segunda-feira, 20 de junho de 2016

É a ética, estúpido!

Em 1992, quando George Bush, considerado imbatível pelo sucesso na política externa, foi derrotado por Bill Clinton, que teria se mostrado mais apto a gerir uma economia estagnada, James Carville, assessor-chefe de marketing do democrata, sentenciou: “É a economia, estúpido!”

A partir daí, esta frase foi usada para decretar que, na era pós-ideológica, globalizada, ideais e valores não teriam mais vez, só o bolso. E eis que, pouco mais de 20 anos depois, a política retorna em grande estilo, acompanhada de sua velha parceira, a ética.

Foi a crise do capitalismo financeiro em 2008 que fez ressurgir a necessidade de uma política de valores, fazendo com que se formassem, por todo o mundo, “redes de indignação e esperança”, como Occupy Wall Street e Indignados,que levaram milhares às ruas em protesto contra as políticas de austeridade, a falta de democracia, o cinismo e a arrogância das elites políticas e financeiras em conluio criminoso e reivindicando uma “necessária revolução ética”!


Em 2013, o Brasil assistiria, atônito, à explosão de manifestações que levaram às ruas mais de um milhão de pessoas em luta por mais educação, mais saúde, melhores serviços públicos e contra a falta de representatividade dos partidos e a corrupção na política.

Na base da insatisfação, estavam mais democracia, mais respeito ao cidadão e mais transparência, todos valores éticos. No Brasil e no mundo, hoje, o clamor é pela ética na política.

Mas, diante desse clamor, o que a Operação Lava-Jato pedagogicamente tem nos mostrado é um deprimente espetáculo de cupidez e cinismo de uma classe política que implantou um verdadeiro sistema criminoso na política.

Ainda que tenhamos aprendido com Maquiavel a ver a política como ela é, não podemos não nos indignar com a avidez pelas propinas milionárias, pelos cargos a serem desfrutados por dias ou até horas, pelas comezinhas barganhas por verbas públicas

E tudo embrulhado no mais puro cinismo que proclama: “Sou vítima de perseguição”, “Nada foi provado contra mim” ou pelo malabarismo das maiorias moles que fazem o amigo (ou sócio?) de ontem se tornar o inimigo de hoje.

Apesar da inabalável alienação dos poderosos, tem avançado no Brasil um movimento para inscrever nas leis a exigência de uma ética republicana, fundada no respeito à coisa pública e ao bem comum: a Lei da Ficha Limpa, a proibição do financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas, a Lei Anticorrupção e a Lei de Acesso à Informação.

Ainda estão na pauta do Congresso a Proposta de Lei da Sociedade Civil Sobre Acordos de Leniência e a Proposta de Lei das Dez Medidas Anticorrupção, patrocinada pelo Ministério Público e apoiada por dois milhões de cidadãos. Todas essas leis e propostas de lei advêm de mobilizações populares, e não da vontade dos políticos, por razões óbvias.

Geraldo Tadeu Monteiro

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