sábado, 26 de março de 2016
'Viagra', 'cacique', 'múmia' e outros apelidos dos políticos brasileiros
Provocaram risos em alguns e obrigaram outros a pensar. Refiro-me aos apelidos relacionados a muitos dos mais de 200 políticos que aparecem na lista de repasses da Odebrecht, não se sabe ainda se realizados de forma lícita ou ilegalmente.
Colocados ao lado do nome de cada um deles, esses apelidos não revelam apenas a responsabilidade de uma das maiores empresas do país, enraizada em mais de 20 países, por financiar políticos ilegalmente. Talvez mais do que isso, revelam o pouco respeito que tais personagens parecem merecer aos olhos da empresa.
E na lista dos nomes de políticos tem de tudo: ministros, senadores, deputados, governadores, prefeitos e até ex-presidentes da República.
Com raras exceções, como a do ex-presidente José Sarney, que figura como Escritor por ser membro da Academia Brasileira de Letras, os demais são registrados com termos de desprezo ou piada, como Caranguejo, Viagra, Nervosinho, Múmia, Drácula, Escondidinho, Colorido, Passivo, Bruto, Eva, Cacique, etc.
“Não é uma quadrilha de bandidos da Rocinha; são homens que comandam a política brasileira”, escreveu Nelson Motta, irônico, em O Globo.
São os personagens, diria eu, que representam ou representaram o motor político e econômico da América Latina, essa potência mundial que continua sendo o Brasil apesar da crise que o atinge no momento.
Nestes dias observamos como os políticos, de qualquer tipo e formação ideológica, são tratados, sem sutis distinções, como ladrões e corruptos no meio do furacão de paixões que a crise desperta nas pessoas, algo que aparece de forma cada vez mais evidente e perigosa nas redes sociais.
Mais grave talvez seja que essa falta de respeito e estima pelos políticos, até pelos de maior renome, apareça reconhecida agora entre as grandes empresas, responsáveis por boa parte do PIB do país. Para elas, esses políticos são vistos com o pouco respeito que lhes dedicam com os apelidos jocosos ou de desprezo, desenhados ao lado de seus nomes na pia batismal.
Mais importante, talvez, do que o possível desenlace da crise institucional que poderá causar uma mudança do atual sistema político brasileiro, é o fato de que hoje, urgentemente, os políticos, os de agora e os que podem chegar às próximas eleições, precisam recuperar um mínimo de dignidade e respeito não só entre a população, mas entre as empresas responsáveis pelo crescimento econômico do país.
Não existe hoje, no mundo civilizado uma democracia sólida que não se apoie no respeito e defesa da política, não existe um substituto válido à democracia. Todas as outras aventuras, fora da política representativa, trazem sempre o fedor do autoritarismo.
As empresas responsáveis por criar riqueza e demonstrar que o capitalismo moderno não é inconciliável com o respeito à democracia e à defesa das conquistas sociais, são indispensáveis para forjar o bem-estar público e o crescimento do emprego.
Quando até elas, entretanto, preferem se divertir com um espetáculo de “feira” de compra e venda de políticos que possam favorecê-las em seus jogos de interesses à sombra da impunidade, não temos o direito de criminalizar a sociedade quando ela se insurge contra os políticos, às vezes até com raiva.
“No Brasil, tudo acontece antes do imaginado”, escreveu Claudia Jorge Imenes em uma rede social. Espero que ela seja uma profeta e tenhamos a surpresa de que a recuperação econômica, ética, política e de confiança dos brasileiros em suas instituições, chegue “antes do imaginado”.
E espero que chegue sem rompimentos excessivos, seja qual for o desenlace final, para que os brasileiros demonstrem ao mundo, que são capazes de manter viva e em pé sua democracia e a força ainda não corrompida de suas instituições que são observadas de fora de suas fronteiras. Vejam a nova Argentina de Macrie o poderoso líder norte-americano, Barack Obama. Ambos, e com eles muitos mais, estão observando para onde caminha o Brasil, que não é uma república das bananas na América Latina, muito menos uma Venezuela. É um país continental com vocação de império, algo que poucos negam.
As empresas brasileiras, apreciadas no exterior, não deveriam entrar no jogo de tratar os políticos, pelo pouco respeito que inspiram, como se fossem caudilhos de uma republiqueta.
O Brasil é mais do que isso. Mais do que seus políticos e suas próprias empresas. O Brasil são os mais de 200 milhões de brasileiros conscientes de que sua Terra, sua capacidade de escapar das crises, lhes permitiria viver não só sem pobreza, mas participar, sem irritantes desigualdades sociais, do banquete que lhes cabe.
Não porque “Deus é brasileiro”, mas porque o Brasil é capaz de realizar milagres com a força de sua criatividade e a habilidade inata de saber “resolvê-las”.
E o conseguirá melhor unindo forças e esperanças do que se enfrentando, sacudido pelas paixões da política com minúscula.
Colocados ao lado do nome de cada um deles, esses apelidos não revelam apenas a responsabilidade de uma das maiores empresas do país, enraizada em mais de 20 países, por financiar políticos ilegalmente. Talvez mais do que isso, revelam o pouco respeito que tais personagens parecem merecer aos olhos da empresa.
E na lista dos nomes de políticos tem de tudo: ministros, senadores, deputados, governadores, prefeitos e até ex-presidentes da República.
Com raras exceções, como a do ex-presidente José Sarney, que figura como Escritor por ser membro da Academia Brasileira de Letras, os demais são registrados com termos de desprezo ou piada, como Caranguejo, Viagra, Nervosinho, Múmia, Drácula, Escondidinho, Colorido, Passivo, Bruto, Eva, Cacique, etc.
“Não é uma quadrilha de bandidos da Rocinha; são homens que comandam a política brasileira”, escreveu Nelson Motta, irônico, em O Globo.
São os personagens, diria eu, que representam ou representaram o motor político e econômico da América Latina, essa potência mundial que continua sendo o Brasil apesar da crise que o atinge no momento.
Nestes dias observamos como os políticos, de qualquer tipo e formação ideológica, são tratados, sem sutis distinções, como ladrões e corruptos no meio do furacão de paixões que a crise desperta nas pessoas, algo que aparece de forma cada vez mais evidente e perigosa nas redes sociais.
Mais grave talvez seja que essa falta de respeito e estima pelos políticos, até pelos de maior renome, apareça reconhecida agora entre as grandes empresas, responsáveis por boa parte do PIB do país. Para elas, esses políticos são vistos com o pouco respeito que lhes dedicam com os apelidos jocosos ou de desprezo, desenhados ao lado de seus nomes na pia batismal.
Mais importante, talvez, do que o possível desenlace da crise institucional que poderá causar uma mudança do atual sistema político brasileiro, é o fato de que hoje, urgentemente, os políticos, os de agora e os que podem chegar às próximas eleições, precisam recuperar um mínimo de dignidade e respeito não só entre a população, mas entre as empresas responsáveis pelo crescimento econômico do país.
Não existe hoje, no mundo civilizado uma democracia sólida que não se apoie no respeito e defesa da política, não existe um substituto válido à democracia. Todas as outras aventuras, fora da política representativa, trazem sempre o fedor do autoritarismo.
As empresas responsáveis por criar riqueza e demonstrar que o capitalismo moderno não é inconciliável com o respeito à democracia e à defesa das conquistas sociais, são indispensáveis para forjar o bem-estar público e o crescimento do emprego.
Quando até elas, entretanto, preferem se divertir com um espetáculo de “feira” de compra e venda de políticos que possam favorecê-las em seus jogos de interesses à sombra da impunidade, não temos o direito de criminalizar a sociedade quando ela se insurge contra os políticos, às vezes até com raiva.
“No Brasil, tudo acontece antes do imaginado”, escreveu Claudia Jorge Imenes em uma rede social. Espero que ela seja uma profeta e tenhamos a surpresa de que a recuperação econômica, ética, política e de confiança dos brasileiros em suas instituições, chegue “antes do imaginado”.
E espero que chegue sem rompimentos excessivos, seja qual for o desenlace final, para que os brasileiros demonstrem ao mundo, que são capazes de manter viva e em pé sua democracia e a força ainda não corrompida de suas instituições que são observadas de fora de suas fronteiras. Vejam a nova Argentina de Macrie o poderoso líder norte-americano, Barack Obama. Ambos, e com eles muitos mais, estão observando para onde caminha o Brasil, que não é uma república das bananas na América Latina, muito menos uma Venezuela. É um país continental com vocação de império, algo que poucos negam.
As empresas brasileiras, apreciadas no exterior, não deveriam entrar no jogo de tratar os políticos, pelo pouco respeito que inspiram, como se fossem caudilhos de uma republiqueta.
O Brasil é mais do que isso. Mais do que seus políticos e suas próprias empresas. O Brasil são os mais de 200 milhões de brasileiros conscientes de que sua Terra, sua capacidade de escapar das crises, lhes permitiria viver não só sem pobreza, mas participar, sem irritantes desigualdades sociais, do banquete que lhes cabe.
Não porque “Deus é brasileiro”, mas porque o Brasil é capaz de realizar milagres com a força de sua criatividade e a habilidade inata de saber “resolvê-las”.
E o conseguirá melhor unindo forças e esperanças do que se enfrentando, sacudido pelas paixões da política com minúscula.
A hora da democracia
Aceitemos, como hipótese para discussão, que esteja em curso no País um “golpe contra a democracia”. Um golpe, como se sabe, é um ato de força que infringe a legalidade e as instituições com que uma sociedade se governa e processa seus conflitos, que fere com a arma da excepcionalidade o que está instituído e os parâmetros éticos. Na visão governista, como tem repetido à exaustão o discurso oficial, esse golpe se materializaria no pedido de impeachment contra Dilma e no tratamento “inquisitorial” dispensado a Lula pela Justiça.
A imagem do “golpe”, no entanto, não está plenamente caracterizada, não se apoia em fatos concretos. O que enseja o surgimento de várias outras versões da tese. Algumas podem chegar até mesmo a ser mais convincentes e tecnicamente corretas do que a versão oficial.
O que prejudica mais a democracia, por exemplo: um processo de impedimento que corre segundo ritos e ritmos legais ou a catilinária disparata da presidente contra a Justiça, o Congresso e a mídia, uma arenga regressista como poucas se viram no País, de nível mais primário que falas exasperadas de agitadores de botequim? O que é mais antidemocrático: uma campanha pelo engajamento cívico da população contra um governo que não governa (e nessa medida prejudica a todos) ou o estímulo para que as pessoas se disponham a defender todo e qualquer ato, mesmo os mais destemperados, desde que ele venha com o carimbo do Palácio do Planalto?
É patético, e preocupante, ver o governo Dilma cercado por apoiadores que prometem “incendiar o País” e acabar com a “paz” caso o impeachment avance, alimentando a insanidade política e a violência só pela necessidade de obter tribuna. Não se trata de nada próximo do que se poderia chamar de esquerda, mas de uma estratégia de sobrevivência posta a serviço de um ataque contra o pouco de coesão social que existe por aí, contra as instituições democráticas e contra o bom senso.
A hora é, pois, de defender a democracia e de tentarmos nos entender, minimamente, sobre o significado que essa palavra deve ter entre nós. Democracia passa pelo respeito às leis, pelo Estado Democrático de Direito, tão falado nos últimos dias. Tem que ver com a admissão de que nenhum poderoso está acima da lei, o poder político governamental precisa ter freios e ser controlado, não pode mentir e eventuais bravatas de seus ocupantes precisam ser criticadas e desmascaradas – a serenidade e a sensatez são recursos democráticos por excelência. Passa pela integridade moral da classe política, por mais impreciso que isso possa ser. Necessita de espaços de liberdade de contestação e de cidadãos mobilizados, educados politicamente e dispostos a lutar por seus interesses. Exige a criação de um clima favorável ao diálogo e à resolução negociada de crises e problemas. Passa pela adoção de políticas que promovam justiça, igualdade e bem-estar para todos.
Boa parte desses pressupostos da democracia está em falta hoje. Pode ser que as oposições estejam açodadas no combate ao governo, mas a pouca oferta democrática tem no próprio governo sua maior fonte geradora. Um governo que não governa, que não tem qualidade de gestão, que se compõe conforme conveniências e interesses fisiológicos, que se vale de procedimentos destinados a dar privilégio de foro a seus correligionários, que agita para tentar se defender das críticas, que age para disseminar o medo – um governo assim é um pesadelo para a democracia.
A crise atual não tem desfecho líquido e certo. A imprevisibilidade é sua marca registrada. O momento necessita demais da atuação de políticos criteriosos e realistas, estes seres vocacionados para encontrar saídas quando tudo parece imerso na escuridão.
Se habilidade tivesse, se não pensasse a política com o fígado, se soubesse construir apoios e se afirmar com destemor, ousadia e coragem no cenário, a presidente Dilma poderia ser protagonista decisiva do desfecho de que tanto se necessita. Poderia ser o polo de articulação de uma saída democrática da crise, um operador revestido de força ímpar para tirar o País do torpor em que se encontra.
Nas últimas semanas, com suas intervenções sanguíneas e atabalhoadas, Dilma talvez tenha queimado parte importante de suas reservas estratégicas, talvez tenha detonado algumas pontes preciosas que a ligavam à razão de Estado e à racionalidade política.
Mesmo assim, a presidente não pode ser sumariamente descartada. Sua eventual contribuição – que representaria sua manutenção no jogo –, porém, é inversamente proporcional à disposição que vem demonstrando de confrontar as instituições e os políticos para tentar cair nos braços da galera.
Há um clima de impasse e paralisia no País. Sua reprodução não interessa a ninguém. Se o combate a isso tardar e passar do ponto, as consequências serão certamente as piores. Não é ainda uma situação desesperadora, mas requer atenção e cuidado.
Se a hora é da democracia, então é indispensável que os democratas saiam a campo para promovê-la. A hipótese do “golpe” não ajuda a agregar forças amplas e deixa seus defensores num gueto com pouco oxigênio. Há resistências e obstáculos de todo tipo, o diálogo anda travado, faltam sensatez e serenidade. Mas é preciso tentar, sem vetos e com o concurso de todos. Porque, se der certo, todos ganharão.
Dilma na cerimônia do adeus
A irresponsabilidade de Dilma Rousseff e de Lula nessa reta final do governo é assombrosa. Tanto a dupla como o establishment petista sabem que nada mais pode ser feito. Acabou mesmo! Eles se dedicam agora é a criar uma narrativa da partida que possa manter reunido ao menos um pedaço da militância.
Quando a presidente, seu antecessor e a cúpula petista gritam "golpe!", já não falam mais para o conjunto dos brasileiros. É um discurso voltado para os fiéis, para a militância. Criar uma mitologia da derrota, para os tempos de deserto, é tão importante como criar uma da vitória para os tempos de bonança.
O PT está deixando o poder, mas pretende voltar. Para que possa se reorganizar, terá de encolher; de buscar as suas origens; de resgatar a mística do confronto de classes; de excitar, como nos tempos primitivos, não o desejo de consumo das massas, mas o ressentimento dos oprimidos. Lula não quer deixar o poder como um ladrão, mas como um excluído.
Será o patriarca banido da Terra Prometida depois de tê-la conquistado. Viverá de contar histórias e de excitar a imaginação dos mais moços. O PT, como o conhecemos, está morto, mas não a mística intelectualmente vigarista da redenção dos oprimidos que o embala. Esta é um dado permanente na história.
Até um novo barbudo já veio à luz para divulgar "a palavra". O Lula renascido é Guilherme Boulos. Consoante com os tempos da nova esquerda, ele não vem do chão de fábrica, mas dessas milícias supostamente benignas a que chamam "movimentos sociais".
Achando que um é pouco, o rapaz comanda dois movimentos: o MTST e a Frente Povo Sem Medo. Deveria logo abrir uma incubadora de produtos ideológicos do gênero. Se houver impeachment, o novo profeta promete "incendiar o país". Dito de outro modo: se o Congresso não vota como quer Boulos, ele não reconhece o resultado.
Lula nasceu para a política quando a esquerda foi levada a aderir à "democracia como um valor universal", para citar um texto de 1979, de Carlos Nelson Coutinho. Boulos será o líder de um período partidário em que a tolerância perderá até seu valor instrumental. Sem violência, ele está convicto, não haverá redenção. Sai Coutinho do altar, entra um delinquente intelectual como Slavoj Zizek.
Não se descarte, anotem aí, a criação de uma nova sigla que funda o que restar de PT, PSOL, PSTU e outras excrescências mais à esquerda. Como no começo.
A certeza de que o impeachment virá e a necessidade de organizar a resistência com os apaniguados expulsos do paraíso levam Dilma e Lula a anunciar país e mundo afora que um golpe está em curso no Brasil.
Fora do ministério, ele apenas exercita a retórica irresponsável de sempre, cada vez mais típica de um Lula que se mostra uma farsa de si mesmo. Ela, no entanto, se o que está na Constituição é para valer, está incorrendo em novo crime de responsabilidade ao acusar, na prática, o Supremo Tribunal Federal, que votou o rito do impeachment, de fazer parte de uma arquitetura golpista.
Não se descarte, ainda, que alguns cadáveres possam integrar essa narrativa da partida. Eles sempre estão no imaginário delirante e essencialmente criminoso das esquerdas. Ora, o que são alguns mortos quando o que está em jogo é a salvação da humanidade –e algumas contas secretas na Suíça?
Quando a presidente, seu antecessor e a cúpula petista gritam "golpe!", já não falam mais para o conjunto dos brasileiros. É um discurso voltado para os fiéis, para a militância. Criar uma mitologia da derrota, para os tempos de deserto, é tão importante como criar uma da vitória para os tempos de bonança.
O PT está deixando o poder, mas pretende voltar. Para que possa se reorganizar, terá de encolher; de buscar as suas origens; de resgatar a mística do confronto de classes; de excitar, como nos tempos primitivos, não o desejo de consumo das massas, mas o ressentimento dos oprimidos. Lula não quer deixar o poder como um ladrão, mas como um excluído.
Até um novo barbudo já veio à luz para divulgar "a palavra". O Lula renascido é Guilherme Boulos. Consoante com os tempos da nova esquerda, ele não vem do chão de fábrica, mas dessas milícias supostamente benignas a que chamam "movimentos sociais".
Achando que um é pouco, o rapaz comanda dois movimentos: o MTST e a Frente Povo Sem Medo. Deveria logo abrir uma incubadora de produtos ideológicos do gênero. Se houver impeachment, o novo profeta promete "incendiar o país". Dito de outro modo: se o Congresso não vota como quer Boulos, ele não reconhece o resultado.
Lula nasceu para a política quando a esquerda foi levada a aderir à "democracia como um valor universal", para citar um texto de 1979, de Carlos Nelson Coutinho. Boulos será o líder de um período partidário em que a tolerância perderá até seu valor instrumental. Sem violência, ele está convicto, não haverá redenção. Sai Coutinho do altar, entra um delinquente intelectual como Slavoj Zizek.
Não se descarte, anotem aí, a criação de uma nova sigla que funda o que restar de PT, PSOL, PSTU e outras excrescências mais à esquerda. Como no começo.
A certeza de que o impeachment virá e a necessidade de organizar a resistência com os apaniguados expulsos do paraíso levam Dilma e Lula a anunciar país e mundo afora que um golpe está em curso no Brasil.
Fora do ministério, ele apenas exercita a retórica irresponsável de sempre, cada vez mais típica de um Lula que se mostra uma farsa de si mesmo. Ela, no entanto, se o que está na Constituição é para valer, está incorrendo em novo crime de responsabilidade ao acusar, na prática, o Supremo Tribunal Federal, que votou o rito do impeachment, de fazer parte de uma arquitetura golpista.
Não se descarte, ainda, que alguns cadáveres possam integrar essa narrativa da partida. Eles sempre estão no imaginário delirante e essencialmente criminoso das esquerdas. Ora, o que são alguns mortos quando o que está em jogo é a salvação da humanidade –e algumas contas secretas na Suíça?
Lógica de avestruz
Há poucos dias, numeroso grupo de estudantes e profissionais do Direito reuniram-se na tradicional faculdade do Largo de São Francisco (USP) para defender o mandato da presidente Dilma Rousseff. No entendimento de todos, Dilma é um modelo de virtudes, o PT é vítima da maledicência de uma oposição golpista e a 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba é uma câmara de tortura onde pessoas honradas são extorquidas até em seus míseros e bem havidos bilhões. A mim não impressionam os camisas vermelha, militantes a privilégio, soldo e sanduíche. Impressiona-me a conduta de quem estuda e ensina Direito. Impressionam-me a indignação postiça, a seriedade estudada, a pose de injustiçados com que certos deputados petistas se manifestam na Comissão Especial do Impeachment. Impõem-se, por dever de ofício, um ar de dignidade ultrajada, como se excelsas virtudes sangrassem sob os punhais de injustificáveis acusações. Me poupem!
Para o bem do Brasil, entendem tais cavalheiros, a faxineira Dilma deve prosseguir sua faina moralizadora do governo e da administração pública. No entender deles, não foi o carrossel de mentiras de sua campanha eleitoral que deu o primeiro impulso à imensa rejeição popular. Não foi de sua imprudência, imperícia e incompetência, que resultou a crise econômica. Não foi a ineficiência de suas políticas que produziu a estagnação e, agora, o retrocesso dos indicadores sociais. Não foi por entre seus dedos que a Economia escoou, a receita se foi, o orçamento drenou, o investimento minguou, o emprego acabou. Não foi sob seus olhos que a corrupção alcançou níveis multibilionários contaminando, numa extensão ainda não calculada, o conjunto da administração e do governo. Foi nada disso. Para o ilustrado público do Largo do São Francisco e para os bem remunerados bajuladores dos recentes atos palacianos, o Brasil renascerá das zelosas mãos da "presidenta". As crises em maçaroca que seu governo gerou, serão vencidas - não é uma feliz coincidência? - sob sua prudente supervisão, habilidosa capacidade de gestão e negociação, intolerância para com toda ilicitude e lealdade exclusiva à letra da lei e ao bem do pátria. "Duela a quien duela", como anunciou certa vez Fernando Collor. Dilma, uma gestora sem compadre, padrinho e afilhado.
A indignação de tais doutores nem de passagem encara os crimes praticados à sombra do governo, volta-se, isto sim, contra a laboriosa atividade de um cidadão que o país reverencia: Sérgio Moro, um juiz convencido - suprema audácia! - de que a lei vale para todos.
No auditório da nobre faculdade, as falas e gritos de ordem rugiam para os próprios ouvidos de quem rugia. Costuma ser assim: mentiras e falsidades metabolizam falsidades e mentiras. Ganham corpo de merengue na batedeira da enganação. Assistindo aquilo em vídeo no YouTube pude perceber o quanto fica inviável o entendimento civilizado com pessoas cujos alinhamentos políticos e ideológicos turvam a visão quanto a tudo mais. Creia, leitor: sequer os mais altos escalões da magistratura nacional estão livres desse mal. Preferem não ver nem saber.
Percival Puggina
Para o bem do Brasil, entendem tais cavalheiros, a faxineira Dilma deve prosseguir sua faina moralizadora do governo e da administração pública. No entender deles, não foi o carrossel de mentiras de sua campanha eleitoral que deu o primeiro impulso à imensa rejeição popular. Não foi de sua imprudência, imperícia e incompetência, que resultou a crise econômica. Não foi a ineficiência de suas políticas que produziu a estagnação e, agora, o retrocesso dos indicadores sociais. Não foi por entre seus dedos que a Economia escoou, a receita se foi, o orçamento drenou, o investimento minguou, o emprego acabou. Não foi sob seus olhos que a corrupção alcançou níveis multibilionários contaminando, numa extensão ainda não calculada, o conjunto da administração e do governo. Foi nada disso. Para o ilustrado público do Largo do São Francisco e para os bem remunerados bajuladores dos recentes atos palacianos, o Brasil renascerá das zelosas mãos da "presidenta". As crises em maçaroca que seu governo gerou, serão vencidas - não é uma feliz coincidência? - sob sua prudente supervisão, habilidosa capacidade de gestão e negociação, intolerância para com toda ilicitude e lealdade exclusiva à letra da lei e ao bem do pátria. "Duela a quien duela", como anunciou certa vez Fernando Collor. Dilma, uma gestora sem compadre, padrinho e afilhado.
A indignação de tais doutores nem de passagem encara os crimes praticados à sombra do governo, volta-se, isto sim, contra a laboriosa atividade de um cidadão que o país reverencia: Sérgio Moro, um juiz convencido - suprema audácia! - de que a lei vale para todos.
No auditório da nobre faculdade, as falas e gritos de ordem rugiam para os próprios ouvidos de quem rugia. Costuma ser assim: mentiras e falsidades metabolizam falsidades e mentiras. Ganham corpo de merengue na batedeira da enganação. Assistindo aquilo em vídeo no YouTube pude perceber o quanto fica inviável o entendimento civilizado com pessoas cujos alinhamentos políticos e ideológicos turvam a visão quanto a tudo mais. Creia, leitor: sequer os mais altos escalões da magistratura nacional estão livres desse mal. Preferem não ver nem saber.
Percival Puggina
O ocaso de um mito chamado Lula
Tal depuração baseia-se em alentados registros – e o mais eloquente vem da própria voz de Lula, captada nos recentes grampos telefônicos, autorizados pela Justiça, em que exibe solene desprezo pelas instituições, em especial o Judiciário.
Não se deve apenas aos truques do marketing político-eleitoral a construção da imagem do falso herói. Bem antes do advento dos Duda Mendonça e João Santana, hoje às voltas com a Justiça, Lula já desfrutava de altíssimo conceito redentor, esculpido no âmbito universitário, onde o projeto do PT foi engendrado.
E aqui cabe repetir o bordão lulista: nunca antes neste país, um presidente da República foi brindado com tantos títulos honoris causa por parte de universidades, mesmo sem ter dado – ou talvez por isso mesmo - qualquer contribuição à atividade intelectual.
Ao contrário: Lula e seus artífices difundiram o culto à ignorância e ao improviso, submetendo a atividade intelectual à condição subalterna de mera assessora de um projeto populista.
A epopeia de alguém que veio de baixo e galgou o mais alto cargo da República fascinou e comoveu a intelligentsia brasileira, que o transfigurou em gênio da raça. Pouco interessava o como e o quê fez no poder – questões que agora se colocam de maneira implacável -, mas o simples fato de que a ele chegou.
O símbolo falsificava o ser humano por trás dele. E o país embarcou numa ilusão de que agora, dolorosamente – e ainda com espantosas resistências, – começa a desembarcar.
Fernando Henrique Cardoso, símbolo da nata acadêmica nacional, deixou suas digitais nesse processo. A eleição de Lula, em 2002, contou com sua colaboração. Como se recorda, FHC desengajou-se da campanha presidencial de José Serra, dizendo a quem quisesse ouvi-lo: “Agora, é a vez de Lula”.
Conta-se que, naquela ocasião, ao recebê-lo em Palácio, chegou a oferecer-lhe antecipadamente a cadeira presidencial. Era o sociólogo sucedido pelo operário, ofício que Lula já não exercia há mais de duas décadas. As cenas da transmissão da faixa presidencial, encontráveis no Youtube, mostram um Fernando Henrique ainda mais deslumbrado que seu sucessor.
Lula, na ocasião, disse-lhe: “Fernando, aqui você terá sempre um amigo”. No dia seguinte, cessou o entusiasmo: o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, em sua primeira entrevista, mencionava a “herança maldita” do governo anterior, frase repetida como mantra até os dias de hoje.
E o “amigo” não mais pouparia seu antecessor, por quem cultiva freudiana hostilidade. A erudição, ao que parece, o incomoda, embora a vida lhe tenha proporcionado meios bem mais abundantes de obtê-la que a outros grandes personagens da cultura brasileira, de origem tão modesta quanto a sua, como Machado de Assis, Gonçalves Dias e Cruz e Souza, mestiços que, em plena escravidão, ascenderam ao topo da vida intelectual do país.
O mito Lula começou ainda na década dos 70, em pleno governo militar – e contou com a cumplicidade do próprio regime, que, por ironia, o viu como peça útil na desconstrução da esquerda, abrigada no velho MDB e em vias de defenestrar eleitoralmente o partido governista, a Arena. O regime extinguiu casuisticamente o bipartidarismo, de modo a esvaziar a frente oposicionista.
A frente, em que a esquerda tinha protagonismo, entendia que não era oportuno o surgimento de um partido de base sindical, que a esvaziaria, diluindo os votos contrários ao regime. Lula foi peça-chave nesse processo, concebido pelo general Golbery do Couto e Silva, estrategista político do governo militar.
Há detalhes reveladores em pelo menos dois livros recentes: “O que sei de Lula”, de José Nêumanne Pinto, que cobriu as greves do ABC pelo Jornal do Brasil naquele período, e com ele conviveu; e “Assassinato de Reputações”, de Romeu Tuma Jr., cujo pai, o falecido delegado Romeu Tuma, então chefe do Dops, foi carcereiro de Lula, no curto período em que esteve preso.
Tuma e Nêumanne convergem num ponto: Lula foi informante do Dops, o que lhe facilitou a construção do PT, a cujo projeto se agregariam duas vertentes fundamentais - a esquerda universitária paulista e o clero católico da Teologia da Libertação.
Essa gênese explica a trajetória vitoriosa do partido: o clero proporcionou-lhe a capilaridade das comunidades eclesiais de base e os acadêmicos prestígio e acesso à grande mídia.
A ambos, o PT retribuiu com Lula, o símbolo proletário de que careciam para forjar o primeiro líder de massas que a esquerda brasileira produziu e que a levaria, enfim, a vencer eleições presidenciais. Deu certo – e deu errado.
Lula chegou lá, mas corre o risco de concluir sua trajetória na cadeia. Os acertos de seu primeiro governo derivam da rara conjunção de uma bonança econômica internacional com os ajustes decorrentes do Plano Real. Finda a bonança e desfeitos os ajustes, restou a evidência de que não havia (nunca houve) um projeto de governo – e tão somente um projeto de poder.
A Lava Jato, ao tempo em que reduz Lula a seu exato tamanho, político e moral – e, ao que se sabe, há ainda muito a vir à tona -, mostra o que fez, à frente do PT e do país, para que esse projeto se consolidasse e o eternizasse como pai dos pobres – uma caricatura de Vargas, com mais dinheiro e menos ideias.
De gênio político, beneficiário de uma conjuntura que desperdiçou, lega à posteridade sua grande obra: Dilma Roussef, personagem patética que tirou do anonimato para compor um dos momentos mais trágicos da história da República.
O historiador do futuro terá o desafio de decifrar o que levou a inteligência do país – cujo dever de ofício é antever e evitar tais desvios - a embarcar num projeto suicida, a serviço da estupidez, não hesitando em satanizar os que a ele se opõem.
O símbolo falsificava o ser humano por trás dele. E o país embarcou numa ilusão de que agora, dolorosamente – e ainda com espantosas resistências, – começa a desembarcar.
Fernando Henrique Cardoso, símbolo da nata acadêmica nacional, deixou suas digitais nesse processo. A eleição de Lula, em 2002, contou com sua colaboração. Como se recorda, FHC desengajou-se da campanha presidencial de José Serra, dizendo a quem quisesse ouvi-lo: “Agora, é a vez de Lula”.
Conta-se que, naquela ocasião, ao recebê-lo em Palácio, chegou a oferecer-lhe antecipadamente a cadeira presidencial. Era o sociólogo sucedido pelo operário, ofício que Lula já não exercia há mais de duas décadas. As cenas da transmissão da faixa presidencial, encontráveis no Youtube, mostram um Fernando Henrique ainda mais deslumbrado que seu sucessor.
Lula, na ocasião, disse-lhe: “Fernando, aqui você terá sempre um amigo”. No dia seguinte, cessou o entusiasmo: o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, em sua primeira entrevista, mencionava a “herança maldita” do governo anterior, frase repetida como mantra até os dias de hoje.
E o “amigo” não mais pouparia seu antecessor, por quem cultiva freudiana hostilidade. A erudição, ao que parece, o incomoda, embora a vida lhe tenha proporcionado meios bem mais abundantes de obtê-la que a outros grandes personagens da cultura brasileira, de origem tão modesta quanto a sua, como Machado de Assis, Gonçalves Dias e Cruz e Souza, mestiços que, em plena escravidão, ascenderam ao topo da vida intelectual do país.
O mito Lula começou ainda na década dos 70, em pleno governo militar – e contou com a cumplicidade do próprio regime, que, por ironia, o viu como peça útil na desconstrução da esquerda, abrigada no velho MDB e em vias de defenestrar eleitoralmente o partido governista, a Arena. O regime extinguiu casuisticamente o bipartidarismo, de modo a esvaziar a frente oposicionista.
A frente, em que a esquerda tinha protagonismo, entendia que não era oportuno o surgimento de um partido de base sindical, que a esvaziaria, diluindo os votos contrários ao regime. Lula foi peça-chave nesse processo, concebido pelo general Golbery do Couto e Silva, estrategista político do governo militar.
Há detalhes reveladores em pelo menos dois livros recentes: “O que sei de Lula”, de José Nêumanne Pinto, que cobriu as greves do ABC pelo Jornal do Brasil naquele período, e com ele conviveu; e “Assassinato de Reputações”, de Romeu Tuma Jr., cujo pai, o falecido delegado Romeu Tuma, então chefe do Dops, foi carcereiro de Lula, no curto período em que esteve preso.
Tuma e Nêumanne convergem num ponto: Lula foi informante do Dops, o que lhe facilitou a construção do PT, a cujo projeto se agregariam duas vertentes fundamentais - a esquerda universitária paulista e o clero católico da Teologia da Libertação.
Essa gênese explica a trajetória vitoriosa do partido: o clero proporcionou-lhe a capilaridade das comunidades eclesiais de base e os acadêmicos prestígio e acesso à grande mídia.
A ambos, o PT retribuiu com Lula, o símbolo proletário de que careciam para forjar o primeiro líder de massas que a esquerda brasileira produziu e que a levaria, enfim, a vencer eleições presidenciais. Deu certo – e deu errado.
Lula chegou lá, mas corre o risco de concluir sua trajetória na cadeia. Os acertos de seu primeiro governo derivam da rara conjunção de uma bonança econômica internacional com os ajustes decorrentes do Plano Real. Finda a bonança e desfeitos os ajustes, restou a evidência de que não havia (nunca houve) um projeto de governo – e tão somente um projeto de poder.
A Lava Jato, ao tempo em que reduz Lula a seu exato tamanho, político e moral – e, ao que se sabe, há ainda muito a vir à tona -, mostra o que fez, à frente do PT e do país, para que esse projeto se consolidasse e o eternizasse como pai dos pobres – uma caricatura de Vargas, com mais dinheiro e menos ideias.
De gênio político, beneficiário de uma conjuntura que desperdiçou, lega à posteridade sua grande obra: Dilma Roussef, personagem patética que tirou do anonimato para compor um dos momentos mais trágicos da história da República.
O historiador do futuro terá o desafio de decifrar o que levou a inteligência do país – cujo dever de ofício é antever e evitar tais desvios - a embarcar num projeto suicida, a serviço da estupidez, não hesitando em satanizar os que a ele se opõem.
O ex-presidente tem duas almas, como o personagem de Machado
Quem me leu na semana passada deve ter passado por uma breve citação do nosso grande Machado de Assis, retirada de seu conto “O Espelho – Esboço de uma Nova Teoria da Alma Humana”. Genial narrativa, que, se me perguntassem, colocaria sem pestanejar entre as dez melhores do gênero do nosso mais destacado autor de todo tempo. Tratava-se de um debate de “quatro ou cinco cavalheiros”, numa casa situada no bairro carioca de Santa Teresa, onde um número indefinido “de investigadores de cousas metafísicas” trocava impressões.
Antes de prosseguir, é de perguntar o porquê da indefinição dos palestrantes. Machado vem logo com a explicação: “Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação”. Seria como se o autor, com o destaque, chamasse a atenção do leitor para esse homem escondido nas sombras, a quem caberia contar o caso mais intrigante daquela noite, sob “estrelas que pestanejavam” do lado de fora da casa.
Logo após a apresentação do principal personagem, que não fazia parte do pequeno grupo, ele volta à tona para dizer algo que poderia ser denominado um disparate, uma afirmação sem sentido. “Em primeiro lugar, não há uma só alma, senão uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro”. Espanto geral. Como era admissível afirmação tão tola? Tratava-se, pois, de concordar que essas duas almas, sendo o ofício da segunda transmitir a vida, como a primeira, completavam o homem, que é, “metafisicamente falando, uma laranja”. Espanto geral! Estaria o companheiro, também metafisicamente considerando, alguém enlouquecido?
O narrador não se perturbou. Buscou o exemplo concreto para ilustrar a sua tese num moço de 25 anos, pobre, que acabava de ser nomeado alferes da Guarda Nacional. Festa animada entre os parentes, que comemoraram à larga o feliz e honroso acontecimento. Assumindo a personalidade da quinta pessoa, arranja um pedido da sua tia Marcolina, que desejou vê-lo e pediu-lhe “que fosse ter com ela num sítio solitário, onde morava”. A sua chegada, começou uma longa festança, que durou tanto quanto o tempo que a tia gastou para ficar com uma parente que estava à morte.
Enquanto isso, foi tratado pelos que ficaram com verdadeira pompa. Tudo girava em torno do alferes, tratado regiamente pelos que ficaram, até o retorno da tia, que não dava sinais de voltar tão cedo. Mandaram até pôr no seu quarto um grande espelho, “obra rica e magnífica, comprado a fidalgas vindas em 1808 com a corte de d. João VI”. Foi a sua perdição.
O alferes eliminou o homem. Quando foi olhar-se no espelho, “este não estampou-lhe a figura inteira e nítida, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra”. E assim ficou.
Se se olhava no espelho, eram fantasmas que via. Afinal, veio-lhe a ideia de vestir a farda e olhar-se nele com firmeza. Viu a si próprio exatamente como era. “Daí em diante, fui outro. Quando os outros voltaram, o narrador tinha descido as escadas e ele a si mesmo”, com a primeira alma.
Agora, a indagação inevitável: o que é que Lula tem a ver com isso? Também o Nosso Guia é portador de duas almas e não consegue livrar-se da segunda, que está no espelho que existe no Alvorada. Quer porque quer voltar a morar lá. Para tanto, está disposto até a quebrar o espelho. Já tentou mil vezes, mas não adiantou.
Antes de prosseguir, é de perguntar o porquê da indefinição dos palestrantes. Machado vem logo com a explicação: “Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação”. Seria como se o autor, com o destaque, chamasse a atenção do leitor para esse homem escondido nas sombras, a quem caberia contar o caso mais intrigante daquela noite, sob “estrelas que pestanejavam” do lado de fora da casa.
O narrador não se perturbou. Buscou o exemplo concreto para ilustrar a sua tese num moço de 25 anos, pobre, que acabava de ser nomeado alferes da Guarda Nacional. Festa animada entre os parentes, que comemoraram à larga o feliz e honroso acontecimento. Assumindo a personalidade da quinta pessoa, arranja um pedido da sua tia Marcolina, que desejou vê-lo e pediu-lhe “que fosse ter com ela num sítio solitário, onde morava”. A sua chegada, começou uma longa festança, que durou tanto quanto o tempo que a tia gastou para ficar com uma parente que estava à morte.
Enquanto isso, foi tratado pelos que ficaram com verdadeira pompa. Tudo girava em torno do alferes, tratado regiamente pelos que ficaram, até o retorno da tia, que não dava sinais de voltar tão cedo. Mandaram até pôr no seu quarto um grande espelho, “obra rica e magnífica, comprado a fidalgas vindas em 1808 com a corte de d. João VI”. Foi a sua perdição.
O alferes eliminou o homem. Quando foi olhar-se no espelho, “este não estampou-lhe a figura inteira e nítida, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra”. E assim ficou.
Se se olhava no espelho, eram fantasmas que via. Afinal, veio-lhe a ideia de vestir a farda e olhar-se nele com firmeza. Viu a si próprio exatamente como era. “Daí em diante, fui outro. Quando os outros voltaram, o narrador tinha descido as escadas e ele a si mesmo”, com a primeira alma.
Agora, a indagação inevitável: o que é que Lula tem a ver com isso? Também o Nosso Guia é portador de duas almas e não consegue livrar-se da segunda, que está no espelho que existe no Alvorada. Quer porque quer voltar a morar lá. Para tanto, está disposto até a quebrar o espelho. Já tentou mil vezes, mas não adiantou.
Dilma corre para um desvão da alma em permanente penumbra
Três anos depois, abriram a cela, a mulher saiu para nunca mais ser livre. Talvez porque impossível se libertar da ideologia que a levou para uma organização terrorista; talvez porque tão irrelevante currículo não passe mesmo de uma ficha policial; talvez porque ao trauma não tenha sido dada uma rota de cura; talvez por índole; talvez por tudo isso, a mulher-que-foi-presa-e-torturada-pela-ditadura, quando acuada, corre para um desvão da alma em permanente penumbra tornada uma cela de onde, aos berros, anuncia que ninguém vai tirá-la de lá. Refere-se à presidência, mas fala de dentro de uma cela que insiste em fazer de argumento, resultando em banalização e ineficácia.
Poucas coisas são mais relevantes numa história de vida do que exercer a presidência da República e o mesmo poderia ser válido para Dilma se ela fosse uma presidente. Contudo, o exercício vil do cargo culminou, na tarde desta terça-feira, numa esculhambação institucional tão indecorosa que a passagem dessa farsante pelo Planalto não define uma gestão, mas uma instrumentalização criminosa do Estado e respectivos símbolos, valores, equipamentos, pessoal e recintos. Tudo para berrar ao país indignado que a mulher encarcerada não o libertará e que o juiz Sérgio Moro é a reencarnação curitibana de Hitler.
Se para a farsa mambembe, como as de uma Caravana Rolidei que espalha desgraça em contraste com a do filme, a presidente se reunisse à mesma malta na casa de um dos juristas analfabetos em lei ou de um dos professores obscuros, num fim de semana ou depois do expediente sempre ruinoso para a nação, tudo seria apenas a agonia do governo organizada segundo a moral dos presentes. No Palácio do Planalto, ela guiou tudo na avacalhação institucional custeada por nós para sermos acusados, aos berros, de golpistas e avisados de infâmias a respeito do admirável juiz Sérgio Moro, cuja presença se estabelecia no nome silenciado.
Um professor – Santo Deus! – da UnB disparou que a corrupção num país de tantas desigualdades não é o maior problema, como se ela não as agravasse. O pânico denunciado no embuste covarde se explicava também porque, no Brasil real, a Polícia Federal deflagrava a 26ª fase da Lava Jato, a Xepa, revelando um departamento exclusivo na Odebrecht para cuidar da propina aos comparsas lulopetistas. As ameaças do ministro-irmão-camarada Aragão, as chicanas da AGU na figura ridícula do porquinho Cardozo para defender o ministério para o lorde cigano jeca dessa caravana rolidei troncha que não passará e a pajelança obscura no Planalto pela abolição da legalidade nos berros de uma farsante acuada prolongam a morte dessa realidade.
Que Dilma não renuncie à presidência, aos crimes e ao próprio cárcere voluntário, o fato é que, sem querer e em 14 anos desse regime torpe, faz o único bem, ainda que a um custo que só adivinhamos, ao Brasil que já lhe disse bye bye, pois o prolongamento disso servirá para tatuar fundo na volátil memória do país que saberá ser livre a lição dura e preciosa: esses carcereiros, nunca mais.
Poucas coisas são mais relevantes numa história de vida do que exercer a presidência da República e o mesmo poderia ser válido para Dilma se ela fosse uma presidente. Contudo, o exercício vil do cargo culminou, na tarde desta terça-feira, numa esculhambação institucional tão indecorosa que a passagem dessa farsante pelo Planalto não define uma gestão, mas uma instrumentalização criminosa do Estado e respectivos símbolos, valores, equipamentos, pessoal e recintos. Tudo para berrar ao país indignado que a mulher encarcerada não o libertará e que o juiz Sérgio Moro é a reencarnação curitibana de Hitler.
Um professor – Santo Deus! – da UnB disparou que a corrupção num país de tantas desigualdades não é o maior problema, como se ela não as agravasse. O pânico denunciado no embuste covarde se explicava também porque, no Brasil real, a Polícia Federal deflagrava a 26ª fase da Lava Jato, a Xepa, revelando um departamento exclusivo na Odebrecht para cuidar da propina aos comparsas lulopetistas. As ameaças do ministro-irmão-camarada Aragão, as chicanas da AGU na figura ridícula do porquinho Cardozo para defender o ministério para o lorde cigano jeca dessa caravana rolidei troncha que não passará e a pajelança obscura no Planalto pela abolição da legalidade nos berros de uma farsante acuada prolongam a morte dessa realidade.
Que Dilma não renuncie à presidência, aos crimes e ao próprio cárcere voluntário, o fato é que, sem querer e em 14 anos desse regime torpe, faz o único bem, ainda que a um custo que só adivinhamos, ao Brasil que já lhe disse bye bye, pois o prolongamento disso servirá para tatuar fundo na volátil memória do país que saberá ser livre a lição dura e preciosa: esses carcereiros, nunca mais.
Partidos faturam R$ 123 milhões em dois meses
O fundo é dividido entre os partidos conforme o número da bancada de deputados federais, conforme a eleição anterior ao mandato.
Os partidos que mais faturaram em dois meses foram: PT (R$ 16,34 milhões), PSDB (R$ 13,47 milhões) e PMDB (R$ 13,13 milhões).
Os partidos que menos receberam dinheiro do Fundo Partidário foram Novo e PMB. Cada um levou uma bolada de R$ 175,68 mil.
'Brasil sem Miséria' de Dilma já fabricou quase 10 milhões de desempregados
Dilma Rousseff, a presidente oficial, só pensa em escapar do impeachment. Lula, o presidente de fato, só pensa em escapar da cadeia. Os ministros, esses não sabem o que é pensar. Na terra arrasada pela corrupção e pela incompetência, multidões de vítimas do lulopetismo hegemônica só pensam na própria sobrevivência.
No país à deriva, o que está péssimo sempre pode piorar. Nesta quinta-feira, o IBGE confessou que já são 9,6 milhões os brasileiros desempregados pela crise econômica que Lula pariu e Dilma criou. Essa imensidão de gente sem salário atesta que o “Brasil sem Miséria” é um gigantesco viveiro de flagelados em acelerada expansão.
O IBGE também reconheceu que passam de 13 milhões os analfabetos com mais de 15 anos. A “Pátria Educadora” é outra fraude concebida pela Era da Canalhice ─ que precisa acabar antes que acabe o Brasil.
Vermelho é a cor mais quente
Quase todos estão no vermelho no Brasil real. E isso explica a ampla rejeição ao governo Dilma. Explica também o apoio da maioria dos brasileiros à saída da presidente da República – seja pelo impeachment, seja pela cassação de sua chapa com novas eleições, seja por sua renúncia. A voz das ruas, das pessoas mais simples – as que não têm tempo, estudo ou dom para discussões eternas, técnicas ou ideológicas, sobre esquerda, direita, legalidade de grampos, obstrução da Justiça e condução coercitiva –, é a seguinte: “O Brasil precisa voltar a andar”.
Mesmo na crise, os gastos do governo Dilma continuam a aumentar, e isso inclui as despesas com funcionários públicos. Não é pedindo ao Congresso aval para um rombo de R$ 96,65 bilhões em 2016 que Dilma vai recuperar o apoio popular perdido. Números podem ser chatos de ler, mas não dão margem a interpretações mirabolantes de juízes, ministros, parlamentares, petralhas ou coxinhas. A meta do governo era um superavit de R$ 24 bilhões. Só que o azul virou vermelho. É a cor mais quente, a que demonstra o maior crime de responsabilidade contra o país. É a cor do Planalto e das contas dos brasileiros.
O governo está no vermelho profundo, como lava fumegante de vulcão. Mas o nome de Dilma endividada não irá para a lista negra do SPC – somente os nomes dos brasileiros comuns e sem foro privilegiado, que não podem apelar ao Supremo Tribunal Federal. Esse deficit do governo federal está subestimado, porque não leva em conta os R$ 6 bilhões da renegociação da dívida com os Estados. Além disso, todos os planejamentos do ministro Nelson Barbosa contam com a injeção, no caixa, de uns R$ 10 bilhões da CPMF. Companheiros e companheiras, o rombo do governo Dilma este ano deve superar os R$ 100 bilhões. É o descrédito na capacidade desse governo de recuperar ou estabilizar a economia que acentua a insatisfação geral e as olheiras de Dilma. Não é só o nojo com a corrupção.
O golpe que pode derrubar Dilma é o que freou a mobilidade social dos pobres e da classe média. Ao depositar o voto na urna, acreditavam que subiriam na vida e que seus filhos e netos poderiam estudar em boas escolas e ser alguém. Poderiam ser bem tratados em hospitais. O golpe da gestão incompetente de Dilma rasgou as bandeiras sociais do próprio PT. Desde 1992, o Brasil registrou pela primeira vez, em 2015, a combinação de queda de renda e aumento da desigualdade.
O desemprego recorde em sete anos, de 8,2% no mês de fevereiro, atinge quase 10 milhões de brasileiros. É muita gente que acreditou no Partido dos Trabalhadores. Eles estão na busca frenética de trabalho e dormem nas filas do seguro-desemprego, que torturam quem está ali ao exigir documentos de décadas atrás para conceder o benefício. Ouvir depoimentos de quem busca seu direito legítimo ao seguro-desemprego é uma aula para entender a impopularidade de Dilma. Só em janeiro e fevereiro, 428 mil vagas de trabalho foram destruídas, 40% delas no comércio.
A desculpa do governo para descumprir a meta, jogar pelos ares o ajuste fiscal e assumir gastos irresponsáveis é um primor: “Achamos que neste momento o governo tem de atuar para estabilizar a economia”, disse Nelson Barbosa. Quem, em sã consciência, acredita que pode estabilizar alguma coisa contraindo dívidas e mais dívidas? Se a Odebrecht tem uma central de propinas para caranguejo, avião, nervosinho, drácula, lindinho, passivo, proximus, atleta, grego, múmia, viagra, feira, há, no Palácio do Planalto e em seu Ministério da Fazenda, uma central para imprimir dinheiro e disseminar mentiras.
A convulsão mais sangrenta no Brasil não é política, mas econômica. A Petrobras fechou 2015 com prejuízo de quase R$ 35 bilhões e uma dívida de quase R$ 500 bilhões. A recessão levou 277 indústrias a fechar as portas. Trabalhadores ocupam instalações de empresas que decretaram falência. O protesto não é pela esquerda nem pela direita. Eles não empunham bandeiras do Brasil nem muito menos vermelhas. Querem sua dignidade de volta. Não querem só comida, mas até o alimento anda escasso.
O menino que deixou um saco de paçoquinhas no meu espelho retrovisor lateral por R$ 2,00 me comoveu, embora seja ilegal e arriscado o magrelo correr em meio aos carros na avenida. Não gosto de paçoca, mas as palavras na etiqueta eram: “Quem dorme sonha. Quem trabalha conquista”. Abri a janela do carro e comprei o doce de amendoim, torcendo para ele não ser atropelado e voltar para casa. Seria bom se sonho e trabalho fossem garantidos a ele. Era hora de aula. Deveria estar na escola, não é mesmo, Dilma?
Mesmo na crise, os gastos do governo Dilma continuam a aumentar, e isso inclui as despesas com funcionários públicos. Não é pedindo ao Congresso aval para um rombo de R$ 96,65 bilhões em 2016 que Dilma vai recuperar o apoio popular perdido. Números podem ser chatos de ler, mas não dão margem a interpretações mirabolantes de juízes, ministros, parlamentares, petralhas ou coxinhas. A meta do governo era um superavit de R$ 24 bilhões. Só que o azul virou vermelho. É a cor mais quente, a que demonstra o maior crime de responsabilidade contra o país. É a cor do Planalto e das contas dos brasileiros.
O governo está no vermelho profundo, como lava fumegante de vulcão. Mas o nome de Dilma endividada não irá para a lista negra do SPC – somente os nomes dos brasileiros comuns e sem foro privilegiado, que não podem apelar ao Supremo Tribunal Federal. Esse deficit do governo federal está subestimado, porque não leva em conta os R$ 6 bilhões da renegociação da dívida com os Estados. Além disso, todos os planejamentos do ministro Nelson Barbosa contam com a injeção, no caixa, de uns R$ 10 bilhões da CPMF. Companheiros e companheiras, o rombo do governo Dilma este ano deve superar os R$ 100 bilhões. É o descrédito na capacidade desse governo de recuperar ou estabilizar a economia que acentua a insatisfação geral e as olheiras de Dilma. Não é só o nojo com a corrupção.
O desemprego recorde em sete anos, de 8,2% no mês de fevereiro, atinge quase 10 milhões de brasileiros. É muita gente que acreditou no Partido dos Trabalhadores. Eles estão na busca frenética de trabalho e dormem nas filas do seguro-desemprego, que torturam quem está ali ao exigir documentos de décadas atrás para conceder o benefício. Ouvir depoimentos de quem busca seu direito legítimo ao seguro-desemprego é uma aula para entender a impopularidade de Dilma. Só em janeiro e fevereiro, 428 mil vagas de trabalho foram destruídas, 40% delas no comércio.
A desculpa do governo para descumprir a meta, jogar pelos ares o ajuste fiscal e assumir gastos irresponsáveis é um primor: “Achamos que neste momento o governo tem de atuar para estabilizar a economia”, disse Nelson Barbosa. Quem, em sã consciência, acredita que pode estabilizar alguma coisa contraindo dívidas e mais dívidas? Se a Odebrecht tem uma central de propinas para caranguejo, avião, nervosinho, drácula, lindinho, passivo, proximus, atleta, grego, múmia, viagra, feira, há, no Palácio do Planalto e em seu Ministério da Fazenda, uma central para imprimir dinheiro e disseminar mentiras.
A convulsão mais sangrenta no Brasil não é política, mas econômica. A Petrobras fechou 2015 com prejuízo de quase R$ 35 bilhões e uma dívida de quase R$ 500 bilhões. A recessão levou 277 indústrias a fechar as portas. Trabalhadores ocupam instalações de empresas que decretaram falência. O protesto não é pela esquerda nem pela direita. Eles não empunham bandeiras do Brasil nem muito menos vermelhas. Querem sua dignidade de volta. Não querem só comida, mas até o alimento anda escasso.
O menino que deixou um saco de paçoquinhas no meu espelho retrovisor lateral por R$ 2,00 me comoveu, embora seja ilegal e arriscado o magrelo correr em meio aos carros na avenida. Não gosto de paçoca, mas as palavras na etiqueta eram: “Quem dorme sonha. Quem trabalha conquista”. Abri a janela do carro e comprei o doce de amendoim, torcendo para ele não ser atropelado e voltar para casa. Seria bom se sonho e trabalho fossem garantidos a ele. Era hora de aula. Deveria estar na escola, não é mesmo, Dilma?
Polarização se reflete até na imprensa estrangeira
Os reflexos da divisão política que afeta o Brasil podem ser percebidos até mesmo nas páginas de publicações estrangeiras que acompanham a crise. Após atravessarem 2015 se limitando a sugerir prudência e a acompanhar os desdobramentos dos problemas econômicos e políticos, vários veículos europeus e americanos passaram a adotar um tom mais crítico, com posições que incluem pedidos de renúncia da presidente Dilma Rousseff e denúncias de maquinações políticas para derrubar a mandatária.
As publicações também não escondem o espanto com a evolução da crise. "Não fosse Síria, migração, referendo do Reino Unido e Donald Trump, o Brasil dominaria as manchetes globais", afirmou na semana passada o jornal britânico Financial Times.
O caso mais recente de posicionamento aconteceu nesta quarta-feira (23/03). A revista britânica The Economist, que alguns anos atrás se entusiasmou com o crescimento da economia brasileira, deixou claro em editorial que "Dilma tem que deixar o cargo".
"Ela se tornou inapta a continuar presidente. Sua saída ofereceria ao Brasil a chance de um recomeço", afirmou a publicação, que, no entanto, defende que a renúncia seria melhor do que o impeachment. Em dezembro de 2015, a revista ainda argumentava que Dilma merecia mais tempo para tentar arrumar a situação.
No fim de semana passado, o New York Times fez feito duras críticas à presidente e à nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil, uma manobra que levantou acusações de que a mandatária estaria tentando blindar o seu padrinho político. "A explicação de Dilma foi ridícula. Ela agora criou uma nova crise."
O jornal não foi tão longe para sugerir que a presidente deveria deixar o cargo, mas afirmou que o "erro" envolvendo a nomeação pode acelerar a queda da presidente. Segundo o NYT, se isso acontecer, "Dilma só terá a si mesma para culpar".
Já um editorial da edição dominical do jornal britânico The Guardian, publicado no dia 20, afirmou que seria melhor a presidente sair caso a situação fique mais tensa. "Uma preocupação óbvia é que esses protestos, se saírem de controle, podem degenerar em violência desenfreada e no risco de intervenção pelos militares. O dever de Dilma é simples: se ela não pode restabelecer a calma, tem de convocar novas eleições – ou sair.''
Também em editorial publicado na semana passada, a rede Bloomberg teceu críticas ao governo. "A presidente Dilma respondeu com uma zombaria ao crescente apelo do público brasileiro por mais responsabilidade. A sua tentativa descarada de proteger seu antecessor de processos não vai terminar bem – para ela ou para o Brasil."
Já o jornal alemão Süddeutsche Zeitung declarou na semana passada que a insistência em trazer Lula para o governo vai corroer o legado político de Dilma. "Ele parece menos com o salvador que pretendia ser, assim como o já envelhecido Juan Perón ao voltar ao poder na Argentina, em 1973 – e que acabou mergulhando seu país no caos", afirmou o diário.
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As publicações também não escondem o espanto com a evolução da crise. "Não fosse Síria, migração, referendo do Reino Unido e Donald Trump, o Brasil dominaria as manchetes globais", afirmou na semana passada o jornal britânico Financial Times.
"Ela se tornou inapta a continuar presidente. Sua saída ofereceria ao Brasil a chance de um recomeço", afirmou a publicação, que, no entanto, defende que a renúncia seria melhor do que o impeachment. Em dezembro de 2015, a revista ainda argumentava que Dilma merecia mais tempo para tentar arrumar a situação.
No fim de semana passado, o New York Times fez feito duras críticas à presidente e à nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil, uma manobra que levantou acusações de que a mandatária estaria tentando blindar o seu padrinho político. "A explicação de Dilma foi ridícula. Ela agora criou uma nova crise."
O jornal não foi tão longe para sugerir que a presidente deveria deixar o cargo, mas afirmou que o "erro" envolvendo a nomeação pode acelerar a queda da presidente. Segundo o NYT, se isso acontecer, "Dilma só terá a si mesma para culpar".
Já um editorial da edição dominical do jornal britânico The Guardian, publicado no dia 20, afirmou que seria melhor a presidente sair caso a situação fique mais tensa. "Uma preocupação óbvia é que esses protestos, se saírem de controle, podem degenerar em violência desenfreada e no risco de intervenção pelos militares. O dever de Dilma é simples: se ela não pode restabelecer a calma, tem de convocar novas eleições – ou sair.''
Também em editorial publicado na semana passada, a rede Bloomberg teceu críticas ao governo. "A presidente Dilma respondeu com uma zombaria ao crescente apelo do público brasileiro por mais responsabilidade. A sua tentativa descarada de proteger seu antecessor de processos não vai terminar bem – para ela ou para o Brasil."
Já o jornal alemão Süddeutsche Zeitung declarou na semana passada que a insistência em trazer Lula para o governo vai corroer o legado político de Dilma. "Ele parece menos com o salvador que pretendia ser, assim como o já envelhecido Juan Perón ao voltar ao poder na Argentina, em 1973 – e que acabou mergulhando seu país no caos", afirmou o diário.
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