terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Os bombeiros do zika vírus

Ver rostos cansados e tensos é algo que se tornou normal nos últimos dias na sede da Organização Pan-americana de Saúde (OPS), em Washington, onde o zika vírus disparou todos os alarmes e concentra grande parte dos esforços de seus especialistas. Faz duas semanas que a Organização Mundial da Saúde(OMS) decretou estado de emergência global devido ao aumento dos casos de microcefalia e outros distúrbios neurológicos possivelmente associados ao zika. Mas a OPS, seu braço norte-americano, já vem há nove meses monitorando a situação na região, que é a mais afetada por esse vírus, que ainda apresenta muitas incógnitas. O centro nevrálgico da reação do organismo à nova ameaça epidemiológica é o Centro de Operações de Emergência, o COE, uma espécie de gabinete de crise instalado no coração da sede da OPS. Ali, quinze especialistas coordenam a informação e a resposta a ser dada diante da nova situação emergencial na saúde.

O 'exécito' de mata=mosquitos no Sambódromo
“Somos como bombeiros”, explica Sylvain Aldighieri. O epidemiologista foi nomeado em novembro chefe da equipe de especialistas, embora prefira ser chamado apenas de “comandante”, como ele diz, brincando, com um sorriso cansado. Afinal, faz 15 dias que esse especialista praticamente não sai da sala instalada no simbólico edifício cilíndrico da OPS, uma joia arquitetônica dos anos sessenta que se destaca em meio aos edifícios da vizinhança.

O COE baseia sua atuação no Sistema de Comando de Ocorrências criado nos anos setenta pelos bombeiros da Califórnia para coordenar uma resposta rápida diante dos incêndios gigantescos com diversos focos simultâneos que costumam ocorrer naquele Estado. Sob esse Sistema, quinze responsáveis de diferentes áreas — de epidemiologistas a médicos clínicos, passando por especialistas em logística, saúde pública e controle de vetores — coordenam e articulam as atividades da reação emergencial. São eles que decidem quanto ao envio de especialistas a outros países e se asseguram de que se disponha dos recursos necessários. Colaboram, também, na coordenação das tarefas locais de prevenção e na preparação de atendimento de emergências médicas que possam aparecer, desde a microcefalia até a síndrome de Guillain-Barré.

“Somos os gerentes de uma resposta intensa em nível nacional”, resume Aldighieri. Por trás dessa explicação simplificada se esconde uma tarefa bastante complicada. O “comandante” conversa com sua equipe quase todos os dias. A reunião do grupo de ocorrências pode durar horas. Não se trata da primeira emergência enfrentada por esse centro especializado. O gabinete de crise já foi ativado para enfrentar a crise do Ebola, e a região tem experiência em emergências como a do H1N1 e o cólera no Haiti.

Há, no entanto, uma diferença fundamental entre essas crises e a atual: o pouco conhecimento que se tem do zika e de suas consequências, ou da relação de causalidade, como dizem os cientistas, entre esse vírus e a microcefalia. “O zika é novo, e doenças novas podem causar medo, sobretudo quando atingem os mais vulneráveis”, admitiu na semana passada o diretor do Centro de Controle de Enfermidades (CDC), Tom Frieden.

“Falar de crianças com cabecinhas pequenas é uma coisa muito trágica. Existe esse componente emocional muito forte e de percepção do público, e isso tem de ser levado em conta. É muito difícil justificar qualquer ausência de preocupação em relação a isso”, concorda Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da OPS. Mas a organização internacional de saúde, comenta ele, “não reagiu por se tratar de uma coisa emocional, mas sim porque existem entre 3.000 e 4.000 casos de microcefalia registrados no Brasil. A instituição reagiu para se antecipar à curva e voltar as atenções para ela”, afirma. A declaração de emergência, diz ele, “ajuda muito para o fluxo de dinheiro, para a cooperação internacional, para compartilhar amostras e informações”.

Vários estudos novos têm surgido, parecendo confirmar a relação entre a microcefalia e o zika. Mas ainda faltam provas contundentes. E obtê-las não é nada fácil, pois a região onde ele se expande sofre também de muitas outras epidemias — os quatro tipos de dengue e o chikungunya, também transmitidos pelo mosquito aedes aegypti, o agente transmissor do zika — que acabam se mesclando umas às outras, confundindo, ao menos até agora, os dados.

“O vírus coloca para nós um grande desafio, pois temos lacunas em termos de conhecimento e de diagnóstico”, lamenta Aldighieri. “Nosso desafio é saber o que aconteceu no começo da gravidez. Por isso, uma das prioridades é desenvolver técnicas confiáveis para se dizer o que aconteceu e diferenciar os vírus de uma mesma família”.
Silvia Ayuso
Se a confirmação absoluta da existência de uma relação entre o zika e a microcefalia ainda pode levar meses para acontecer, a obtenção de uma vacina contra o vírus demorará ainda mais. A OPS manterá o seu gabinete de crise atuando em tempo integral no mínimo por mais três meses. Depois disso, será feita uma avaliação para se definir se ele se manterá ou se a etapa de apoio aos diversos países para que estejam aptos a enfrentar o mosquito e a reagir às dificuldades de saúde já estará cumprida. Até então, Aldighieri e sua equipe permanecerão o tempo todo muito próximos do gabinete de crise.

A esculhambação criadora

Sejamos irônicos: toda catástrofe tem seu lado bom. Ou como minha avó dizia: “há males que vêm pra bem” ou “Deus escreve certo por linhas tortas”. É isso. Meu Deus, como fui cego – eu não tinha visto o óbvio. Não tinha visto que há boas notícias: graças a Deus, o Brasil está voltando para sua tradicional mediocridade, o velho Brasil renasce como rabo de lagarto. As ilusões democráticas, a busca de harmonia social e política eram muito enganosas. Parafraseando a frase de Schumpeter sobre a “destruição criadora” do capitalismo, estamos vivendo aqui a nova “esculhambação criadora”, uma coisa muito nossa.

São boas notícias ao avesso. A zika, por exemplo, está sendo ótima para Dilma, já vestida de médica cubana, comandando a luta contra poças de água, para ver se melhora seu ibope. Assim, podemos esquecer os cortes de gastos que ela não faz nem morta.

São boas notícias, sim. Por exemplo, o desemprego crescente também tem um lado ótimo. 
Muito simples: o desemprego diminui a inflação que causou o próprio desemprego. Com menos grana, o povo gasta menos e os preços caem. Boa notícia.

Outro exemplo: a fome também pode ser útil – diminui a voracidade dos pobres e diminui o desastroso aumento populacional. Haverá menos gente miserável, finalmente aliviada da dificultosa obrigação de viver. Em vez de “Fome Zero”, teremos: “Tá com fome? Zero”. 


A fome também nos obriga a soluções criativas como sugeriu o dr. Samuel Johnson – o canibalismo de crianças miseráveis, escandalosa ironia na Inglaterra dos desgraçados no século XVIII. E mais vantagens: com a fome, muitos obesos emagrecerão. E já que o PT conseguiu botar menos comida no prato dos pobres, isso será bom para a saúde, uma espécie de “detox” para o proletariado.

Acabará o papo de muito consumo; voltará à simplicidade dos antigos barracos nas favelas idílicas do passado. Isso será bom para o samba e os pagodes; a carência, a pobreza geram uma melancolia criativa. Veremos o renascer de novos Cartolas e Cavaquinhos, contra musicas sertanejas e uivos funk.

A roubalheira destrutiva da Petrobras foi terrível, mas teve seu lado bom: reduziu a companhia a um tamanho mais enxuto, compacto. A Petrobras sempre foi nosso orgulho por seu gigantismo; agora será mais minimalista, terá menos dinheiro e, portanto, menos ladrões.

Tudo tem seu lado bom. Os corruptos vão ser mais cuidadosos na “mão grande”. Voltaremos a velha roubalheira normal, sem os arroubos que o PT nos trouxe. É bom.

Outra coisa boa foi que a propina se mostrou mais rápida e eficiente que conversas, pleitos e ideologias. “Toma lá da cá é melhor”; em breve, teremos até cartões de crédito.

Que bom que Lula nos restaurou o bom e velho patrimonialismo e fez reflorir a beleza da mistura entre a coisa pública e a privada, adultério que construiu o país, desde as capitanias hereditárias – que aliás continuam: vejam o Maranhão de Sarney ou Alagoas de Renan.

A destruição da barragem da Samarco em Minas tem também um lado bom: como outras barragens fatalmente cairão, as cidades circunvizinhas terão tempo para se preparar. Isso é progresso.

Para Dirceu, o mensalão e o petróleo tiveram o mérito, o condão de satisfazê-lo, pois ele sempre passou a vida repetindo erros dolorosos, desde a UNE até hoje – o psicopata fica aliviado quando fracassa. Eduardo Cunha também; conseguiu errar tanto em suas ocultações bancárias que hoje é um elemento famoso, temido; deve estar feliz porque mostrou seus feitos e, mesmo punido, será um psicopata vitorioso.

A crise também é boa para acabar com a esperança da população; ficaremos mais céticos, menos crédulos. Que papo é esse de esperança? Ficaremos mais filosóficos, um povo mais profundo.
A crise exposta dos crimes do PT serve também para reforçar a fé de intelectuais que virarão fanáticos mais felizes em sua infelicidade, o que comprovará que são nobres mártires e vitimas dos neoliberais. Quanto mais absurdo, mais fé.

Também é bom porque intelectuais, mesmo da oposição, vão parar de falar em “inegáveis avanços sociais do lulopetismo”; que avanços? A correção monetária para o Bolsa Familia? 

Será mamão com açúcar para os evangélicos. A religião do desespero vai crescer, desde Aparecida até o Círio de Nazaré. Mesmo pisoteados, esmagados, serão felizes em sua desgraça.

A crise será muito lucrativa para as companhias estrangeiras que estão comprando nossa indústria sucateada. Petistas e Dilmistas eram contra o imperialismo, mas agora abriram as portas para ele, que estão comprando tudo na bacia das almas. E, em consequência disso, será bom também para muitos industriais brasileiros que se livrarão da chata tarefa de administrar e podem esquecer tudo em Miami. Vai acabar a cansativa busca de progresso. Voltará o doce “nada”.

Teremos também a irresponsabilidade fiscal.

Será bom pra o governo se livrar dessa lei castradora que enche de horror prefeitos e governadores e a própria Dilma, todos angustiados para cumprir contas claras. Teremos a velha gastança sem comprovação de sempre. A irresponsabilidade fiscal é mais emocionante. Chega de cuidados contábeis caretas; vamos partir para a aventura dos gastos voluntaristas.

Voltará também a doce tradição da incompetência que tanto embala nossa preguiça – chega dessa mania de “competência técnica”, invenção solerte dos neoliberais de direita. Os jornais e comentaristas ficarão sem assunto, pois não haverá mais denúncias a fazer. Haverá um grande silêncio na aceitação conformada da barbárie. Tudo será esquecido; ficará provado finalmente que Celso Daniel se suicidou.

Outro exemplo é que o ajuste fiscal jamais será feito, e isso será bom para os pelegos montados nos sindicatos e nos inexpugnáveis fundos de pensão.

Em suma, amigos, a nossa grande conquista será o doce sossego da desesperança. Voltaremos para nossa velha condição de “vira-latas”. Que alívio!

E para a própria Dilma tudo isso será uma grande vitória; ela sempre sonhou em destruir o capitalismo. E conseguiu.

Sócio de Lulinha diz que sítio é seu, não de Lula

Jonas Suassuna, um dos sócios de Fábio Luíz, o Lulinha, quer apressar seu depoimento à força-tarefa da Lava Jato. Deseja deixar claro que o sítio que Lula frequenta em Atibaia como se fosse o dono não pertence ao ex-presidente. Segundo seu advogado, Suassuna é “o real proprietário” do sítio —ou de parte dele, já que Fernando Bittar, outro sócio de Lulinha, aparece na escritura como dono de um pedaço do sítio.


“Meu cliente está revoltado”, disse o criminalista Ary Bergher, contratado por Suassuna para defendê-lo. O doutor informou que o, digamos, mecenas de Lula colocou à disposição dos investigadores seus sigilos bancário e fiscal.

É mesmo revoltante a falta de reconhecimento à generosidade de Suassuna e de Bittar, os donos do sítio. O enredo desse caso é mais uma prova de que o dinheiro, na mão de pessoas adestradas para usá-lo, é a fonte de todo o bem do mundo. Por isso deve ser conservado em poder de um número bem pequeno de pessoas. Gente capaz de gestos como esse de ceder um sítio paradisíaco, do tamanho de 24 campos de futebol, para que Lula desfrute de todo o conforto que a OAS, a Odebrecht e o companheiro Bumlai foram capazes de prover.

Quando o governo é a crise

Recentemente, o deputado Raul Jungmann publicou o seguinte aforismo em sua página do Facebook: "Se a política não resolver a crise, a crise resolverá a política". A frase é boa e corresponderia a uma correta previsão não fosse o fato de que, nas atuais circunstâncias, a crise não pode resolver a política porque em nosso país, o governo é a política e a crise é o governo.

O que acabo de referir são duas das muitas consequências desse presidencialismo de prendas, prebendas, maracutaias e pixulecos, praticado no Brasil em intensidade crescente. Afinal, é o governo, e apenas ele, que tudo dirige. Seus apoios são cooptados com a mão enfiada em nossos bolsos, ou seja, mediante recursos públicos. É com pagamento em espécie, arrendamento das próprias estruturas e leilão de cargos na administração que o governo assegura permanência no poder, embora, há mais de um ano, seja aprovado por apenas 10% da população. Só o jornalismo militante e os poucos beneficiados dirão que isso é bom e democrático. A estes não falta coragem para acusar a oposição. Ora, a oposição é culpada, sim. Culpada de fazer muito menos do que deve!

Há poucos dias, em cálculo elaborado a partir da redução da taxa de poupança interna, a jornalista Mônica de Bolle estimou que o governo Dilma causou ao país uma perda de riqueza de R$ 300 bilhões. O economista Paulo Rabello de Castro, em artigo posterior, avaliou que se Dilma nada tivesse feito para atrapalhar, nossa economia teria crescido aqueles medíocres 2,5% ao ano, conforme vinha obtendo. E concluiu: até 2018, nossa presidente terá custado R$ 1 trilhão ao país.

Dilma é dispendiosa. No estresse desse cenário, sempre que posso, assisto às sessões das duas casas do Congresso. Durante uma inteira década, que já se tem como perdida, o governo se desfazia em escândalos e a economia descia aos trambolhões o despenhadeiro mencionado nos parágrafos anteriores. Nas mesas dos melhores analistas, as luzes de advertência eram substituídas por sirenes de alarme. E o que mais se via, até fins de 2014, nas tribunas da Câmara e do Senado, era congressistas do PT e do PCdoB preenchendo todos os espaços em exuberantes demonstrações da mais maliciosa soberba, ou da mais ruinosa ignorância. E a oposição? Pois é. Salvo poucas vozes, mantinha-se em indolente omissão, como se fosse delegação estrangeira, em visita de cortesia. Total indisposição para o confronto e absoluto desinteresse pela indispensável ação política de mobilização e formação da opinião pública para proteção do país.

Dilma só enxerga uma saída: aumentar impostos

A se acreditar na palavra da presidente Dilma Rousseff -, uma mercadoria em baixa desde que ela mentiu muito para se reeleger -, o governo não tem mais onde cortar despesas.

E, nesse caso, ou dá ou desce: ou o Congresso aprova a CPMF, o chamado imposto do cheque, ou ela se verá obrigada a aumentar outros impostos que não precisam da autorização do Congresso para ser aumentados.

Foi o que Dilma disse, ontem, em reunião com senadores que a apoiam. Ou que dizem que a apoiam – nunca se sabe. São remotas as chances de o Congresso aprovar a recriação da CPMF.

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Mais ainda em ano de eleições. E levando-se em conta que esta presidente, e seu governo, são largamente impopulares. Sem dúvida, Dilma é a pior presidente desde que o país se redemocratizou em 1985.

Os mais velhos e céticos poderão perguntar: “E Sarney?” A inflação no governo dele chegou a 80% por mês. Mas com a morte do presidente eleito Tancredo Neves, Sarney herdou um governo que não era dele.

E mais: quer se goste dele ou não, a principal missão de Sarney era a de fazer a transição entre a ditadura militar recém-esgotada e a democracia extinta 21 anos antes. Ele cumpriu a missão.

Qual seria a missão de Dilma? Dar continuidade aos dois governos de Lula, que deixou o cargo com mais de 80% de aprovação. E devolver a ele o poder quatro anos depois – não oito anos depois.

Resultado? O desastre que vivemos. Ela fez tudo ou quase tudo errado. Afundou o país porque carecia de qualidades para governá-lo. E vê Lula ser tragado pelo mar de lama da corrupção.

Bobagem essa história de que a corrupção nos últimos 13 anos deve ser debitada apenas na conta de Lula. Quando nada, Dilma foi cúmplice ou conivente com muitos dos crimes cometidos.

Ela foi a principal auxiliar de Lula desde que assumiu a da Casa Civil da presidência em substituição ao ex-ministro José Dirceu. E nunca teve coragem de se rebelar diante de malfeitos. A Lula só disse amém.

A Petrobras é feudo dela desde 2003. Como acreditar que ela não fazia a mínima ideia do que se passava ali? Se nunca fez, no mínimo pecou por incompetência.

Dilma só passou a falar grosso quando foi eleita da primeira vez. E nunca mais perdeu o hábito. Uma prova disso é sua ameaça de aumentar impostos se o imposto do a CPMF não passar no Congresso.

Afinal, o que falta ao Brasil para enfim se desenvolver?

Não há o que discordar dos suecos, dinamarqueses, noruegueses e finlandeses, que hoje possuem uma ótima qualidade de vida, que seus países são exemplos para o mundo neste misto de capitalismo e socialismo. Mas é difícil entender o sucesso de nações que não possuem o mesmo potencial do Brasil. Quero saber o que nos impede de conseguir o mesmo destino dos escandinavos? Temos um território continental, clima paradisíaco, fauna e flora invejáveis, a maior biodiversidade do planeta, um solo riquíssimo em minerais e propício ao plantio das mais diversas culturas, sem desastres ambientais, salvo o produzido por más administrações de mineradoras.

Temos um povo alegre, que gosta de cantar, dançar, de futebol, de praia, mulheres belíssimas e sensuais, cidades litorâneas e localizadas na serra, no planalto e sertão, com rios estupendos, a maior reserva de água doce do mundo, gigantescos aquíferos, uma das maiores orlas marítimas do planeta, nada disso é mistério.

Quero saber o que se passa conosco, o que nos impede de nos desenvolver e progredir, para melhorar, em consequência, a qualidade de vida da população.

O fato é que, desde que nasci, há 66 anos, não decolamos, vivemos estagnados, somos ou do terceiro mundo ou emergentes, e a corrupção é a tônica, a desonestidade virou moda e a impunidade se tornou padrão, com governantes cuja peculiaridade é serem antiéticos por interesse e conveniência.

Vejam o caso da Educação. Quando surgem projetos arrojados e funcionais, como os CIEPs de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, acabam sendo cancelados!

Os governantes não têm seriedade. Quando no poder, não somente se aproveitam, como permitem que seus partidos e aliados se transformem igualmente em criminosos, como estamos vendo agora. Tudo isso, já sei há muito tempo.

As respostas prontas eu já conheço, quero explicações novas. É preciso que apareça quem possa fornecê-las. Quero saber sobre as razões pelas quais não somos uma Escandinávia, se temos mais condições do que eles para nos desenvolver!!!

Quem contestará as perguntas que deixei pendentes, pois são as que nos interessam diretamente, afetam nosso dia a dia e nos massacram cotidianamente, fazendo com que elogiemos outros países, em detrimento de nós mesmos, desgraçadamente?

Seremos eternamente o país do futuro?

Dançando no convés do Titanic

O barco afunda e a elite dança no convés. Alguns agem assim por negação. Se o Titanic é indestrutível, o país com as maiores reservas de petróleo do mundo não poderia ser menos. Outros dançam por convicção, o capitão jamais abandona o navio. O chavismo também não, não teria para onde ir. É uma predestinação, o resultado de uma história com final conhecido e, agora, próximo.

Faça o leitor uma busca nas redes sociais. Uma palavra é "Venezuela". Combine com outras como, por exemplo, "alimentos". Existem inúmeras fotos de prateleiras vazias e longas filas na porta de algum mercado, entre muitos. Talvez naquele dia houvesse farinha ou leite. É a rotina de enfrentar filas e ter de ir de um lugar para o outro. É o desabastecimento como instrumento de controle social.

Cenas que se repetem, mas se alguém voltar na timeline vai notar diferenças. É que a frequência e a extensão das filas têm aumentado recentemente. Pior ainda, as fotos e vídeos de hoje mostram corridas e violência para se entrar nos mercados, bem como roubos de caminhões e supermercados. A antiga passividade das filas se torna a explosão da angústia coletiva acumulada. Tumultos e saques, os primeiros indicadores da fome.

A próxima palavra é "remédios". As redes estão cheias de súplicas. Faz tempo que não há medicamentos para quimioterapia. Mais recentemente, também se registra a falta de analgésicos e antibióticos. Sugiro ao leitor procurar por "Augmentin". É um composto de espectro amplo, que pode ter uso pediátrico, com base na Amoxicilina, um antibiótico tradicional. Não se consegue na farmácia real nem na virtual. Augmentin é trending topic.

Busque agora por "crime" e qualquer um de seus termos relacionados. Aparecem os tuítes dos usuários na linha 1 do metrô de Caracas. Relatam a entrada de uma gangue no trem, a subsequente interrupção da energia elétrica, o pânico, a correria nos trilhos escuros. Continuam com o roubo e a impunidade posteriores, ao chegar ao local autoridades de segurança que não conseguiram prender os criminosos. Ou que nem tentaram, não há como saber com certeza.Caracas é a cidade mais violenta do planeta.
Havendo fome, doenças e medo, não é descabido pensar em uma crise de refugiados na Venezuela
As comparações podem ser odiosas e a estigmatização, inadmissível, mas é impossível não pensar na Síria, uma tragédia humanitária que se desenvolve em câmera lenta aos olhos da comunidade internacional, que fez muito pouco, muito tarde. Uma tragédia que se mede em meio milhão de vítimas e mais de quatro milhões de refugiados.

A Venezuela não está em guerra – convencional, na verdade – mas exibe uma vasta destruição material, uma profunda ruptura do tecido social e uma crise humanitária em surgimento. O número de vítimas do crime é a sua guerra e o regime já provocou uma crise de refugiados no passado, em Táchira, em 2015. Havendo fome, doenças e medo, não é descabido pensar em outra. Quantos serão é a questão, e com qual consequência para a estabilidade da região.

A elite governante nega. Exígua em botes salva-vidas, dança. A oposição tenta dar respostas, mas às vezes também está no modo de negação, sem terminar de entender a magnitude dessa bomba-relógio. Em parte se compreende: como se faz para ser oposição ao chavismo? O governo tem a incrível capacidade de naturalizar o espanto. Age como se as coisas seguissem o seu curso normal. Até emite decretos, em um país que se dissolve e em que os prisioneiros políticos permanecem em suas celas. Não se pode esquecer isso.

Como na Síria, a comunidade internacional continua sem fazer o que é necessário. Luis Almagro tem sido um democrata, é preciso enfatizar, revitalizando uma OEA moribunda e travando sua própria batalha pela liberdade e pelos direitos, mas em solidão quixotesca. Unasul e Celac atuam como uma tela de Maduro, não pela ideologia, mas por medo do efeito dominó da sua queda. A Colômbia, além disso, precisa dele porque Maduro é um dos garantidores do plano de paz. Assim mesmo como soa.

Para piorar, há eleições na Organização das Nações Unidas e talvez ninguém tenha incentivos para incomodar o governo da Venezuela. É a vez da Europa, mas alguns dizem que a ministra das Relações Exteriores colombiana gostaria de ser a primeira mulher Secretária-Geral. O raciocínio pode ser míope, em excesso, mas não por isso é incomum. Acontece que a Venezuela está no Conselho de Segurança. Não paga suas taxas com o organismo, de forma que não pode votar na Assembleia Geral, mas vai passar o ano inteiro no Conselho, sem perder o voto lá e presidindo o colegiado no mês de fevereiro.

Essa sim é uma estranha forma de fazer com que as coisas sigam seu curso normal, dançando no convés da primeira classe enquanto o navio afunda.

Os olhos da cara

Cegueira decorrente de microcefalia em bebês de mães expostas ao vírus da zika e por contaminação de cirurgias de catarata em idosos na cidade de São Bernardo, em São Paulo, são situações trágicas. Suas causas e os encadeamentos envolvidos são distintos, mas ocorrem simultaneamente.

A comoção internacional despertada pelo inesperado, grave e prolongado comprometimento do sistema nervoso de recém-nascidos não poderia ser idêntica àquela consequente às noticias locais sobre procedimentos médicos inseguros em idosos.

Mas, as instituições de saúde, os recursos existentes para prevenir, diagnosticar e tratar tanto casos inesperados exigentes de atendimento especializado, quanto os danos provocados pela obtenção de má assistência, não variam tanto, situam-se no mesmo Brasil. É muito complicado, mesmo.

Usar dados e informações para tomar decisões é sempre bom conselho, evita a tentação de omitir as incertezas e as apostas em soluções exclusivamente voltadas à derrota do suposto inimigo/obstáculo de cada momento.

Segundo o conhecimento disponível, o Aedes não será eliminado no Brasil e em diversos países durante este verão e possivelmente ainda estará por aí nos próximos. As condições do passado — um mundo com menor fluxo de pessoas entre nações e continentes, cidades menores, inexistência de embalagens de plástico, latas, uso abundante de inseticidas — não são reprodutíveis e aceitáveis no presente.

No entanto, há muito o que fazer. Precisamos proteger efetivamente as gestantes, estimular e desenvolver pesquisas básicas e reunir especialistas para desenvolver vacinas, testes diagnósticos, tratamentos e estratégias de vigilância, identificação de casos e implementação de controle vetorial.

As evidências também sugerem a necessidade de monitoramento permanente da segurança das práticas de saúde, transparência e regras para as relações entre os profissionais de saúde e indústrias de medicamentos e dispositivos como órteses e próteses.

Entidades médicas, instituições públicas e privadas de saúde e todos os órgãos públicos de controle devem ser mobilizados para conter a epidemia silenciosa de má qualidade assistencial.

Não se espanta o Aedes com palavras de ordem. Dizer que um mosquito não é mais forte do que um país inteiro, misturando na mesma frase biologia e política pode infundir ânimo, mas não orienta as atuais gestantes nem responde à pergunta sobre quando as brasileiras poderão engravidar sem temer os riscos de má-formação consequentes à zika.

Similarmente, não dialoga com atletas e comitês esportivos sobre as medidas para a redução da transmissão durante as Olimpíadas.

A adoção de um lema centrado no combate restringe a divulgação de informações essenciais sobre o uso de roupas, a distribuição de repelentes e mosquiteiros e o acionamento de regras para a licença ou suporte de ambientes de trabalho salutares nas primeiras semanas de gestação.

E a predisposição à guerra contra o mosquito se mostra imprópria ao estabelecimento de termos adequados para o debate de temas incômodos e polêmicos, porém inadiáveis, como o saneamento e a descriminalização do aborto.

O amparo para mães e famílias de bebês com microcefalia, bem como o diagnóstico precoce e a decisão sobre interrupção da gravidez, constitui direito reprodutivo que deveria ser assegurado a todas as brasileiras.

Em relação aos problemas ocasionados nos serviços de saúde, numerosos estudos procuram mensurar e avaliar o papel dos médicos. Não existem sistemas de saúde sem médicos, considerá-los adversários, estorvos, é meio caminho para conflagrar uma batalha injusta, porque quem a inicia não os hostiliza, antes pelo contrário, os consulta e cultiva como amigos queridos.

Contudo, fechar os olhos às barbaridades do modelo remuneração-procedimento é uma estrada sem volta, rumo à inviabilização da organização de uma rede assistencial segura.

A presunção de que os médicos não dispõem de nenhum arbítrio, como se fosse obrigatório receber incentivos pela utilização de produtos industriais, intimida as críticas e estimula a omissão diante de práticas deturpadas.

Os próprios profissionais de saúde relatam que, após assentir com a realização de um procedimento ortopédico, um paciente perguntou quanto seria sua parte.

A contaminação dos olhos e perda de globo ocular de pacientes do SUS operados em um hospital do sistema em janeiro por oftalmologista de empresa terceirizada revela o drama do casamento de pacotes cirúrgicos e ausência de responsabilidade pelos atos médicos. No ano passado, uma clínica oftalmológica privada no Rio Grande do Sul foi processada por motivo idêntico.

A síntese de Mario de Andrade — “Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são!” — ajuda a desfazer confusões sobre doenças, classes sociais e a errônea impressão de que as áreas de circulação dos segmentos mais ricos são limpas, descontaminadas, livres da mesquinharias de profissionais de saúde desqualificados.

Ações ditadas por arroubos heroicos ou excesso de pessimismo em relação aos novos vírus e pagamento segundo procedimento podem ser substituídas pelo cálculo sobre investimentos para melhorar objetivamente a saúde.

A priorização da pesquisa estratégica, produção de testes diagnósticos, avanços na garantia de direitos reprodutivos bem como a revisão dos processos de formação e inserção no mercado de trabalho de generalistas e especialistas, e recuperação dos hospitais universitários públicos são essenciais para evitar que problemas de saúde nos custem os olhos da cara.

Zika e os problemas de qualidade dos serviços de saúde, incluindo os privados, não compartilham a mesma trama causal, mas requerem o trabalho conjunto de médicos, pesquisadores, enfermeiros, psicólogos, de instituições públicas competentes e participação efetiva de entidades da sociedade civil.

O Brasil tem potencial, possui todos esses componentes, ainda que incipientes e dispersos e pode fortalecer sua base científica e tecnológica mediante a integração aos esforços globais para o controle de epidemias e a construção de sistemas de saúde universais.

Caixa não perecível

Se não vai poder ter financiamento privado, é claro que haverá caixa 2, ou vocês acham que as eleições serão bancadas pelos eleitores? 
Washington Quaquá, presidente regional do PT e prefeito de Maricá (RJ) em sua última das mensais aparições no programa O Jogo do Poder, na CNT, no qual compra horário por R$ 175 mil 

Lobby, democracia e corrupção

Uma das mais recorrentes práticas descobertas no fluxo de depoimentos das Operações Lava Jato e Zelotes abriga a intermediação de interesse de grupos privados (pessoas físicas e jurídicas) junto ao Estado.

Esse fato tem propiciado a conclusão dos investigadores – promotores, juízes e policiais federais – sobre as ações dos indiciados: um verdadeiro assalto ao Estado.

A questão suscita um debate racional sobre o lobby, atividade ainda não regulamentada no país e apontada por alguns, entre eles advogados de acusados, como prática que teria sido realizada de forma “legítima” por alguns de seus clientes. Afinal, que limites podem se estabelecer para que o lobby não seja considerado ato abusivo e criminoso? Vejamos.

O lobby tem como principal objetivo intermediar interesses de grupos perante a esfera pública, organismos (estruturas administrativas) e Poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário). Tal modalidade não é um fenômeno contemporâneo. Faz-se presente nos ciclos históricos, inscrevendo-se, inclusive, nos primeiros dicionários de política.

Rousseau, no Contrato Social, perorava sobre a oportunidade de cada cidadão participar nos rumos políticos, garantindo haver “interrelação contínua” do “trabalho das instituições” com as “qualidades psicológicas dos indivíduos que interagem em seu interior”.

Esse é, aliás, um dos fundamentos da democracia participativa, aqui entendida como o sistema que permite aos cidadãos e suas representações se livrarem da coerção para influir de maneira autônoma no processo decisório. O lobby tem relação com este conceito.

Mas a atividade ganhou força, nas últimas décadas, em virtude da crise que assola a democracia representativa. A débâcle do socialismo clássico abriu aguda crise no campo das ideologias. A densidade ideológica da competição política tornou-se mais tênue, partidos se amalgamaram no centrão dominado pela social-democracia, parlamentos perderam vigor e as bases arrefeceram sua disposição.

A representação política, amargando o efeito desses impactos, se fragmentou e os partidos de massa se transformaram naquilo que os ingleses chamam de “catch-all parties” (partidos do “agarra tudo”). Um novo tripé se formou às margens do Estado juntando a burocracia, os políticos (interessados em aumentar espaços de poder ) e os círculos de negócios. Sob o peso do desprestígio, os atores políticos viram a sociedade deles se afastar, dando lugar a uma gigantesca lacuna que passou a ser ocupada por entidades de pressão social, organizações não governamentais e associações de categorias profissionais.

Essa nova fisionomia começou a agir de forma política, defendendo interesses de núcleos junto ao Parlamento, ao Executivo e ao Judiciário. Quer dizer, no vácuo aberto pela democracia representativa, a sociedade organizada aproveitou para exprimir suas reivindicações.

Registre-se que o ponto de partida para esse novo ordenamento começa, por aqui, na Constituição de 1988, que propiciou a abertura dos pulmões da sociedade, ao incentivar a formação de entidades e movimentos. O respiro fez expandir novos centros de poder, os quais passaram a exigir po­líticas públicas nos mais variados nichos temáticos. Ganha vigor, então, a democracia participativa, concebida até então por meio de três mecanismos constitucionais: plebiscito, referendo e lei de iniciativa popular.

É nessa textura que emerge o lobby, entendido como ação em defesa de grupamentos organizados, nas áreas de gêneros, minorias, etnias ou profissões. Sob essa visão, os lobbies são justificáveis. Nos Estados Unidos, por exemplo, constituem uma atividade inserida na vida política. Esse é o lado positivo.

Ocorre que seus limites éticos são rompidos quando a defesa de demandas coletivas rompe as barreiras da legalidade, ou seja, quando a res publica passa a ser apropriada, de maneira vil, por círculos no entorno do Estado. Desvirtuando-se do escopo original, transforma-se o lobby em tabuleiro de negociações espúrias, ensejando escândalos de toda a ordem, a ponto de deixar a ex-maior empresa brasileira, a aclamada Petrobras, em estado de calamidade. E assim, essa prática ingressa na banda suja da corrupção, do tráfico de influência, da manipulação e uso de estruturas governativas, resultando em ladroagem de fatias do Estado.

Bobbio, em seus estudos, chegava a alertar: “a democracia é o governo do poder público em público”, apontando para um sistema que se vale do poder manifesto, evidente, visível, em contra­ponto à coisa “confinada, escondida, secreta”. Arrematava: “Onde existe o poder secreto há, também, um antipoder igualmente secreto ou sob a forma de conjuras, complôs, tramóias.”

Essa situação exige que o lobby seja legalizado. A partir da norma legal, será possível moldar uma forma legítima e transparente de defesa de interesses.

O projeto que tramita no Congresso, há anos, carece nova avaliação à luz da realidade social e política do país. Somente o marco regulatório sobre a matéria poderá diminuirá a taxa de corrupção, eis que des­vendará o que está por trás das máscaras. Reivindicações gerais, difusas, particulares, explícitas ou latentes, passarão pela lupa da mídia.

A publicidade das ações contribuirá para distinção entre o justo e o injusto, o lícito e o ilícito, o correto e o incorreto, o oportuno e o inoportuno. Lobistas ou, se quiserem, um nome mais pomposo e sem viés negativista, algo como articuladores institucionais da sociedade civil, terão identidades e representações divulgadas. Seria uma maneira de adensar o corpo de nossa democracia participativa, conferindo mais força e significado à democracia, o regime do poder visível.

Sem algemas e sem grades, Lula é prisioneiro de seus erros

O argumento de que Lula não será preso é usado por quem defende incondicionalmente o líder, o chefe, o senhor, o companheiro, o amigo, o parente, o colega. É claro que os patrões de Lula, de ontem e de hoje, também assim pensam. Quando rabos estão amarrados entre si, puxado um, os demais tendem a aparecer.

Aos amigos de Lula se juntam os céticos, aqueles que desistiram de lutar, de ter que firmar posição, de se expor, os que abandonaram a ideia de buscar e acreditar em soluções. E por fim, os alienados, abestados, debilóides e acéfalos.

Uma pequena — mas consistente — parcela da sociedade continua firme, acreditando, esperando o dia que virá e que trará a boa nova: Justiça ao país e ao seu povo! No fundo, bem lá no fundo, Lula já está preso. Sem algemas e sem grades, mas prisioneiro de seus erros.

Após seus dois governos, oito longos anos de poder total, com uma obra agora só reconhecida pelos fanáticos e por aqueles que receberam as esmolas e migalhas das sobras da corrupção, o maior líder da história recente de nosso país (???!!!) não consegue mais andar nas ruas.

Restaurante, lancheria, botequim? Nem pensar. Ele anda nas sombras, entrando e saindo por portas laterais, pelos fundos. Talvez até disfarçado. Fugindo de quem, do que?

Os companheiros e amigos de outrora estão sumindo. Quem com ele se encontra estará pretendendo, fazendo, tratando do quê?

Aqui e ali, um desavisado, descuidado ou afetado, solta, sem muita convicção, argumentos em sua defesa. Mas como defender o indefensável? Aquele que tudo dizia, a todos atacava, agora espera defesa da boca de outros!

Certamente seus telefones estão grampeados, rastreados, em permanente processo de gravações. Das escutas legais ou ilegais, mocinhos e bandidos querem a cabeça dele.

Dormir bem? Medicamentos? Às vezes. Deve acordar aos sobressaltos, gritando ou correndo ao banheiro. O “japinha da PF” deve acompanhá-lo em pensamentos e sonhos, o tempo todo. É um massacre.

Viajar? Para onde? E as palestras que lhe rendem fortunas? Quem quer ouvi-lo, contratá-lo, usá-lo em assessorias, conferir prêmios, honrarias?

Longe vão os tempos das boas dormidas, das viagens em jatinhos e aviões particulares, o bate-papo furado, a boa companhia. Nos últimos tempos, amanhece e a busca é por novas notícias, novas delações, novas prisões. Mais ameaças, maiores perigos e riscos. Quem será a bola da vez, amanhã, depois de amanhã? Vão traí-lo?

Sua vida é a própria imagem do inferno. A idade está avançando, dia a dia. Basta verificar-se as muitas rugas no rosto, o cabelo caindo e branqueando. As feições, cada vez mais rudes, raivosas. Quando fala, a comunicação é truncada, sem nexo, quase sem lógica.

Como pode alguém, que teve tudo nas mãos, chegar a um fim assim? Não. Lula ainda não está na cadeia, oficialmente. Alguns duvidam que este dia chegue. Paciência.

No entanto, embora fora da prisão, Lula está preso, sim, porque destruiu o passado e agora sabe que não tem mais futuro.

Meio ambiente: O clima na real

Não tem aquela história de meio cheio ou meio vazio. O copo da COP-21 sobre mudanças climáticas está cheio, mas furado. O objetivo de deter o aquecimento global do planeta em no máximo dois graus neste século é uma miragem que, embora disponha de todos os meios tecnológicos e sociais necessários para se tornar realidade, não é mais possível de ser alcançado por falta de governança global.

O acordo de Paris foi apresentado como histórico. E é, no sentido de que o reconhecimento de que as mudanças climáticas são reais, perigosas para a humanidade e, portanto, a transição para um mundo de baixo carbono é imperativa e inevitável, ficou claramente estabelecido. Infelizmente, com mais de 20 anos de atraso em relação a um conhecimento cientifico sólido e robusto.


De maneira um tanto hipócrita decidiu-se “mirar” em 1,5 grau. Útil para alertar sobre a gravidade dos impactos das mudanças climáticas mas fútil, e algo cínico, por desviar a atenção de que, na melhor das hipóteses, caso ocorra uma revolução na produção e no consumo, chegar perto de três graus já está contratado.

A conta é bem simples: para termos 66% de chances de ficarmos em torno de dois graus poderíamos “jogar” na atmosfera do planeta, de 1880 a 2100, mil GTons de CO2 equivalentes (considerando todos os gases de efeito estufa). Já colocamos 730 Gtons. Faltam, portanto, 270. A cada ano colocamos, no mínimo, mais 10 Gtons de CO2. Em 27 anos nosso “orçamento” estará encerrado, e a temperatura média do planeta rumando para 3, 4 ou 5 graus neste século.

A COP-21 definiu como método para atingir seus objetivos as contribuições voluntárias de cada país, que, agregadas, deveriam permitir cumprir o “orçamento” de carbono acima. Ainda assim, a soma dos compromissos é insuficiente por boa margem.

Qual economista, administrador de empresas ou bom gestor público apostaria o futuro da população humana (ou as contas e metas de sua empresa ), numa situação de emergência, em contribuições voluntárias que, se não atendidas, não implicam qualquer perda, custo ou punição? E isso em um tempo longo, onde todos os envolvidos com o “possível” fracasso já estarão aposentados ou mortos?

Em uma economia globalizada onde a única governança realmente funcional (nesse período histórico) são as regras do mercado, não existe outra possibilidade de atingir um resultado tão ambicioso, a não ser enviar a todos o sinal correto, colocando nos preços das coisas, todas elas, o custo de aquecer o planeta, isto é, de emitir gases de efeito estufa.

Continuamos a fazer o contrário: subsidiamos os fósseis em mais de meio bilhão de dólares por ano mesmo com o petróleo a menos de US$ 30 o barril. Apertem os cintos, o planeta vai mudar. Ou, tentando encher o copo, a luta continua.

Sérgio Besserman Vianna,