quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Duas versões pra mesma cara

Lula foi traído; Dilma tem telhado (blindado)
Duas versões presidenciáveis para a mesma falta de vergonha na cara em querer tapar os roubos do PT e aliados

'Quando o Brasil murcha, murcha uma parte de nós'

A dor dos brasileiros consiste em que creem que lhes estão roubando algo que lhes pertence
Li com uma mistura de admiração e dor a afirmação de Fernando Gabeira em sua coluna do Globo: "quando o Brasil murcha, murcha uma parte de nós". Admiração, porque evidencia que o Brasil constitui uma parte da identidade de cada um dos brasileiros.

Dor porque dá a entender que a vontade de mudança no país está ao mesmo tempo ameaçada por esse murchar. Algo que os brasileiros sentem como que lhes pertence por direito e lhes estão roubando.

Sempre me impressionou o fato de que, quando pergunto a alguém desse país como se sente, responde sem hesitar: "brasileiro".

Daí que eles gozem e sofram com essa identidade que lhes concede pertença ao país. Não é assim em outros povos do planeta? Não. Essa sensação de gozo de pertença e essa dor que se percebe quando o lugar de origem começa a se deteriorar é uma das características que nós, estrangeiros, notamos e admiramos nos brasileiros.

O silêncio de Lula


Ao escolher candidatos sem consulta à direção partidária, ele transformou o PT em instrumento de vontade pessoal

Na história republicana brasileira, não houve político mais influente do que Luiz Inácio Lula da Silva. Sua exitosa carreira percorreu o regime militar, passando da distensão à abertura. Esteve presente na Campanha das Diretas. Negou apoio a Tancredo Neves, que sepultou o regime militar, e participou, desde 1989, de todas as campanhas presidenciais.

Quando, no futuro, um pesquisador se debruçar sobre a história política do Brasil dos últimos 40 anos, lá encontrará como participante mais ativo o ex-presidente Lula. E poderá ter a difícil tarefa de explicar as razões desta presença, seu significado histórico e de como o país perdeu lideranças políticas sem conseguir renová-las.

Lula, com seu estilo peculiar de fazer política, por onde passou deixou um rastro de destruição. No sindicalismo acabou sufocando a emergência de autênticas lideranças. Ou elas se submetiam ao seu comando ou seriam destruídas. E este método foi utilizado contra adversários no mundo sindical e também aos que se submeteram ao seu jugo na Central Única dos Trabalhadores. O objetivo era impedir que florescessem lideranças independentes da sua vontade pessoal. Todos os líderes da CUT acabaram tendo de aceitar seu comando para sobreviver no mundo sindical, receberam prebendas e caminharam para o ocaso. Hoje não há na CUT — e em nenhuma outra central sindical — sindicalista algum com vida própria.

A pobreza política brasileira deu um protagonismo a Lula que ele nunca mereceu. Importantes líderes políticos optaram pela subserviência ou discreta colaboração com ele, sem ter a coragem de enfrentá-lo. Seus aliados receberam generosas compensações. Seus opositores, a maioria deles, buscaram algum tipo de composição, evitando a todo custo o enfrentamento. Desta forma, foram diluindo as contradições e destruindo o mundo da política.
Leia mais o artigo de Marco Antonio Villa