domingo, 31 de janeiro de 2016

Lula

O que não muda nunca é o personagem. Lula sempre ele

Decididamente, não há lugar no mundo para coincidências nem para probabilidades. Assim é, por exemplo, com certos pratos culinários: são conhecidos por nomes diferentes, mas, na prática, o resultado não varia ─ como diria Haruki Murakami. Coincidência é a forma encontrada para explicar o inexplicável. Probabilidade é a razão pela qual, a partir de fatos, se chega a uma explicação. Essa diferença não muda o sabor do prato, mas demonstra como foi feito.

A OAS e a Odebrechet são as maiores empreiteiras do Brasil e, também, as maiores fornecedoras da Petrobras. Ambas gerenciaram boa parte dos recursos bilionários do Petrolão, parte dos quais permaneceu nos cofres dessas empresas depois do repasse de propinas ao PT e demais partidos envolvidos na ladroagem. Um apartamento tríplex no Guarujá. Um sítio em Atibaia. E lá estão elas de novo. Só não muda um personagem: Lula.


A explicação inicial para a aquisição do apartamento evocava cotas que só existem em consórcios. Não é o caso: o que houve foi uma venda, e por isso mesmo declarada no Imposto de Renda. O apartamento tríplex de 250 metros quadrados, de frente para o mar, custou R$ 47 mil. A fila seria de bom tamanho se houvesse outros.

A OAS esbanja incompetência no setor de construção de prédios e venda de apartamentos. Vale lembrar que a reforma do apartamento de R$ 1 milhão e 800 mil consumiu outros R$ 800 mil, também bancados pela OAS. Explicação: era preciso “melhorar” o apartamento para facilitar a venda. O engenheiro responsável pela “reforma” alega ter praticamente construído outro apartamento, e que a família Lula era a única interessada na aquisição.

Isso não teria acontecido porque o apartamento já tinha dono, como comprova a declaração de renda de Lula? E por que a OAS vendeu por R$ 47 mil um apartamento que valia R$ 1 milhão, sem contar os R$ 800 mil da reforma, tudo sem conbrar nada de ninguém?

E o sítio em Atibaia, onde a Odebrecht acaba de aparecer? São R$ 500 mil de material, R$ 90 mil semanais para o pagamento de outra reforma (em dinheiro vivo) e um engenheiro (adivinhem de qual empresa?) que trabalhou nas férias e de graça. A dona da loja de materiais de construção afirma que quem pagou foi a Odebrecht, que finge ignorar a existência do sítio.

O que une a OAS e a Odebrecht, além do Petrolão? Lula, de novo. O ex-presidente que voava nos jatinhos das duas empresas. O menino de recados e lobista tem apreço por extravagâncias: gosta de visitar apartamentos que não compra e de frequentar um sítio pertencente ao filho de um companheiro petista que é sócio de um dos lulinhas. Todas as despesas são bancadas pelas empresas às quais o pai presta serviços e vassalagem.

Apostar em coincidências para explicar casos do gênero é uma ofensa à inteligência de alguém que saiba ler pelo menos uma frase. A probabilidade é o passo que antecede a certeza. Assim, é provável que Lula seja um corrupto que possui imóveis que não teria como comprar com os rendimentos que aufere legalmente. O que liga empresas corruptas e uma quadrilha estatal tem um ponto em comum: ele, sempre ele. Não é coincidência.

Marisa Letícia, a fábula

Protagonista de absurdos -- dos canteiros em formato de estrela que mandou plantar nos jardins do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto à requisição e obtenção de cidadania italiana para ela e a prole no segundo ano do primeiro mandato presidencial de seu marido --, Marisa Letícia Lula da Silva volta à cena. E em grande estilo. Seria dela a opção de compra do tríplex frente ao mar no Guarujá, alvo de investigações do Ministério Público de São Paulo e da Lava-Jato. O mesmo imóvel que já foi, era e nunca foi de Lula.

Idealizado pela Bancoop, cooperativa criada em 1996 pelos petistas ilustres Ricardo Berzoini, hoje ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, condenado a 15 anos e quatro meses pelo juiz Sérgio Moro, o tríplex apareceu na declaração do candidato Lula, em 2006, com um valor irrisório de R$ 47,6 mil. Referia-se a uma parcela do financiamento do Edifício Solaris, então na planta, em que outros petistas, incluindo Vaccari, tinham comprado apartamentos.

Até aí, o anormal era apenas o fato de a Bancoop lançar um empreendimento de alto luxo depois de já ter dado cano na praça, usurpando a poupança e os sonhos de mais de três mil cooperados. Algo que Lula, como sempre, alegará que não sabia.

A estapafúrdia história do tríplex não para aí.

Em 2010, a assessoria de Lula garantiu que o apartamento pertencia ao ex. Quatro anos depois, o jornal O Globo publicou reportagem sobre o Solaris apontando que o prédio tinha sido concluído enquanto os mutuários da Bancoop continuavam a chupar dedos. E que a unidade de Lula e sua mulher tinha recebido tratamento de alto luxo da OAS, empreiteira que assumiu o empreendimento: elevador interno, substituição de pisos e da piscina. Tudo supervisionado e aprovado por Marisa Letícia.

De repente, com as investigações esquentando, o frente ao mar do casal (ou de Lula, conforme declaração anterior) virou um negócio exclusivo de Marisa Letícia. Do qual, no papel de The good wife, ela desistiu.

Sabe-se hoje que as idas da ex-primeira-dama ao Solaris causavam frisson. Flores eram colocadas nas áreas comuns, todos ficavam sabendo quando ela chegava. Sabe-se ainda que o presidente da OAS, Léo Pinheiro, condenado pela Lava-Jato a 15 anos de reclusão, esteve lá com ela em pelo menos uma das visitas.

E aqui vale a questão: o que faria o dono de uma das maiores empreiteiras do país acompanhar Marisa Letícia na vistoria de uma simples reforma de um apartamento se o imóvel não fosse do ex-primeiro-casal?

Mas há muitas outras perguntas sem respostas. Em um artigo didático, o jornalista Josias de Souza mostra a ausência absoluta de nexo nas explicações de Lula. Argumentos que não explicam, confundem.

Confundir. Talvez seja essa a ideia ou a única saída imaginada por Lula.

Sem conseguir dizer quanto pagou além dos R$ 47,6 mil declarados em 2006 ou apresentar recibos da desistência, com data e valores de reembolso exigidos, tudo que o Instituto Lula fala beira papo para engambelar otário. Nem mesmo a cota nominal para demonstrar que a opção de compra do apartamento foi mesmo de Marisa veio a público. São documentos simples, claros, objetivos. Mostrá-los livraria o Instituto Lula e o próprio ex de torturar os fatos.

Sem isso, resta a Lula, ao PT e aos militantes mais aguerridos atribuir tudo à perseguição histórica ao ex. Tudo – tríplex reformado pela OAS, sítio recauchutado pela Odebrecht, filho que recebe R$ 2,5 milhões por consultoria via Google, os “não sabia” do Mensalão, do escândalo da Petrobras e tantos outros – não passa de uma conspiração para “derreter Lula” e “destruir o PT”, como clama o presidente da sigla, Rui Falcão, no Facebook.

O conto do tríplex ainda vai longe. Mas de cara já se sabe: tem orelha de lobo, focinho de lobo, boca e dentes de lobo. Ninguém vai acreditar que é a vovozinha.

A lambuzada de Lula

Coube a um lulista, Jaques Wagner, cunhar uma colorida e condescendente definição para a corrupção na era PT: não acostumada às benesses do poder, a "companheirada" havia se lambuzado.

O exemplo pode ter vindo do chefe. Após ter radares das mais graúdas investigações do país sobre si, Lula acaba a semana colecionando indícios de que se lambuzou no varejo.

A cereja foi revelada na sexta (29): a Odebrecht, empreiteira cujos milhões pagos a Lula após a Presidência são apurados, reformou segundo testemunhas ouvidas pela Folha um sítio usado por ele ainda no cargo.

Isso se soma ao imbróglio do já notório tríplex do Guarujá, investigado por ser suposto objeto de propina e lavagem de dinheiro, sobre o qual o casal Lula terá de depor.

Soa até venial perto da gravidade de outras suspeitas que batem no nome de Lula e no de sua família nas operações Lava Jato e Zelotes. Mas não é. Honestidade é um valor absoluto, apesar de o petista acreditar em gradações. Se comprovadas, as lambuzadas serão indeléveis, além de serem de fácil compreensão popular.

Com isso, o mito se esvai. Adaptando Sófocles, só o tempo revela o homem justo, mas bastam algumas reportagens para desnudar o pérfido. Lula tem obviamente o benefício da dúvida, mas, se não for inocente, corre o risco de ver seu séquito reduzido a variantes do agente Mulder, da rediviva série de TV "Arquivo X" e cujo lema é: "Eu quero acreditar".

Seria a pá de cal no que resta de futuro para o PT, destroçado por escândalos e pela má gestão –estão aí petrolão, mosquito e recessão para provar, assim como os paliativos respectivos ofertados por Dilma.

Pode, no limite, refluir a sigla de nicho, só trocando os universitários/sindicalistas/"intelectuais" de outrora por "hipsters" e suas agendas autoindulgentes. Na prática, além de tosca institucionalmente, a ação tucana pedindo a extinção do PT é inócua por sugerir algo já em curso.

A qualidade dos impostos

O presidente dos Estados Unidos durante o período da Primeira Guerra Mundial, Prêmio Nobel da Paz, Thomas Woodrow Wilson, do Partido Democrático, marcou seu tempo com atitudes contraditórias em assuntos raciais, mas foi considerado o “pai do idealismo” político.

A ele se devem inovações especialmente na consolidação de direitos do cidadão, limitando abusos de poder do Estado.

Reitor de Princeton, berço que forneceu uma dezena de presidentes aos Estados Unidos, deixou uma frase lapidar: “A história da liberdade é a história da luta para limitar o poder do governo”. O governo é, por natureza, tirânico, seja de uma cor ou de outra, disposto a cuidar mais de seus interesses que da nação.

Trata-se de um organismo com estômago no lugar do cérebro e sem braços. Não constrói, não se esforça, se alimenta apenas do que consegue tirar da labuta dos outros. A condição parasitária do Estado precisa, evidentemente, de limitações para não resvalar em desgraças como o petrolão.

Deve-se constatar que, quando se arroga entrar em setores competitivos, fracassa, como no caso da Petrobras. Mesmo com um monopólio que a protege, os riscos de desmandos são imensos.

A lei sacra faz referência ao dízimo, mas a máquina do Estado cobra quatro dízimos do governado. O excesso faz, assim, do cidadão brasileiro um escravo moderno à mercê dos faraós que ocupam o poder, dito acintosamente “democrático”.

Açoitado, tratado como sonegador, privado do seu direito constitucional à boa-fé, o cidadão enfrenta limitações no Brasil que superam os limites de uma organização civilizada de direito. Acorrentados pela burocracia e asfixiados pelos tributos que alimentam um Estado perdulário e afamado, tirano e velhaco, o cidadão e as famílias sofrem privações ilegais.

Basta considerar a natureza regressiva da CPMF, esquecida pela chefe do Estado brasileiro, descrevendo-a como panaceia e ao par que será mais uma praga sobre a economia nacional e devastará milhares de empregos.

Evidentemente, Dilma não entendeu o significado antropofágico desse tributo, como não entendeu que, dando desconto na energia elétrica em 2013, um bem escasso, levaria o sistema ao colapso e a desgraçar várias estatais do setor.

Quem paga hoje tarifas elétricas extorsivas, o deve exatamente a essas escolhas.

A CPMF fará amargar privações de alimentos na mesa do trabalhador, perda nas empresas, que terão mais limitações à competitividade. Quem ganhará, como sempre, serão os banqueiros, que receberão uma contribuição sobre movimentações financeiras de difícil fiscalização no repasse ao erário.

A defesa canina de teses vencidas caracteriza a presidente em seus sofridos cinco anos de governo, contudo poderá IMPOR mais essa cobrança com o apoio de parlamentares domesticados.

Quem estava lá no Planalto, na semana passada, para dar força à CPMF, brilhando a óleo de carvalho, o presidente do Bradesco, patrão de Joaquim Levy. O “cara” que festeja o maior lucro de todos os tempos em 2015, o pior ano da história da economia nacional, marcado com 1,5 milhão de novos desempregados.

Thomas Woodrow entendeu que o governo tem tendência a exagerar, a ser um tirano. Deve ser vigiado com rigor e limitado para não ser uma força destruidora, como vem se revelando o governo brasileiro.

A perda de liberdade individual gerada por uma praga descabida vai da impossibilidade de comprar um sorvete até um remédio, de ir e vir, de prover por si, sem ajudas, o que faz falta.

Retirar do cidadão brasileiro 40% de suas rendas num país com salário mínimo de US$ 215 e uma renda per capita de US$ 6.000 é absurdo. O Estado gasta para si mais que qualquer outro congênere do planeta sem retornar uma assistência minimamente decente. Ao mesmo tempo convive com gastos escabrosos, intoleráveis para uma democracia que pretenda o progresso.

A palavra “imposto” retrata uma ação unilateral, IMPOR. Uma coerção num país em via de desenvolvimento, com mais de 25 milhões de pessoas abaixo da linha da dignidade. A CPMF se abaterá cruelmente sobre os mais fracos com o encarecimento dos alimentos e dos produtos básicos.

Essa preocupação não passa na consciência dos governantes, que não explicam como será distribuída ainda essa arrecadação nem dizem que quem pagará é quem menos tem condição para tanto.

A qualidade desse tributo é péssima, a qualidade do tributo passa longe da preocupação do Estado. Provoca, assim, agressões à economia popular, aos mais fracos, a quem trabalha, não distingue absolutamente nada. A CPMF é um delírio de quem está gravemente ofuscado. Pior ainda, não cortou suas gorduras, não podou seus exageros.

Tributo de qualidade é aquele que se vincula ao desenvolvimento, a fazer crescer a economia que emprega e arrecada. Só com essa preocupação se poderá civilizar plenamente e engrandecer uma nação.

República dos padrinhos


Os presidentes do Banco do Brasil e da Caixa também têm culpa nas “pedaladas”, pois pegaram o dinheiro dos depositantes, emprestaram indevidamente e não cobraram devidamente. Os conselheiros dos Tribunais de Contas julgam as contas do Executivo que os indicou para seus cargos. No Paraná, há pouco o presidente do TC, que foi secretário e até funcionário do governador, absolveu “pedaladas” do governo estadual. Juízes do Supremo são indicados pela Presidência da República, não sendo, pois, de se estranhar que cinco dos que votaram contra “impichar” a presidente foram indicados por ela. São apenas alguns exemplos do conluio interpoderes em toda a estrutura do Estado brasileiro, uma república de padrinhos.

Depois de sete Constituições e décadas de avanço republicano, chegamos a uma estrutura estatal que tem, na base, exemplos de democracia comunitária, como as eleições para conselheiros tutelares. Mas, no alto dessa estrutura, trocando favores e mutuamente protegendo seus privilégios, temos uma superelite que custa muito caro para serviços sem auditoria de produtividade, com imensas máquinas de servidores a seu serviço, dando exemplo de “desdemocracia”.

No topo, os poderes públicos se imiscuem. O Judiciário é apadrinhado pelo Executivo, de quem recebe os salários sem autonomia orçamentária, como estamos vendo agora, no Paraná, onde o governo quer se apropriar de recursos do Judiciário. Podemos questionar o desuso dos recursos pelo Judiciário, mas não é legal (no sentido de “conforme a lei”) o governo, por estar de tanga, avançar em recursos que não são seus.

O respeito entre os poderes é fundamento da República, mas as indicações ou apadrinhamentos causam erosão constante nesse fundamento, trocando o respeito pelo ajeitamento.

A profusão não fiscalizada de cargos de confiança amplia essa república de padrinhos, somando União, estados e municípios com centenas de milhares de apadrinhados. É comum deputados e vereadores terem assessores ausentes de qualquer serviço, quando não fantasmas mesmo. E os servidores de carreira agem sempre como os três macaquinhos: nada ouvem de errado, nada veem de estranho, nada informam à Promotoria.

Do topo à base, a doença é a mesma: apadrinhamento. Assim se formam camarilhas, grupos dedicados a se perpetuar no poder com proteção mútua e benefícios barganhados. O pessoal do Judiciário está há anos sem aumento, mas os juízes tiveram aumentos, além de auxílios para moradia e comida. Enquanto isso, o Congresso Nacional se esmera em ser a meca centralizadora e a usina central geradora dos apadrinhamentos, de deputados e senadores, nas redes federal e estaduais, além das empresas estatais.

O juiz Moro não tem padrinhos, nem o poder de indicar substituto ou continuadores. É um samurai da república num pântano de padrinhos, com uma Polícia Federal que acaba de ter orçamento cortado quando merecia mais recursos nessa luta vital para um futuro melhor de todos nós.

Um dos eixos a pautar nova Constituição a reformar para valer a República Federativa do Brasil é reduzir radicalmente e limitar operacionalmente o apadrinhamento, doença mista de corrupção e conivência. Quem paga 40% de impostos na renda merece Estado enxuto, funcional, estável e produtivo.

Essa tendência e atração pela dependência e dominação também está no fundo da escolha popular pelo presidencialismo, em dois plebiscitos. Fosse Estado parlamentarista, já estaria resolvida a crise política, e a crise econômica poderia ser encurtada por medidas cautelares do parlamento, como a destituição da (se fosse o caso) primeira-ministra Dilma Rousseff.

Na sua carta ao rei, Caminha já pedia emprego para parente. Passou há muito a hora de se livrar da praga do apadrinhamento.

Domingos Pellegrini

A nobreza de ser gentil

Dia desses, em algum lugar deste planeta, um decerto cansado motorista, com pressa de chegar em casa, esqueceu de fechar o vidro do passageiro ao estacionar seu carro. No dia seguinte, após uma noite chuvosa, encontrou o vidro fechado e um bilhete: “Não queria que seu carro se molhasse. Tenha um bom dia”.

Em algum outro lugar um cidadão foi buscar seu carro, estacionado em uma movimentada rua, e encontrou no vidro dianteiro um recado: “Observei que seu bilhete de estacionamento estava quase vencendo e vi a fiscal descendo a rua. Comprei para você duas horas extras”.

Há também o caso de um motorista de caminhão que encontrou colado na porta deste um envelope com a seguinte mensagem: “Você não me conhece, mas eu percebi que seu veículo precisa de pneus novos. Sempre quis fazer uma bondade para uma pessoa estranha, porque um dia alguém fez o mesmo por mim. Em anexo está o recibo da loja de pneus da esquina. Basta ir lá e eles trocarão os pneus do seu caminhão gratuitamente. Tudo o que peço é que algum dia você faça algo bom para um completo estranho”.

Em outra parte do mundo uma lavanderia exibia na porta um cartaz com os seguintes dizeres: “Se você está desempregado e precisa de roupas limpas para uma entrevista de emprego nós resolveremos isso gratuitamente”.

Não nos esqueçamos do ciclista que foi apanhar sua bicicleta, estacionada na rua, após um violento temporal. Encontrou o banco devidamente protegido por um plástico, sob o qual lia-se “Um assento molhado não teria sido legal”.

Não faz muito tempo um jovem casal, com um bebê a reboque, foi a um restaurante. Enquanto faziam as contas para ver o que seria possível pedir receberam um billhete com a seguinte mensagem: “Certa vez, quando estávamos começando a vida, alguém nos pagou um jantar. Isto nos marcou profundamente. Sejam bons pais e trabalhem duro - a vida passa depressa”. Seguiu-se, então, um maravilhoso jantar absolutamente grátis.

Há o caso do casal de turistas que tomou o metrô errado em um país distante. Já na saída da estação, perguntaram a um policial como fazer para chegar ao destino, que supunham próximo. Eis que o agente da lei, pacientemente, explicou-lhes que deveriam pegar outra linha. Em seguida, para espanto de ambos, foram por ele acompanhados até a porta do metrô correto. Na estação de chegada um outro policial os aguardava, com um mapa às mãos, para orientá-los. O casal insistiu em pagar os dois bilhetes, mas ouviu o seguinte: “vocês estão perdidos e devem ser ajudados - o valor dos bilhetes não importa, mas sim o princípio”.

Tenho arquivado o registro de cada um destes casos. Omiti, intencionalmente, onde se passaram. Pode ter sido aqui, ali, lá ou acolá - não importa, aconteceram entre nós.

Eu teria exemplos mais vistosos em meu “database”, como uma estatística segundo a qual quase metade dos atendimentos médicos do mundo todo vem do trabalho de voluntários. Ou de que a esmagadora maioria dos casos de recuperação de drogados é igualmente fruto da dedicação de pessoas que se doam sem esperar nada em troca.

Sim, eu teria belos números a mostrar. Mas hoje ficarei apenas com aqueles pequenos gestos de grandeza e gentileza das pessoas comuns, praticados sob o único impulso de saber que um desconhecido teve um momento de alegria ou algum sofrimento atenuado.

Que neste ano que se inicia cada um de nós tenha sempre presente que o menor ato de gentileza vale mais que a maior de todas as intenções!

Pedro Valls Feu Rosa

Utopias e abismos

Procure na história um completo desastre social, político e econômico e encontrará uma utopia a inspirá-lo. Utopia, por definição, é algo que não se realiza. Fantasia e quimera são seus sinônimos. Por isso, as ações humanas movidas por utopias conduzem a abismos. O escritor uruguaio Eduardo Galeano assemelhava-a ao horizonte, que se afasta a cada passo que damos em sua direção, mas serve para fazer andar. Esquecia-se ele e esquecem seus repetidores que a sensatez impõe a todo líder a obrigação moral de verificar aonde levam os passos que dá. E os passos da utopia que Galeano ajudou a difundir, inclusive no Brasil, deixaram trilhas sinistras na história.


Nos principais experimentos, produziu cem milhões de mortos. E em todos, inclusive na atualização bolivariana articulada no Foro de São Paulo, não exibe um estadista, uma economia que se sustente, uma democracia de respeito. Em contrapartida, mundo afora, todos os êxitos sociais e econômicos foram colhidos em ambiente de realismo político. Muitas vezes tenho ouvido, em defesa dos delírios característicos do ideário comunista, a afirmação de que a palavra utopia serve de título a um livro de Thomas Morus, santo da Igreja Católica, nascido no século XV. Pretende-se, com isso, como que canonizar a utopia. Coisa de quem não conhece o santo ou, se leu o livro, entendeu bulhufas. E quem não sabe isso, a experiência me mostrou, não quer saber.

Meu objetivo, aqui, é evidenciar que a crença em uma utopia vem, necessariamente, associada àquela mesma ingenuidade tão nítida nas descrições feitas pelo interlocutor de S. Thomas Morus em "Utopia". Tal ingenuidade, aliás, estabelece intuitivo vínculo entre utopia e magia. Creio que o melhor exemplo atual pode ser observado no uso abusivo da expressão "vontade política". Essa vontade seria o instrumento mágico, capaz de moldar a realidade — qualquer realidade — aos desígnios do governante ou de quem ao governo apela. Em outras palavras: como a utopia não se realiza na prática, somente a magia pode produzir seus milagres. E a varinha de condão da qual se cobram sortilégios é a tal "vontade política". Supõe-se, num querer infantil, que a ela se curvem os fatos, a razão, os recursos públicos, os índices econômicos, as ciências, todas as divergências, os direitos individuais e tudo mais que lhe venha pela frente.

Foi essa crença pueril de eleitos e eleitores que trouxe o Brasil à atual crise. A utopia nos levou à euforia, a euforia à prodigalidade e a prodigalidade à miséria. "Se você está num buraco, pare de cavar", aconselhava certo personagem, em um filme a que assisti recentemente. Nosso governo, porém, teima em seguir cavando.

Vin Diesel e vim a alcool

Ainda estou para dar minha cota de crédito irrestrito para a Lava Jato, operação da Polícia Federal que anda revirando a vida dessa quadrilha petralha instalada no poder. Como o jornalista Reinaldo Azevedo, também me espanta que o chefe da camorra não seja o principal investigado até agora, especialmente depois de deflagrada a vigésima-segunda parte da novela interminável, batizada de Triplo X. O trocadilho que insinua a investigação sobre o tríplex do vigarista, com suas cozinhas sob suspeita e a eterna vontade do demiurgo de “morar de favor” também escancara a denominação dos filmes com conteúdo pornográfico – os XXX – e o herói sem caráter vivido pelo chefe de todos os carecas, o Vin Gasolina. Pois é.

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É escandaloso que uma cooperativa que roubou o dinheiro de pelo menos 3 mil incautos não apareça na “mídia” como um problema habitacional. Quem são essas pessoas feitas de otárias? Seriam elas coniventes com a vigarice aqui encenada? Naquelas igrejas fast food da fé, muita gente compra óleo de pastel como coisa santa. A maioria sabe do que se trata, mas compra assim mesmo. Medo de serem considerados dissidentes, de não ajudarem a causa ou de serem “ovelhas desgarradas” aos olhos da matilha de lobos que toma conta dos interesses do bando todo.

Seria interessante ouvir a voz dessas pessoas, não é mesmo? No incêndio da Boite Kiss, por exemplo, a movimentação social em torno da injustiça ali cometida criou associações inteiras de indignados acompanhantes do desenrolar da história. E aqui? Aqui Mariana ameaça desabar de novo. Onde andam os sismólogos para arrumar um providencial terremoto para amenizar a culpa daqueles que, deliberadamente, abandonaram a segurança em favor da propina?

O ministro que quer o mosquito da Zika infectando meninas impúberes dá bem a medida da irresponsabilidade dessa quadrilha. A ONU ainda não está convencida de que a microcefalia seja causada pelo mosquito. E se não for? Será outra Smartmatic, empurrada para debaixo do tapete por um conluio de vigaristas, incluindo aqui aqueles em quem votamos? Desde que esqueçamos quem são, de onde vem o que andam roubando, o teatro da impunidade estará garantido, com direito a “conselhões” inúteis e outras cortinas de fumaça para a mesma roubalheira de sempre.

Metade do PT tem apartamentos naquele edifício fatídico. São apartamentos de veraneio. Para quem defende o comunismo e o direito de todos se apoderarem do que é dos outros, parece que amealharam uma fortuna razoável para chamar de “capitalismo com o capital alheio”, certo? Essa gente não vale o que o gato enterra. Que não fique provada uma vírgula contra o maior vigarista que este país já pariu, seu modus operandi não me deixa mentir sobre a existência de “uma natureza” em volta dessa quadrilha.

Uma presidente com tamanha rejeição pública não deveria pegar o boné, em respeito a uma tal de “democracia” que finge respeitar? Ela não o fará. Terá de ser apeada por forças que ainda não se deram conta do abismo em que nos metemos. Do tipo de meliante que se apoderou da coisa pública em benefício próprio, ultimamente. E ficamos aqui, esperando, com nossos narizes de palhaço, que essa gente finalmente se canse de mentir, empulhar, roubar, dissimular, cacarejar e saiam com as mãos para cima, cientes de que foram pegos em flagrante delito.

Até lá, olho as corajosas intervenções do juiz Sérgio Moro na bandalheira com olhos de Cerveró. Pode ser que todas as prisões efetuadas até agora não passem de cortina de fumaça da verdadeira origem de todo esse inferno. O chifrudão-chefe continua livre, leve e solto, sem que surjam indicações convincentes de que vai pagar pelos crimes cometidos. Se isso não acontecer, saberemos do que este país é feito, senhores. De lama de barragem mal feita. Cuidado para não se afogar, andando por aí. Calhordas.

Pacto sinistro


Até mesmo um pacto com o diabo é certamente menos prejudicial que um em que o indivíduo entrega sua alma ao estado. Porque satanás oferece frutos que são dele próprio, enquanto o estado, em última análise, não tem absolutamente nada a oferecer que não tenha sido retirado de seus súditos. Então, no culto ao estado, os homens sacrificam suas almas para um falso deus, que pode dar-lhes em troca apenas o que já foi colocado por seus próprios adoradores no altar dos sacrilégios

Felix Morley

Além de tudo, os mosquitos

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Conseguirão o PT, Lula, Dilma e o governo aguentar investigações, devassas e acusações em ritmo crescente, movidos pelo Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário? Sem falar na mídia, implacável tambor de ressonância responsável pela queda da popularidade dos detentores do poder.

No PT, arrancam o cabelo os que ainda não são carecas. A previsão no alto comando dos companheiros aponta para completa derrota do partido, nas eleições municipais de outubro. De 2018 nem se fala, continuando as coisas como vão. Pesquisas sigilosas chegam ao palácio do Planalto dando conta de monumental queda nas representações petistas de vereadores e prefeitos. E numa projeção mais ampla, da débâcle programada para daqui a três anos quando da escolha do novo presidente da República, dos governadores e das bancadas no Congresso e nas Assembleias estaduais.

Fazer o quê, para virar o jogo? Não dá para censurar a imprensa nem para imobilizar os tribunais. Muito menos para reconquistar a popularidade perdida, se as denúncias seguem seu curso, com evidências cada vez maiores de envolvimento dos principais dirigentes, em sucessivos episódios de corrupção ostensiva. O empresariado salta de banda, engrossando a oposição, por sinal sem necessidade de esforçar-se muito.

Já o Lula come o pão que o diabo amassou, certamente por culpa dele mesmo. Antes ocupando a certeza de poder voltar e estender por mais dois mandatos a permanência dos companheiros no poder, a legenda nem certeza terá de disputar o segundo turno, na luta pelo comando da República. Também, ficaria sem sustentação no futuro Congresso e na quase totalidade dos governos estaduais. A pergunta é se o ex-presidente correrá o risco de disputar sem chance de vitória. Só que, não se apresentando, deixará o PT em piores condições ainda, obrigado a lançar um inexpressivo sem nome ou correr atrás da aventura de Ciro Gomes ou outro aliado inconfiável.

Quanto à presidente Dilma, o máximo que consegue é comandar uma orquestra de panelas e caçarolas. Há pelo menos dois anos que a crise econômica se havia instalado e nenhuma providência eficaz foi adotada. Madame trocou ministros em profusão e agora se obriga a ouvir conselhos de Delfim Netto, na contramão dos postulados que o PT abandonou. Nenhum plano apresentou até agora para debelar o desemprego em massa, a alta de impostos, taxas e tarifas, mais a elevação vertiginosa do custo de vida.

O governo, como um todo, é uma lástima. Mergulha nas profundezas, sem escapar de denúncias de corrupção, sofre derrotas no Congresso, perdeu a oportunidade de formar maioria sólida e nem consegue livrar-se de adversários como o presidente da Câmara. A presidente continua temerosa do processo de impeachment e faz tempo que não arrisca comparecer a uma reunião popular aberta. Medita sobre se estará presente na solenidade de abertura das Olimpíadas. Continua grosseira no trato com ministros e auxiliares.

Em suma, desmancham-se as principais figuras responsáveis pela condução do país, ainda por cima às voltas com diabólicos mosquitos que a saúde pública não consegue evitar.

Como matar o dragão

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A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada
José Saramago

O inimigo público são as antas

Depois de Dilma, o bandido mais combatido no Brasil também é outro animal: o Aedes aegypti. Apesar de bem menos inofensivo - não infecta milhões por anos - tem aparecido como salvação para a presidente se esconder, quem diria, atrás das asinhas do inseto.

O Aedes, mesmo vilão nacional (será mesmo?), está permitindo que a presidente apareça como a mata-mnosquito n°1. Não só criou um gabinete de combate ao inseto como ainda está propondo a compra e distribuição de repelentes a todas as grávidas do país.

As medidas governamentais de guerra nunca foram efetivas nem confiáveis. Governantes se aproveitam do mosquito para florear seus nobres esforços públicos que nem são nobres e muito menos esforços.

Nenhum governo, em qualquer esfera, ainda conseguiu se explicar por que estando em 12 cidades em 1980 conseguiu se distribuir para 2.665 entre 1980 e 1997 e hoje atinge praticamente todo o território. Também ninguém ficou convencido de que Oswaldo Cruz, em seis anos de combate, tirou o Aedes do mapa carioca.
Moto-fumacê há cinco anos na foto, nenhuma nas ruas
A desculpa de haver grandes cidades e crescimento demográfico incomparável com o início do século XX não serve, ainda mais que na década de 1980 só havia o mosquito em 12 cidades.

Dizer que os vetores se proliferam e preferem os domicílios dos cidadãos, que seriam os grandes focos, é culpar o povo por criar bandido.

O maior vilão está nos governos que adoram se servir do mosquito para bancar mocinhos. Não há nem houve nos últimos anos iniciativas efetivas para conter a infestação. Pode colocar o maior exército do mundo nas ruas para matar mosquito que não adiantará nada se não se cuidar do saneamento, da limpeza urbana, da aplicação de leis municipais contra os megacriadores como lixões, depósitos, valões, servidões, construções públicas abandonadas e por aí vai.

É preciso vontade política para também não desperdiçar dinheiro público em ações de marketing como daquele prefeito (petista, é claro) que anunciou o combate mais moderno contra o Aedes: moto-fumacê. Comprou oito, há cinco anos, nunca uma delas foi vista circulando no município.

Combater não é só matar o mosquito no Verão. É cuidar do saneamento e implementar as boas práticas de limpeza nos municipios, não deixando só a culpa e o trabalho com o cidadão., que ainda tem o encargo de pagar muito caro para a cambada se fazer de santa.

Os governantes precisão trabalhar, honestamente, e deixarem a preguiça de bancar superheróis em peças de marketing. ou darem uma de santidade de que tudo fazem como dádiva pessoal. Essa cretinice é criminosa para dar cadeia em países que respeitam seus cidadãos. Aqui dá mais votos para continuarem praticando crimes sob o manto da imunidade e da impunidade. 

O cidadão mais honesto do Brasil é um criminoso vulgar

Triste país é este, em que o cidadão que se arvora como a pessoa mais honesta, não passa de um criminoso vulgar, que envergonha a nação no cenário internacional e ameaça processar os jornalistas que denunciaram seus atos ilícitos. Tudo nele é falso, jamais processará ninguém. Sua insanidade é flagrante, trata-se de caso grave, a exigir internação, mas quem se interessa?

Poderia ser um dos homens mais importantes da História da Humanidade. Seu trajetória de vida era impressionante. Partiu do zero ao milhão, um retirante nordestino, que jamais lera um livro, acabara sendo eleito presidente do quinto maior país do mundo, em termos de habitantes e de extensão territorial. Se fosse um cidadão limpo, se não tivesse se tornado um reles alpinista social, teria um lugar de honra no Panteão dos grandes políticos da História, ao lado de Nelson Mandela.


A diferença é que Mandela tinha formação intelectual, era um advogado negro, perseguido pelo odioso regime do apartheid, que ficou 27 anos preso.

Quando foi libertado, em 1990, já tinha 72 anos. Mesmo assim, conduziu com impressionante sobriedade a transição política, foi eleito presidente, jamais exigiu vingança, comportou-se como um seguidor de Mahatma Gandhi na defesa da não-violência, ganhou o Nobel da Paz em 1993.

Mandela podia ter se reelegido presidente, mas preferiu se retirar da vida pública, preservando-se eternamente como uma das personalidades mais importantes da História de Humanidade.
Com sua impressionante ascensão na vida pública, Lula passou a fugir da realidade, criou um mundo à parte. Jamais uma pessoa praticamente sem formação intelectual ganhou tantos títulos universitários “honoris causa” como ele. Este sucesso nacional e internacional fez muito mal a Lula, passou a se sentir inatingível. Dizia que acusações contra ele não colavam. E era verdade.

Não faltaram denúncias e livros escritos contando a verdade sobre ele, mas Lula nem ligava, dizia que ninguém acreditaria em autores como Ivo Patarra, José Neumâne Pinto e Romeu Tuma Jr. E realmente poucos acreditavam ou se interessavam sobre o que se dizia dele.

Mas a mentira tem pernas curtas, a verdade acaba surgindo. E hoje Lula é uma pálida imagem do grande homem que poderia ter sido.

Agora, pouco resta do poderoso ex-presidente. As investigações já demonstraram seu enriquecimento ilícito, já se sabe que ele comandou a institucionalização de uma corrupção que sempre existiu, a diferença é que passou a ser oficializada e com percentual fixado.

A imagem do Brasil no exterior fica cada vez mais encardida. Em breve, Lula estará na cadeia, junto com o filho caçula, que aprendeu tudo o que sabe simplesmente observando o comportamento do pai. E la nave va, fellinianamente enlouquecida, nas mãos de uma mulher sapiens altamente irresponsável, que finge estar governando o país e vivendo no melhor dos mundos, no estilo imortalizado por Voltaire.