É preciso ver o lado bom das coisas. Mesmo que seja necessário procurar um pouco. No caso da presença da dinastia Bolsonaro nas redes sociais, o bom é a transparência. Cada vez que Jair Bolsonaro e seus filhos ficam fora de si, basta uma visita ao Twitter para ver melhor o que eles têm por dentro. A visão é aterradora. Mas ninguém pode alegar desconhecimento.
Abre parêntese: Palestinos e israelenses, como se sabe, vivem em paz no Brasil. Entretanto, alheio à tradição da diplomacia brasileira, Jair Bolsonaro achou que seria uma boa ideia descer no lado do muro ocupado por Israel. "Eu amo Israel", disse ele, na companhia do também capitão Benjamin Netanyahu.
Por mal dos pecados, a Israel que encanta Bolsonaro é a de Netanyahu, um premiê indiciado por corrupção, às voltas com uma eleição dura de roer. Tomado por suas ideias paleozoicas, o presidente brasileiro não tem o mesmo apreço pela Israel de lideranças como Golda Meir, Yitzhak Rabin e Shimon Peres. Fecha parêntese.
Pois bem, a esse ponto chegamos: no instante em que Jair Bolsonaro empurrava o Brasil para dentro de uma guerra que não é nossa, o senador Flávio Bolsonaro, que acompanhou o pai na incursão à beira do abismo, pisou no sabonete. Ao ler no site da revista Exame uma nota de repúdio do grupo terrorista Hamas à abertura de um escritório de negócios do Brasil em Jerusalém, o "Zero Um" correu para o Twitter.
Tido como o elo mais sensato do regime filhocrata, Flávio revelou-se um típico político do clã Bolsonaro. Grosso modo falando. Embora digitasse o teclado do laptop com os dedos das mãos, cutucou os jihadistas do Hamas com a ponta do pé para ver se eles mordem: "Quero que vocês explodam".
Horas depois, o primogênito apagou o post. Por sorte, as redes sociais são um inferno sem borracha. Consolidou-se uma sensação que já parecia petrificada: os Bolsonaro tuítam dez vezes antes de pensar. Inútil pedir a um Bolsonaro fora de controle que domestique os filhos. Quem sai aos seus não endireita.
Mas é preciso ver o lado bom das coisas. Mesmo que seja necessário procurar um pouco. O fato de Flávio Bolsonaro ter cultivado por um instante a ilusão de que seria possível apagar os rastros de sua insanidade virtual pode ser o embrião de uma autocrítica.
Com sorte, o senador acabará se dando conta de que o maior déficit de certos homens públicos localiza-se entre as orelhas. Com muita sorte, ele perceberá que, quando um Bolsonaro estiver nas redes sociais, deve recitar um velho brocardo com o sinal trocado: Nunca deixe para amanhã o que você pode deixar hoje.