Em meio a tantos fatos negativos e um pessimismo que se generaliza, no Brasil e lá fora, ainda há, principalmente por parte de quem consegue fazer um grande exercício mental de se distanciar de tantas opiniões e análises trágicas, como extrair sinais positivos de uma sociedade que parece arruinada, mas que sinaliza, mesmo que de modo acanhado, para a modernização do pensamento e aperfeiçoamento de algumas questões éticas e sociais.
Há sempre dois lados. Exemplos estão aqui e acolá, prontos para nos dar um pouco de fôlego. No Brasil, há menos de cinco anos, ninguém seria capaz de dizer que proprietários de grandes fortunas e políticos seriam condenados e presos. Temos hoje pelo menos uma dezena deles encarcerados.
O desgaste da presidente também fez brotar, depois de mais de uma década, uma oposição no país. Isso é bom. O governo que não tem um freio faz besteiras e nos conduz para precipícios como esse em que nos encontramos. Se Lula e Dilma tivessem tido uma força política que os tensionassem nos anos de vacas gordas, como teve FHC, talvez o leite não secasse tão rapidamente.
Há também uma movimentação que há muito tempo não se via nas Casas Legislativas do país. Eduardo Cunha, querendo ou não, pôs parlamentares parcimoniosos para trabalhar. Se seus métodos são questionáveis, que se recorra à lei.
A maioridade penal foi reduzida de 18 para 16 anos. Será a solução para a criminalidade que nos assola? Provavelmente, não. Mas alguma coisa foi feita.
Agora, como diz Aécio Neves, o Senado tem a oportunidade de lapidar a proposta. E que o ECA seja, enfim, modernizado, como querem alguns!
Os parlamentares também sinalizam com a reforma política, mesmo que esta esteja longe do ideal. Pelo menos já será menos fácil roubar nas eleições vindouras, pois teremos alguns filtros importantes. A aprovação do mandato de cinco anos e o fim da reeleição para presidente, governadores e prefeitos, a cláusula de barreiras e, nesta semana, a imposição de limites para gastos e financiamento de campanha, reduzindo o período eleitoral de 90 para 45 dias, são, inquestionavelmente, avanços a serem festejados.
No mundo também é possível enxergar por outros prismas. Não é só a insanidade do Estado Islâmico que marca nossos dias. Há de se reconhecer esforços como os de Obama e dos Castros. Há de se reconhecer sobretudo o papel do papa Francisco, que, apesar de todos tabus, traz algo novo, recebendo, com naturalidade, um cristo pregado em cima da foice e do martelo. E com as palavras dele, chegamos ao fim de mais uma semana em tempos de crise: “Dialogar significa renunciar não a nossas ideias, mas à pretensão de que são elas as únicas válidas”. Há sempre os dois lados.