segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Dilminha brincando de 'presidenta'

Dilma bicicleta pedalando sem as maos sem os pes tombo bate no tcu

O mundo entre aspas

Após visitar a Argentina em 1980, o romancista V. S. Naipaul escreveu: “Na Argentina, muitas palavras diminuíram seu significado: general, artista, jornalista, historiador, professor, universidade, diretor, executivo, industrial, aristocrata, biblioteca, museu, zoológico; tantas palavras precisam estar entre aspas”.

Essa é uma metáfora brilhante, que transmite muito bem uma complexa realidade na qual o que parece com frequência não é. Mas as aspas às quais se refere esse ganhador do Nobel de Literatura não são só um fenômeno argentino do século passado. Elas também captam perfeitamente bem o mundo do século XXI. É um mundo cheio de “escolas” que não educam, “hospitais” que não curam, “policiais” que com frequência são criminosos, “empresas privadas” que só existem graças ao Estado ou “Ministérios de Defesa” que atacam os seus cidadãos. Vivemos em um universo infestado de instituições que cumprem apenas muito parcialmente os objetivos que justificam sua existência. E de situações deliberadamente concebidas para enganar os incautos.

Há alguns dias, por exemplo, o Governo da Rússia anunciou que mandaria “voluntários” para lutar na Síria (as aspas não são minhas; assim titulou o The New York Times). Esses “voluntários” russos na Síria são suspeitamente parecidos com os “militantes nacionalistas pró-russos” que invadiram a Crimeia e que continuam em guerra contra a Ucrânia. É que tanto os “voluntários” russos na Síria como os militantes que atacam a Ucrânia são, na verdade, militares russos ou mercenários na folha de pagamentos de Moscou.

Chega a parecer que o Kremlin desenvolveu uma forte preferência por usar “organizações não governamentais - ONGs” (assim, entre aspas) para alcançar objetivos militares e políticos. O NASHI, por exemplo, é um “movimento” de jovens russos que se declara “democrático, antifascista e contra o capitalismo oligárquico”. Tudo fica entre aspas porque essa ONG na verdade é uma entidade promovida, organizada e patrocinada pelo Governo russo. Que não é, por sua vez, o único a usar as chamadas ONGOGs: Organizações Não Governamentais Organizadas e Controladas por Governos. Já em 2007 escrevi: “A Federação de Assuntos da Mulher de Myanmar é uma ONGOG. E a Organização de Direitos Humanos do Sudão. A Associação de Organizações Não Comerciais e Não Governamentais do Quirguistão, assim como a Chongryon, Associação Geral de Residentes Coreanos no Japão, são ONGOGs. Essa é uma tendência mundial, cada vez mais difundida: governos que financiam e controlam organizações não governamentais (ONGs), muitas vezes às escondidas”.


Vivemos num universo cheio de instituições e situações deliberadamente concebidas para enganar os incautos

Em países com Governos autocráticos ou democracias não liberais também estão proliferando os “meios de comunicação privados e independentes” que não verdade não o são. Emissoras de rádio, canais de televisão, jornais e revistas criados ou comprados por “investidores privados” e que são nominalmente independentes, mas editorialmente escravos do Governo que clandestinamente os financia e controla.

Nesses países, o presidente, ditador ou chefe de Estado também costuma exercer um controle clandestino, férreo, sobre “senadores”, “deputados”, “promotores”, “juízes” e “tribunais eleitorais” que se fazem passar por “árbitros imparciais” de “eleições democráticas”, as quais com frequência são manipuladas e fraudulentas. Por isso, na Rússia, no Irã, na Venezuela e na Hungria, por exemplo, os conceitos de “democracia”, “separação de poderes” e “eleições” precisam das aspas que nos alertam sobre o seu significado diminuído.

E não são só os países. O mundo das organizações internacionais está inundado de aspas. Você já ouviu falar do Conselho de Direitos Humanos da ONU? Sua missão é “promover e proteger os direitos humanos no mundo”. Seus membros? Pois, entre outros, Cuba, Congo, China, Cazaquistão, Rússia, Venezuela e Vietnã. Outro ilustrativo exemplo de como as aspas se tornaram indispensáveis é a “Carta Democrática” da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Em 2001, com grande pompa e emoção, os países democráticos da América Latina decidiram que o “fortalecimento e preservação da institucionalidade democrática” era uma prioridade e que, se em algum país membro da OEA ocorresse uma ruptura ou alteração institucional que afetasse gravemente a ordem democrática, isso constituiria “um obstáculo insuperável” à permanência desse Governo na instituição. Não foi assim. Não só a OEA não agiu quando houve flagrantes violações à “ordem democrática” em diversos países da região, como também tem a séria intenção de incorporar outro paladino da democracia: Cuba.

Mas o país que possivelmente mais precisa de aspas para ser entendido é a China. A China do sistema “comunista” que se tornou um pilar fundamental da economia capitalista do mundo. E, para dar só mais um exemplo, a China que agora nos obriga a colocar aspas no conceito de “ilha”. Tomou algumas rochas numa zona com soberania muito disputada, o mar do Sul da China, e vem fazendo-as “crescer”. Assim, em vez de serem inabitadas e inabitáveis rochas no oceano, agora são pequenas “ilhas” onde Pequim já instalou bases navais e aéreas.

Será o século XXI o “século das aspas”?

Revólver fumegante, batom na cueca


Batom na cueca e revólver fumegante são duas imagens que dizem a mesma coisa: uma prova contundente. A imagem brasileira inspira-se na sensualidade, a americana expressa mais uma cultura bélica, tecnológica. O fato é todos entendem que alguma coisa decisiva foi descoberta.

Nos filmes policiais americanos, o revólver fumegante às vezes aparece num simples detalhe esquadrinhado pelos equipamentos científicos. Aqui no Brasil também houve um avanço científico na busca de provas. A Operação Lava-Jato soube recolher e cruzar dados, estabeleceu conexões internacionais. Isso é novo no país. Mas ao contrário de crimes individuais, ele desvenda uma organização que se moveu na confluência pantanosa da política e das grandes empresas. E o faz num período pós-moderno em que ainda tem força a tese de que as evidências não importam e sim as narrativas. Uma variante apenas da antiga expressão: os fatos não interessam e sim as suas versões.

Quando um empresário preso por corrupção em obras da Petrobras afirmou que deu quase dez milhões para a campanha de Dilma, em troca de negócios na Petrobras, já estávamos diante de algo contundente. Ao aparecer em suas anotações uma conexão clara entre o dinheiro, o PT e o resgate do dinheiro da Petrobras, isso configura um batom na cueca. É inevitável que as contas de Dilma sejam analisadas pelo TSE a partir dessa denúncia. Caberá a cada ministro decidir se o empresário deu o dinheiro como propina ou simplesmente pelo amor à democracia.

Da mesma maneira, as contas de Eduardo Cunha na Suíça são um batom na cueca. Ele foi campeão nas citações dos delatores premiados. Um deles afirmou que depositou o dinheiro precisamente em sua conta na Suíça. Um homem sem mandato estaria preso para explicar tudo isso. Mas vamos levando o faz de conta, todos sabendo que o país foi assaltado e por quem foi assaltado. Na cultura sensual brasileira, é conhecida a frase de Nelson Rodrigues de que o homem deve negar sempre um encontro amoroso, mesmo com o batom na cueca.


Isso se estende à política. Na tática Paulo Maluf, por exemplo: não tenho conta na Suíça e essa assinatura não é minha. E na elaborada tática petista: não existe nada estranho, exceto o seu olhar nublado pela ideologia conservadora, elitista etc. Uma medida provisória para isentar a indústria automobilística em R$ 1,3 bilhões em impostos foi assinada por Lula. Uma empresa de lobby gastou R$ 36 milhões com propinas para que isto acontecesse. Desse dinheiro, R$ 2,4 milhão foi pago pela empresa lobista ao filho do ex-presidente. Isso pra mim é batom na cueca. Sempre se pode dizer que foram prestadas consultorias de marketing esportivo. Mas qual grande gigante da indústria gastaria tanto em assessoria de marketing?

Da mesma maneira, no caso do dinheiro de Ricardo Pessoa para a campanha, o nome da Petrobras está grafado como PB: pode se dizer que PB quer dizer dizer Paraíba ou pequena burguesia e assim por diante, neste jogo interminável.
O governo e os partidos que assaltaram a Petrobras não vão sair ilesos. Mesmo se a Justiça for muito sinuosa, se os ministros amigos derem uma pequena ajuda, se alguns formadores de opinião torcerem os fatos, a sociedade já viu, ouviu, leu documentos suficientes para ver o batom na cueca.

Isso não é uma expressão jurídica. É apenas uma constatação ao alcance de todos, uma imagem popular. Não há como negá-la. Dizer que não usa cueca, que a mancha veio da lavanderia? Com as contas reprovadas pelo TCU, o que também é novo no país, o governo ainda tem a campanha sob investigação: tudo vai desabar no Congresso e seus labirintos. Não importa o caminho tortuoso das evidências pelas instituições. A sociedade brasileira já sabe o que aconteceu.

É nessa brecha entre a consciência social e as instituições, algumas aparelhadas pelo petismo, que mora o perigo. Não é preciso grandes termômetros para sentir que sobe a temperatura nas ruas. O escritor moçambicano Mia Couto disse que às vezes pensamos que estamos na nossa cidade, mas ela nos escapa, vivemos apenas um sonho de estar nela. Nesse caso, pensamos que vivemos num país mas ele nos escapa como se fôssemos estrangeiros. Os fatos, o conjunto de leis, tudo isso é relativizado numa esfera longínqua. O batom na cueca, o revólver fumegante se tornaram tão frequentes quanto um guarda-chuva esquecido ou o resfriado na virada do tempo. Mas nunca é demais lembrar que não há nada de errado com nossos olhos: a paisagem é moralmente desoladora. 

Daí a irritação das pessoas que insultam petistas nos lugares públicos. Gritam ladrões, mas no fundo deveriam pedir que lhes devolva um Brasil inteligível, um país em que os fatos evidentes tenham consequência.
No sua dramaticidade cívica, o hino diz: ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil. De fato, o dilema agora é impor a realidade ou viver num outro Brasil, esse estranho país em que os fatos ainda são atropelados pelas versões do poder.

Dilma, o que é que você anda tomando?

Precisamos saber, perguntar, pesquisar, investigar – e tentar comprar também – o que a presidente Dilma anda tomando, comendo, fumando, aspirando no ar enquanto pedala, passando no cabelo como shampoo, até para que possamos fazer o mesmo e nos acalmar de forma divertida diante dessa loucura que assola o Brasil.

O país todo à beira de um ataque de nervos. Seja quem quer mudança; seja os que querem continuar atarracados – ouvidos moucos, olhos cegos, esses que, coitados, também já não sabem mais o que fazer e como continuar defendendo o indefensável – que a vida anda bem dura para eles, hein!

A espera é difícil e nós aqui esperando sambando na zazueira que virou. Uma presidente atônita, com os seus atonitozinhos ao redor fazendo trapalhadas, às vezes até nos fins de semana, no exterior. Até quando calados nos dão notícias da situação ao vermos as suas fotos estampadas nos jornais do dia seguinte. Aliás, neste momento, nada melhor e mais significativo do que os registros fotográficos que vêm sendo feitos nas solenidades. Dizem tudo para bons observadores.

O problema é que o negócio todo está ficando esquizofrênico, cada dia mais. O que acaba nos levando no roldão, e creio que nunca se vendeu tanto remédio antidepressivo, calmantes, chás de cidreira. Outro dia, em uma reunião com pessoas da classe dos muitos “As” soube de uma coisa surpreendente, explicada rapidamente por um alto executivo de banco, presente na ocasião: “É a crise”. O comentário era sobre o número de pessoas que eles conhecem que ultimamente andam abertamente aderindo ou se aproximando de religiões, digamos, mais do balacobaco, como umbanda e candomblé. Bem que eu já tinha observado a volta de um número grande de despachos nos cruzamentos e encruzilhadas dos bairros nobres, feitos com esmero, frangos robustos depositados em bonitos alguidares de barro. É. É a crise. E é também o desespero da busca por solução – como digo, manter a cabeça fora da água e os pezinhos batendo para não se afogar.

passofundo

Os humoristas vão acabar perdendo espaço para os políticos, para os governantes, que já devem ter descoberto a poção da Dilma. Cunha bota a mão na boca para conspirar não conspirando; tira, para negar o dinheiro que tem, mas não tem, porque estava no nome dele, mas não é dele, entende? O tucano daqui fica indignado em descobrir quase um ano depois que “alguém” tinha trancado toda a documentação de transportes do Estado numa cápsula do tempo, que só poderia ser aberta daqui a 25 anos. Já pensaram? A gente andando de foguetinho nas vias aéreas, indo para a Lua, ou indo passear em Marte, e aparecem papéis revelando coisas horríveis sobre um tal Metrô que teria existido no final do século passado e começo deste.

Enquanto isso a presidente que fez de tudo para que suas pedaladas reais fossem vistas de forma positiva, e se esgueira toda paramentada passeando de bicicleta no meio dos carros em Brasília, demonstra que deve ter batido a cabeça sem capacete e misturado o tico e o teco. Souberam do discurso do vento que devemos estocar, feito na ONU? Não?

Ipsis Litteris, ela disse: “Até agora, a energia hidrelétrica é a mais barata, em termos do que ela dura com a manutenção e também pelo fato da água ser gratuita e da gente poder estocar. O vento podia ser isso também, mas você não conseguiu ainda tecnologia para estocar vento. Então, se a contribuição dos outros países, vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica estocar, ter uma forma de você estocar, porque o vento ele é diferente em horas do dia. Então, vamos supor que vente mais à noite, como eu faria para estocar isso?” Disse. Disse sim.

Pois é. Ando bem preocupada com a gente e com ela. Semana que vem chega de novo aquele desarranjo do horário de verão (tá, se você gosta, tudo bem, mas eu discuto e vou discutir sempre ordens vindas de cima que mudam nossas vidas), dizem que o calor vai fritar nossas resistências alguns graus a mais por causa do fenômeno El Nino. O PMDB vai continuar mandando, os tucanos tucanando, um monte de peixes caindo na Rede de Marina (que também acho que toma algum chá de cipó), o Levy teimando em bater o pé, o Lula se intrometendo para se safar, a gente batendo panela vazia. Embora tenha quem queira que paguemos o pato, além de dar bom dia a cavalo e amarrar o burro, com estômago de avestruz.

Mas, Dilma, com todo o respeito, os abraços de tamanduá vão levá-la, quase que inevitavelmente, ao canto do cisne, com lágrimas de crocodilo.

Marli Gonçalves

Vai sobrar para os pobres


São muitos anos de descaso com a questão fiscal. No primeiro mandato de Lula, iniciou-se a implementação de um regime previdenciário mais equilibrado para os servidores públicos, ainda que o pleno impacto só ocorresse muitos anos à frente. O fato é que, deixado à sua própria sorte, o gasto exclusive juros da União cresceu nada menos que 344% entre 2002 e 2014, bem acima do IPCA (108%). E mesmo descontando este (o que reduziria o aumento para 113%), o gasto terá aumentado bem mais que o PIB real (46%). Hoje, há uma gigantesca crise fiscal, e namoramos a volta da hiperinflação.

O problema central, como venho dizendo há muito, é que cerca de 75% do gasto federal é composto de pagamentos diretos a pessoas, como se fosse uma gigantesca folha de pagamentos de benefícios previdenciários e assistenciais, além do pessoal ativo e inativo. Deixado quieto, esse tipo de gasto tende sempre a crescer. Caso se tente ajustá-lo, a resistência contrária é enorme, pois quase tudo depende de emenda constitucional (a propósito, por que não leiloar a gestão dessa folha gigantesca ao setor privado, que faria um melhor serviço a custo bem mais baixo e dispensaria a necessidade de milhares de servidores, prédios, manutenção etc.?)

Nessa folha ampla, e para dados de 2012, o peso da conta de inativos e pensionistas no gasto federal é da ordem de 10%, e, tendo em vista a reforma light acima citada, será necessário muito tempo para comprimir essa parcela. Bem maior que o peso dos inativos é o dos seguintes itens: a) o gasto do INSS com pagamentos acima de um salário-mínimo — SM (24%); b) a parcela do INSS que paga um SM (16%); c) os benefícios assistenciais (12%), que são também basicamente referenciados ao SM. Igualmente relevante é o peso do pessoal ativo no gasto total: 13%.

Assim, existirá sempre uma pressão enorme para aumentar o SM acima do razoável (pela regra atual, ele já aumenta acima da inflação), e para estender esse mesmo aumento para os demais benefícios. Haverá também uma pressão permanente para tornar as regras mais benevolentes e para ampliar sua cobertura, com o agravante de que passaremos por longo período de envelhecimento mais rápido da população, o que aumentará ainda mais o número de beneficiários (se assumirmos que cada beneficiário sustenta duas pessoas, mais de metade da população brasileira já estará pendurada nessa gigantesca folha, o que mereceria uma reflexão mais demorada).

Preocupado com o futuro, elaborei, junto com colegas, em estudo apresentado ao Fórum Nacional (veja em www.raulvelloso.com.br), simulações da grande folha de pagamento até 2040, com base nas projeções demográficas do IBGE. Mantidas as regras atuais e medida em porcentagem do PIB, a despesa simplesmente dobraria. Ou seja, não caberia no PIB, pois nossa carga tributária já é uma das maiores do mundo. Daí a solução ser a reforma do sistema ou esperar que a hiperinflação volte e faça o trabalho sujo de corroer benefícios e salários...

Felizmente, contudo, constatamos que é possível, com poucas reformas, manter a razão “grande folha”/PIB constante. As principais simulações que fizemos foram: estabelecer a idade mínima de aposentadoria no INSS em 60 anos, reajustar o SM pelo PIB per capita, reduzir as pensões por morte de 100% a 70% do benefício precedente, reajustar os benefícios de idosos pobres e deficientes por 75% do SM, e aumentar a idade mínima assistencial para 67 anos. Por que não enviar propostas como essas imediatamente ao Congresso, junto com o aumento do percentual da Desvinculação de Receitas da União (DRU), para 50% das receitas, sem exceção? (a DRU perde sua validade no fim do ano, e resultou de sugestão que dei ao então ministro FH. O que faz é desvincular 20% de boa parte das receitas federais de qualquer uso cativo).

Voltando à rigidez do gasto, a distribuição dos restantes 25% do Orçamento contempla: 8% para saúde, 4% para educação, 7% para os demais gastos correntes, e, ao final, apenas 6% para investimentos, sendo apenas 1% do gasto total para o investimento em transportes (?!). Nessas condições, como esperar que a capacidade de produção da economia se expanda suficientemente, quando quase tudo é gasto corrente, e, para piorar, na prática os governos (como os do PT) assumem um viés populista, que, contrariando o discurso oficial, emperra iniciativas importantes como as concessões privadas de infraestrutura?

A conta dos gastos públicos sempre em ascensão só fecha se as receitas crescerem à mesma taxa. Acabamos de passar um período de bonança (2004-2008) em que isso só foi possível graças ao boom de commodities e à elevada ociosidade herdada da fase precedente. Só que, em 2011-14, a razão investimento/PIB e a produção industrial desabaram, e na sequência a economia se estagnou. Agora, o PIB cai, enquanto o governo bate cabeças dentro de si e com as demais forças políticas. Deveriam começar pelo que sugeri neste artigo, pois, se bobear, a hiperinflação volta, e serão os pobres quem pagarão, de novo, a gigantesca conta dos erros governamentais.

Perigosa irresponsabilidade

Estamos no décimo mês do ano. Até agora o imobilismo no qual se instalou o Brasil gerou inflação, alta do dólar, desemprego, desajuste fiscal, como frutos do desestímulo à economia e à produção. O medo afasta oportunidades, congela investimentos e faz aflorar a especulação, a agiotagem dos bancos, a sanha arrecadatória do Estado.

Desde que se instalou na Justiça Federal a operação Lava Jato, também se paralisaram as grandes obras, tradicionalmente tocadas pelo feudo das empreiteiras cujos dirigentes amargam há meses na cadeia à espera da conclusão de seus processos, até que sejam expedidas suas sentenças. Na verdade, todos já se acham sentenciados e condenados, pelo menos pela opinião pública e pela mídia, seja em Manga, no Catolé do Rocha e no resto do Brasil. Até no exterior, a avaliação feita do nosso país pelas mídias locais nos instala na liderança do ranking de subdesenvolvimento e de corrupção.


O povo está mais rigoroso nos seus julgamentos, há menos tolerância com os políticos, independentemente de que partido forem ou que história tenham. As dificuldades, a escassez de verbas para manutenção de cargos, privilégios e favores, o arrocho geral dos orçamentos públicos, realidades aliadas aos poderes fiscalizador das mídias e institucional da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal, são fatores que também contribuem para tornar os políticos menos generosos e mais cuidadosos no rateio de facilidades. Esse é o lado bom da história política de nossos tempos. Estamos mais atentos e vigilantes.

Mas, como se acha, estamos em outubro e às portas de mais um ano perdido. É preciso que o país volte a trabalhar, a produzir, a ter segurança e esperança. O país não suporta mais perder tempo com a discussão do impeachment, da permanência ou não de Eduardo Cunha à frente da presidência da Câmara e de Renan Calheiros na presidência do Senado, se vão ambos, junto com seus apoiadores, para a cadeia de qual cidade ou bairro. Se o dinheiro que tem nos bancos da Suíça, a mulher de Cunha ganhou fazendo unha, vendendo Avon ou costurando para fora. Se Dilma pedalou ou rosetou. Se Lula ganhou propina da indústria automobilística para editar MPs, se seu filho, o Lulinha é ladrão, ou foi favorecido com dinheiro da corrupção ou nada disso: é um santo.

Certo é que a vida parou, as pessoas estão com fome, desempregadas, desassistidas, há greves na educação, na segurança pública, na saúde, no Judiciário, no INSS, nos bancos. Daqui a uns dias, nas igrejas, nas boates, nos estádios de futebol, no jogo do bicho, nos shoppings populares. Tudo parou, menos a pontualidade e eficiência de nossos credores. E ainda assim, não se ouvem propostas de mudanças. Estamos mergulhados na maior crise de imaginação e criatividade de nossos tempos. E na maior irresponsabilidade daqueles que têm nas mãos os instrumentos da mudança.

A metafísica do Sudão

O Brasil tem uma máquina estatal gigantesca. Todo mundo sabe. O pior é que aqueles que deveriam pensar esse problema, na sua maioria, são os que permanecem na esfera desse Estado, fazendo uso dele e alimentando sua burocracia infernal. E defendendo-a. Só gente mau informada, de má fé ou ignorante espera alguma coisa do Estado.

A filósofa russo-americana Ayn Rand, boicotada nos departamentos de filosofia no Brasil por ser uma liberal radical, nos chamou a atenção para um fato significativo: quando produtivos dependem de improdutivos para produzir, estamos numa fria. Esse é o caso do Brasil.

No Brasil, você sempre está na condição de herói de tragédia clássica, que luta contra um destino irrevogável, leia-se, o Estado brasileiro. Essa descrição maravilhosa é de José Guilherme Merquior no seu "O Liberalismo - Antigo e Moderno", editora É Realizações. Merquior fala aqui da tradição francesa de esmagar o indivíduo sob a bota da máquina estatal.

Pense no número de formulários enormes que você deve preencher. Pense no que você gasta de tempo e dinheiro para ter gente que te ajude a enfrentar a burocracia criada por especialistas em improdutividade.

No caso específico da educação superior, esta fato é uma evidência. Uma gigantesca burocracia, servida por "gestores" que se locupletam a fim de garantir espaços institucionais de poder, vem transformando a vida da pós-graduação no Brasil numa peregrinação de irrelevâncias.

Agora, a maldição invade a graduação, tornando o dia a dia um deserto de formulários que supostamente servem a universidade, mas que na realidade servem apenas a gente com o "gozo da burocracia", que assim detém o poder sobre as instituições particulares, sempre inimigas de governos ideologicamente estatistas, como o governo federal é há anos.

No Brasil, abrir uma pequena empresa é um inferno de impostos e siglas, que, por sua vez, se constituem num mercado tecnocrático em si, fazendo do infeliz empreendedor um desgraçado a mercê da última invenção de algum burocrata de Brasília.

E todos os neolíticos que apostam na máquina do Estado para fazer "justiça social" batem palmas para essa metafísica do Sudão.

Este tipo de cultura atrasada faz com que aqueles que nada produzem mandem no processo, obrigando você a produzir nada (servindo as exigências burocráticas deles) ou a produzir irrelevâncias que, por si só, servem aos esquemas burocráticos.


Num universo como este (um novo círculo do inferno de Dante), o dinheiro se torna refém de quem nada produz, mas detém os mecanismos de tortura sobre suas vítimas, os produtivos, que os carregam nas costas. Servir a essa máquina se torna a garantia de permanecer existindo dentro dessa cadeia, supostamente produtiva, mas onerada pela metafísica do Sudão que a alimenta.

E a corrupção é a grande cereja do bolo de um país com essa metafísica. Quanto maior o Estado, quanto maior seus tentáculos sobre a sociedade, mais ele venderá facilidades para resolver as dificuldades que ele mesmo cria, e que constitui a moeda de toda mentalidade improdutiva.

Do que vive um improdutivo? Antes de tudo, do gozo de infernizar quem produz (dizendo que está preocupado com a "qualidade" ou com a "igualdade"). Passa suas horas imaginando procedimentos que obriguem as pessoas a saírem da cadeia produtiva para servir a essa cadeia da inércia.

Mas a inércia tem suas vantagens. Primeiro, facilmente garante tempo livre para não fazer nada, claro, às custas de quem tem de correr mais e ficar mais estressado para atender as demandas de quem não produz nada.

Mas, talvez, o maior inferno seja mesmo o fato de que em países com essa metafísica da "justa improdutividade", a lei proteja o improdutivo e puna o produtivo que não aceitar ferir sua produção para servir à máquina que torna a vida um nada de formulários, impostos e exigências, que crescem a cada dia.

Imagino um desses improdutivos, com os olhinhos brilhando, acordando de manhã e se perguntando: como posso tornar a vida dos produtivos mais miserável hoje?

Sonegação este ano já chega a 13 CPMFs

Enquanto o governo Dilma .2 insiste em aprovar uma nova CPMF para cobrir o roubo de R$ 30 bilhões no orçamento, o Brasil perdeu mais de R$ 400 bilhões em impostos sonegados e não cobrados de contribuintes de grande porte. Os números do "Sonegômetro", criado por procuradores da Fazenda, mostra que haveria dinheiro suficiente para dispensar a CPMF, por exemplo, cuja previsão de arrecadação é de R$ 32 bilhões ao ano.

'Malido na lainha'

Quer acesso a recursos públicos para si ou para seu projeto político? Esteja atento ao conselho de Eça de Queiroz em deliciosa crônica de 1871: faça-o numa associação. "Nada há para esses feitos quanto apoiar-se numa associação. A associação inocenta tudo e tudo purifica". Quanta razão tinha o mestre! Que o digam os promotores de invasões. Numa associação, aplicam-se sobre os autores dos crimes camadas e mais camadas de teflon político e jurídico.


A decisão tomada pelo TCU na última quarta-feira foi, como diria o ministro Roberto Barroso, do STF, um ponto fora da curva. Fugiu à regra. Imediatamente, os membros da associação subiram às tribunas e microfones para defender o governo. Na Assembleia Legislativa gaúcha, um deputado afirmou que as pedaladas fiscais não eram novidade. Já eram praticadas em outros governos. Desceu triunfante da tribuna e ouviu do deputado Marcel Van Hattem que, no autoindulgente senso petista, se um crime não for original, inédito, não é crime...

Foram os erros e crimes cometidos ao longo dos últimos 13 anos que, primeiro, proporcionaram a Lula seus anos de Midas e, em seguida, nos precipitaram na crise atual. Agora, em nome do caos que produziram, pedem benevolência para manterem a associação e se preservarem no poder. Ora, o Brasil não pode ser uma terra sem lei. São as crianças que brincam dizendo que lei é o "malido da lainha". Isso não serve para adultos, não serve para homens de Estado. Senhores, não podemos deixar o passado no cabide, por mais que convenha à associação. Aliás, não será entre pessoas condenadas pelo próprio passado que vamos encontrar estadistas para nosso futuro.

As instituições nacionais foram se convertendo, gradualmente, em associações para os fins que Eça ilustrou com seu fino humor. Como consequência, o povo brasileiro - fato sublime - ergueu-se vários degraus acima delas e assumiu a tarefa de pô-las a dançar segundo a música constitucional. O povo fez a bagunçada orquestra sentar e começar a arranhar cordas e resfolegar trompetes e oboés. Por que sublime? É que essas pessoas, indiferentes aos xingamentos dos que as chamam golpistas, coxinhas, lacerdistas, reacionárias, elitistas, e outros adjetivos menos asseados, arregimentam-se para mobilizar as instituições da república. Irrita-se a associação com essa gente de verde e amarelo, rosto exposto e modos civilizados, com lenço e documentos, que não está a serviço de nenhum bandido, seja de que banda ou bando ideológico for. Aliás, como pode alguém indignar-se quando o povo clama às instituições que cumpram seu dever e elas começam a fazer isso?

De olho na frente

Qual o papel do intelectual hoje? Falando a sério, penso que é duplo. Primeiro, é dizer o que as outras pessoas não dizem. Não é dizer que há desemprego em Itália. Segundo, não é resolver os problemas imediatos, é olhar para a frente. Se um poeta está num teatro e há um incêndio, não se põe a recitar poemas: chama os bombeiros. Pode é escrever sobre incêndios futuros
Umberto Eco

Acorda Brasil. Acordemos todos nós!

Dillma Rousseff, os defensores do PT e os agregados de sempre tentam “enrolar”, jogar para baixo do tapete, esconder e empurrar com a barriga seus erros e desvios morais, éticos e administrativos. Se Dillma não errou, se não cometeu pedaladas, mãozadas, dedadas, está fugindo do quê? Está com medo do quê?

Na verdade, os governos petistas, de Lulla a Dillma, foram, são e continuarão a ser pura mentira, desfaçatez, arrogância e manipulação. Estudaram as práticas dos coronéis, dos espertalhões e dos vigaristas, aperfeiçoaram-nas e, conhecendo a falta de cultura, de tempo e de vontade de aprender/conhecer/saber as coisas públicas, por parte de grande parcela da sociedade, dominaram as mentes e as vontades.

Venderam os sonhos almejados pelos incautos.
E agora, como reverter-se isto? O povinho continua dominado, juntinho e misturado, sem saber como separar as verdades (poucas) e mentiras (muitas).

Um governo sério, probo e corajoso, com referendo popular, não necessariamente com apoio do congresso, precisa assumir e varrer toda a sujeira produzida e armazena nas três últimas décadas. É preciso julgar a todos. Aos culpados, penas longas na cadeia.

Ontem, Lembrei de Ulysses, Brizola, Teotônio. Tentei, mais uma vez, encontrar alguém como eles, nos dias atuais. Busca inútil. Como estão fazendo falta!

Olho para os que fazem oposição e só vejo situação!
Olho para os jovens com mandatos – a nova leva de políticos, e vejo pessoas sem conhecimento, sem personalidade, sem patriotismo, sem um norte.

Muitos dos que poderiam tornar-se lideranças positivas e possíveis de seguirmos, já estão contaminados, com idéias e ideais velhos, distorcidos, deformados. Carecem de conhecimento mínimo e postura.

Tomara que a renúncia ou o impeachment de Dillma não oportunize apenas a troca de seis por meia dúzia.

Acorda Brasil. Acordemos todos nós!

Metas climáticas aquém do esperado

Em menos de oito semanas, representantes de 195 países se reunirão em Paris para decidir sobre o futuro do clima global. No dia 1° de outubro, expirou um prazo informal para que todos os Estados que aderiram à "Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima" (UNFCCC) apresentem suas metas para 2025 e 2030. Até agora, 146 nações apresentaram seus planos de contribuição nacional, os chamados INDCs.

"São muitos países, com uma diversificação geográfica alta", diz Nick Nuttall, porta-voz da UNFCCC. "Entre eles, estão todos os países industrializados e os principais países em desenvolvimento. Mesmo que agora sejam apresentados mais INDCs, isso não vai fazer muita diferença."

O programa do clima continua se baseando no princípio da esperança e ainda não em medidas que realmente sejam alcançadas de forma eficaz
Christina Hey, secretário-geral do Conselho do Ambiente

Os pesquisadores acreditam que os piores efeitos da mudança climática só podem ser evitados se a Terra se aquecer menos de dois graus Celsius. No entanto, os INDCs apresentados até agora não conseguem ficar abaixo deste limite.

Se todos eles forem implementados, a temperatura ainda aumentaria 2,7 graus, em comparação com os tempos pré-industriais, segundo cálculos dos pesquisadores da Clima Action Tracker (CAT). CAT é uma análise independente, criada por quatro institutos de pesquisa, que investiga os compromissos voluntários dos países em relação à proteção do clima.


"Todos os governos precisam rever os seus próprios compromissos novamente", reivindica Louise Jeffery, pesquisadora do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto sobre o Clima e que está ligada ao CAT. "Se os países entregarem antes da Conferência sobre Mudança Climática INDCs revistos, se comprometendo a reduzir ainda mais as emissões de poluentes, então isso ajudaria a fechar um acordo climático mais forte", avalia.

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A maioria das estratégias climáticas avaliadas pela CAT recebeu o título de "regular" ou "insuficiente". A Índia, por exemplo, ficou entre os últimos países a entregarem seus INDCs – e o país é um dos mais importantes em termos de futuras emissões de CO2. A economia emergente pretende reduzir suas emissões em um terço até 2030 – no entanto, em dependência de seu crescimento econômico. Então, se o PIB indiano se duplicar nos próximos anos, a Índia também poderá emitir duas vezes mais poluentes na atmosfera – subtraindo-se a redução pretendida.