sexta-feira, 6 de novembro de 2015
A grande lição de Justin Trudeau para o Brasil
Aqui e ali a presidente Dilma deixa entrever que não apresentou em campanha o mesmo programa que, supostamente por motivos supervenientes, tem agora de aplicar ao país. E ainda ousa dizer que foi legitimamente eleita, como se a legitimidade de uma eleição derivasse, pura e simplesmente, do número de votos obtidos. A legitimação é obra diuturna e consiste em dar a todos a certeza do que o governante vem fazendo.
Na semana passada, perante o PT e com todas as letras – embora atravessado pelo apelo de apoiá-la de qualquer jeito, para dar a ele a chance de voltar em 2018 –, Lula reconheceu que ela disse uma coisa e que agora pratica outra. Essa seria a origem da crise política, que não se restringe apenas a isso, mas também compõe-se de elementos vários, como a disparidade de pensamentos e atos entre os que supostamente comporiam a “base de apoio”.
Já me referi aqui algumas vezes ao susto que tomei certa vez no meu antigo partido quando alguém, vitorioso em campanha, me declarou: “Não ganha eleição quem não vende ilusão”.
Naquela altura dos acontecimentos, já grassava em nosso país a mania de botar marqueteiros de plantão nas campanhas. De forma que, de um salto, saímos das amarras da Lei Falcão – aquela que só permitia propaganda eleitoral com o retratinho do candidato e umas poucas palavras sobre sua vida – para os agora usuais programas de TV, nos quais minutos preciosos se transformam em moeda de troca para partidos de aluguel se amontoarem à volta de quem quer mesmo entrar para ganhar. Tudo o mais, comícios, debates em colégios ou universidades, visitas a locais de grande concentração popular, o corpo a corpo de antigamente, passou a ser substituído pelos programas gravados de antemão, com cenas geralmente montadas para dar a entender apoio de gente famosa ou de populares, prontos a darem testemunho das maravilhas já feitas pelo candidato. Ademais, o teatro maior fica por conta dos chamados “debates”, em que quase nada se debate, pois, ora o tempo é pequeno demais para o tamanho da pergunta, ora entra em cena o descaramento com que alguns falam sobre o que não conhecem ou fingem saber o que nunca souberam. Quem pode dizer algo que preste em dois minutos, com réplica de um minuto?! Claro que, quanto mais cara de pau é o postulante, mais ele consegue fazer daquele tempo um momento para dizer o que quer, e não o que lhe foi questionado. Paulo Maluf que o diga.
Mas, se aqui as coisas degringolam, no Canadá, o candidato Justin Trudeau teve a coragem de afirmar e reafirmar, antes de os eleitores irem às urnas, que o país terá três anos seguidos de déficit fiscal diante do programa que pretende executar. E seu partido, o Liberal, de centro-esquerda, colheu magnífica vitória, que o levou ao cargo de primeiro-ministro. Que tal começarmos a exigir dos mandatários e dos candidatos dizer “a verdade e tão somente a verdade”?!
Talvez começássemos assim a construir uma cidadania ativa e um governo mais previsível do que o furacão que rodopia hoje sobre todos nós.
Já me referi aqui algumas vezes ao susto que tomei certa vez no meu antigo partido quando alguém, vitorioso em campanha, me declarou: “Não ganha eleição quem não vende ilusão”.
Naquela altura dos acontecimentos, já grassava em nosso país a mania de botar marqueteiros de plantão nas campanhas. De forma que, de um salto, saímos das amarras da Lei Falcão – aquela que só permitia propaganda eleitoral com o retratinho do candidato e umas poucas palavras sobre sua vida – para os agora usuais programas de TV, nos quais minutos preciosos se transformam em moeda de troca para partidos de aluguel se amontoarem à volta de quem quer mesmo entrar para ganhar. Tudo o mais, comícios, debates em colégios ou universidades, visitas a locais de grande concentração popular, o corpo a corpo de antigamente, passou a ser substituído pelos programas gravados de antemão, com cenas geralmente montadas para dar a entender apoio de gente famosa ou de populares, prontos a darem testemunho das maravilhas já feitas pelo candidato. Ademais, o teatro maior fica por conta dos chamados “debates”, em que quase nada se debate, pois, ora o tempo é pequeno demais para o tamanho da pergunta, ora entra em cena o descaramento com que alguns falam sobre o que não conhecem ou fingem saber o que nunca souberam. Quem pode dizer algo que preste em dois minutos, com réplica de um minuto?! Claro que, quanto mais cara de pau é o postulante, mais ele consegue fazer daquele tempo um momento para dizer o que quer, e não o que lhe foi questionado. Paulo Maluf que o diga.
Mas, se aqui as coisas degringolam, no Canadá, o candidato Justin Trudeau teve a coragem de afirmar e reafirmar, antes de os eleitores irem às urnas, que o país terá três anos seguidos de déficit fiscal diante do programa que pretende executar. E seu partido, o Liberal, de centro-esquerda, colheu magnífica vitória, que o levou ao cargo de primeiro-ministro. Que tal começarmos a exigir dos mandatários e dos candidatos dizer “a verdade e tão somente a verdade”?!
Talvez começássemos assim a construir uma cidadania ativa e um governo mais previsível do que o furacão que rodopia hoje sobre todos nós.
O assaltante assaltado
Na América Latina, os regimes militares mandavam queimar os livros subversivos. Nas democracias de agora, queimam-se os livros de contabilidade. As ditaduras militares faziam desaparecer pessoas. As ditaduras financeiras fazem desaparecer dinheiro.
Um certo dia, os bancos da Argentina recusaram-se a restituir o dinheiro aos seus clientes.
Norberto Roglich depositara no banco todas as suas economias para evitar que os ratos as roessem ou que os ladrões as roubassem. Quando foi assaltado pelo banco, o senhor Norberto estava muito doente, porque os anos nunca vêm sozinhos e a sua reforma não bastava para pagar os medicamentos.
Não tinha outra opção: desesperado, entrou na fortaleza financeira e, sem pedir autorização a ninguém, abriu caminho até ao gabinete do gerente. Fechada na mão, empunhava uma granada:
– Ou me devolve o meu dinheiro, ou vamos todos pelos ares!
A granada era de plástico, mas realizou o milagre: o banco restituiu-lhe o seu dinheiro.
Depois, prenderam-no. O procurador sentenciou dezesseis anos de cadeia. Para o senhor Norberto, não para o banco.Eduardo Galeano
Um certo dia, os bancos da Argentina recusaram-se a restituir o dinheiro aos seus clientes.
Norberto Roglich depositara no banco todas as suas economias para evitar que os ratos as roessem ou que os ladrões as roubassem. Quando foi assaltado pelo banco, o senhor Norberto estava muito doente, porque os anos nunca vêm sozinhos e a sua reforma não bastava para pagar os medicamentos.
Não tinha outra opção: desesperado, entrou na fortaleza financeira e, sem pedir autorização a ninguém, abriu caminho até ao gabinete do gerente. Fechada na mão, empunhava uma granada:
– Ou me devolve o meu dinheiro, ou vamos todos pelos ares!
A granada era de plástico, mas realizou o milagre: o banco restituiu-lhe o seu dinheiro.
Depois, prenderam-no. O procurador sentenciou dezesseis anos de cadeia. Para o senhor Norberto, não para o banco.Eduardo Galeano
A solução mais provável da crise brasileira pode ser inesperada
Aqui e no exterior perguntam ao jornalista qual pode ser a solução mais provável da crise, cada dia mais emaranhada e complexa.
E o jornalista encaminhou a pergunta para alguém que está na política há várias décadas, que já foi presidente da República e que dessa vez preferiu o anonimato.
Sua resposta, por escrito, foi: “Estamos no meio de uma crise nacional que ninguém sabe como vai acabar”, e acrescentou, enigmático: “A solução mais provável é o inesperado”.
Afirmou ainda: “De qualquer forma, este não é o Brasil que nós sonhamos”.
Confesso que a palavra que me impressionou na boca de um político com tanta experiência de voo foi “inesperado”.
Como o Brasil é uma democracia, com uma Constituição sólida da qual ninguém pode escapar sem romper as instituições do Estado, essa possível solução inesperada deveria acontecer dentro desses limites constitucionais: o Governo, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Qualquer solução imprevista deveria vir de um deles para que não possa ser condenada como um golpe.
Tal como a crise está configurada hoje, a solução imprevista para a crise por parte do Governo poderia ser apenas a renúncia da presidenta Dilma Rousseff, já que hoje ninguém acredita nela por mais que já tenha sido alvo da oposição.
E o Congresso? Difícil imaginar uma solução por parte do legislativo que não seja a aprovação do impeachment de Dilma, que deveria ser apresentado por um presidente como Eduardo Cunha, execrado pela opinião pública e por todos os democratas do país. Além disso, essa solução está prevista, não seria inesperada.
Sobraria apenas a possibilidade de que o Supremo Tribunal Federal acabasse surpreendendo com uma solução — essa sim, inesperada —, como ocorreu com o caso Collor, e que aponta com sagacidade neste jornal o meu colega Rodolfo Borges — à época, o STF adequou a lei do impeachment, de 1950, à Constituição de 1988, alterando a forma do julgamento no Congresso.
Seria constitucional porque o STF tem poderes especiais para isso, e seria ao mesmo tempo inesperada e não golpista porque hoje, apesar de todos os problemas e críticas, a mais alta corte do país ainda possui o último halo de credibilidade por parte da opinião pública — 75% dela não confia nos partidos políticos nem no Congresso, e dá à presidenta da República e ao Governo as migalhas de uma das mais baixas aprovações da história da democracia.
Qualquer outra solução passaria, inevitavelmente, pela humilhação de um golpe, seja qual fosse sua cor política. O golpe militar está completamente descartado.
Restaria, e talvez fosse o que preocupava o ex-presidente ao afirmar que a solução para a crise poderia ser inesperada, que na próxima eleição presidencial, seja agora ou em 2018, a sociedade, cansada dos políticos profissionais, apoiasse algum candidato “inesperado” com a incógnita de que pudesse se tratar de algum “aventureiro”, como aconteceu e está acontecendo em alguns países, que em vez de resolver acabasse complicado e agravando a crise política.
De acordo com a maioria dos analistas, a crise começou sendo econômica e estrutural, porque o que está esgotado é o modelo, e acabou se complicando politicamente.
Nessa situação, e já que a crise econômica — seja ela mais grave ou não que a política — não se resolveria sem antes resolver a crise política, o mais provável é que essa tarefa hoje realmente imprevisível e inesperada possa acabar caindo nas mãos do STF, que já foi capaz neste país de resolver positivamente outras crises iguais ou mais difíceis em que a opinião pública era mais exigente e aberta que o Congresso, como em relação ao aborto, as células-tronco, ocasamento entre pessoas do mesmo sexo e agora sobre a liberação das drogas, todos estes temas tabu para o Congresso e o Executivo.
Não é impossível, portanto, que a crise possa realmente acabar tendo um fim imprevisível e cuja solução esteja em grande medida na pressão exercida pela sociedade como um todo sobre os três poderes da Nação.
Tudo isso porque o Brasil dessa crise não é o mesmo país das crises anteriores. É um Brasil mais dividido e exasperado com os poderes públicos, porque o país e a sociedade estão numa luta para sair da apatia e da fictícia unanimidade do passado e começaram a enfrentar os desafios da modernidade. Estamos diante de uma sociedade que não apenas quer ser ouvida, mas também participar na solução da crise cujas consequências econômicas e sociais já começam a penalizar fortemente as famílias.
E o jornalista encaminhou a pergunta para alguém que está na política há várias décadas, que já foi presidente da República e que dessa vez preferiu o anonimato.
Sua resposta, por escrito, foi: “Estamos no meio de uma crise nacional que ninguém sabe como vai acabar”, e acrescentou, enigmático: “A solução mais provável é o inesperado”.
Afirmou ainda: “De qualquer forma, este não é o Brasil que nós sonhamos”.
Como o Brasil é uma democracia, com uma Constituição sólida da qual ninguém pode escapar sem romper as instituições do Estado, essa possível solução inesperada deveria acontecer dentro desses limites constitucionais: o Governo, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Qualquer solução imprevista deveria vir de um deles para que não possa ser condenada como um golpe.
Tal como a crise está configurada hoje, a solução imprevista para a crise por parte do Governo poderia ser apenas a renúncia da presidenta Dilma Rousseff, já que hoje ninguém acredita nela por mais que já tenha sido alvo da oposição.
E o Congresso? Difícil imaginar uma solução por parte do legislativo que não seja a aprovação do impeachment de Dilma, que deveria ser apresentado por um presidente como Eduardo Cunha, execrado pela opinião pública e por todos os democratas do país. Além disso, essa solução está prevista, não seria inesperada.
Sobraria apenas a possibilidade de que o Supremo Tribunal Federal acabasse surpreendendo com uma solução — essa sim, inesperada —, como ocorreu com o caso Collor, e que aponta com sagacidade neste jornal o meu colega Rodolfo Borges — à época, o STF adequou a lei do impeachment, de 1950, à Constituição de 1988, alterando a forma do julgamento no Congresso.
Seria constitucional porque o STF tem poderes especiais para isso, e seria ao mesmo tempo inesperada e não golpista porque hoje, apesar de todos os problemas e críticas, a mais alta corte do país ainda possui o último halo de credibilidade por parte da opinião pública — 75% dela não confia nos partidos políticos nem no Congresso, e dá à presidenta da República e ao Governo as migalhas de uma das mais baixas aprovações da história da democracia.
Qualquer outra solução passaria, inevitavelmente, pela humilhação de um golpe, seja qual fosse sua cor política. O golpe militar está completamente descartado.
Restaria, e talvez fosse o que preocupava o ex-presidente ao afirmar que a solução para a crise poderia ser inesperada, que na próxima eleição presidencial, seja agora ou em 2018, a sociedade, cansada dos políticos profissionais, apoiasse algum candidato “inesperado” com a incógnita de que pudesse se tratar de algum “aventureiro”, como aconteceu e está acontecendo em alguns países, que em vez de resolver acabasse complicado e agravando a crise política.
De acordo com a maioria dos analistas, a crise começou sendo econômica e estrutural, porque o que está esgotado é o modelo, e acabou se complicando politicamente.
Nessa situação, e já que a crise econômica — seja ela mais grave ou não que a política — não se resolveria sem antes resolver a crise política, o mais provável é que essa tarefa hoje realmente imprevisível e inesperada possa acabar caindo nas mãos do STF, que já foi capaz neste país de resolver positivamente outras crises iguais ou mais difíceis em que a opinião pública era mais exigente e aberta que o Congresso, como em relação ao aborto, as células-tronco, ocasamento entre pessoas do mesmo sexo e agora sobre a liberação das drogas, todos estes temas tabu para o Congresso e o Executivo.
Não é impossível, portanto, que a crise possa realmente acabar tendo um fim imprevisível e cuja solução esteja em grande medida na pressão exercida pela sociedade como um todo sobre os três poderes da Nação.
Tudo isso porque o Brasil dessa crise não é o mesmo país das crises anteriores. É um Brasil mais dividido e exasperado com os poderes públicos, porque o país e a sociedade estão numa luta para sair da apatia e da fictícia unanimidade do passado e começaram a enfrentar os desafios da modernidade. Estamos diante de uma sociedade que não apenas quer ser ouvida, mas também participar na solução da crise cujas consequências econômicas e sociais já começam a penalizar fortemente as famílias.
A política funil de afinidades
É um dos muitos ângulos da questão. Pensa aí. Sozinho ninguém faz verão, muito menos uma revolução. Tem de ter pelo menos alguma da tal afinidade, que pode até ser tênue, mas precisa existir de verdade, e aí a gente vai, se junta, atraído, e atraindo-se entre si. Isso vale para o amor. Isso vale melhor ainda para a política. Só que nela precisamos arregimentar mais gente.
Suponha que você amanhã de manhã acorde e, antes de levantar-se, se espreguiça e pensa: “Hoje, é hoje! Vou me juntar com quem mais quer melhorar o país”. Para que lado você vai? Pois é. Estou com esse problema. Tem muitas coisas que, penso, são indispensáveis para que o Brasil saia dessa faixa de caretice e esbórnia que nos assola. Mas tem um monte de gente que conheço que vai ficando na estrada cada vez que um item – digamos, mais sensível – desses, se apresenta.
Estamos fadados a nos juntarmos só em montinhos tal está o esfacelamento cultural, ético e social dessa terra que tem palmeiras e onde canta o sabiá. Daí ter constatado por que estamos parecendo caranguejos bêbados na orla da praia esperando a próxima onda. Ou avalanche.
Percebeu onde quero chegar? Igual a mim você também não está acreditando que já passaram mais de quinze dias de um prazo razoável para que o Eduardo Cunha se pinicasse, mas ele está ainda ali, com sua empáfia, e pior: com apoio de umas pessoas que pela lógica deveriam estar longe quilômetros dele? Pessoas que deveriam estar ao nosso lado. Vê só o número de pretensos oposicionistas que a gente vai riscando da lista. Agora soma os que a gente risca porque tropeçam diante das discussões sobre relações homoafetivas, descriminalização, aborto, família, para citar algumas barreiras ou o que pensam – se é que pensam – sobre clima, globalização, paredes pintadas com cor, minissaia, o bacon, ou flores do campo.
Vamos lá, você acordou e insiste que vai se juntar com quem quer melhorar o país. Melhor: já sabe que há quase um milhão de pessoas protestando nas ruas do seu país. Vai para sua avenida e quando chega lá tem de escolher ao lado de quem vai agitar sua bandeira: tem maluco de farda clamando por militares (mas você passou por isso e sabe a treva que é), imberbes garotos buscando projeção (você já viu um desses caçando marajás e não deu certo), contra Cunha, a favor, gritando bobagens desconexas como “a nossa bandeira nunca será vermelha”, que nunca entendi de onde veio a mixórdia dessa ideia.
Conselho: sai daí meio à francesa sacudindo sua bandeirinha, assobiando com o seu cartaz.
Tem uma turma que só xinga e usa termos chulos pesados contra os inimigos, mas que em si – justamente porque os usam neste momento – já definem seus pensamentos e posição: vaca, puta, sapatão se é mulher o alvo; veado, corno, quando é homem. Você é educado, se manda daí!
O melhor mesmo é procurar e achar algum aglomerado mais feliz que esteja sambando, cantando o hino a capela, mostrando a vida para o filho bebê ou para o cachorrinho que também foi no passeio vestido com a camiseta da seleção.
Não adianta a gente ficar esperando o grupo ideal, porque – sinto muito informar – ele não existe. Um grupo de afinidade total. Está cada um para um lado e Deus por todos; já que lhe deram cidadania, agora também Ele se envolveu.
Parece porta de metrô, o pessoal querendo entrar e outro sair ao mesmo tempo pelo mesmo buraco. Vamos aos poucos buscando nossas afinidades para nos afinar, emparelhar, seja o que for. Compartilhar, porque agora nem se divide mais nada, só se compartilha. Êita.
“Eles”, os outros, esses que para tudo ou não sabiam ou não viram, ou parecem matracas repetindo discursos que nossos olhos desmentem, que nos atrasam em pelo menos uma década, estão sendo localizados e desmascarados. Ainda temos amigos lá entre eles, mas como os consideramos pessoas inteligentes creio mesmo que chegará a hora que verão que não podem mais sustentar esse apoio que surpreendentemente ainda demonstram. A demora piora tudo.
Vamos começar do começo. Para ver se engrena. Vamos passear nas ruas a fim de quem sabe encontrar mais nossos afins. Em química a afinidade aproxima os corpos.
Olha só que interessante. Revolucionar é bom e eu gosto.
Memórias da salvação
Outro dia, escrevendo sobre o comício das diretas em Caruaru, lembrei-me de que no palanque estavam Collor e Lula, entre outros. Naquele momento não poderia prever ainda a importância que ambos teriam no processo democrático. Collor, o caçador de marajás, preparava sua cruzada contra a corrupção. Lula, encarnando a esquerda, falava de ética na política. Ambos os projetos, destinados a combater a corrupção, foram tragados por ela, sem distinção ideológica.
Leio no New York Times que dois políticos do Estado de Albany serão julgados nos próximos dias: Dean Skelos e Sheldon Silver. As acusações soam familiares: enriquecimento ilícito, propinas mascaradas em doações legais, parentes envolvidos. A matéria diz que a cultura da corrupção em Albany será julgada com os dois políticos. Acredito que sim, mas acho difícil suprimir uma cultura apenas com um veredicto.
Albany ainda tem uma pressão corretiva nacional. No caso brasileiro, não se trata apenas da cultura de um Estado da Federação: é de todo um país.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu administrar a corrupção em seu governo, no sentido de que não evitou os escândalos; mas realizou seus objetivos. Ele próprio, porém, admite um problema sistêmico, a julgar pela sugestão que fez a Dilma e Lula numa viagem à África do Sul. Argumentando com a rejeição popular ao processo político tradicional, propôs uma urgente mudança.
Hoje, confrontados com todo o material que a Operação Lava Jato e outras investigações revelaram, estamos diante de uma situação singular: corrupção alarmante e grave crise econômica.
Diante da inflação e do desemprego crescente, que afetam todos nós, os políticos responsáveis acham que é preciso conversar, buscar uma saída antes que tudo seja engolfado por uma crise social. No entanto, nenhuma conversa, por mais produtiva que seja, pode deixar de lado que a cultura da corrupção está sendo julgada no Brasil. O veredicto final não resolverá o problema, mas certamente será um passo decisivo, tão importante para completar a democracia brasileira como foi aquele momento na década de 1980, quando lutávamos por eleições presidenciais diretas.
Embora a corrupção fosse tema de Collor em 1988 e de Lula em 2002, a revolução nas comunicações, a presença da internet, o avanço dos órgãos investigativos, a cooperação internacional, tudo isso converge agora para fortalecer a transparência. E enfraquecer os salvadores.
Diante da experiência fracassada de Collor e do PT, talvez fosse oportuno refletir sobre a frase de Cioran: a certeza de que não existe salvação é uma forma de salvação, é mesmo a salvação. As pesquisas, todavia, indicam um ângulo favorável aos salvadores. O PT é naturalmente rejeitado pela maioria, mas os opositores também registram altos índices negativos. Uma terceira força, vinda de fora, teoricamente, poderia derrotar a todos.
Na minha opinião, os políticos estão sendo julgados por todos esses anos de democratização, mas também, e sobretudo, por como se comportam no momento em que escândalos e crise econômica se entrelaçam.
Um exemplo da luta contra a cultura da corrupção se dá em torno de um instrumento legal, a delação premiada. É apenas uma lei que reduz penas se a pessoa disser a verdade e reparar seu crime, no caso, devolvendo o dinheiro.
Dilma combateu a delação premiada com uma emoção de esquerda. Lembrou-se dos que delataram os militantes nos anos de chumbo. Suprimiu um pequeno detalhe: que foram torturados para dizer a verdade.
Lula chamou a delação premiada de mentira premiada. Responde com uma piada nervosa diante de tantas evidências de que os depoimentos são verdadeiros. Ignorou que a Lava Jato, com 33 delações premiadas e três acordos de leniência, devolveu R$ 2,4 bilhões ao País.
Existe nas ruas uma certa hesitação em colaborar com a polícia. As expressões alcaguete e dedo-duro têm uma conotação negativa. Tiradentes, com a figura parecida com a de Cristo, teve seu Judas em Joaquim Silvério dos Reis. Para quem vê a democracia apenas como uma etapa é fácil confundir a polícia com repressão política; afinal, todas as instituições visam a preservar o sistema.
Com um viés de esquerda, foi possível transitar de uma luta pela ética na política para defesa da cultura da corrupção. Os empresários querem business as usual, as figuras que sobraram do palanque das diretas ainda devem ter conversas necessárias e a própria crise econômica pode ser superada num par de anos. Mas a sociedade, além das aflições da crise econômica, sente-se lesada por um governo quadrilheiro, desapontada com uma oposição hesitante.
A fratura não se fechará enquanto o problema em torno do crime e castigo não for resolvido. Isso pode consolidar os laços da sociedade com as instituições e, quem sabe, capacitá-la a empurrar os políticos para a frente, apesar deles.
Das diretas para cá o clima se degradou. Hoje vemos Lula movimentando fortunas na conta bancária, casa de campo, tríplex, exigindo menu de travesseiro. Ninguém imagina que tudo aquilo daria tanto dinheiro aos salvadores: Collor com seus carros de luxo, Lula faturando milhões com suas aulas magnas e, no fundo, a sirene do camburão.
Collor e o PT são dois momentos do processo. Seu fracasso precisa ser levado em conta na tentativa de recomeçar. Mais do que discursos e promessas e uma certa ingenuidade diante da fraqueza humana, será importante a transparência, apoiada em novas leis e no fortalecimento das instituições que investigam o poder político.
O governo elegeu-se com verba de corrupção, descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, manteve um esquema de rapina na Petrobrás. Enquanto estiver no poder, o relógio do recomeço está desligado. Não adianta tocar para a frente, como se não tivesse acontecido. Nem mantê-lo desligado até 2018. Não se para o tempo. No máximo, é possível ganhar horas com o fuso horário, como o deputado do PT que virou dono de um apartamento em Miami.
Leio no New York Times que dois políticos do Estado de Albany serão julgados nos próximos dias: Dean Skelos e Sheldon Silver. As acusações soam familiares: enriquecimento ilícito, propinas mascaradas em doações legais, parentes envolvidos. A matéria diz que a cultura da corrupção em Albany será julgada com os dois políticos. Acredito que sim, mas acho difícil suprimir uma cultura apenas com um veredicto.
Albany ainda tem uma pressão corretiva nacional. No caso brasileiro, não se trata apenas da cultura de um Estado da Federação: é de todo um país.
Hoje, confrontados com todo o material que a Operação Lava Jato e outras investigações revelaram, estamos diante de uma situação singular: corrupção alarmante e grave crise econômica.
Diante da inflação e do desemprego crescente, que afetam todos nós, os políticos responsáveis acham que é preciso conversar, buscar uma saída antes que tudo seja engolfado por uma crise social. No entanto, nenhuma conversa, por mais produtiva que seja, pode deixar de lado que a cultura da corrupção está sendo julgada no Brasil. O veredicto final não resolverá o problema, mas certamente será um passo decisivo, tão importante para completar a democracia brasileira como foi aquele momento na década de 1980, quando lutávamos por eleições presidenciais diretas.
Embora a corrupção fosse tema de Collor em 1988 e de Lula em 2002, a revolução nas comunicações, a presença da internet, o avanço dos órgãos investigativos, a cooperação internacional, tudo isso converge agora para fortalecer a transparência. E enfraquecer os salvadores.
Na minha opinião, os políticos estão sendo julgados por todos esses anos de democratização, mas também, e sobretudo, por como se comportam no momento em que escândalos e crise econômica se entrelaçam.
Um exemplo da luta contra a cultura da corrupção se dá em torno de um instrumento legal, a delação premiada. É apenas uma lei que reduz penas se a pessoa disser a verdade e reparar seu crime, no caso, devolvendo o dinheiro.
Dilma combateu a delação premiada com uma emoção de esquerda. Lembrou-se dos que delataram os militantes nos anos de chumbo. Suprimiu um pequeno detalhe: que foram torturados para dizer a verdade.
Lula chamou a delação premiada de mentira premiada. Responde com uma piada nervosa diante de tantas evidências de que os depoimentos são verdadeiros. Ignorou que a Lava Jato, com 33 delações premiadas e três acordos de leniência, devolveu R$ 2,4 bilhões ao País.
Existe nas ruas uma certa hesitação em colaborar com a polícia. As expressões alcaguete e dedo-duro têm uma conotação negativa. Tiradentes, com a figura parecida com a de Cristo, teve seu Judas em Joaquim Silvério dos Reis. Para quem vê a democracia apenas como uma etapa é fácil confundir a polícia com repressão política; afinal, todas as instituições visam a preservar o sistema.
Com um viés de esquerda, foi possível transitar de uma luta pela ética na política para defesa da cultura da corrupção. Os empresários querem business as usual, as figuras que sobraram do palanque das diretas ainda devem ter conversas necessárias e a própria crise econômica pode ser superada num par de anos. Mas a sociedade, além das aflições da crise econômica, sente-se lesada por um governo quadrilheiro, desapontada com uma oposição hesitante.
A fratura não se fechará enquanto o problema em torno do crime e castigo não for resolvido. Isso pode consolidar os laços da sociedade com as instituições e, quem sabe, capacitá-la a empurrar os políticos para a frente, apesar deles.
Das diretas para cá o clima se degradou. Hoje vemos Lula movimentando fortunas na conta bancária, casa de campo, tríplex, exigindo menu de travesseiro. Ninguém imagina que tudo aquilo daria tanto dinheiro aos salvadores: Collor com seus carros de luxo, Lula faturando milhões com suas aulas magnas e, no fundo, a sirene do camburão.
Collor e o PT são dois momentos do processo. Seu fracasso precisa ser levado em conta na tentativa de recomeçar. Mais do que discursos e promessas e uma certa ingenuidade diante da fraqueza humana, será importante a transparência, apoiada em novas leis e no fortalecimento das instituições que investigam o poder político.
O governo elegeu-se com verba de corrupção, descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, manteve um esquema de rapina na Petrobrás. Enquanto estiver no poder, o relógio do recomeço está desligado. Não adianta tocar para a frente, como se não tivesse acontecido. Nem mantê-lo desligado até 2018. Não se para o tempo. No máximo, é possível ganhar horas com o fuso horário, como o deputado do PT que virou dono de um apartamento em Miami.
O jeito das nuvens
Reza a lenda geralmente aceita como verdade que os políticos mineiros tinham uma espécie de monopólio da sabedoria.
Magalhães Pinto, banqueiro, ex-governador de Minas, plantou em sua biografia uma frase histórica. Ele disse que “política é como nuvem; você olha ela está de um jeito; olha de novo, já mudou”.
Suponhamos então que você tenha se ausentado um pouco do país, que tenha ido fazer um tour pelas Ilhas Seychelles, ou tenha ido comprar artesanato em Bali para vender na praia, e que nesse período não tenha nem entrado na internet para saber como é que andam as coisas lá pelo Brasil.
Quando você saiu daqui dava para ouvir do aeroporto o fragor da carga da brigada ligeira contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, empenhado em tentar esconder no armário umas contas na Suíça recheadas de dólares, devidamente numeradas e até assinadas por ele.
Malufianamente, Cunha negou as mais gritantes evidências com todas as suas forças.
Como só ele detém constitucionalmente o poder de aceitar ou rejeitar qualquer pedido de impeachment contra a presidente da República, foi paparicado pela oposição e fuzilado impiedosamente pelos governistas como a encarnação do demônio na Terra.
Quando você saiu daqui, Eduardo Cunha era a causa de todos os males de que o Brasil padece na terra: para os governistas, o inimigo público número um; para os oposicionistas, a única mão que pode balançar o berço. A ordem da oposição era atirar nele com cuidado para não acertá-lo. A ordem dos governistas era dizimá-lo da face da terra, esquartejá-lo e salgar a terra onde ele pisava.
Aí você está de volta, olha pra nuvem e percebe que ela mudou de forma. Não é que Magalhaes Pinto tinha razão?
É que nesse breve intervalo entre a sua saída e a sua volta ao País, as nuvens se mexeram muito. As entidades sobrenaturais que mexem os cordéis da natureza fizeram o seu trabalho, com zelo e discrição, e, pensando bem, até que o mais inescrupuloso e sórdido dos bandidos tem o direito de defesa, não é verdade?
Certo que ele já tinha sido julgado e condenado, mesmo porque era difícil até para um espertalhão como ele apagar as pegadas que deixou no caminho de suas falcatruas.
Mas vejam bem: o que o tornava odioso e odiado não eram exatamente as suas falcatruas, já que, como todo bom político pragmático sabe, a carne é fraca. O que o tornava realmente intolerável era aquela mão permanentemente no coldre ameaçando sacar a qualquer momento a arma do impeachment.
A partir do momento em que a pressão da mão sobre o coldre amaciou, não se sabe se à espera de um momento melhor ou de uma barganha mais vantajosa, a Comissão de Ética que vai decidir seu futuro parece olhar para ele com um pouquinho mais de carinho e compreensão.
E assim ficamos. Você saiu com as nuvens de um jeito, voltou e as nuvens estão de outro jeito. E o País continua olhando para cima enquanto as nuvens mudam de forma, a economia não anda, a política assumiu o jogo da barganha explícita- você me deixa terminar o mandato que eu deixo terminar o seu.
O País? Continua indo mal, obrigado.
Sistema financeiro suíço seriamente abalado pela Lava Jato
As investigações do Ministério Público suíço sobre contas suspeitas de movimentarem dinheiro obtido no esquema de corrupção na Petrobras ainda não foram encerradas, mas o órgão já afirma que o centro financeiro do país foi seriamente afetado pelo escândalo.
As apurações da operação Lava Jato no Brasil sobre a corrupção na estatal chegaram a contas suspeitas no exterior, grande parte delas na Suíça.
Mas qual é a dimensão do impacto do escândalo brasileiro sobre o sistema financeiro suíço?
Procurado pela BBC Brasil, o Ministério Público em Berna diz que o escândalo gerou denúncias de lavagem de dinheiro em níveis "muito acima da média" e que isso desencadeou extensas investigações - que ainda estão em andamento.
"Os resultados iniciais das investigações indicaram que o sistema financeiro da Suíça foi seriamente afetado pelo escândalo, uma vez que diversas pessoas e companhias que já foram indiciadas e condenadas no Brasil conduziam transações suspeitas envolvendo contas na Suíça", afirmou a porta-voz Walburga Bur.
Nesta semana, a agência reguladora do mercado financeiro suíço, FINMA, anunciou ter aberto investigações contra três bancos que não observaram as práticas de combate à lavagem de dinheiro em contas relacionadas ao escândalo da Petrobras.
As investigações são resultado de um amplo levantamento que vinha sendo feito com diversas instituições financeiras ligadas aos correntistas monitorados pelo MP suíço.
As apurações da operação Lava Jato no Brasil sobre a corrupção na estatal chegaram a contas suspeitas no exterior, grande parte delas na Suíça.
Procurado pela BBC Brasil, o Ministério Público em Berna diz que o escândalo gerou denúncias de lavagem de dinheiro em níveis "muito acima da média" e que isso desencadeou extensas investigações - que ainda estão em andamento.
"Os resultados iniciais das investigações indicaram que o sistema financeiro da Suíça foi seriamente afetado pelo escândalo, uma vez que diversas pessoas e companhias que já foram indiciadas e condenadas no Brasil conduziam transações suspeitas envolvendo contas na Suíça", afirmou a porta-voz Walburga Bur.
Nesta semana, a agência reguladora do mercado financeiro suíço, FINMA, anunciou ter aberto investigações contra três bancos que não observaram as práticas de combate à lavagem de dinheiro em contas relacionadas ao escândalo da Petrobras.
As investigações são resultado de um amplo levantamento que vinha sendo feito com diversas instituições financeiras ligadas aos correntistas monitorados pelo MP suíço.
A seriedade da falta de vergonha
Os especialistas, e os comentaristas endossam, apontam que o Brasil vive este ano crises e mais crises: política, estrutural (apesar de Dilma dizer que é apenas conjuntural). econômica. O deputado Raul Jungmann até definiu o atual momento político: "Vivemos uma paralisia frenética. Não saímos do lugar, mas nos mexemos muito".
O noticiário se farta em estampar essa "paralisia frenética" com sucessivas informações, na maioria numéricas. Os analistas gastam ainda mais palavras para tentar explicar o imbróglio de um ano perdido na administração de um país. Batem todos cabeça.
Mais do que crise, estamos vivenciando a falta de vergonha generalizada, o que vem deixando o mundo escandalizado.
Não há como explicar, a não ser como um golpe nas instituições, as armações que vem se desenvolvendo nos últimos tempos em todos os poderes para livrar Dilma e a facção petista de qualquer punição por destruir um país para melhor dominhá-lo (ou seria doutriná-lo?).
Nem se pense em denominar de política o que se vê pelo país, em Brasília principalmente ou em qualquer recanto onde os "libertadores do povo" se acoitam. É falta de vergonha na cara para dizer o mínimo, quando é um crime contra o Estado e de direitos humanos.
Uma população de milhões se vê escravizada literalmente pelos desmandos, as falcatruas, os roubos, os conchavos edm todos os níveis.
Como explicar a países democráticos que medidas de governo foram vendidas aos empresários em prejuízo da população que juraram defender? Como explicar que o dinheiro público financiou construções no exterior? Que ex-presidente usou e abusou de banco que gere dinheiro do trabalhador para financiar empresários amigos? Como explicar que ex-presidente e filhos são "intocáveis", praticamente imunes a qualquer investigação? Como explicar que mudam-se juízes para blindar a companheirada? Como explicar, que a lista é grande, que a presidente não governa há um ano, pois não há plano de governo nem nunca houve - a não ser o de se apropriar dos órgãos e instituições públicas?
A falta de vergonha é séria bem mais do que se gasta em palavras. Se destrói um país, por décadas, por bem menos. Não há estimativa de quando se poderá recuperar o ano perdido, nem pensar em tornar o Brasil um país minimamente sério no respeito ao cidadão. Ao menos enquanto imperar o ideal político de que governo é absoluto e inimputável assim como seus integrantes per saecula saeculorum.
E Viva a Farofa!
O gatinho e o leão
Através da Advocacia Geral da União o governo entregou ao presidente do Senado a defesa diante da rejeição de suas contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União. A tentativa é de livrar-se da acusação de haver maquiado no orçamento 40 bilhões de reais em pedaladas.
A imagem que fica é de um cidadão (ou uma cidadã) que se depara com um gatinho miando à sua frente, tentando impedir a caminhada, coisa que será superada com um simples peteleco. Só que, na verdade, não se trata de um gatinho, mas de um leão feroz que urra em vez de miar.
Assim vai andando a presidente Dilma, imaginando fácil afastar as pedaladas dos pedidos de impeachment apresentados contra ela. Gatinhos sem força para obstá-la.
Só que Madame errou de bicho. É um leão que busca impedir sua trajetória. Porque se as pedaladas são superáveis, o mesmo não acontece com o desemprego em massa, o aumento de impostos, taxas e tarifas, a alta do custo de vida, a perda do poder aquisitivo dos salários, as greves, a queda na produção industrial, os elevados juros e a incapacidade de seu governo enfrentar tantos obstáculos de uma só vez.
Traduzindo: se a presidente for afastada, será em função desse conjunto de empecilhos não resolvidos, jamais por conta de haver manipulado números orçamentários. Fica óbvio que de forma pacífica a população não aceitará por mais tempo tamanho conjunto de desgraças. Encontra-se a um passo de explodir. Para evitar o inevitável, a solução será procurada através dos mecanismos constitucionais e jurídicos que sobraram: o impeachment capaz de debelar o caos já estabelecido no país. Certeza não há de que o novo governo a ser estabelecido terá condições de afastar a indignação e a revolta já batendo às portas da sociedade, mas inexiste outra alternativa. Com ou sem Michel Temer, antecipando-se ou não as eleições, algo acontecerá.
O leão não espera. Presas e garras estão à vista de todos. Os urros já se ouvem, enquanto o governo ilude-se na esperança de ser o miado de um gatinho.
Assim vai andando a presidente Dilma, imaginando fácil afastar as pedaladas dos pedidos de impeachment apresentados contra ela. Gatinhos sem força para obstá-la.
Só que Madame errou de bicho. É um leão que busca impedir sua trajetória. Porque se as pedaladas são superáveis, o mesmo não acontece com o desemprego em massa, o aumento de impostos, taxas e tarifas, a alta do custo de vida, a perda do poder aquisitivo dos salários, as greves, a queda na produção industrial, os elevados juros e a incapacidade de seu governo enfrentar tantos obstáculos de uma só vez.
Traduzindo: se a presidente for afastada, será em função desse conjunto de empecilhos não resolvidos, jamais por conta de haver manipulado números orçamentários. Fica óbvio que de forma pacífica a população não aceitará por mais tempo tamanho conjunto de desgraças. Encontra-se a um passo de explodir. Para evitar o inevitável, a solução será procurada através dos mecanismos constitucionais e jurídicos que sobraram: o impeachment capaz de debelar o caos já estabelecido no país. Certeza não há de que o novo governo a ser estabelecido terá condições de afastar a indignação e a revolta já batendo às portas da sociedade, mas inexiste outra alternativa. Com ou sem Michel Temer, antecipando-se ou não as eleições, algo acontecerá.
O leão não espera. Presas e garras estão à vista de todos. Os urros já se ouvem, enquanto o governo ilude-se na esperança de ser o miado de um gatinho.
O ano que não existiu
Passamos o ano a falar de coisas imaginárias e desastres reais.
Foi um ano consumido pela tentativa de impeachment que fracassou, mas nem por isso houve governo.
Foi um ano em que a política econômica para este ano ficou para o ano que vem.
Foi um ano em que o programa do maior partido de oposição, em tese engraçada o PSDB, foi adotado, reproduzido e ampliado pelo partido maior da situação, na triste realidade o PMDB, o partido de todas as situações.
Terá sido um ano em que a economia voltará ao tamanho que tinha quando Dilma Rousseff era candidata a presidente pela 1ª vez, em 2010.
Um ano de vazios e regressos, talvez apenas de cadeias mais cheias, mas até aí ainda sobra espaço para quem deveria estar lá.
Considere-se.
Apesar das tentativas de requentar estratégias de abater a presidente da República e dos propósitos insondáveis desse despropósito que é o presidente da Câmara, sabe-se que o impeachment é um jogo adiado para depois do Carnaval, ou "sine die".
Ontem, o Banco Central disse oficialmente "Feliz Ano Velho" à política econômica.
No ano do fez de conta, intenção era levar a inflação à meta de 4,5% em 2016. Agora, acertar a meta fica para 2017. O objetivo para 2016 é evitar que o IPCA supere o teto da meta, como em qualquer dos anos Dilma Rousseff. Se a inflação não passar de 6,5%, está bom. A previsão mediana dos povos do mercado para 2016 anda pela casa de 6,3%.
A cerimônia do adeus à meta de poupança do governo, de superavit primário, foi ainda mais longa que a do BC. A temporada de despedidas começou em julho. Desde então, a meta de superavit fiscal, de 1%, estava morta. Nesse tempo em que esteve em tese embalsamada, à espera do funeral, apodreceu.
A morta deve baixar à sepultura em deficit de 2%, um desvio em torno de R$ 180 bilhões.
O PSDB dedicou-se desde o primeiro dia do ano a derrubar Dilma Rousseff. Pelo menos assim o fez seu ponta de lança, Aécio Neves, senador que nesse ínterim dedicou-se a ser um líder de Eduardo Cunha na Câmara, do tucano-cunhismo e seus deputados "cabeças pretas".
Quanto a seu programa, da boca para fora ou em parte adotado fraudulentamente pela presidente da República, o PSDB dedicou o ano a dele fazer picadinho, apoiando votações que ajudaram a depredar mais o país que sua inimiga Dilma Rousseff.
Enquanto PT e PSDB se desmanchavam em seus variados vexames ou infâmias, o PMDB, partido de oposição e adesão ao governo, dedicou-se mais uma vez a ser o partido de todas a situações. Recolheu o papel picadinho do programa do PSDB, colou tudinho, fez uns anexos, passou um verniz e apresentou um programa para o futuro do país.
Nesse programa, o partido proclama enormidades. Por exemplo, que o lugar do PSDB agora será dele, PMDB. Que todas as ações e crenças de política econômica da presidente da República e do PT são ruinosas. Que a situação é de urgência em um país quebrado pela economia e pelo ódio. Resultado do governo Dilma 1, da Constituição de 1988 e da oposição liderada oficialmente pelo PSDB.
Ao fim deste ano, a ponte para o futuro é o PMDB.
"Julguem", como se diz nas redes sociais.
Foi um ano consumido pela tentativa de impeachment que fracassou, mas nem por isso houve governo.
Foi um ano em que a política econômica para este ano ficou para o ano que vem.
Foi um ano em que o programa do maior partido de oposição, em tese engraçada o PSDB, foi adotado, reproduzido e ampliado pelo partido maior da situação, na triste realidade o PMDB, o partido de todas as situações.
Terá sido um ano em que a economia voltará ao tamanho que tinha quando Dilma Rousseff era candidata a presidente pela 1ª vez, em 2010.
Um ano de vazios e regressos, talvez apenas de cadeias mais cheias, mas até aí ainda sobra espaço para quem deveria estar lá.
Considere-se.
Apesar das tentativas de requentar estratégias de abater a presidente da República e dos propósitos insondáveis desse despropósito que é o presidente da Câmara, sabe-se que o impeachment é um jogo adiado para depois do Carnaval, ou "sine die".
Ontem, o Banco Central disse oficialmente "Feliz Ano Velho" à política econômica.
No ano do fez de conta, intenção era levar a inflação à meta de 4,5% em 2016. Agora, acertar a meta fica para 2017. O objetivo para 2016 é evitar que o IPCA supere o teto da meta, como em qualquer dos anos Dilma Rousseff. Se a inflação não passar de 6,5%, está bom. A previsão mediana dos povos do mercado para 2016 anda pela casa de 6,3%.
A cerimônia do adeus à meta de poupança do governo, de superavit primário, foi ainda mais longa que a do BC. A temporada de despedidas começou em julho. Desde então, a meta de superavit fiscal, de 1%, estava morta. Nesse tempo em que esteve em tese embalsamada, à espera do funeral, apodreceu.
A morta deve baixar à sepultura em deficit de 2%, um desvio em torno de R$ 180 bilhões.
O PSDB dedicou-se desde o primeiro dia do ano a derrubar Dilma Rousseff. Pelo menos assim o fez seu ponta de lança, Aécio Neves, senador que nesse ínterim dedicou-se a ser um líder de Eduardo Cunha na Câmara, do tucano-cunhismo e seus deputados "cabeças pretas".
Quanto a seu programa, da boca para fora ou em parte adotado fraudulentamente pela presidente da República, o PSDB dedicou o ano a dele fazer picadinho, apoiando votações que ajudaram a depredar mais o país que sua inimiga Dilma Rousseff.
Enquanto PT e PSDB se desmanchavam em seus variados vexames ou infâmias, o PMDB, partido de oposição e adesão ao governo, dedicou-se mais uma vez a ser o partido de todas a situações. Recolheu o papel picadinho do programa do PSDB, colou tudinho, fez uns anexos, passou um verniz e apresentou um programa para o futuro do país.
Nesse programa, o partido proclama enormidades. Por exemplo, que o lugar do PSDB agora será dele, PMDB. Que todas as ações e crenças de política econômica da presidente da República e do PT são ruinosas. Que a situação é de urgência em um país quebrado pela economia e pelo ódio. Resultado do governo Dilma 1, da Constituição de 1988 e da oposição liderada oficialmente pelo PSDB.
Ao fim deste ano, a ponte para o futuro é o PMDB.
"Julguem", como se diz nas redes sociais.
Zero vezes zero
Tem alguém aí? Os brasileiros bem que gostariam de estar fazendo essa pergunta, no momento, a tudo o que pode ser descrito como “governo” e a todos cuja ocupação conhecida, fixada em lei e paga em tarifa cheia pela população, é governar a República Federativa do Brasil. Está mais do que na hora de perguntar, pois, olhando para o que acontece, em vez de olhar para o que se fala, daria para jurar que não — não há ninguém no local de trabalho, realmente, ou se há é como se não houvesse, pois com toda a certeza ninguém está fazendo absolutamente nada que preste, ou que sirva a algum propósito útil.
O que existe o tempo todo, e é só isso que existe praticamente desde que a presidente Dilma Rousseff começou esse seu desventurado segundo mandato, é uma coisa chamada “impeachment”. Dilma fica ou vai embora? Não se cuida de nenhuma outra questão na vida pública de hoje — o país foi levado por ela, por seu partido e pelo que mais existe em torno de ambos à situação inédita de ter um governo cuja única ação visível é brigar para continuar sendo governo, ou seja, para não ser deposto. Enquanto isso, não governa coisa nenhuma. Esquisito, não é? Governos existem para governar, com os seus programas, objetivos e interesses; se não fazem nada disso, são apenas uma conta de zero vezes zero. O que temos, então? Um processo de impeachment contra um governo que não existe — o que, pensando bem, talvez fosse mais um excelente motivo para lhe apresentar sua carta de demissão.
Não é preciso nenhum diploma de ciência política para verificar a quantidade e o volume das aberrações que o abandono da obrigação de governar, por parte da presidente e seu enxame de ministros e quase ministros, vem causando nos últimos dez meses. Basta prestar um pouco de atenção aos fatos que entram e saem quietamente do noticiário, e que no Brasil de hoje não conseguem nem o seu modesto 1 minuto de fama — no país do impeachment, nada parece capaz de impressionar os que mandam e os que obedecem na vida pública, e qualquer disparate acaba sendo recebido como a coisa mais normal do mundo. O ministro dos Transportes, por exemplo, revelou algum tempo atrás que não tem um tostão furado para tapar buracos nas estradas em 2015. Não é que o governo deixará de fazer novas rodovias de primeira classe, ou mesmo de segunda ou terceira, como o país necessita com a máxima das urgências: está sem dinheiro para fazer o mínimo indispensável. Vai arrecadar até o fim do ano mais de 1,3 trilhão em impostos federais, mas já avisou que não sobrou nada nessa pilha de dinheiro para tapar um único e miserável buraco nos 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território nacional. Ficamos assim, então: ao longo deste ano de 2015 inteirinho, o Ministério dos Transportes não terá servido rigorosamente para coisa alguma. No Ministério da Saúde, o ponto alto da atuação do último ministro foi dizer, em sua derradeira entrevista, antes de ser posto na rua por telefone, que a saúde brasileira está “em colapso”. Segundo ele próprio, é “a pior situação em 25 anos de SUS”. Isso mesmo: após treze anos de governo Lula/Dilma/PT, sua ex-Excelência nos informa que a saúde brasileira está “em colapso”. Algum problema? O contribuinte foi também avisado de que uma troca de radares nos aeroportos está suspensa, porque o governo não paga ao fornecedor. E o dinheiro que o cidadão já lhe pagou para saldar essa despesa? Vai saber — e talvez nem fosse necessário, em primeiro lugar, trocar radar algum.
Para qualquer lado que se olhe, é por aí que vai essa procissão. Diante da própria falência, o governo prometeu cortar despesas “na carne”. Após nove meses de cálculos sem pé nem cabeça, ficaram de cortar 200 milhões de reais, ou 100 vezes menos do que uma empresa privada como a Volkswagen faturou em 2014; com sorte, daria para pagar 24 horas de juros da dívida pública. Mas nem isso o governo conseguiu — continua com tolerância zero para qualquer redução no seu desperdício. Dos 25 000 empregos que pode eliminar a qualquer momento, anunciou que cortaria 1 000; não cortou nem um. Permanece imóvel como uma catedral, também, perante os piores números da inflação nos últimos treze anos, ou a maré de desemprego que está causando sete demissões por minuto. A presidente da República diz que o governo não governa a Petrobras, a maior empresa estatal brasileira, cada vez mais enterrada num abismo sem precedentes de roubalheira; acha que não existe “nenhuma denúncia de corrupção” contra o seu governo. Que governo?
O que existe o tempo todo, e é só isso que existe praticamente desde que a presidente Dilma Rousseff começou esse seu desventurado segundo mandato, é uma coisa chamada “impeachment”. Dilma fica ou vai embora? Não se cuida de nenhuma outra questão na vida pública de hoje — o país foi levado por ela, por seu partido e pelo que mais existe em torno de ambos à situação inédita de ter um governo cuja única ação visível é brigar para continuar sendo governo, ou seja, para não ser deposto. Enquanto isso, não governa coisa nenhuma. Esquisito, não é? Governos existem para governar, com os seus programas, objetivos e interesses; se não fazem nada disso, são apenas uma conta de zero vezes zero. O que temos, então? Um processo de impeachment contra um governo que não existe — o que, pensando bem, talvez fosse mais um excelente motivo para lhe apresentar sua carta de demissão.
Para qualquer lado que se olhe, é por aí que vai essa procissão. Diante da própria falência, o governo prometeu cortar despesas “na carne”. Após nove meses de cálculos sem pé nem cabeça, ficaram de cortar 200 milhões de reais, ou 100 vezes menos do que uma empresa privada como a Volkswagen faturou em 2014; com sorte, daria para pagar 24 horas de juros da dívida pública. Mas nem isso o governo conseguiu — continua com tolerância zero para qualquer redução no seu desperdício. Dos 25 000 empregos que pode eliminar a qualquer momento, anunciou que cortaria 1 000; não cortou nem um. Permanece imóvel como uma catedral, também, perante os piores números da inflação nos últimos treze anos, ou a maré de desemprego que está causando sete demissões por minuto. A presidente da República diz que o governo não governa a Petrobras, a maior empresa estatal brasileira, cada vez mais enterrada num abismo sem precedentes de roubalheira; acha que não existe “nenhuma denúncia de corrupção” contra o seu governo. Que governo?
O velho patrimonialismo e o novo
Eu ainda não sei que diabo de serviço a LFT, empresa de marketing esportivo que pertence a Luís Cláudio Lula da Silva — filho de Luiz Inácio — prestou ao escritório de lobby Marcondes & Mautoni, que é, na verdade, uma microempresa. O fato de eu não saber, e ninguém sabe, não quer dizer que seja crime, claro! Quando, no entanto, a empresa é investigada por compra de uma Medida Provisória que interessava ao setor automotivo — e o tal escritório atua nessa área — assinada pelo pai do dono da LFT, aí é evidente que o assunto ganha relevância.
Luís Cláudio prestou depoimento à Polícia Federal nesta quarta. Confirmou ter recebido R$ 2,4 milhões da Marcondes & Mautoni, assegurou ter prestado o serviço e negou a existência de vínculos com a MP.
Pois é… Vai saber, não é? Por alguma razão, um escritório de lobby, que atua para emplacar uma Medida Provisória, precisa dos serviços de marketing esportivo e, na hora de contratar um especialista, topa justamente com o filho daquele que assinou a MP. Acontece… Aliás, o petismo é o reino das coincidências. E, por isso mesmo, as histórias por ali nunca são convencionais.
A vida financeira de Lula, como sindicalista e membro do PT, nunca foi exatamente convencional, não é mesmo? Há muito tempo o homem é visto como um ente superior, a quem são permitidas extravagâncias. Num passado já remoto, morava de graça na casa de um compadre rico — e isso parecia normal. O mesmo compadre rico é hoje o dono do apartamento onde mora Luís Cláudio, avaliado em R$ 1,2 milhão. O imóvel foi comprado de uma offshore cujo representante no Brasil é casado com uma empresária com sólidos interesses na Prefeitura de São Bernardo.
O dono da LFT é modesto perto de Fábio Luiz, o Lulinha, seu irmão mais famoso. Também este mora num apartamento que pertence a um amigo, e a papa que come o primogênito já é mais fina: o imóvel está avaliado em R$ 6 milhões. Sorte de Lulinha ter outro amigo rico e generoso, que também é dono de um sítio que a OAS reformou para, digamos, o usufruto de Lulão, o pai de todos.
Confesso que há muito tempo o jeito Lula de ver o mundo me incomoda. Na década de 80, quando a Apeoesp, já sob o comando do PT, comandava greves de professores da rede pública — um bolsão de militância ativa do partido —, Lulinha foi estudar numa escola privada em Santo André, que os petistas chamariam de “elite”. Tinha, claro!, uma bolsa de estudos. Sei porque dava aula lá — não fui professor dele. Mas já estava claro que o “companheiro-chefe” tinha um jeito muito particular de ver o mundo.
Em certo aspecto, reconheço que não deve ser fácil ser filho de Lula, não é mesmo? Desde muito jovens, seus rebentos tiveram de conviver com um pai-celebridade, fazendo política o tempo inteiro, articulando a chegada ao poder e tal. Onde quer que estivessem, lá estavam “os filhos de Lula” e coisa e tal. Deve ser, inclusive, muito chato. Por razões que nem preciso explicar, melhor ter pais anônimos.
Parece, no entanto, que, na esfera psicológica, os rapazes até se saíram bem. Não tentaram, e não acho que vá acontecer, seguir a carreira política. Também não se tornaram — e vimos isso em outros países — notórios farristas e playboys. A vida da família é relativamente discreta no que respeita ao noticiário.
Mas, na esfera financeira, tsc, tsc, tsc. Aí parece que existe mesmo um modelo a ser seguido. E é o do pai. E, vamos convir, não é nada bom. A estreia de Lulinha no mundo dos negócios, recebendo uma dinheirama de uma telefônica na sua Gamecorp, logo no início do primeiro mandato do pai, já indicava que o clã tinha mesmo uma leitura muito particular sobre a distinção entre o público e o privado.
Vá lá. Luís Cláudio abriu uma empresa de marketing esportivo e não pode deixar de ser filho de quem é? Paciência! Se, em razão disso, conquistar alguns clientes — desde que não envolva troca de favores com dinheiro público —, melhor pra ele. Mas, com tantas empresas no país a quem oferecer seu talento, tinha de ser justamente à tal Marcondes & Mautoni, com o histórico e com as vinculações que tem?
O pior traço da renitente herança patrimonialista brasileira, sabemos todos, é a cultura do privilégio que não se sustenta no mérito, mas na fidalguia, com todas as deformações sociais e políticas que isso enseja: do “sabe com quem está falando?” à impunidade propriamente.
Lula poderia, em razão da confiança que milhões depositaram nele, ter contribuído para mudar essa escrita. Mas ele não só preservou, no ambiente público, os piores vícios do velho patrimonialismo — compondo, inclusive, com este — como se tornou usuário privado, desses vícios, tornados, tudo indica, uma herança. Para o seu próprio bem e o dos seus. E para o mal do país.
Como sempre foi.
Reinaldo Azevedo
Luís Cláudio prestou depoimento à Polícia Federal nesta quarta. Confirmou ter recebido R$ 2,4 milhões da Marcondes & Mautoni, assegurou ter prestado o serviço e negou a existência de vínculos com a MP.
Pois é… Vai saber, não é? Por alguma razão, um escritório de lobby, que atua para emplacar uma Medida Provisória, precisa dos serviços de marketing esportivo e, na hora de contratar um especialista, topa justamente com o filho daquele que assinou a MP. Acontece… Aliás, o petismo é o reino das coincidências. E, por isso mesmo, as histórias por ali nunca são convencionais.
A vida financeira de Lula, como sindicalista e membro do PT, nunca foi exatamente convencional, não é mesmo? Há muito tempo o homem é visto como um ente superior, a quem são permitidas extravagâncias. Num passado já remoto, morava de graça na casa de um compadre rico — e isso parecia normal. O mesmo compadre rico é hoje o dono do apartamento onde mora Luís Cláudio, avaliado em R$ 1,2 milhão. O imóvel foi comprado de uma offshore cujo representante no Brasil é casado com uma empresária com sólidos interesses na Prefeitura de São Bernardo.
O dono da LFT é modesto perto de Fábio Luiz, o Lulinha, seu irmão mais famoso. Também este mora num apartamento que pertence a um amigo, e a papa que come o primogênito já é mais fina: o imóvel está avaliado em R$ 6 milhões. Sorte de Lulinha ter outro amigo rico e generoso, que também é dono de um sítio que a OAS reformou para, digamos, o usufruto de Lulão, o pai de todos.
Confesso que há muito tempo o jeito Lula de ver o mundo me incomoda. Na década de 80, quando a Apeoesp, já sob o comando do PT, comandava greves de professores da rede pública — um bolsão de militância ativa do partido —, Lulinha foi estudar numa escola privada em Santo André, que os petistas chamariam de “elite”. Tinha, claro!, uma bolsa de estudos. Sei porque dava aula lá — não fui professor dele. Mas já estava claro que o “companheiro-chefe” tinha um jeito muito particular de ver o mundo.
Em certo aspecto, reconheço que não deve ser fácil ser filho de Lula, não é mesmo? Desde muito jovens, seus rebentos tiveram de conviver com um pai-celebridade, fazendo política o tempo inteiro, articulando a chegada ao poder e tal. Onde quer que estivessem, lá estavam “os filhos de Lula” e coisa e tal. Deve ser, inclusive, muito chato. Por razões que nem preciso explicar, melhor ter pais anônimos.
Parece, no entanto, que, na esfera psicológica, os rapazes até se saíram bem. Não tentaram, e não acho que vá acontecer, seguir a carreira política. Também não se tornaram — e vimos isso em outros países — notórios farristas e playboys. A vida da família é relativamente discreta no que respeita ao noticiário.
Mas, na esfera financeira, tsc, tsc, tsc. Aí parece que existe mesmo um modelo a ser seguido. E é o do pai. E, vamos convir, não é nada bom. A estreia de Lulinha no mundo dos negócios, recebendo uma dinheirama de uma telefônica na sua Gamecorp, logo no início do primeiro mandato do pai, já indicava que o clã tinha mesmo uma leitura muito particular sobre a distinção entre o público e o privado.
Vá lá. Luís Cláudio abriu uma empresa de marketing esportivo e não pode deixar de ser filho de quem é? Paciência! Se, em razão disso, conquistar alguns clientes — desde que não envolva troca de favores com dinheiro público —, melhor pra ele. Mas, com tantas empresas no país a quem oferecer seu talento, tinha de ser justamente à tal Marcondes & Mautoni, com o histórico e com as vinculações que tem?
O pior traço da renitente herança patrimonialista brasileira, sabemos todos, é a cultura do privilégio que não se sustenta no mérito, mas na fidalguia, com todas as deformações sociais e políticas que isso enseja: do “sabe com quem está falando?” à impunidade propriamente.
Lula poderia, em razão da confiança que milhões depositaram nele, ter contribuído para mudar essa escrita. Mas ele não só preservou, no ambiente público, os piores vícios do velho patrimonialismo — compondo, inclusive, com este — como se tornou usuário privado, desses vícios, tornados, tudo indica, uma herança. Para o seu próprio bem e o dos seus. E para o mal do país.
Como sempre foi.
Reinaldo Azevedo
Seca deixa à mostra igreja submersa no México
As caudalosas águas do sudeste do México guardam valiosos tesouros. A falta de chuva deixou a descoberto o que resta do templo de Quechula, erigido no século XVI por frades dominicanos no norte do que hoje é o Estado de Chiapas. A igreja, de 61 metros de comprimento, está submersa desde 1966, quando foi terminada a construção da represa de Malpaso, no leito do rio Grijalva, o segundo maior do país.
O Grijalva, de 600 quilômetros de comprimento, foi afetado em 2015 pelo fenômeno El Niño, que provocou menos da metade do nível normal de chuva em uma região do país de vegetação frondosa e habituada a generosas tempestades tropicais. Essa carência diminuiu desde maio os níveis do rio, que se encontram em estado crítico.
(Fonte: El País)
Receita passa a controlar as contas bancárias dos brasileiros
A partir de dezembro deste ano, todos os movimentos financeiros dos contribuintes passarão a ser enviados pelos bancos à Receita Federal, automaticamente. O plano de saúde, seguradoras, cartórios de imóveis e instituições financeiras com as quais o contribuinte se relaciona, como corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários, também enviarão à Receita suas informações mensais. Isso significa que o sigilo bancário não existe mais no Brasil.
Receita institui a eFinanceira
Significa que os bancos, seguradoras, planos de saúde, distribuidoras de títulos e valores mobiliários e demais instituições financeiras, deverão enviar para a Receita Federal, toda a movimentação financeira dos contribuintes (mês a mês) e (saldos no final de cada ano) de todas as operações que o contribuinte realizou no ano.Importante que não mais interessa somente o saldo em 31.12 de cada ano, pois a informação trará toda a movimentação (mês a mês) de todo valor financeiro que o contribuinte movimentar em suas contas bancárias.
O propósito é conhecer a movimentação financeira detalhada de cada contribuinte brasileiro (seja pessoa jurídica e física) e assim confrontar os valores informados com os declarados pelo cidadão ou pelas empresas (“cruzamento fiscal”).
Obviamente que o contribuinte deverá estar atento, e declarar com precisão sua renda e movimentação de recursos, sob pena de ser intimada a prestar esclarecimentos á Receita Federal.
É uma nova fase no cerco aos contribuintes, um “BBB” eletrônico e universal, do qual ninguém escapa.
As pessoas físicas deverão adequar-se, de forma imediata, aos novos cruzamentos eletrônicos. A movimentação bancária, por exemplo, precisa estar justificada por rendimentos compatíveis ou devidamente esclarecida por documentos idôneos (como empréstimos bancários). Na discrepância de dados, prevalecerá a presunção de sonegação fiscal, com a consequente atribuição da responsabilidade e penalidades.
Como se vê, cerca-se o contribuinte. Esperamos que a qualidade dos serviços públicos melhore na mesma proporção que este torniquete. Será uma devassa mês a mês de toda sua movimentação bancária, Planos de Saúde, Cartórios de Imóveis, Instituições Financeiras, Bolsa de Valores, Cartões de Crédito, Aplicações financeira por CPF, Consignados – enfim, nada mais terá sigilo para a Receita.
Mário Assis Causanilhas
Assinar:
Postagens (Atom)