quarta-feira, 23 de julho de 2014

Turismo eleitoral


A esbórnia tá nas ruas


“(...) e por toda a parte havia políticos e pistoleiros, debruçados nas janelas de suas prefeituras, cuspindo na pobreza lá embaixo” 
Graham Greene
Quem se pergunta ainda para aonde vai o dinheiro do brasileiro, depois de passar pelo superfaturamento de obras, pagamento do inflado funcionalismo público e a corrupção - só para citar umas poucas peneiras brasileiras -, é só olhar para as ruas com a abertura da temporada de caça ao eleitor. As cidades se embandeiram em comemoração à festa cívica tão ao gosto dos políticos e governinhos demagógicos, um espetáculo imperdível de cinismo.

É um escárnio, avalizado por lei com propaganda “patriótica”, que emporcalha e ainda, para cúmulo do gozação, implanta pobres coitados, a salários miseráveis, sacudindo bandeiras dos candidatos. Em Marícá uma avenida central se enfeita de gente com panos propagandísticos. São os zeidanetes ou fabianetes, que recebem quentinha e nem dois salários mínimos por mês. Baita salário para um país que se dispõe a acabar com a miséria mantendo um pibinho de menos de 1%, muito bolsa família para engordar os não necessitados e pagando aos conselheiros das contas públicas um salário moradia de até R$ 7 mil.        

No show de cinismo, promovido pelos poderes como espetáculo de cidadania, vale tudo. Os fichas-sujas se armam de advogados para driblar a lei, os caras de pau de sempre retornam às telinhas, os correligionários se travestem de querubins, ah, e os candidatos , depois de passarem por um photoshop, mostram caras bem nutridas e risonhas, com dentadura de anúncio!, em santinhos. O custo é o de menos. Tem gente para trabalhar e pagar.

As obras, superfaturadas até com adicionais quase no valor total da construção, são completadas a toque de caixa. Não importa inaugurar a porcaria, o que vale nestes dias é mostrar o que se fez, mesmo que isso seja um monstrengo de inutilidade ou já com prazo de validade vencido. Como não deu tempo, em Maricá, uma passarela sobre rodovia ficou inacabada sem uma das calçadas de acesso. Agora está sem “dono” porque ninguém pode dizer que fez. Mas quem liga pra isso? Coisas sem importância que não empanam a festa cínica que vem aí.


Enfim, mal terminou a gastança da Copa, a gente volta às ruas para fazer brilhar mais uma vez o poder político com direito a todos os gastos sem qualquer lucro para a população. Fizeram a limpa para a festa e precisam que fique algum para quando janeiro chegar. Ninguém é de ferro, e o início do ano tem muita conta pra pagar, principalmente o custo de campanha, que deve ser ressarcido pelo contribuinte.     

Nunca falha

Nani Humor

Alfabetização no Brasil não alfabetiza

Doutor em desenvolvimento da cognição e psicolinguística, o português José Morais defende o envolvimento da neurociência na alfabetização para reformar os pensamentos pedagógicos. Em agosto ele virá ao Brasil para VII Seminário Internacional, promovido pelo Instituto Alfa e Beto (IAB), em Belo Horizonte.
Em recente entrevista Morais fala sobre avalia a alfabetização brasileira. “Infelizmente, baseia-se na crença construtivista — chamo de crença porque contraria o conhecimento científico atual. No Pisa (programa internacional de avaliação de estudantes, na sigla em inglês), não houve variação significativa entre a primeira versão, de 2000, e a última, de 2012. O Brasil está muito abaixo da média dos países e quase 80 pontos abaixo de Portugal, que tem a mesma língua, o mesmo código ortográfico, e as diferenças de dialeto deveriam até ser mais favoráveis à alfabetização no Brasil. Só 1 em mil adolescentes brasileiros lê no nível mais alto de desempenho estabelecido pelo Pisa. A taxa de analfabetismo continua demasiado alta e, sobretudo, quase metade da população não lê de maneira competente. O Ministério da Educação não pode continuar a manter uma proposta de alfabetização que não alfabetiza”.

Ainda segundo o professor emérito da Universidade Livre de Bruxelas, que estuda a psicologia cognitiva associada à educação, o Brasil ainda não sabe que caminho escolher para a educação:
- É uma obrigação social e moral que o Estado fixe a idade de início da alfabetização. Se as crianças da elite aprendem aos 5 ou 6 anos na família ou em colégios particulares, não está certo que as do povo só sejam alfabetizadas (capazes de ler com compreensão e de escrever) aos 8 anos. Está se desviando a atenção daquilo que realmente é importante: a política certa, política de reprodução de privilégios ou política pública realmente democrática.