segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Luta contra a pobreza perde fôlego na América Latina


Os avanços na América Latina na redução da pobreza perigam. O menor crescimento econômico obriga a rever programas de investimento e políticas públicas
A América Latina é conhecida como uma das regiões do mundo onde a pobreza e a desigualdade foram reduzidas com mais intensidade nas últimas décadas e, apesar disso, não consegue deixar de liderar os rankings de pobreza e disparidade de renda entre os países em desenvolvimento. Alguns estudos assinalam que os avanços, realmente, foram menos espetaculares do que podia parecer à primeira vista e que a pobreza “persiste como um fenômeno estrutural que caracteriza a sociedade latino-americana”, conforme aponta a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Entre 70 e 90 milhões de pessoas deixaram a pobreza na última década, segundo o Banco Mundial, mas os cidadãos da região que ganham menos de quatro dólares por dia são ainda muito numerosos. A CEPAL estima que, em 2014, 28% dos latino-americanos viviam na pobreza, uma porcentagem quase idêntica à de anos anteriores. São 167 milhões de pessoas, dos quais 71 milhões vivem na indigência, no limite da subsistência, situado em dois dólares por dia. E tudo isso apesar de a região ter vivido uma autêntica era de ouro graças ao expressivo aumento dos preços das matérias-primas, impulsionado em boa medida pela demanda da China e a forte entrada de capitais estrangeiros.

“A recuperação da crise financeira internacional não parece ter sido suficientemente aproveitada para o fortalecimento de políticas de proteção social que reduzam a vulnerabilidade diante dos ciclos econômicos”, admitia a secretária-executiva da CEPAL, Alicia Bárcena. “É verdade que se partia de níveis de pobreza e desigualdade muito elevados. Mas se observarmos os ganhos que esses países tiveram graças ao auge das matérias-primas, fica evidente que desperdiçaram os recursos para avançar nesses objetivos, deveriam ter sido muito maiores”, afirma em Washington Ángel Melguizo, chefe da unidade para a América Latina do Centro de Desenvolvimento da OCDE, Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.


A fronteira entre essa pobreza moderada e o que Melguizo denomina setores médios – “quem ganha entre 4 e 50 dólares por dia, realmente não se pode falar de classe média”, matiza – é definida basicamente por ter ou não ter emprego. Nos países desenvolvidos, as políticas sociais, as transferências do setor público e o denominado Estado do Bem-estar Social representam um fator muito importante na hora de diminuir as diferenças e garantir níveis mínimos de renda para seus cidadãos. Mas em economias emergentes, com seguro desemprego incompleto e acesso limitado a instrumentos de poupança, estar empregado pode representar a diferença entre uma renda de nível médio e uma transferência pública de subsistência. Inclusive em economias, como as latino-americanas, marcadas pelo elevado grau de informalidade, que persiste na região.
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