quarta-feira, 3 de abril de 2019

Só pensa naquilo!

Diz a Bíblia que a arrogância precede a ruína. Acho perigosa essa história do ‘ninguém fala a verdade’, ‘as pesquisas são mentirosas’, ‘só eu sei de tudo’.

Essa coisa de a rede social é meu Deus e ninguém mais fora dela. Precisa de um freio de arrumação. Essa queda de popularidade, essas brigas… Não seriam um sinal de que é preciso parar e pensar no Brasil por um minuto?
Silas Câmara )PRB-AM), presidente da bancada evangélica

Bolsonaro falsifica a realidade para enganar a população

Ao contestar números oficiais sobre o desemprego, Jair Bolsonaro conseguiu a façanha de ser desmentido por seu próprio governo. De Israel, o presidente distorceu dados do IBGE para tentar convencer o país de que o mercado de trabalho, na verdade, está bombando. “É uma coisa que não mede a realidade. Parecem índices que são feitos para enganar a população”, disparou.


O instituto havia calculado que o número de brasileiros desocupados subiu para 13,1 milhões em fevereiro. A conta segue padrões internacionais e leva em consideração pessoas que procuram emprego, mas não encontram. Bolsonaro não gostou.

O IBGE precisou divulgar uma nota de cinco parágrafos para explicar sua metodologia. Afirmou que adota regras semelhantes às de outros países e ainda negou a declaração do presidente de que beneficiários do Bolsa Família não são classificados como desempregados.

Bolsonaro produz falsificações que atropelam instituições consolidadas, critérios científicos, a história e o mínimo bom senso. O objetivo é adulterar a realidade a fim de reduzir desgastes e atacar opositores.

Para fustigar seus arquirrivais na política brasileira, o governo agora patrocina o delírio de que o nazismo era um regime de esquerda. O próprio Adolf Hitler deu uma entrevista em 1923 em que dissociava suas ideias do marxismo, mas Bolsonaro disse que “não há dúvida” de que o chanceler era vermelho, já que seu partido era o Nacional Socialista.

Dessa vez, quem desmentiu o presidente foi o vice Hamilton Mourão.“De esquerda é o comunismo. Não resta a mínima dúvida”, declarou.

A lógica estapafúrdia é a mesma que leva Bolsonaro a buscar um revisionismo rasteiro da ditadura militar. Ao argumentar que os fatos são deturpados por seus adversários e até por institutos oficiais, ele tenta moldar a verdade a seu gosto. Assim, nunca estará errado.

O presidente pode até contar suas histórias, mas quem olhar o passado ou as ruas do país verá quem está tentando “enganar a população”.

Paisagem brasileira

Floresta Encantada, Alter do Chão (PA )

Os Bolsonaro tuitam dez vezes antes de pensar

É preciso ver o lado bom das coisas. Mesmo que seja necessário procurar um pouco. No caso da presença da dinastia Bolsonaro nas redes sociais, o bom é a transparência. Cada vez que Jair Bolsonaro e seus filhos ficam fora de si, basta uma visita ao Twitter para ver melhor o que eles têm por dentro. A visão é aterradora. Mas ninguém pode alegar desconhecimento.

Abre parêntese: Palestinos e israelenses, como se sabe, vivem em paz no Brasil. Entretanto, alheio à tradição da diplomacia brasileira, Jair Bolsonaro achou que seria uma boa ideia descer no lado do muro ocupado por Israel. "Eu amo Israel", disse ele, na companhia do também capitão Benjamin Netanyahu.

Por mal dos pecados, a Israel que encanta Bolsonaro é a de Netanyahu, um premiê indiciado por corrupção, às voltas com uma eleição dura de roer. Tomado por suas ideias paleozoicas, o presidente brasileiro não tem o mesmo apreço pela Israel de lideranças como Golda Meir, Yitzhak Rabin e Shimon Peres. Fecha parêntese.

Pois bem, a esse ponto chegamos: no instante em que Jair Bolsonaro empurrava o Brasil para dentro de uma guerra que não é nossa, o senador Flávio Bolsonaro, que acompanhou o pai na incursão à beira do abismo, pisou no sabonete. Ao ler no site da revista Exame uma nota de repúdio do grupo terrorista Hamas à abertura de um escritório de negócios do Brasil em Jerusalém, o "Zero Um" correu para o Twitter.

Tido como o elo mais sensato do regime filhocrata, Flávio revelou-se um típico político do clã Bolsonaro. Grosso modo falando. Embora digitasse o teclado do laptop com os dedos das mãos, cutucou os jihadistas do Hamas com a ponta do pé para ver se eles mordem: "Quero que vocês explodam".

Horas depois, o primogênito apagou o post. Por sorte, as redes sociais são um inferno sem borracha. Consolidou-se uma sensação que já parecia petrificada: os Bolsonaro tuítam dez vezes antes de pensar. Inútil pedir a um Bolsonaro fora de controle que domestique os filhos. Quem sai aos seus não endireita.

Mas é preciso ver o lado bom das coisas. Mesmo que seja necessário procurar um pouco. O fato de Flávio Bolsonaro ter cultivado por um instante a ilusão de que seria possível apagar os rastros de sua insanidade virtual pode ser o embrião de uma autocrítica.

Com sorte, o senador acabará se dando conta de que o maior déficit de certos homens públicos localiza-se entre as orelhas. Com muita sorte, ele perceberá que, quando um Bolsonaro estiver nas redes sociais, deve recitar um velho brocardo com o sinal trocado: Nunca deixe para amanhã o que você pode deixar hoje.

Só comunistas torturavam?


"Comunistas prendiam e matavam seus compatriotas"
Texto do vídeo, divulgado pelo Planalto, que exalta golpe militar de 1964

Povo brasileiro não pode continuar pagando pelos crimes que não cometeu

Não, não é justo e sim extremamente injusto e cruel que o povo brasileiro pague pelo rombo, pelo desfalque, pela roubalheira que os governos das três esferas (federal, estadual e municipal), ao longo dos anos e da história, causaram e cometeram na criminosa administração do Tesouro Público (erário). Sem que antes se faça um auditoria, com auditores isentos e independentes, para identificar, processar, punir e ressarcir o dano que os administradores causaram, não se pode exigir um centavo do povo brasileiro para pagar a conta.

Nenhum imposto é para sofrer aumento, em lugar nenhum e a pretexto algum. Nenhuma mudança, mínima que seja, previdenciária, fiscal ou de qualquer outra natureza pode ser gestada e ingressar na ordem jurídica nacional com vista a “consertar” as contas e o país “progredir”.

Não será onerando os vitimados que os danos que sofreram serão minimizados, reduzidos ou reparados. Observe o leitor que nenhum governante, nenhum administrador público, de ontem e de hoje, reconhece serem eles os grandes malfeitores e culpados pelo desastre econômico que destruiu o Brasil. Pelo contrário, eles se apresentam na maior cara-de-pau como vestais, honrados e probos. E para eles a solução, de imediato, é mudar a Previdência Social, como se fosse a causa do desastre.

Essa situação tem tudo a ver com a maldade criminosa que estão fazendo com a população de cidades de Minas Gerais cercadas por barragens que acumulam resíduos da exploração de minério, que tudo arrebenta, derruba, inunda e mata, quando a barragem se rompe.

A ordem e os ensaios são para que a população se vire, se cuide, se proteja. Mas ninguém expede ordem para eliminar o perigo.

“Tenho 80 anos, nasci, cresci e sempre morei aqui. Aqui é meu lugar. Agora sou eu que tenho que sair, que tenho que correr para não perder a casa que construí e não perder a vida?”. O doloroso desabafo, raivoso e desesperador, que a TV mostrou, é de dona Maria do Rosário, moradora de Barão de Cocais, ameaçada de sumir do mapa quando a barragem de minério, que fica naquela região, estourar.

É o mesmo que estão fazendo com o povo brasileiro para superar a tal “crise”. Paguem vocês os monstruosos danos que nós causamos. Assim pensam eles, dizem eles, querem eles. Eles, os administradores públicos. Onde enfiaram e o que fizeram com a dinheirama que entrou no tesouro nacional com as privatizações da Vale do Rio Doce (3,3 bilhões), com a Telebras (22 bilhões), com a CSN (1,2 bilhão), com a Embraer (265 milhões), com os aeroportos, hidrelétricas, rodovias e muitas outras empresas federais?

 No dia 7 de fevereiro de 2019 o impostometro da Associação Comercial de São Paulo indicava que desde o 1º dia de 2019 os brasileiros pagaram 300 bilhões a título de tributos aos governos federal, estaduais e municipais. E que igual quantia (300 bilhões) foi alcançada de 1º de janeiro a 10 de fevereiro de 2018! Cadê o dinheiro? Onde foi empregado?. Quem dele se apoderou, ilicitamente?

Não, não se pode aceitar que o povo brasileiro pague a conta. Que repare o dano. Que sofra na carne, na alma, no psiquismo e no Espirito com tanta covardia. Identifiquem os ladrões, primeiro. Em seguida, puna-os e deles apanhem o dinheiro roubado a fim de devolvê-lo a seus legítimos proprietários, o povo brasileiro. Crimes de lesa-pátria são imprescritíveis.

Quando os fatos contrariam Bolsonaro, pior para os fatos

Jair Bolsonaro cultiva uma relação peculiar com a realidade. Ele não admite contestação, mesmo quando é desmentido com argumentos irrefutáveis. Se os fatos o contrariam, pior para os fatos.

Na segunda-feira, o presidente atacou o IBGE. Motivo: o instituto revelou que o desemprego voltou a subir. Em vez de encarar o problema, Bolsonaro reclamou da estatística. “Parecem índices que são feitos para enganar a população”, esbravejou.



A pesquisa seguiu parâmetros internacionais, mas foi descartada por não confirmar a propaganda. “Fui muito criticado e volto a repetir: não interessam as críticas. Eu tenho que falar a verdade”, prosseguiu o presidente. Ele deu as declarações numa data sugestiva: 1º de abril.

Ontem Bolsonaro resolveu esticar o Dia da Mentira. Em Israel, embarcou no delírio do chanceler Ernesto Araújo e disse que o nazismo foi uma ideologia de esquerda. “Não há dúvida, né? Partido Socialista… Como é que é? Partido Nacional-Socialista da Alemanha”.

O presidente despejou o besteirol em visita ao Yad Vashem, museu que lembra as vítimas do Holocausto. A instituição informa aos visitantes que o nazismo foi uma das expressões do “crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha”. Se não leu os livros escolares, Bolsonaro poderia ter consultado as plaquinhas.
É consenso entre historiadores que o nazismo foi um movimento de extrema direita. O primeiro campo de concentração, em Dachau, foi inaugurado com o envio de comunistas e socialistas. Só depois recebeu judeus, ciganos e homossexuais.

A insistência em negar os fatos tem espantado a comunidade internacional. “Nunca ouvi uma voz séria na Alemanha argumentando que o nazismo foi um movimento de esquerda”, disse em setembro o embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel.

Na semana passada, a emissora pública Deutsche Welle resumiu a falsa polêmica com sete palavras: “O absurdo virou discurso oficial em Brasília”. A Alemanha zela pela verdade histórica para que seu passado sombrio não se repita. Quando o Planalto exalta golpes e ditaduras, o Brasil toma o caminho oposto.