graças à ação direta de outra mandona), reduziu a tarifa de energia elétrica em momento de expansão do consumo, além de ter tomado medidas fiscais que jogaram no vermelho as hidrelétricas.

Agora todos lamentam a crise energética, a falta de competitividade da indústria manufatureira e a alta dos juros, consequência inevitável do desmando das contas públicas e do descaso com as metas de inflação. Os donos do poder esqueceram-se de que havia alternativas, que sem renovação tecnológica os setores produtivos isolados não sobrevivem na globalização e que, se há desmandos e corrupção praticados por empresas, eles não decorrem de erros do funcionalismo da Petrobras, nem exclusivamente da ganância de empresários, mas de políticas que são de sua responsabilidade, até porque foi o governo quem nomeou os diretores ora acusados de corrupção, assim como foram os partidos ligados a ele os beneficiados.

O céu (ou, agora, o inferno), é o limite

Os registros contábeis da Petrobras vêm se mostrando incapazes – tamanho o torrencial assalto ocorrido na estatal nos governos Lula e Dilma – de determinar, com precisão, a perda patrimonial provocada pela corrupção nos “governos” petistas. Se a administração desonesta colocou em risco a sobrevivência da empresa, a ausência e não divulgação correta desses registros contábeis, em tempo aceitável, rotineiros em toda administração empresarial honesta, vem tendo como resultado o despencar do valor das ações da Petrobras nas bolsas de valores, a nível nacional e internacional.

Porém, os meios de comunicação – felizmente ainda não controlados pelo lulopetismo – divulgaram a descoberta de um descomunal prejuízo originário da interferência direta de Lula, no exercício do cargo de presidente da República, ou seja, R$ 2,7 bilhões jogados no lixo na tresloucada iniciativa política de construir duas refinarias cujos estudos haviam chegado à conclusão de serem inviáveis técnica e economicamente. Uma no Ceará e outra no Maranhão.

A do Ceará, para agradar aos irmãos Gomes, a do Maranhão, para fazer um cafuné na família Sarney. As duas, para arrebanhar votos da população nos dois Estados. É patente a interferência política e partidária nesse ato no qual Lula dispôs e usou como se fosse seu dinheiro alheio, dos acionistas da Petrobrás.

Tudo indica que esse ato de imoralidade, improbidade e falta de zelo com o patrimônio da empresa seja apenas um grão de areia no oceano de corrupção que invadiu e cobriu a Petrobras. E, sejamos sinceros, poucos brasileiros acham que Lula será alcançado por qualquer ato punitivo pela Justiça brasileira. Nem ele nem nenhum predador de alto porte político.

Os fatos conhecidos fazem escapar da imaginação de qualquer mortal a perda total da empresa (e de seus acionistas) oriunda da administração petista para comprar poder político. Comprar e pagar com dinheiro alheio. Nesse mercado dirigido e viciado de compra e venda surge, com brilho de estrela de primeira grandeza, a importância da nomeação de diretores selecionados para efetuar o superfaturamento dos contratos com o objetivo de abastecer o caixa dos partidos, aumentar o patrimônio dos políticos e, é claro, como não há otário nesse meio, encher os próprios bolsos. Os astros mostram que ainda virá muita “baianada” por aí.

É emblemático o caso do funcionário subalterno que, para se livrar da cadeia, propôs devolver cerca de US$ 100 milhões provenientes do assalto realizado na Petrobras. O cabo corneteiro quer devolver US$ 100 milhões; dá para imaginar em quanto os generais da corrupção foram “remunerados” ?

O céu (ou, agora, o inferno) é o limite.