segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A esquerda aos soluços

Ninguém me convence do contrário: há dois golpes em andamento por aqui e ambos parecem ora se somar, ora se subtrair, no desentendimento pela divisão do butim e pela multiplicação dos feitos de otários, país afora.

Num dos golpes está a esquerda bolorenta. Participam dela, num bonde de proporções razoáveis, todo tipo de idiota útil a uma ideologia que não para em pé. Cabe todo tipo de fundamentalismo, cretinismo e dissimulação que a paciência aguenta, numa alegre confraria de infiltrados, que vai dos movimentos dos quadris, que só reclamam do preço da passagem nos ônibus mas não enxergam um palmo da crise dantesca em que nos meteram seus gurus enfeitados com cuecas cheias de grana roubada, até exemplares exóticos de uma esquerda picareta, pendurada numa teta qualquer a vociferar como são fascistas estes indignados.


Nesse golpe, saboreando os valores, costumes e atitudes lavradas por uma cartilha vagabunda que ainda quer ver no comunismo a salvação da lavoura, está o PT. Um bando de quadrilheiros que viu nesse “neo-evangelismo” às avessas o terreno fértil para gozar dos brasileiros com todo tipo de falcatrua que a mente perturbada desses carcamanos consegue maquinar.

Ambos os golpes se complementam. Um rouba a urna enquanto o outro finge que não vê. Um exige pedágio do outro. Um vê no outro a verdadeira danação, quando danados estão. Dilma é a “esquerda da esquerda” para os discípulos de Lula e por aí vai.

Não tentem trilhar uma linha coesa nessa canalhada, meus caros. Bandidos se alinham conforme as conveniências do roubo que praticam. Simples assim. No caso, foi fácil convocar o gigante PMDB para ficar na porta, estacionando os carros. É a gorda propina, distribuída sem miséria para essa corte de safados, a turbina que move o país aos solavancos.

Ninguém contava com a Lava Jato para reduzir ao nível de crime comum o que seria o golpe do século na latrino-américa. Nem com a internet, para mostrar as coisas como as coisas são, sem relativismos e “governabilidades”. Nem que segundos ou terceiros escalões do esquema criminoso fossem tão vulneráveis a um par de algemas tilintando no ambiente.

A saga continua no lambuzar dessa gente rumbeira. A palavra de ordem agora é a mesma do Estado Islâmico: “Voltem para as montanhas!!!” Finjam que são de outros partidos, outras siglas e mergulhem na clandestinidade de novo, até que consigamos reunir a “nova ordem” outra vez e nos lambuzarmos novamente.

Candidatos ao vigarismo não faltam. Da nova postura do compositor de melados, Jaques, o Wagner, até a ressurreição do Brizolão, feita pela pujante motoneta estacionada no Planalto. O que não falta são esquerdos a reclamar a sua parte neste latifúndio, ganha na lábia, com o suor do rosto dos outros.

Estou farto disso aí até o talo. Tem uma dona ganhando rios de dinheiro com um livrinho acusando os fartos dessa lenga-lenga de “fascistas”. Além de ser chamado de “loiro de olhos azuis culpado pela crise” pelo maior vagabundo que este país e esta ideologia torta já pariram juntas e irmanadas, ainda tenho que posar à força na mesma selfie dos amigos do Donald Trump e companhia. Me poupe.

O aerotrem era uma idiotice de direita até ser encampada por um governador meio esquerdo, exterminador de sacolas, não é mesmo? Onde andam agora os escombros de mais essa empulhação? No que diferem dos outros trens, também paridos nas cabeçonas mancas dessa gente rumbeira a sugar nossa grana em “temerosas transações”?

Tenha paciência. Vigarice no olho esquerdo dos outros é refresco. Nesse bando eu não voto nunca mais, mas nem amarrado. Vou até lá quebrar uns LPs da Mercedez que eu não compro nem em liquidação e já volto. Desgracias a la vida!!!

O Brasil da cleptocracia

“Perdeu! Perdeu!” Este é o aviso dos bandidos quando abordam uma vítima. Nasceu no Rio e tomou conta do Brasil. “Tá tudo dominado!” é o grito de guerra das quadrilhas quando tomam territórios ou vencem algum confronto. São frases emblemáticas do Brasil destes anos de cleptocracia.
Deixamos que o cenário chegasse a este ponto. Eles foram dominando aos poucos. E, quando nos demos conta, dominavam o país. Desde muito que se alertava para o perigo da compra na boca do caixa daquelas que foram, no passado, entidades representativas de legítimas reivindicações populares.

OAB, ABI, CNBB, UNE, CUT, ABI e o aparato sindical aliados ao MST, MTST e Movimento Passe Livre e outros que tais, são hoje todos a favor do poder. Não reivindicam. São defensores do status quo. Desistiram de lutar por democracia e direitos em nome de verbas e financiamentos oficiais.


Criamos o sindicalismo a favor. A discordância de quem discorda. A luta pelo atraso. O ataque a quem se opõe. A banalização do malfeito. O elogio da ignorância. Este é mais um dos itens da verdadeira herança mais que maldita: amaldiçoada.

Se no século passado o brasileiro médio tinha como expectativa de realização profissional uma vaga no Banco do Brasil – por concurso –, agora a certeza é a da venda da própria consciência ao poder estatal.

É preciso distinguir o que é estatal do que é público. Hoje, raramente são sinônimos. Estatismo é o uso do aparelho do que é público. A privatização do que é nosso, por parte de um grupo que se serve do poder.

Os ditos movimentos sociais não perderam as ruas porque usam os black blocs. Estes existem por que eles perderam as ruas. O isolamento que os faz autofágicos e, como tal, interdependentes, nasceu do cansaço de um país que assiste ao assalto a valores universais em nome do oficialismo de estado. Que, corrupto, corrompido e corruptor, compra o apoio de estudantes e jornalistas, de advogados e igrejas, de operários e camponeses. E dos miseráveis, que nunca param de crescer como excluídos que são.

Mais que nunca as manifestações não são SOMENTE pela saída de Dilma. As manifestações são também – e principalmente – pelo resgate da cidadania. Pela liberdade de ser oposição. Pela ética e moral. Pelo retorno de movimentos sociais que mereçam este nome.

O PT transformou votos em mensalidades. Militantes em meliantes. Universitários em sectários. Estudiosos em alugados com conhecimento de orelhas de livros. E, acima de tudo, uma nação em um entreposto de interesses corporativos regado a verbas públicas.

Os movimentos sociais de hoje não defendem teses ou visões ideológicas, mesmo que equivocadas. Defendem o livro-caixa. O recebimento das benesses em nome de nada além do servilismo abjeto que é marca registrada de todos eles. O suporte a ONGS e OS, todas ligadas a partidos e facções que lembram o “tá tudo dominado!”

Errado! Não está. Está é chegando a hora de nós podermos dizer: “Perdeu! Perdeu!”. E pedir a devolução do que nos foi roubado.

A necessidade da revolta dos sem trabalho

Sobre o desemprego, tanto governo quanto empresários e a mídia ficam com os números oficiais, aliás distorcidos e incompletos. A cada dia mais atividades dispensam trabalhadores, como 40 mil na indústria automotiva, na terça-feira, e 80 mil na quarta, perfazendo mais de 200 mil no sábado. Amontoam-se demitidos na agroindústria, nas grandes, médias e pequenas empresas, no comércio e nos serviços de toda espécie, mas lá pelos lados do ministério do Trabalho divulga-se 9% da mão de obra mandada embora, mentira aceita pelas elites, pois já beira os 11%. Traduzindo, 10 milhões que há pouco eram 8 milhões e amanhã serão 12 ou 14 milhões estão desempregados. Tudo é divulgado sob a aparência de frias estatísticas, números registrados como numa prova de aritmética para pimpolhos do curso básico.

O diabo é que fora os sem trabalho, ninguém dá atenção ao drama de cada família posta da noite para o dia na indigência. Sem recursos para enfrentar a próxima semana e obrigada a desdobrar-se em bicos e paliativos sempre mais raros, caminham para o desespero. Essa é a verdadeira face do desemprego, ignorada pelo governo, elites e até a mídia: o desempregado, entregue à missão impossível de encontrar outro trabalho e desamparado sem alternativa para sustentar a família. Sem falar que os encarregados de zelar por eles acabam de restringir o salário-desemprego, mesmo tendo prometido que os direitos sociais seriam preservados.

Se cada cidadão ainda empregado dedicasse um minuto que fosse a imaginar como se arranjaria caso postado do lado de lá, a situação poderia começar a mudar. Mas não muda porque as agruras dos outros passam longe das nossas, até com certa razão.

O que falta nesses tempos bicudos é solidariedade. Mobilização do conjunto em favor do indivíduo. A revolta precisa ser organizada, pois potencial para mudar existe. O que não dá para seguir adiante é a acomodação. A passividade do condenado que segue no rumo da guilhotina imaginando apenas dever o pescoço do infeliz à sua frente cair antes do que o dele.

Logo chegaremos à situação de só haver pescoços atrás de nós. Fracassou o modelo um dia apregoado pelo PT e penduricalhos, como continua vitorioso o exemplo dado pelos donos da guilhotina. A hora seria de a multidão de condenados insurgir-se diante desse determinismo milenar atingindo hoje níveis só superados pela revolta. Antes que seja tarde. Unidos, os trabalhadores conseguiriam dar a volta por cima, mas jamais com aqueles que dizem representar-nos. Pode ter sido por falta de um projeto acorde com as necessidades gerais, pode ter sido pela tentação do sucesso na corrupção. Tanto faz, se o resultado final apresentado pelos companheiros é o mesmo. No caso, o fracasso.

Com o Supremo desse jeito, quem nos guardará dos guardiões?

Estamos avançando na questão dos erros no julgamento do rito do impeachment da presidente Dilma Rousseff, pisando firme na realidade do bendito Direito Público, mas sem ilusões e sem fulanizar, compartilhando informações. Amadurecendo o debate. Temos que acreditar , apoiar e divulgar o Mandato de Segurança a ser impetrado em breve. Por uma simples razão: o que é ilegal deve ser anulado. Ponto parágrafo. Porque, se nada for conquistado, ainda assim o Supremo terá que se posicionar.

Se o Mandado de Segurança for negado monocraticamente pelo relator, sempre caberá um agravo regimental e, no caso, a discussão e o constrangimento supremos serão levados a plenário. E televisionados.

Pela frente , em vez de “cognição sumária”, em vez de explicações rasas e adjetivas, tais como “está tudo dominado” que não nos levam a nada, é preciso entender, profundamente , por quais razões estes senhores e senhoras, na tentativa de dificultar o impeachment da presidente, atropelaram uma Lei Federal, impediram novo contraditório para “muitas outras partes, a saber: o PSDB, o DEM, o PT, o PSOL, o PSB, o Solidariedade, a Rede, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e o PP,” e se calaram cúmplices da mais do que evidente e já provada mentira do ilustre ministro Luís Roberto Barroso.

Neste sentido, é bom reler o que pensa, por exemplo, a ex-deputada Sandra Starling (PT-MG), sob cuja iniciativa foi construída a lei que regula a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, que recentemente teve aqui postado um artigo. Diz a deputada sobre o julgamento:
“Tenham todos certeza, a loquaz divergência aberta pelo professor-doutor Luís Roberto Barroso, e alegremente seguida pelos que temem ser eivados de comparsas de Eduardo Cunha, não me deixou mais dúvida: o direito é interpretado à luz das circunstâncias do momento. Não tivesse coincidido o pedido de impeachment com as interpretações de Cunha, ou outra fosse a linha sucessória de Sua Excelência, a presidente, teríamos tido outro rito de julgamento do crime de responsabilidade”

Será? Será que a aversão a Eduardo Cunha – transformado no vilão corrupto do “golpe” pela propaganda do Comissariado – é capaz de explicar esta presepada jurídica cometida pelo STF? Será que a biografia do presidente da Câmara foi determinante para que nossos impolutos togados, violassem a lei, escarnecessem do princípio basilar na democracia de independência entre os Poderes, tratassem a Câmara Federal como se fora um playground de moleques e colocassem no colo amigável do Senado o destino do impeachment?

Pergunto: por que fingir – quem acredita? – que a folha corrida do deputado Eduardo Cunha – aquele que parece ser o único bandido de estimação do procurador-geral Rodrigo Janot – é menos extensa do que a do “Coronel” Renan Calheiros, dono do município de Murici nas Alagoas , aquele da farta cabeleira implantada , aquele que “reclamou da falta de repasse de propina”, que é investigado em meia dúzia de inquéritos na Lava Jato, aquele cujas denúncias que não andam sob a tutela do Procuradoria, aquele cuja residência o ministro Teori Zavascki não permitiu que a Polícia Federal visitasse, o mesmo que nega tanto quanto o Instituto Lula quaisquer propinas não “institucionais” e que, simultaneamente , tanto preside o Senado da República quanto se encontra – faz tempo! – denunciado no Supremo, acusado de ter falsificado as notas fiscais de venda de alguns bois virtuais e de ter permitido – agradecido! – que uma empreiteira pagasse pelas fraldas descartáveis de uma filha que teve fora do casamento, com aquela talentosa jornalista que acabou na capa da Playboy.

Não sei, mas vale continuar perguntando: Quem nos guardará dos guardiões?

Estamos pagando as contas da campanha

Sempre que o sujeito aparece como premido por alguma investigação ou, mas grave ainda, como "premiado" na delação de alguém, a saída é quase sempre a mesma: trata-se de regular contribuição para despesas de campanha. Tudo de acordo com a regra e aprovado, direitinho, pela Justiça Eleitoral.

Estamos tão habituados a isso quanto com a conversa daqueles que jamais estão a par de qualquer irregularidade, ainda que tenham a seu dispor multidão de servidores e instituições regiamente pagos para tarefas de fiscalização e controle. Tais autoridades nunca se surpreendem porque, mesmo depois de informadas, continuam sabendo coisa alguma. Afinal, mais de duas dezenas de ministros e ex-ministros da presidente estão sob investigação.

Aliás, cadê a faxineira? Alguém despediu a faxineira?

Tão verdadeiro quanto o que acabo de afirmar é algo de que poucos se dão conta. Refiro-me ao fato de estarmos, nós, os pagadores de impostos, a sociedade como um todo, pagando caríssimo as contas da vitória eleitoral conquistada pelo governo da União em 2014. O aumento da inflação, a recessão, o desemprego, o déficit nas contas públicas, a decadência da qualidade dos serviços prestados, o descrédito do país no mercado internacional, tudo é parcela da mesma conta.

O governo, para criar um clima de euforia na sociedade, injetou droga pesada no subconsciente coletivo. Estourou todos os caixas do setor público. Queimou centenas de bilhões de reais e de dólares e o país se enterrou fundo na toca do coelho falante onde era encenado o país das maravilhas. E o diabo foi sendo feito.

Soube-se, por fim, que a toca era apenas isso, que o buraco era mais em baixo e que havia centenas de bilhões a serem pagos. Eis por que, ao custo dos serviços que não se tem e aos males de uma economia em crise, somam-se os valores financeiros referentes à elevação da carga tributária. Há um pacote de medidas em gestação. Sempre há um pacote de medidas em gestação quando governos irresponsáveis gastam mais do que arrecadam. Recentemente, depois de deixar claro que não haverá correção da tabela do IR (o que representa elevação iníqua da alíquota de contribuição) o Leão passou a cogitar de uma faixa adicional de 35% para o Imposto de Renda.

Tudo isso e mais o que a criatividade fiscal venha a produzir nos meses vindouros pode ser enquadrado na rubrica geral "contas de campanha". E se assim como eu, diante dessa constatação, você se sente otário, tirado para bobo da corte brasiliense, saiba que tem a minha solidariedade. Afinal, a conta que estamos pagando foi criada para eleger o governo e o Congresso que temos.

Percival Puggina

Atualidade política de Nabuco

"Balmaceda" é um livro de Joaquim Nabuco de 1895, que tem sua origem em artigos publicados no Jornal do Commercio da então capital federal. Examina o que foi a crise política no Chile proveniente da conflitiva presidência de José Manuel Balmaceda, que levou a uma guerra civil e culminou no suicídio do presidente.

Na bibliografia de Nabuco, esse livro não se situa no mesmo plano de "Minha Formação", um dos pontos altos da narrativa autobiográfica brasileira, de "Um Estadista do Império", que oferece o melhor acesso ao entendimento das instituições políticas do Brasil de dom Pedro II, ou de "O Abolicionismo", que faz do autor, ao examinar o legado da escravidão, um dos grandes pensadores do Brasil.

Mas "Balmaceda" é uma relevante obra de análise política na avaliação de autores como Evaldo Cabral de Mello e Francisco Iglesias. Em momentos de crise política aguda em países da América do Sul, ler "Balmaceda", que mereceu em 2008 apurada reedição com a chancela da Editora Cosac Naify, traz ensinamentos úteis.

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São múltiplos os ângulos a partir dos quais sua relevância e seu significado podem ser examinados. Trata-se de obra que transcende as circunstâncias e os embates da época da sua elaboração e publicação, ligados à crítica política dos primeiros anos da República e aos desmandos autoritários da Presidência Floriano Peixoto.

Quero chamar a atenção para dois pontos relevantes: a importância atribuída por Nabuco à América Latina para a política externa brasileira, como um dos desdobramentos da implantação da República, e a sua aguda análise dos desafios da governabilidade em nossa região.

Na maior parte do século 19, desde a independência, o Brasil foi o diferente nas Américas: um Império em meio a Repúblicas; uma grande massa territorial de fala portuguesa, que permaneceu unida num mundo hispânico que se fragmentava, tendo no Hemisfério Norte os Estados Unidos expandindo-se territorialmente. Foi a República que sublinhou a relevância da inserção do Brasil nas Américas.

Dizia nesse sentido o Manifesto Republicano de 1870: “Somos da América e queremos ser americanos”. Essa é uma das razões por que o advento da República trouxe uma “americanização” da política externa brasileira.

Daí a importância do conhecimento da América Latina para o Brasil, indicada com clareza e precisão nas páginas finais de Balmaceda: “O interesse que antes já me inspiravam as coisas sul-americanas aumentou naturalmente depois da Revolução de 15 de Novembro. Desde então começamos a fazer parte de um sistema político mais vasto... Desse modo o observador brasileiro, para ter ideia exata da direção que levamos, é obrigado a estudar a marcha do Continente, a auscultar o murmúrio, a pulsação continental”.

A República, no âmbito da “pulsação continental”, ao trazer a negação dos critérios de organização do espaço público do Império, inaugurou um período de dilatada incerteza política, que explica a entropia de seus anos iniciais, caracterizados pelo desafio da governabilidade.

Quando Nabuco escreveu "Balmaceda", o caminho para lidar com a governabilidade, apontado pelos adeptos do positivismo de Augusto Comte, era a ideia de “ditadura republicana” advogada por Júlio de Castilhos, tendo como lastro um demiúrgico cientificismo político. Esse é o pano de fundo brasileiro do capítulo IV do livro, intitulado Ensaio Geral da Ditadura, que examina por que Balmaceda em 1890 “propunha praticamente a onipotência do Poder Executivo e a degradação do Congresso”.
Nabuco discute, nessa conjuntura, o espírito de reforma, que combina conservação e aperfeiçoamento, contrastando-o com o radicalismo dos que buscavam impor a realidade, em nome da “ciência”, o caminho único de uma chave teórica. O ímpeto do “metodismo científico” foi uma inspiração propulsora da ação de Balmaceda. Levou-o a “introduzir insidiosamente no esplêndido organismo chileno o gérmen do militarismo político” e dele fez “um caráter imperioso em que o mando absoluto embotara todas as outras faculdades”, inclusive o discernimento do bom juízo político. Dele fez um integrante da família política dos que “lavram suas utopias na sociedade a tiro de canhão quando é preciso”.

“Os despotismos”, aponta Nabuco com precisão, “não se defendem contando tudo ao país e contando com ele, defendem-se nas trevas com o dinheiro, com o terror e com o silêncio.” Nesse contexto, antecipa o tema contemporâneo da cláusula democrática na nossa região. Afirma, em observação que transcende o que se está passando na Venezuela: “Os chefes de Estado têm o direito de defender a sua autoridade legal – não era o caso de Balmaceda –, mas esse direito não vai ao ponto de acumular por toda parte ruínas sobre ruínas, de arrasar a sociedade, de proscrever a opinião oposta, de privar a nação do direito de se inclinar para o lado contrário e dos meios de gritar pela paz”.

As citações acima retêm plena atualidade política. São as de um pensador que prenuncia o que veio a ser no âmbito da esquerda o debate político reforma x revolução. Para esse debate, a História do século 20, como uma “era de extremos”, deu as duríssimas respostas dos desastres humanos inspirados pelos demiurgos e profetas do caminho único da mudança por métodos revolucionários. Antecipa, igualmente, os riscos na nossa região da tendência à “tábula rasa” dos fundacionismos qualificados como “bolivarianos”.

Esclarece como reformista o desafio da governabilidade democrática em nossa região. Este é o do fazer, e não o do azabumbar do marketing político do falar. E o de levar adiante políticas públicas consistentes, que permitam democraticamente avaliar os governantes pelo resultado da sua administração, vale dizer pelo inventário de que encontraram ao assumirem as responsabilidades do poder e o que deixaram para seus sucessores.

Celso Lafer

Não sou Flamengo...

Já se vai mais um janeiro. Perdemos a desculpa do momento de festas, de passagem de ano, das alegrias que fabricamos para tornarmo-nos mais otimistas, e agora só nos resta o Carnaval para embrulhar esse que é um lamentável sentimento da sociedade brasileira; ainda que desviada de suas tragédias cotidianas pela ideia dos festejos que se aproximam, não há como se desligar da perspectiva medonha do que seremos quando o Brasil voltar a funcionar.

No Brasil tudo é postergado para depois do Carnaval, como se os problemas não existissem, os salários não precisassem de ser pagos, os impostos não fossem recolhidos, os juros dormissem e as famílias não comessem, não pagassem aluguel e as prestações do que adquiriram. Tudo para, tudo se recolhe, nada tem importância, senão o que será essa alegria dos fevereiros. Pelo menos o Carnaval é uma festa mais democrática, menos excludente do que o Natal, que nela todos envolve, do bicheiro ao bispo, passando pela Dilma, pelo juiz Sérgio Moro, Eduardo Cunha e o japonês da Federal.

Difícil aceitarmos que o Brasil terá que arranjar dinheiro para pagar o déficit anunciado, o rombo da Previdência que se arrasta há mais de 40 anos e nunca é enfrentado, seja por causa da inércia dos governos, do ativismo de um sindicalismo que nasceu retrógrado e irrecuperável, da vontade de sempre ganhar sem produzir e da corrupção, que é o que lhe desviam e roubam e um misto de tudo isso que dissemos. Administrar mal e sem zelo a coisa pública é crime e como tal deveria ser julgado e punido.

Vamos encarar um mundo em recessão, especialmente a China, nosso importante parceiro nas commodities agrícolas. Felizmente. Nossa indústria está atrasada 20 anos, pela sua vergonhosa produtividade. Equivocadamente, preferimos as medidas de proteção ao investimento na nossa modernização industrial e a realidade que temos é essa, a de uma indústria totalmente superada e improdutiva, que nem o câmbio manipulado ajudou. Na pauta de exportações, ainda nos restam a soja, a carne, o frango, a fruticultura, que deveriam urgentemente receber os incentivos necessários à sua afirmação econômica.

O investimento no agronegócio é a única saída mais à mão que o Brasil tem. Integrando a sua cadeia produtiva e os seus reflexos no emprego, na redução da migração interna, na interiorização do desenvolvimento econômico e social, na geração de riqueza, na possibilidade de agregação de valor, o agronegócio será nossa tábua de salvação nesse mar de tormentas.

É pouco? É o que temos. Mais do que isso melhor seria ainda soltarmos o japonês na sua Veraneio preta e dourada para mais uma dúzia de visitas ao Paraná, devidamente mal-acompanhado.

Um a cada três jovens abandona escola para trabalhar

Os jovens brasileiros que se mantém nas salas de aula da rede pública são trabalhadores – 40% dos que frequentam as classes de educação de jovens e adultos (EJA) cumprem jornadas de trabalho de 8 horas por dia. Esse percentual é de quase 20% entre os estudantes do ensino médio regular. Cerca de um em cada quatro alunos, tem que conciliar estudo e trabalho ou pelo menos “fazer um bico”. No caso dos alunos do Projovem Urbano e do EJA a razão é de três estudantes para cada quatro.

Para os entrevistados, os problemas mais graves do país são violência (20%), pobreza (16%) e corrupção (15,7%). Em quarto lugar, vem a qualidade da saúde (12,3%). Qualidade do ensino foi mencionada por apenas 5,6% dos estudantes. 

Esses são alguns resultados de uma pesquisa inédita feita pelo Ministério da Educação (MEC), Organização dos Estados Interamericanos (OEI) e Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Juventudes na escola – por que frequentam? revela o perfil do jovem brasileiro de 15 a 29 anos que está nas salas de aula da rede pública no ensino médio, nas classes de educação de jovens e adultos (EJA) ou no Projovem Urbano, o programa que traz de volta para à escola jovens moradores de cidade de menos de 200 mil habitantes em qualquer nível de ensino. A pesquisa foi coordenada por Miriam Abramovay, e teve como co-coordenadores Mary Garcia Castro e Julio Jacobo Waiselfizs.

Nas classes de EJA, 74% dos estudantes já abandonaram a escola pelo menos uma vez. Desses, 49% saíram e voltaram a estudar mais de uma vez – o abandono escolar ocorre principalmente pela necessidade de se sustentar. Até mesmo no ensino médio regular, quase 30% dos alunos já pararam de estudar alguma vez para garantir o próprio sustento. Os percentuais entre estudantes do sexo feminino são mais baixos, mas ainda assim bastante significativos: uma em cada quatro alunas considerando-se as três categorias de ensino da pesquisa já deixaram de estudar para trabalhar. Sendo que no caso das jovens, gravidez e ter que trabalhar são mais mencionados como motivos para terem alguma vez deixado a escola.
(Fonte: The São Paulo Times)

Sob o jugo petista...

Vivemos a falsa ilusão de que tínhamos resolvido tudo porque os miseráveis estavam comprando carro popular e viajando de avião. É claro que é maravilhoso que todos os cidadãos brasileiros disponham de bens e vivam os prazeres e lazeres de uma viagem. No entanto, não conseguimos superar esta fase infantil de nosso pseudodesenvolvimento. Os governos de esquerda não realizaram a promessa de redução das diferenças em níveis consideráveis. Governaram como governou desde sempre a direita, apresentando resultados práticos, mantendo a injustiça social perto do intolerável, jogando no lixo os valores que os levaram ao poder. Na hora em que sobrevém a crise e o desemprego, sobram dívidas, quando deveria ter havido educação integral e de qualidade e compreensão cultural das coisas do mundo em que vivemos, antes.
Fernando Bonassi sobre seu romance "Luxúria" que trata “dessa confusão entre cidadania e consumo e endividamento, típica do que aconteceu nos últimos anos. Transformamos os desgraçados em consumidores sem que se tornassem cidadãos.” 

Polarização política se alastra às escolas do Brasil



Pegando carona na onda conservadora e polarizadora que tomou parte da política brasileira a partir das últimas eleições, deputados federais e estaduais e vereadores vêm propondo projetos de lei que pretendem combater o que consideram uma “doutrinação ideológica” nas escolas em temas políticos e sexuais.

Só na Câmara Federal tramitam quatro projetos atualmente. Outros foram protocolados em Assembleias de pelo menos oito Estados brasileiros, entre eles São Paulo e Paraná. Outros apareceram nas Câmaras de municípios como Joinville (SC), Curitiba e Vitória da Conquista (BA). A maior parte das iniciativas surgiu entre 2014 e 2015.


Esses projetos não têm apenas o mesmo objetivo. O texto também é praticamente o mesmo na maioria dos casos, seguindo um modelo base elaborado pelo movimento Escola sem Partido (ESP), uma organização fundada em 2004 e coordenada pelo advogado Miguel Nagib. A maioria dos textos não é explícita em acusar qual linha ideológica e partidária deve ser combatida, mas em discursos e entrevistas, seus autores deixam claro que os alvos são professores de esquerda e a discussão de temas como a homossexualidade em sala de aula.

Segundo alguns defensores, trata-se de impor um mecanismo contra uma esquerda que se apropriou das escolas para promover sua agenda e perseguir alunos que não partilham de suas convicções. Já para os críticos, os projetos afrontam à Constituição – que garante liberdade e expressão – e pretendem transformar os professores em meros “repassadores” de temas pré-estabelecidos, eliminando a possibilidade de qualquer discussão crítica e confronto de ideias.

O deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), membro da Comissão de Educação da Câmara e autor do projeto 867/2015 – a proposta de “Escola sem Partido” que mais tem recebido destaque na Casa –, afirma que o objetivo não é colocar uma “mordaça” nos professores, mas combater a propaganda partidária de esquerda do governo nas salas.

“Existe um trabalho muito efetivo do PT nas escolas por meio de professores militantes que fazem campanha para o partido. É uma estratégia, que já foi delineada no Foro de São Paulo. É esse tipo de coisa que queremos combater”, diz à DW.

Para o professor Fernando Penna, da Universidade Federal Fluminense (UFF), membro do movimento Liberdade para Ensinar, que reúne alunos e docentes contrários aos projetos, a promoção dos textos não somente ganhou força por causa da oposição disseminada ao PT, mas também a partir da inclusão de temas como gênero e sexualidade no currículo das escolas nos últimos anos, algo que inflamou políticos conservadores.

Alguns dos projetos pelo país são promovidos por políticos evangélicos Marco Feliciano (PSC-SP) ou com histórico de atritos com movimentos LGBT, como o vereador Carlos Bolsonaro (PP-RJ), filho do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).

O texto base do ESP copiado na maior parte dos projetos aponta que o professor deve respeitar “o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções“ e que ele “não constrangerá os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas”. Para Penna, esses itens têm como objetivo dificultar qualquer discussão que confronte religião e sexualidade nas salas. Alguns dos projetos que tomaram a base do ESP, no entanto, foram além, e chegam a pedir explicitamente a proibição de qualquer discussão sobre o que chamam de “ideologia de gênero”.

“Nesses projetos o professor sempre aparece como uma figura que vai corromper o aluno, e a escola é apontada um local de manipulação. Eles dizem querer combater preferências partidárias, mas estão mesmo é levando a disputa política e religiosa que tomou o país para a educação. Como um professor vai abordar, por exemplo, a história das religiões africanas, a teoria da evolução ou a homossexualidade se um aluno evangélico afirmar que estudar essas coisas vai contra as convicções da sua família?”, diz Penna.

No texto disponibilizado pelo ESP, está prevista a afixação de um cartaz nas salas explicando aos alunos que o professor não deve fazer “propaganda político-partidária” e que devem ser apresentadas diferentes visões sobre temas políticos e sociais. O anteprojeto também prevê que os alunos deverão contar com um canal de denúncias anônimas diretamente ligado às secretarias de Educação locais, que deverão encaminhar as reclamações ao Ministério Público.