sexta-feira, 14 de abril de 2017

A lama do crime

Há um ano e meio o país assistiu aterrado às imagens do rompimento da barragem em Mariana com a lama levando tudo pela frente, destruindo e matando de gente a animais e plantas. Ficou uma devastação só. Premonitórias e didáticas as cenas de poluição seguindo rio abaixo até desembocar no mar, que meses depois ainda afeta toda população e meio ambiente. A recuperação, sabe-se, será lenta e longuíssima.

A lama mineira além de tóxica era de corrupção, de descaso com o contribuinte. Em troca de um progresso para a região tudo se era permitido, inclusive imperar sobre os homens e a natureza. Um consórcio formado pela Samarco, a Vale e a anglo-australiana BHP, de forma irresponsável, provocou o maior desastre ambiental brasileiro e do mundo. 


Não é diferente agora quando o reservatório das maracutaias políticas com a divulgação das delações da Odebrecht. A lama escorre por todo o lado, não há margens para conter a devastação, nem rio para carrear a sujeira, que se esparrama país a fora. E ainda há mais delação por vir. Eis um país atolado no assalto deliberado de seus cofres no maior crime de corrupção imaginado no mundo contra uma nação.

As dimensões do criminoso conluio governamental, num plano geral, são mais devastadores do que vaza pela mídia. O que não foi enlameado, com alto custo para limpeza e desinfetação, sofrerá consequências por muito tempo.

Não é pouca coisa se limpar um país tão enlameado quanto o rio Doce. Se a natureza tem seu tempo próprio para eliminar a sujeira, não pouco será desinfetar o país. O custo será altíssimo e o tempo, longo, por mais de uma geração. Otimismo nessas medidas será prejudicial e mesmo criminoso, porque prolongará a recuperação. Sem falar no tal jeitinho brasileiro, como um acordão, que camuflará a sem-vergonhice para tudo ficar como está. Em tempo real, quando o Brasil levantará a cabeça, só Deus sabe. Em menos tempo, é canalhice. 
Luiz Gadelha

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